Winner escrita por Alice


Capítulo 13
Como Ser Um Profissional Exemplar


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Gostaria de agradecer a Sabrina!



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O calendário na mesa de Rose indicava que faltavam sete dias, excluindo o fim de semana, para Neville Longbottom voltar de suas ferias de volta para seu cargo de redator chefe.

E ela mal podia esperar.

Puta merda, ele tinha que chegar naquele momento.

Enquanto ouvia os saltos batendo no piso, a ruiva olhou para Lyra, que escondia “Replacements”, um curta escrito por Lisa Tuttle, feminista. Rose abaixou o porta retratos dela e de sua mãe negra bem a tempo de ver a Rainha entrar.

Vestida de azul marinho, o vestido de corte clássico dos anos ’60 ia até o joelho e combinava com seu lápis de olho. Tudo que as duas amigas queriam eram arrancar aquela pinta da cara da cavala.

– Bom dia, GGs, como vão? – a pergunta era retórica, as duas haviam aprendido – Flor, queria conversar sobre o novo artigo para a sua coluna de lésbicas. Não entendo qual o problema em você me escutar uma vez na vida e parar com essa sua historinhas de abuso das mulheres, etc..

“Já somos importantes, querida. Mulheres lindas e poderosas.”

Rose queria cuspir na cara dela.

Não, você é importante e poderosa e sabe disso, Rainha. Eu não sabia disso até pouco tempo, muitas não sabem disso até morte.

Os homens cuidam para não sabermos.

Você cuida para que as outras não saibam para ser a única linda.

Mas você não é a mais linda de todas.

Mirror mirror on the wall

Whose the fairest of them all?

Quando aquela cidadã colocou seus saltos agulha na portaria do prédio e ignorou o porteiro porque ele “não estava a altura do lugar” e rejeitou a opinião de Alexis Wood, designer do jornal, porque “sua roupa não era profissional”, vulgo, ela estava de terninho mas a Rainha ficava encarando os peitos dela porque estavam sem sutiã de bojo, as apostas sobre quando Rose Narcisa Granger explodiria começaram.

Mas ela tomou aquilo como um desafio pessoal: sobrevivera à escola, a faculdade, a um trabalho no McDonalds e, caramba, ela era filha de Ronald Weasley – tinha que conseguir aguentar aquela mulher.

Então ela emprestou seu sutiã com bojo mais confortável para Alexis, pediu uns favores e transferiu o porteiro para chapeleiro e contratou um cara de dois metros e dez para ficar no lugar dele.

[Na verdade, esse ultima foi idéia de Lyra, que ficou gamada no gigante.

Palavras dela.]

Narcisa não deveria ter dito que conseguiria, não queria mentir, mas aquela mulher estava provando ser o diabo: todos os dias vinha para a sua sala reclamar do que a garota escrevia, fosse sobre política – “Muito Liberalista.”, “Muito pacífico.”, “Agora você está incitando o povo a entrar em guerra!” –, ou economia – “Não ponha todos em depressão com essas estatísticas.”, “Ninguém precisa saber que a Alemanha está se recuperando, aqueles nazistas…”, “Nunca diga que manipulamos outros povos com nosso poder econômico!” – ou sociedade – “Jamais diga que as empregadas são mal-pagas, a minha já pede quase salário mínimo.”, “Nossos leitores não querem saber sobre impostos.”, “CHEGA DOS SEUS AVISOS SOBRE PALESTRAS DE ADMINISTRAÇÃO DOMICILIAR!” – ou sobre o tempo.

O tempo.

[E tudo que ela havia dito era que a chuva incessante piorava o humor das pessoas, então, se você estivesses apavorado com seu mau humor, podia relaxar.

Ela também pedia para os taxistas pararem de tomar tanto café.]

Mas aquela mulher não se importava se a reportagem estava certa ou errada ou se o povo deveria lutar pelos seus direitos e não ir a guerra – a ruiva tinha que reescrever.

Assim, ali estavam elas, em outra discussão diária. Porém, naquele dia o assunto era mais serio do que o normal, pois envolvia política e sociedade e a prima de Rose.

– Olha, senhorita PP, eu não me importo se você se acha o máximo ou não, consigo tirar minhas próprias conclusões sobre isso. Não consigo deixar de notá-la desde que chegou aqui no Times. – Narcisa nem tentava segurar o sarcasmo – Acontece que essa reportagem é muitomuitomuitomuitomuito importante, porque faz séculos que o aborto é ignorado e finalmente estão discutindo sobre isso e essa oportunidade não pode ser perdida.

“E não falo de abortar por sexo sem camisinha. É aborto por abuso sexual. Você precisa entender que isso é extremamente necessário de ser comentado, já que a televisão não está dando muita atenção e a discussão não chega aos ouvidos do público.”

“Querem colocar outra lei para a proibição do aborto por abuso sexual. Isso significa que se você for estuprada e engravidar você terá que parir a criança, o cara que te estuprou sendo o pai dela.”

As pessoas têm que saber disso.”

– Senhorita Granger, eu não poderia ligar menos. – respira Rose – Acontece que eu já lhe avisei sobre esses seus assuntos feministas sendo desgostosos por mulheres como eu, que já superaram o machismo. – nãonãonãonão –Isso não entrará no meu jornal.

– Olha aqui, sua imbecil: só porque você é burra o bastante para não entender que você, rica por família e que nunca teve que depender de ninguém e que nunca sofreu, e eu sei que nunca aconteceu nada porque eu pesquisei você, não significa que não existam mulheres diferentes de você, que tiveram que trabalhar duro para se separar de maridos controladores ou garotas que fugiram de casa por abuso ou mulheres que sofrem de racismo e não conseguem emprego por suas roupas e rosto. – ela estava cara a cara com a Rainha – Você não é a pessoa na qual eu vou me basear para ver se está tudo certo com a sociedade feminina. Você vai de taxi para casa todo o dia, você manda a sua empregada fazer as comprar e escutar as piadinhas nas ruas sobre a sua bunda só para pegar as frutas boas do outro lado da cidade, você toma vinho caro e se embebeda em festa da alta sociedade enquanto maridos bêbados descontam a raiva nas suas empregadas.

Você tem alguma noção do mundo em que vives?”

Se você quer continuar a observar a sociedade evoluída em que estamos deste ponto de vista, que você o faça.

“Eu realmente não me importo.”

Narcisa fez a única coisa que sua estabilidade mental [e física] lhe permitiu: abriu a boca e gritou.

[Gritougritougritougritou e se descabelou e ficou parecendo a Kathleen Hanna ruiva.

Dez dias depois, quando Neville voltou e a poeira baixou, Lyra mostrou a foto que tirara de Rose daquele jeito.

Hermione e Minerva imprimiram a foto e fizeram dela um poster na sala de estar.]

I don't I don't really care y'know

I don't I don't really care

I don't I don't really care

Se ela pudesse, teria amarrado a Rainha em uma cadeira e ah, sei lá, batido na cara dela até ela ter consciência da merda que estava dizendo?

Nãonão, agressividade não é a resposta, lembra, Rose? Conversar e dialogar e convencer, ensinar, mostrar um a um o porquê de suas idéias serem o mais próximo do correto.

Bem, talvez não naquele momento.

Narcisa era da altura dela, já que PP estava de saltos de dez centímetros, mas seu espirito era por vezes mais imenso.

– Amada, me escute, pelo amor de Deus. – ela estava com o dedo apontado para a sua chefe, quase arrancando aquela maldita pinta falsa, a voz mansa e arrastada – O jornal é um meio de comunicação cujo objetivo é informar os leitores sobre o que acontece em seu bairro, cidade, estado, região, país, continente, planeta. – ela segurou a mulher pelos ombros, tentando sacudi-la de volta a realidade – Informar as pessoas desse planeta sobre esse planeta, e isso significa política, economia, sociedade e sim, o tempo: elas querem saber se vai chover, precisam combinar com antecedência que merda de capa de chuva elas vão usar com a merda do terno sem graça delas.

“E se você acha que ter ou não um filho do cara que fez você transar a força com ele, destruindo a sua personalidade, o seu corpo e o seu psicológico, não é importante, vai além de burrice, é insensibilidade

E esse mundinho no qual você vive? Ele não existe – você inventou ele, tirou tudo que realmente é importante e colocou o que você acredita, como se o mundo fosse feito apenas disso, do que você acredita.

Mas não é bem assim. O mundo nunca será como cada indivíduo quer e é idiota vê-lo desse modo. A vida é curta de mais para vivê-la como uma ilusão. Não entendo como consegue conviver consigo mesma, ignorando as outras pessoas. Não se vive sozinho, jamais.

E eu não estou aqui apenas pelas mulheres: eu estou aqui pela igualdade, sua desgraçada, por homens que não podem ser eles mesmos e por mulheres que não são aceitas como iguais. Estou aqui pelos gays, transexuais, bissexuais, pansexuais e assexuais.

Estou aqui por eu mesma, também.

Esse também é a diferença entre eu e você.

E um dia você vai acordar desse seu sonho maravilhoso, e eu vou estar lá para ver!”

A ultima parte ela sussurro bem no ouvido da Rainha, mas quando voltou para ver seu rosto, havia apenas um espaço vazio em sua frente, um som de portas de elevador se fechando em sua mente e uma Greengrass observando-a atentamente.

– Você devaneou pra não matar ela, né?

– Aham. – Rose sacudiu a cabeça, saindo do modo stand by em que ela entrava para não matar ninguém.

– Escreve tudo que você "disse", agora. – Lyra sorria, se divertindo – Quero por numa moldura!

Like it's not important at all

You made the rules

You wrote the script out

Don't blame me when you fuckin lose

Don't put the blame on me

– Ciça, quando ela morrer, vou ir no enterro e ler isso.

– Rae, você não vai poder ver a cara de ódio dela.

– Mas o sentimento vai ser tão forte que eu vou sentir a pinta falsa explodir.

Já sei! – a ruiva levantou seu sorvete de comemoração, presente de Lyra por não ter atacado a Rainha, em sinal de vitória – No ultimo dia dela, a gente faz uma vaquinha e paga alguém para entrar correndo na sala de reuniões de manhã, no meio da discussão sobre a manchete principal, e arrancar a pinta da cara de cú dela!

Rosie, – a loira repreendeu – muito melhor comprar um sonífero e pintar a cara dela com caneta permanente, ai todos podem participar.

Isso, e então a gente descola a pinta de perto do olho dela e cola com superbonder entre as sobrancelhas!

Elas bateram as mãos, felizes com as ideias comidas. [Toda piada tem fundo de verdade…].

– Mas, de verdade, ela me deixa maluca, Rae.

– Ruiva, eu ja expliquei: é só ignorar.

– Eu não consigo. De verdade, eu tentotentotento e quando vejo já tõ no meio de uma discussão idiota. Por que as pessoas são tão cegas? Isso me deixa louca: os princípios sem sentido, opiniões baseadas em fatos falso, a confiança em algo estúpido.

“Não aguento mais conviver com essa gente horrível que me pinta de maluca.”

You try to make me crazy

You try to make me scared

You try to make me crazy

Querida Srta. Granger,

Hoje pela manhã fiquei sabendo de seu quase surto de raiva para com a minha substituta.

Devo dizer que fiquei feliz por seu controle, mas um pouco triste com a perda de dinheiro – eu havia apostado que você perderia a calma ontem.

Obrigada por não me causar outros problemas,

Att., Sr, Longbottom,

PS: pergunte à sua mãe o que ela acha de Pansy Parkinson.”

“Caro Sr. Longbottom,

20 dólares não é muito.

E a Sra, Granger disse que PP é uma barranca, daquelas que se arrasta [e arrasta todos] para o fundo do poço.

O pior inimigo dela é o seu reflexo.

Att., R.N. Granger.

PS: volte logo!”

I think your a fucking drag

You are your own worst enemy


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Notas finais do capítulo

Englobei a maldita lei do Eduardo Cunha e pessoas que não entendem o feminismo.
Alguém gostaria de compartilhas histórias para eu não me sentir um peixe fora d'água? Por favor? E quem nunca quis gritar assim com um familiar ou um professor ou uma colega?