CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 16
Capítulo 15




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Capítulo 15

Pansy Parkinson

Chegara do Centro, cansada e enfurecida. Trabalhar com organização de eventos para uma sociedade rica era extremamente exaustivo. Principalmente em um dia como aquele quando o comentário de todas as bocas era um só. O nome constante de Hermione soando em seus ouvidos a corroia de dentro para fora e manter o humor durante aquele dia estava sendo um trabalho mais árduo do que planejar festas perfeitas para as madames de Brampton Fort.

Jogou a bolsa sobre sua cama, assim que entrou no conforto de sua torre. A revista pulou para fora dela sobre sua colcha como se não pudesse lhe dar um segundo de descanso e foi ao chão, bem diante de seus pés. Ela leu, pela milésima vez naquele dia, as letras em destaque da capa.

“A mulher que você gostaria de ser.”

Pansy abaixou-se e a pegou. O ódio dentro de si era tão profundo que ao invés de fazer com que ela gritasse, queimasse aquilo ou quebrasse algo, ela apenas se mantinha em um estado profundo de desgosto e frieza. Carregou aquilo em suas mãos e a lançou sobre sua mesa ao lado da lareira.

“A mulher que você gostaria de ser.” Leu novamente.

“Descubra o segredo da inteligência de Hermione Malfoy.”

“Cinco fatos que você não sabia sobre a nova Sra. Malfoy.”

“De Hogwarts a Família mais importante do mundo bruxo.”

“Entrevista exclusiva com Hermione Malfoy.”

E lá estava. A figura de Hermione Granger Malfoy vestida como uma rainha poderosa de pé sobre um cenário renascentista exuberante e rico, bem ao lado de uma alta cadeira real estofada perfeitamente branca. Sua mão repousava discretamente sobre um dos braços dela e lá também estava o anel da família gritando em seu dedo. Seu olhar profundo, a forma como seus cabelos se movia com o vento, sua expressão séria e o queixo na postura devida mostravam que Hermione era sim uma Malfoy. Pansy havia treinado aquela mesma pose por anos.

O ódio fez com que ela se sentasse calmamente em toda a sua classe. Seu dedo passou as páginas insignificantes até ela novamente. Leu tudo. Cada pequena preposição, cada minúsculo artigo, cada maldita palavra. A entrevista era ridícula e girava em torno do trabalho que vinha fazendo dentro da Catedral e o convívio com Draco, o que ela deixou debaixo de mistério falando que ele era uma pessoa quieta e reservada. Pansy se irritava com tudo aquilo. O que havia de especial naquela Sangue-Ruim? Será que ninguém percebia a hipocrisia que se havia entorno da adoração que todos tinham pela figura imaculada da de repente-influente Hermione Malfoy? E aquelas imagens? Quando o interesse da mídia se fechou em torno da Sangue-Ruim? Pansy ria por dentro, sabendo que a pobreza de Hermione nunca deixaria que ela tivesse tipo para editorial e sessões fotográficas. Mas que mágica eles haviam feito para fazer com que ela estivesse tão perfeita quanto exatamente era? Parecia que ela não estava nem mesmo fazendo esforço nenhum! Fechou a revista com nojo. Aquela mulher tinha o seu homem todos os dias e ela já havia se cansado de dar o tempo que Draco havia imposto para que se adequasse a nova companhia que estava tendo.

Olhou no relógio e sorriu. Era a hora perfeita. A hora que Hermione subia para a torre dele todos os dias. Sabia, por que monitorava Draco com uma frequência até mesmo doentia. Levantou-se com pressa e cruzou a Catedral até chegar à sala de Draco. A secretária nojenta havia sido demitida repentinamente há quase dois meses atrás e, desde então, todas as piranhas de Brampton Fort haviam se candidatado para o cargo, mas Draco parecia querer alguém de confiança, portanto o caminho para a sala dele ainda estava completamente livre de qualquer intruso.

Bateu na porta apenas uma vez e a abriu, sem se importar se ele queria receber alguém ou não. Draco ergueu os olhos de sua mesa e dos papéis que pareciam o ocupar no mesmo instante. Suas sobrancelhas se ergueram surpresas ao vê-la e não pareceram muito contentes, pois logo se uniram.

– Pensei que fosse Hermione. – disse e voltou para seus papéis.

– Preferiria que fosse ela? – Pansy indagou.

Ele não precisou de muito tempo para pensar aquela pergunta.

– Sim. – respondeu e aquilo a destruiu.

Pansy não soube o que pensar por um momento. Seria mesmo possível que alguns meses de convivência e sexo frequente poderiam mudar a mente de Draco com relação àquela Sangue-Ruim?

– Sim? – ela viu-se repetir com indignação.

– Sim. – ele ergueu os olhos novamente, com completo descaso. – Estou ocupado e sei muito bem o porquê veio aqui. Hermione viria apenas para fazer algumas perguntas diárias e ir embora.

– E você preferiria as perguntas diárias a mim?!

Draco revirou os olhos.

– Eu estou ocupado, Pansy! – repetiu ele.

– Tem idéia de que estamos falando da Granger, a Sangue-Ruim?! Será que ainda se lembra de tudo que ela representa para o nosso lado do mundo, desde Hogwarts?

Ele soltou o ar cansado ao vê-la se aproximando de sua mesa.

– Eu não me esqueci de quem é Hermione, Pansy! – ele disse impaciente – Mas as coisas mudaram faz um bom tempo. Nós não estamos mais em Hogwarts, ela não é mais a líder da Ordem e a guerra que lutamos agora é diferente. Hermione é uma prisioneira em Brampton Fort. A vida que ela sempre quis acabou. Ela é uma comensal, é minha esposa, vive em minha casa e dorme em minha cama. Preciso aprender a conviver com ela, de uma forma ou de outra, e por agora, eu sigo a menos trabalhosa possível. Já me basta ter que carregar uma guerra que não é minha nas costas há anos. Não quero chegar a minha casa e ter outra para lutar.

– E onde eu fico agora que está brincando de casinha com a Sangue-Ruim, Draco? – implicou Pansy. – Vocês se casam, ela aprende que sexo com você é bom, e então, de repente, Draco Malfoy se esquece de que há outras mulheres no mundo.

– Não me esqueci disso. – disse ele.

– Então porque se faz de satisfeito com sua adorável esposa? Ela já deixou de ser novidade para você faz muito tempo! É quase final de primavera e vocês se casaram no outono do ano passado!

Draco fez um movimento rápido com as sobrancelhas, como se estivesse surpreso por saber que já havia se passado todo aquele tempo.

– Tem sido bom e diferente, Pansy. Tem sido o suficiente por agora, não significa que será suficiente para sempre e não significa que eu nunca mais vou tocar você se é o que quer saber.

– Então me prove isso agora. – ela pediu, dando a volta na mesa e se encostando ao móvel, bem ao lado dele.

Draco suspirou.

– Ah, Deus! – cobriu o rosto com as mãos cansado – Pansy, não teste a minha paciência, sabe onde isso pode dar.

– E a sua paciência é sempre a única que importa, não é? Por que me colocar de molho enquanto aproveita sua lua-de-mel eterna com a Sangue-Ruim, não foi testar nem um pouco da minha não, não é? – ele revirou os olhos e Pansy se irritou – Me conhece e sabe que eu não iria te incomodar se fosse qualquer outra mulher. Igual quando esteve com Astoria. Mas estamos falando de Hermione Jane Granger! Está preferindo ela a qualquer outra mulher. Será que tem idéia do quanto isso soa errado e perfeitamente desprezível?!

– Não estou preferindo Hermione! – Draco se levantou – Merlin! Tenho deveres a cumprir com ela. Posso ser o Draco que todos falam, mas eu não tenho energia para dar conta de ter que comandar um exército, lutar uma guerra, lidar com o Mestre, fazer os meus treinos, aguentar Hermione e ficar com outras mulheres! Tenho que administrar o meu tempo da melhor forma possível, e por agora, Hermione tem suprido o meu lado sexual, não é bem uma questão de preferência.

– Eu sei quem você é, Draco Malfoy. – ela estreitou os olhos. – Você está a preferindo, sim, porque Draco Malfoy nunca se deixaria ser sexualmente satisfeito pela mesma mulher por tanto tempo seguido. – Pansy se aproximou e passou os braços ao redor do pescoço dele. – Esse lugar é meu! – sussurrou ficando a centímetros do rosto dele – Sou a única mulher da qual nunca se cansou. – segurou o rosto de Draco e olhou fundo em seus olhos poderosos – Hermione já tomou meu lugar ao seu lado, não deixe que ela também me tome esse. - O olhar dele mudou e ela soube que era daquele olhar que precisava, era ainda o olhar duro que ele sempre tinha, mas era o olhar que Pansy sabia persuadir. Ela sabia que naquele momento, ele se lembrava de que haviam crescido juntos, que haviam compartilhado de muitas coisas juntos, que de alguma forma se pertenciam. - Sabe que eu preciso de um espaço em sua vida, Draco. Tem me fechado por culpa de Hermione. Deveria se julgar pela troca que está fazendo. Não creio que possa estar agindo de forma consciente quando volta para casa, ao invés de subir até minha torre. – fechou a boca rapidamente sobre os lábios dele e recuou alguns poucos centímetros – Não precisa estar com ela todos os dias.

– Gosto do sexo que tenho com ela. – a sinceridade dele sempre a machucava, Draco sempre se preocupava em não alimentar nada dentro dela e Pansy havia se acostumado com aquilo.

– E você a terá para o resto da vida. – respondeu, sentindo a primeira resposta dele quando seus quadris foram agarrados. – Terá muito tempo para usar do sexo dela. – colocou sua boca na dele mais uma vez e Draco não a rejeitou – Volte para mim, agora. – sussurrou – Sempre volta para mim. – e tornou a beijá-lo.

Draco a aceitou e deu um passo para colar seu corpo no dela. Pansy sentiu sua vitória e desfrutou do único homem que ela amava na vida a tocando e a beijando. Aquele era o único momento que ela sentia que poderia se desligar de qualquer outra coisa. Tinha-o e adorava a forma como ele sabia se apropriar do corpo dela. Eles tinham uma história juntos, uma história longa, e Draco a conhecia como nenhum outro jamais conheceria, ele sabia como ela funcionava por inteiro e sabia como trabalhar com ela. Confiava nele.

Draco a colocou sobre a mesa e foi somente quando ele abaixou o zíper de sua roupa e descobriu seus ombros, que Pansy soube que ele estava disposto a provar que ela nunca sairia da vida dele, que ele sempre estaria lá para tocá-la quando quisesse, mas os passos do lado de fora da sala, algumas batidas na porta e a entrada de Hermione fizeram com que ele se desgrudasse.

Pansy se virou para receber o olhar que gostaria. Hermione pareceu primeiramente confusa pelo que via, mas rapidamente sua expressão se tornou serena e inexpressiva, enquanto seus olhos pulavam de Draco para Pansy com muita calma. Ela deu um passo à frente, sem medo.

– Deveria trancar a porta. – a voz dela soou rígida pela sala em direção a Draco.

– Lembrarei disso da próxima vez. – ele respondeu firme, tentando mostrar aborrecimento por ter sido interrompido, embora certamente estivesse perturbado pois era notável que Pansy havia conseguido distraí-lo ao ponto de fazer com que ele se esquecesse que aquela era a hora que normalmente recebia Hermione em sua sala.

– Seja rápida Sangue-Ruim, não vê que está nos tomando tempo? – Pansy deliciou-se ao dizer aquilo, enquanto colocava as alças de sua roupa no lugar.

O olhar de Hermione foi frio quando piscou com calma e direcionou-se para ela. Aqueles olhos dourados ficaram sobre Pansy alguns segundos, como se estivesse pensando se valia à pena retrucar aquilo ou não. A conclusão pareceu ter feito com que ela resolvesse ignorar, pois tornou a piscar e voltar seus olhos para cima de Draco. Havia desgosto e desprezo agora.

– Estou voltando para casa. – Hermione anunciou – Vai estar lá para o jantar?

– Sim. – Draco respondeu.

– Devo atrasá-lo? – ela perguntou, lançando um rápido olhar a Pansy. Referia-se ao fato dele querer mais tempo para ficar na Catedral com a mulher. Pansy esperou que ele respondesse “sim”.

– Não. – foi o que Draco respondeu. – Tem algo importante para mim?

Hermione ficou em silêncio. Seu olhar continuou firme e, por alguma razão, ele se tornou um pouco significativo demais. Um envelope que ela carregava nas mãos fez um barulho discreto quando a palma de sua mão se fechou contra ele, de forma nada gentil.

– Não. – ela arrastou-se para responder. Respirou fundo e recuou um passo. – Não tenho a intenção de atrapalhar a diversão de vocês. – forçou um sorriso de desprezo. – Devo trancar a porta?

– Não há necessidade. – Draco respondeu não gostando da sugestão irônica que a esposa havia feito.

– Tem certeza? Não há nenhuma secretaria para deter visitar por...

– Não há necessidade, Hermione! – ele a cortou e dessa vez foi irritado.

Hermione se calou e Pansy recebeu um olhar muito seco vindo dela. A mulher fez questão de abrir um sorrisinho vitorioso e ela nada respondeu com o olhar, continuou firme e muito calmo. Então, tornou olhar para Draco.

– Vejo você em casa. – disse para ele e saiu, e então, Pansy soube que aquela era a resposta ao seu sorriso vitorioso, porque não importava que fosse importante para Draco e que tivessem uma história juntos, era Hermione quem o teria para o resto da vida compartilhando da mesma cama, do mesmo lar, da mesma família.

Pansy olhou para Draco sentindo o incômodo de saber que sempre seria um objeto pairando entre os Malfoy. Era uma escolha que ela havia feito em não sair daquela zona, porque mesmo que sua razão a dissesse que estava agindo de maneira estúpida, seu coração não deixava que ela abandonasse todos os sentimentos que a ligava a Draco.

– Saia. – ele foi frio ao ordenar aquilo e ela soube que Draco havia entendido a intenção da visita dela.

– Não dá pra acreditar que vai ficar irritado! – exclamou ela.

– Pansy, eu fui muito objetivo. – ele a encarou com aquele olhar mortal, enquanto tornava a se sentar – Saia! – repetiu com muito gosto.

Ela saiu de cima da mesa, se irritando também. Ele não deveria ficar irritado, pelo contrário, onde estava o espírito que sempre havia existido nele em querer humilhar Hermione? Draco deveria estar se sentindo bem por deixar claro para ela que ele jamais seria um marido fiel.

– Por que está irritado? Não vamos continuar aquilo que começamos? – Pansy soltou com indignação.

– Não. – Draco foi objetivo e voltou a se concentrar naquilo que havia deixado de lado quando se levantou.

– Não? – ela não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

– Se não conseguiu entender, eu disse a Hermione que vou estar em casa para o jantar no horário de sempre o que me deixa muito pouco tempo para terminar aquilo que eu já estava fazendo quando você entrou por aquela porta! – ele se fez bastante claro. – Agora, saia!

– Está incomodado por saber que ela o viu...

– Pansy! – a voz dele foi um tom mais alto, curto, seco e temível em um grau que a fez recuar. O aviso foi claro: “basta!”. E ela parou, sabia que não deveria avançar aquele ponto. – S-a-i-a!

Ela saiu.

Draco Malfoy

Draco se viu parado de frente a porta principal de sua própria casa. O vento úmido da noite alertava o início, ainda não tão próximo, do verão. Pansy apontara o tempo que se havia passado desde seu casamento e Draco mal conseguia acreditar que já estava com Hermione em sua casa há tanto tempo. Logo faria um ano e para ele sequer parecia ter se passado um mês, ainda se lembrava da noite de seu casamento, como se não tivesse sido há muito tempo.

Entrou e o silêncio usual o recebeu. O vazio de sua casa o acolhia com frieza e ele já estava acostumado. Olhou no relógio em seu bolso para checar se estava sendo pontual e dirigiu-se para a sala de jantar.

Lá estava Hermione, vindo de uma das entradas que dava para a cozinha em seus trajes elegantes e ao mesmo tempo discretos. Ela parou ao lado de sua cadeira com o olhar firme em direção a ele. Detrás daquele olhar havia a sombra do que ela vira há algumas horas atrás em sua sala.

Draco preferia ignorar qualquer reação que Hermione queria ter diante daquilo. Ela não tinha direito. Sempre soubera que ele jamais seria um marido fiel, e da parte dela também não era necessário que houvesse qualquer resposta, afinal, o odiava. Mas enquanto caminhava para tomar seu assento, Draco se sentia na pele de seu pai, encarando sua mãe. Quantas vezes Narcisa não deveria ter se sentado à mesa com seu pai, sabendo das mulheres com o qual Lúcio havia passado suas horas do dia.

Puxou sua cadeira e sentou-se, sentindo o gosto de todas aquelas sensações amargar em sua garganta. Hermione se sentou logo em seguida. O silêncio era o de sempre, mas dessa vez era extremamente incômodo. Ordenou que Tryn servisse a entrada e assim foi feito.

Hermione deu duas garfadas e parou. Ela vinha repetindo aquela forma de comer fazia alguns dias e o café da manhã era a refeição que, definitivamente, ela parecia ter abolido. Draco não se importava com o fato dela não ter fome, mas aquilo soou para ele como um pretexto para quebrar aquele silêncio insuportável.

– Tinha algo para me entregar quando foi a minha sala. – acabou por dizer aquilo quando abriu a boca.

Ela ergueu o olhar para ele.

– Não tinha. – foi clara.

– O envelope que segurava. – Draco a lembrou. – Era para mim.

– Era apenas um envelope que eu segurava. – Hermione sobrepôs. Pausou e foi naquele único segundo de pausa que ele percebeu que o cérebro dela trabalhou rapidamente – Papéis sobre a gerência das casas de justiça. Estamos nos processos finais. Tinha que trazer para casa. – foi tudo que ela disse.

Draco a olhou, enquanto engolia sua comida e tomou um breve gole de seu vinho.

– Sei que era para mim. – disse e esperou por uma resposta dela, mas não houve nenhuma. O olhar que Hermione tinha sobre ele era cheio de julgamentos. – Tudo bem. – respondeu de forma calma ao modo agressivo com o qual ela o olhava e tornou a focar-se em sua comida. – Não é necessário que o passe a mim se julgar que não deve. – encheu a boca de comida e a viu brincar com a dela no prato. – Quando será seu discurso? – perguntou, assim que esvaziou a boca.

– Por que quer conversar, Draco? – ela foi agressiva novamente pelo tom cansado e sem paciência que usou. A verdade era que o irritava saber que Hermione estava irritada. Ela não deveria estar!

– Não quero conversar, quero saber quando será o seu discurso. – Draco sabia que continuar fazendo com que sua mulher falasse a irritaria mais ainda. E o fato dele estar irritado com ela, fazia com que quisesse vê-la ainda mais irritada.

– Pensei que não fosse do seu agrado que levantássemos diálogos na hora do jantar...

– Hermione! – Draco se irritou finalmente e a encarou. – É muito simples: eu faço a pergunta, você responde! Quando será o seu discurso?

Eles tiveram uma guerra naquela troca de olhares silenciosa.

– Mês que vem. – ela respondeu quase que arrastada.

– Quero ter acesso a ele antes de todos os outros. – Draco disse e voltou-se para sua comida.

– Isso é impossível, Jodie deve ser a primeira a lê-lo.

– Jodie está do lado de Theodoro, ela modificará qualquer coisa que escrever para beneficiar os interesses dele. Acha que os dois não trabalham juntos? Jodie desceu do cargo que ela tinha para ajudar alguém a subir para um cargo maior que o dela. Por mais amigos que os dois sejam, ela não está fazendo isso por caridade.

– E você quer o discurso primeiro para modificá-lo de modo que os seus interesses sejam beneficiados? O discurso é meu, Draco! Jodie disse que eu tenho total autonomia sobre ele, o farei do modo como julgar melhor, e ninguém irá modificá-lo.

– Pensei que tivéssemos concordado em trabalhar juntos, desde que apresentou o caso dos Mori.

– Trabalhamos juntos no caso dos Mori porque eu tinha interesses nele o trazendo à tona. Sabe disso.

– E uma coisa não liga a outra?

– Não, Draco. – Hermione se levantou – Eu não estou do seu lado. Nós não somos um time. Eu não quero que trabalhe no meu discurso para promover seus interesses. Interesses que eu não tenho conhecimento nenhum.

– É uma tola por acreditar que pode vencer algo aqui dentro, sozinha. Deve escolher bem seus aliados e não sei se percebeu, mas o sobrenome que tem te dá uma excelente dica sobre o lado que deveria escolher. Pode continuar querendo seguir a hierarquia do departamento em que trabalha, mas vou te dizer algo, Hermione. Jodie trabalha para Theodoro e acredite ou não, ela faz o que ele manda. Por mais que ela tenha dito que terá autonomia no seu discurso, se ele pedir para mudá-lo, você terá que mudar e não sei se percebeu, mas Theodoro não tem sido um bom colaborador para o nosso lado nesses últimos tempos.

– Pensei que ele fosse seu amigo.

– E ele é.

– Isso não é amizade.

– E o que é amizade para você, Hermione? – Draco largou os talheres e levantou os olhos para ela.

– Companheirismo. – ela parecia saber bem o que era. – Confiança. – Ah, sim. Hermione vivia no lindo mundo de fantasias, ele havia se esquecido disso. – Ter amigos é como ter outra família.

Draco riu.

– Uma família como a que perdeu? – ele não soube exatamente o porque deixou que sua provocação chegasse até aquele nível, mas o fogo de ódio que brilhou nos olhos de Hermione não o deixou se surpreender quando seu prato de comida foi atirado contra ele, num ato de pura violência. A comida sujou sua roupa cara e Draco não se importou. Era o mínimo que sua mulher poderia ter feito diante de uma ofensa como aquela. Ele passou os olhos pela sujeira que Hermione havia feito e depois a olhou novamente. Algum palavrão muito pesado parecia estar querendo sair da boca dela, mas todo aquele ódio pareceu descer amargo porque, de repente, os olhos dela brilharam se enchendo de água, e então, ela se retirou antes que ele pudesse ver qualquer cena que não quisesse.

Suspirou. Procurou por sua varinha enquanto gritava por Tryn. Limpou-se e pediu para que elfa fizesse o mesmo com o restante da sala de jantar. Levantou e subiu para seu escritório batendo a porta com mais força do que deveria, quando finalmente chegou ao lugar.

Se Hermione se achava no direito de ter raiva, apenas por ter o visto com Pansy, Draco faria com que ela tivesse ainda mais raiva até que finalmente, resolvesse abrir a boca e soltar tudo àquilo que queria dizer a ele. Até porque tudo que Draco queria era entender o que a fazia ter raiva.

Estirou-se em sua poltrona fazendo seus dedos massagearem os olhos, enquanto ordenava que um copo de whisky se enchesse e fosse até ele. O tomou aos poucos, enquanto tentava esvaziar sua mente. Tentou novamente, quando esvaziava o segundo copo, mas ainda assim não conseguia esquecer a imagem de Hermione com aquela expressão crua, limpa e fria passando os olhos dele para Pansy. Ele tinha alguma culpa, sim. Não por Hermione, mas por ter sido levado por Pansy numa situação como aquela. O problema é que imaginar que estava vivendo para uma mulher apenas, e essa mulher sendo Hermione, o fazia ter repulsa de si mesmo e Pansy cuspira isso em sua cara.

Sentiu-se sufocado de repente. Passou a tirar seu terno, a gravata, a abrir os botões de sua camisa e puxar as mangas. Soltou o ar de uma vez e cobriu o rosto. Bagunçou os cabelos, se levantou e percebeu que não conseguiria viver se não resolvesse aquilo.

Foi para o quarto e o encontrou vazio, silencioso e escuro. O lado da cama de Hermione estava intacto. Seguiu para o lavatório onde as luzes estavam acessas. Ela estava lá, de costas para ele, de frente para o espelho. Vestia seu hobby e passava loção nos braços. Hermione parou assim que notou a presença dele. Ergueu os olhos para o espelho, conseguindo visualizá-lo as suas costas. Os olhos dela estavam vermelhos. Ela havia chorado, portanto parecia cansada.

Draco se aproximou sem medo. Colou seu corpo contra o dela e segurou a bancada, passando os braços um de cada lado, fazendo com que Hermione não tivesse rota de escape. Ela soltou o ar, cansada. Eles se encararam pelo espelho. O silêncio soou desafiador entre os dois. Era óbvio que sua mulher o queria a milhões me metros de distância, mas ela aparentava estar tão cansada e com tanto ódio, que um parecia ter o poder de anular a força do outro, portanto Hermione apenas permaneceu ali.

– Tem direito de ter raiva pelas coisas que eu disse durante o jantar. – começou Draco.

– Isso é o um pedido de desculpas? – o olhar dela continuava carregado de repreensão.

– Não peço desculpas por aquilo que eu repetiria novamente.

Hermione soltou o ar, fazendo uma careta de nojo.

– Me deixe ir. – exigiu ela friamente quando viu que não tinha rota de escape.

– Não antes de explicar o porquê se acha no direito de ficar com raiva por ter me visto com Pansy.

O olhar dela subiu para Draco pelo espelho, surpreso, dessa vez. Hermione parecia não acreditar que ele estava querendo mesmo tocar naquele assunto. Tomou alguns segundos para processar e aceitou entrar naquela questão, com coragem.

– Está sugerindo que eu não teria o direito de ficar com raiva?

– Não estou sugerindo nada, Hermione. – ela queria o enrolar, só podia. – Fui bem claro. Está com raiva por ter me visto com Pansy.

– E eu não poderia estar?

Draco soltou o ar sentindo que poderia se irritar facilmente daquele ponto.

– Não me faça ter que te explicar sobre a relação que eu e você...

– Não sou burra, Draco! – ela o cortou – Sei bem sobre a nossa relação, mas o fato de estarmos juntos por um contrato não me faz ser menos humana.

Ele não entendeu exatamente.

– Nós não temos envolvimento, Hermione. – Draco quis deixar claro.

– Está errado. – Hermione foi firme – Pelo contrário. Temos um envolvimento desde que nos conhecemos...

– Não um envolvimento que justifique o fato de ficar com raiva por ter me visto com...

– Sou sua esposa! – ela o cortou, subindo o tom de sua voz. Ele pôde sentir a fúria emanar dela e resolveu se afastar. Hermione voltou-se para ele e aqueles olhos dourados agora se dirigiram a ele diretamente. – Você me deve respeito...

– Eu não devo nada a...

– Sim, deve! – o tom dela era profundamente severo – Temos nos odiado por muito tempo, Draco, e não é porque moramos debaixo do mesmo teto que isso vai mudar! Mas não pense que tem o direito de me tocar com essas mãos e me fazer ver essas mesmas mãos tocando outro corpo. Entenda bem que não estou pedindo por sua fidelidade, até porque sei que não seria fiel nem se quisesse. Estou pedindo que não me deixe ver você com as mulheres que leva para cama. Sei que sou mais um dos seus objetos sexuais, não é necessário que me dê provas! – Hermione deu as costas e tomou o rumo da saída.

– É isso que considera respeito? Que eu leve mulheres para a cama pelas suas costas?

Ela tornou a se virar.

– Não. Isso não é exatamente o que eu considero respeito. Mas o que eu poderia exigir de alguém que não sabe nem um terço do que significa respeito, não é mesmo Draco? Você não tem qualidade para me respeitar, por isso, estou pedindo que pelo menos considere o grau do status que temos dá melhor forma possível.

– Respeito é algo que fica difícil de administrar na nossa relação...

– Esqueça a nossa relação, Draco! – Hermione aumentou o tom ainda mais ao cortá-lo. – Somos casados! O que eu chamo de lar é onde você também vive! Somos uma família querendo ou não! Serei a mãe do seu filho! Não tem mais como mudar isso, está além das nossas vontades! Sabe disso! Não estou pedindo o seu respeito genuíno, até porque não saberia dá-lo! Estou apenas implorando para que considere que sou humana, que não sou obrigada a ver o homem que me toca quando quer, levando outras mulheres para cama! Não me importo que tenha aprendido isso com seu pai, mas se o odeia tanto pelo que ele faz com sua mãe, use pelo menos o bom senso quando for pensar em nós. Está no mesmo lugar que ele agora, independente do ódio que tem por mim!

Ela deu as costas novamente e, dessa vez, Draco a deixou ir. Sim, ele estava no lugar de seu pai agora e isso às vezes o deixava sem saída. Afinal, era isso que seu pai queria quando o fez se casar com Hermione. Soltou o ar sentindo-se revoltado por saber que ela tinha um ponto a defender quando soltou tudo aquilo e ele deveria considerar cada palavra daquela.

Se havia aprendido algo com Hermione era que quanto mais ele a atacasse, mais ela teria para contra-atacar, e o que Draco não queria era incentivar a falta de respeito na pobre e fraca relação que tinham conseguido equilibrar, senão viveriam um inferno pior a cada dia e ele havia descoberto que viver um inferno todo dia com Hermione era extremamente cansativo.

Soltou o ar cansado e foi tomar seu banho. Demorou mais tempo do que o que havia previsto, mas sentiu que havia renovado um pouco das forças e organizado um pouco a sua mente. As palavras de Hermione continuavam sendo remoídas em sua cabeça e foi assim que voltou para o quarto.

Encontrou sua mulher debaixo de uma luz fraca no sofá, próximo à lareira. Ela lia um livro grande e pesado e levantou os olhos para ele, assim que o viu voltando para o quarto. Draco parou. Encararam-se por alguns segundos. Hermione ainda não tinha nenhum olhar amigável.

– Vinho? – ele resolveu oferecer.

Ela deu de ombros e ele tomou aquilo como um sim. Ocupou-se em encher uma taça para cada um deles. Draco jamais faria aquilo em seu estado normal, mas talvez aquele fosse o primeiro dia de sua vida inteira que ele havia aceitado que Hermione era sua esposa, não pelo status, não pelo casamento, ou pelo novo sobrenome dela, mas por finalmente entender que aquela era a mulher que estaria com ele para o resto da vida e que aquilo era definitivamente permanente. Não tinha para onde correr.

Foi até ela e estendeu a taça. Hermione a pegou e ele rumou para o sofá oposto, onde se estirou da maneira mais confortável possível. O silêncio entre eles pairou, enquanto Hermione tinha sua taça nas mãos e mantinha os olhos nele como se estivesse esperando por aquilo que ele fosse fazer em seguida, com muita curiosidade.

– Sabe que se não estivesse com essa cara, muito provavelmente, estaríamos fazendo sexo, não sabe?

Hermione revirou os olhos como se Draco tivesse matado alguma expectativa dela.

– Não somos mais tão animais quanto éramos antes. – foi o que ela comentou.

– Não importa. Sabe que estaríamos. – disse ele e tomou do vinho.

Ela soltou o ar, não muito contente por saber a verdade que ele falava, e levou sua taça a boca. Mas foi exatamente quando estava a entornando que parou a meio caminho. Afastou a taça e olhou com um olhar diferente para o líquido em seu copo. Draco a examinou, enquanto Hermione ficava ali entretida com o funcionamento engenhoso de seu cérebro.

– Não está envenenada. – ele resolveu se manifestar e ela levantou os olhos para Draco como se tivesse sido arrancada de uma tempestade de pensamentos.

– Sei disso. – Hermione usou uma voz muito baixa para responder.

– O que há de errado então com a bebida?

Ela fez que não com a cabeça e puxou o ar, como se estivesse procurando o que dizer.

– Não a quero. – foi o que saiu de sua boca. A aliança que tinha em seu dedo fez um ruído contra o vidro e Hermione colocou sua taça na pequena mesa que havia ao lado.

Draco não discutiu. Desviou o olhar para a lareira apagada logo ao lado. Deixou que seus pensamentos fluíssem e se perguntou se não seria interessante que ele e Hermione fizessem aquilo com mais frequência. Embora não dissessem nada, ele sentia que havia uma quebra da tensão com a qual eles dois lhe davam sempre que estavam juntos. Afinal, Hermione estava certa quando dizia que eles tinham, sim, um envolvimento. Eram envolvido um com o outro desde que se conheceram. Primeiro aquela relação de gato e rato em Hogwarts, depois um contra o outro em uma guerra mundial, agora marido e mulher. Ele sentia que aquele silêncio carregava o cansaço da longa história que já haviam tido.

– Eu nunca quis ser como o meu pai. – se permitiu dizer, depois de alguns longos minutos em silêncio e soube que aquilo seria suficiente para alertá-la. Draco não queria ter aquele tipo de conversa, mas sabia que em algum ponto de sua longa vida com Hermione, aquilo deveria ser posto as claras. – Eu costumava pensar que ele um dia seria o herói da humanidade, que ele salvaria o mundo e ensinaria a todos sobre os preconceitos que havia me ensinado, que o mundo o exaltaria, e que então, eu seguiria seu legado. – tomou um gole de seu vinho. – Mas então, Lorde Voldemort reapareceu, eu vi que minha família não era a fachada que aparecia nas revistas e finalmente consegui ver que meu pai não passava de um cafajeste influente. Mas isso é o que menos me faz odiá-lo. O que mais me irrita além do descaso que ele tem por minha mãe é a forma como ele tenta justificar quem ele é me colocando na mesma situação que ele. Dentro de uma casa, com uma aliança na mão, tendo o poder que eu tenho e ao lado de uma mulher que me obrigaram a chamar de esposa. – soltou o ar com calma – Não queria que tivesse visto o que viu hoje, fez com que eu me sentisse como ele.

Tornou a encará-la e viu seu olhar repreensivo suavizar aos poucos. Hermione abaixou os olhos para o livro em suas pernas e passou os dedos pela folha distraidamente.

– É bom saber que afetou os dois lados. – sua voz soou calma, dessa vez. Ela passou a página e ergueu os olhos dourados para Draco – Foi bom ter sido honesto. Poupou-nos de uma semana muito desconfortável em casa.

Draco sabia que ela ficaria com aquele olhar rancoroso por bem mais de uma semana. Conhecia pouco sobre Hermione, mas sabia que ela não se sentia bem sabendo que estava agindo como animal indo para cama com ele apenas por prazer. Havia sido uma longa jornada até fazer com que sua mulher se sentisse realmente confortável fazendo isso, não queria tocar naquela ferida enquanto não tivesse certeza de que havia sido cicatrizada.

O silêncio entre eles durou. Draco deixou que rolasse e ela também. Era a primeira vez que se encontravam naquela situação, a primeira vez que partilhavam de um ambiente onde não estivessem de passagem, tratando de algo importante por obrigação, fazendo sexo, comendo ou dormindo. Aquilo parecia confortável e íntimo para o que significavam um para o outro.

Hermione puxou o ar e fechou seu pesado livro. Draco a olhou e eles se encararam por alguns segundos.

– Já encontrou alguém para seu escritório? – ela perguntou.

Draco negou com a cabeça.

– Preciso de alguém que eu consiga controlar e isso é algo um pouco difícil de encontrar em Brampton Fort, quando não se tem a inteligência e capacidade que quero.

Hermione parecia concordar com aquilo.

– Gostaria de ter acesso a alguns de seus documentos. – foi bem direta e ele quase riu da tentativa.

– O que não vai acontecer. – mas Draco bem sabia que ela havia encontrado uma maneira de revirar seus arquivos se aproveitando da fragilidade em seu escritório, agora que ele estava sem secretária.

Hermione soltou o ar, erguendo as sobrancelhas sem se importar muito com o não que havia recebido. Ela já sabia que o receberia, afinal. Colocou o livro de lado e se levantou.

– Vou dormir. – foi a despedida dela e deu as costas.

– Temos que acordar meia hora mais cedo. – Draco lembrou-se de avisá-la. – Adiantei a reunião com o Conselho, assim não se atrasará para suas visitas a Academia nessas semanas finais.

Ela parou e virou-se para ele com uma expressão de surpresa contida. Assentiu com a cabeça e disse:

– Sem problemas. – afinal, eles nunca diziam obrigado um para o outro, nem pediam desculpas.

Assentiu de volta, em sinal de que havia entendido e desviou o olhar. Soube que Hermione tomou o rumo da cama e ele se reacomodou no sofá. Bebeu mais um gole de seu vinho e deixou o sabor lhe dizer tudo sobre aquela safra. Engoliu e seus olhos caíram sobre a taça cheia de Hermione do outro lado na mesinha ao lado, onde estava há minutos atrás. Sua cabeça vagou inconsciente por milhões de pensamentos e foi somente depois de alguns minutos que percebeu que estava conseguindo ligar um ponto ao outro. Sua mulher quase não comia e quando comia, comia muito. Também dormia mais do que o usual, não estava bebendo álcool, se sentia cansada com frequência. Draco não sabia muito bem, mas... Seus olhos pularam para a figura de Hermione despindo-se de seu hobby. Sabia que deveria perguntar, mas não sabia se estava pronto para receber uma resposta que não gostaria de ouvir. Tornou a encarar o vinho deixado por Hermione. Não sabia o que pensar direito, mas se algo estava ficando claro ali era que ela, muito provavelmente, estava grávida e Draco não tinha a menor idéia de como reagir a isso.

Uma noite nunca fora tão longa. Havia demorado a sair do conforto de perto da lareira para a cama, e ao deitar ele não havia conseguido engatar em nenhum sono muito profundo. Além de ter demorado em conseguir pregar os olhos, seus sonos superficiais o traziam para a realidade com frequência. Teve tempo para pensar mais do que para dormir e quando deu à hora para eles, Draco já havia colocado sua cabeça em ordem.

Hermione sentou-se primeiro do que ele, embora sempre levantasse primeiro que ela. A noite não havia sido boa para ambos e Draco notou que mesmo antes do relógio bater a hora que deveriam se levantar, os dois já estavam acordados. Ela alinhou a coluna como se tentasse aliviar a tensão muscular da noite mal dormida e colocou as pernas para fora da cama. Sentada, jogou o cabelo todo para um lado, respirou fundo e quando soltou o ar Draco viu que ela não tinha ânimo nenhum para levantar.

Ele se esticou do seu lado e colocou os braços para trás como apoio para sua cabeça. Hermione virou os olhos para ele e Draco a olhou de volta. Encararam-se no escuro da manhã em silêncio por um bom tempo, até que ele abrisse a boca:

– Problemas?

– Não me sinto bem. – ela respondeu com a voz rouca e preguiçosa.

– É a segunda vez essa semana. – ele comentou depois de alguns segundos.

– É a segunda vez essa semana, que eu digo. – Hermione falou e com aquilo, Draco pôde concluir que ela não estava se sentindo bem todos os dias.

Ela virou-se, deixando de encará-lo.

– Se não for à Catedral é melhor que comece a preparar suas cartas de justificativa. – disse ele.

Hermione suspirou.

– É apenas durante as manhãs. – se levantou cansada – Passará.

Draco a observou vestir o hobby com calma e tomar o rumo do lavatório. Na semana anterior, Hermione não havia ido a Catedral uma vez por não ter se sentido bem, talvez ela acabasse resolvendo ficar. Era justificável em seu estado, claro.

Ele se sentou, esfregou os olhos e passou os dedos por entre os cabelos. Suspirou e se levantou. Há alguns dias Draco sentia que estava cansado daquela rotina e se perguntava quanto tempo mais demoraria, mas então, se lembrava de que deveria ser paciente e foi assim que ele seguiu para o lavatório, mas logo quando passou do arco principal e atravessou o vestíbulo, conseguiu ver Hermione debruçada sobre a pia segurando os cabelos com uma mão e a varinha com a outra. Ele parou e ela abriu a torneira colocando água na boca, cuspiu e ergueu-se soltando os cabelos. Ela parecia completamente sem forças. Pelo espelho o suor frio brilhava em sua testa, mas parecia bem mais corada agora.

– Está grávida? – Draco perguntou de uma vez, quando o olhar dela se encontrou com o dele as suas costas pelo espelho. Ela ficou muda. Ele esperou que Hermione respondesse, mas nada veio dela. Draco realmente não estava com paciência para qualquer drama que ela estivesse enfrentando. – Hermione, você está...

– Sim. – soltou antes que ele terminasse sua pergunta.

A resposta o incomodou, mas já estava pronto para ela.

– Há quanto tempo sabe?

– Recebi o resultado ontem.

– E quando pretendia me contar?

Ela parecia não querer responder aquilo.

– Ontem. – acabou por dizer – Quando fui a sua sala.

Então Draco finalmente entendeu o motivo do envelope. Sabia que era para ele. Aproximou-se indo para seu lado da pia. Empurrou o espelho e puxou a lâmina para tirar os pelos do rosto. Hermione continuava estática ao seu lado.

– O mestre sabe disso? – perguntou Draco, da maneira mais casual que conseguiu.

– Não. – a voz de Hermione saiu baixa.

– Deveria contar a ele. – disse ele, analisando pelo espelho que lado do rosto seria melhor para começar.

– Não deveríamos fazer isso, juntos?

– Não é meu herdeiro, Hermione, é o dele. – Draco disse, passando o creme pela barba. – Não tenho muita coisa haver com isso. Ele queria um filho seu, não queria? Aí está o filho. – molhou a lâmina - Dê ao mestre quando nascer. – finalizou e começou a raspar os fios de seu rosto.

Hermione ainda continuou ali. Chocada. Esperou que o lado ferido dela começasse a exclamar que ele não tinha coração, não era ser humano, não se importava com a humanidade das outras pessoas, mas o que recebeu em resposta foi a raiva dela, vestida com as roupas Malfoy que havia adquirido depois que sua mulher tomou todos os segundos que precisava, para acreditar em tudo que ele havia dito.

– Pedirei que mandem o resultado para ele. – Ela disse secamente, deu as costas e saiu. Hermione não melhoraria aquele humor tão cedo depois de ter o visto com Pansy e depois de ter escutado o que ele havia dito ali, mas Draco não se importava, ou pelo menos achava que não.



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Notas finais do capítulo

Hum.... Esse Draco é bom em não demonstrar qualquer tipo de sentimento, viu?! haha Vamos ver como as coisas vão mudar daqui pra frente. :)