The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 8
Primeiro passo




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Dean me levou até em casa e antes que me despedisse veio a lembrança de que eu ainda não havia feito meu currículo e a tia Joyce, pelo que eu sabia, não tinha computador ou notebook.

— Dean, preciso de um favor — me virei para ele antes de abrir a porta da frente.

— Se for um beijo não precisa pedir. — ele falou ansioso.

— Bom, primeiro, ainda não chegamos nessa parte, e segundo, eu preciso fazer um currículo para amanhã, você me ajuda? E também não tenho computador ou impressora aqui, então...

— Entendi — ele sorriu — Vamos à minha casa.

A casa do Dean era mais perto da biblioteca do que a casa da tia Joyce. Assim que chegamos ele pediu silêncio por que seus pais poderiam estar dormindo, eu não fazia ideia de que já era tão tarde, Nova York faz parecer que a noite é uma criança. Subimos até o quarto dele, era normal, como qualquer quarto de um adolescente pulando para a fase adulta. Dean abriu o notebook, sentou na cama e eu me pus ao lado dele.

— Certo, para qual empresa você vai enviar isso? — ele perguntou quando abriu o editor de texto.

— Hã... — fiquei sem jeito de dizer — Para a Book’s Machine.

Dean me olhou com um quê de surpresa e se voltou para o teclado do notebook, eu não precisei dar muitas informações e depois de quatro minutos ele disse:

— Pronto.

— Já? — o vi apertando a última tecla — Quer dizer, você não vai revisar ou coisa assim?

— Bom, acho que já fiz mais currículos na vida do que você. Acredite, eu sei o que estou fazendo. — ele riu de leve — Já está saindo da impressora.

Dean voltou os olhos para a tela e pareceu um pouco distraído, me senti culpada, até agora eu não fui a pessoa mais doce do mundo e ele fez para mim o que eu julgava ser a coisa mais difícil da Terra em poucos minutos. Me inclinei para Dean num movimento involuntário e parei no meio do caminho, o que seria um beijo em sua bochecha me pareceu ser demais para alguém que eu mal conhecia. Levantei da cama e peguei o papel na impressora, tudo estava perfeitamente gravado com letras formais, observando-o bem não havia quase nada, então fiz uma referência à minha vida, era exatamente como este currículo, quase vazio.

— Obrigada — murmurei com uma sinceridade verdadeira.

— Não há de quê — Dean deu um meio sorriso.

— Bom… Preciso ir para casa.

— Eu te levo até a porta.

Descemos as escadas com passos silenciosos até a saída, pensei que desta vez eu voltaria sozinha, mas vi Dean pegando o casaco que estava pendurado na parede.

— Garotas bonitas não devem andar sozinhas, ainda mais em uma cidade como Nova York — ele disse com uma expressão risonha ao ver minha cara confusa. — O quê? Eu disse alguma coisa errada?

— Não. Só não estou acostumada com elogios.

As ruas ainda se mantinham em ritmo moderado de pessoas indo e voltando, andando em várias direções, mas agora se tornara mais fácil de andar.

— Como assim você não está acostumada com elogios? — interrogou O’Conner.

— Minha autoestima nunca foi meu ponto forte. Na verdade, se eu for falar dos meus defeitos passaremos dias conversando. Não é algo que eu goste de fazer.

— Eu não me importaria. Mas então, o que você gosta de fazer?

Eu tenho o peculiar costume de colocar a mim mesma em situações dentro da minha própria mente, pode ser uma coisa estranha para o resto da humanidade, mas isso sempre me levou a conclusões construtivas e a enxergar coisas que me passaram despercebidas. Mas com relação à pergunta de Dean a resposta era simples, escrever. Sempre gostei deste passatempo até ele se tornar uma terapia, procuro sempre pôr um pouco de mim em minhas histórias mas sem me expôr demais. O problema é que nunca consegui terminar o que comecei, então minha pasta de documentos do computador é repleta de enredos incompletos. Agora, sem meu notebook é difícil continuar algum deles, minha falta de inspiração também contribui para que tão cedo eu volte a fazer qualquer coisa do tipo.

— Ouvir músicas — dei uma resposta genérica, também é uma verdade.

— Interessante — respondeu Dean, simplesmente.

Chegamos à casa da tia Joyce mais rápido do que eu esperava.

— Obrigada de novo — tornei a agradecer.

— Se precisar de qualquer coisa, me procure. Ou grite, seja qual for o jeito, conte comigo.

— Tudo bem — me virei para a porta reprimindo uma risada.

— Hey, Aurora — senti uma mão segurar meu braço.

— Sim? — dei meia volta.

— É melhor passar a se acostumar com elogios. — Ele fingiu uma expressão séria, mesmo assim era como se eu ainda pudesse ver um sorriso nos lábios dele — Só por precaução.

— Vou tentar — sem muito esforço soltei um leve riso involuntário e me despedi de O’Conner — Boa noite.

–------

No dia seguinte fui até a biblioteca e entreguei meu currículo à Sra.Lourien, ela fez algumas perguntas que eu soube responder e outras na qual achei que fui um desastre, mas para a minha felicidade ela disse “Bem-vinda à Book’s Machine” e apertou minha mão.

— Onde pensa que vai Srta.Hopper? — ela perguntou quando eu já estava quase do lado de fora de sua sala.

— Eu não começarei amanhã? — franzi o cenho.

— Não, você começa hoje, fale com Dean O’Conner, nosso supervisor, ele vai ajudá-la e entregará seu uniforme.

Procurei Dean pelos corredores da biblioteca e o encontrei na seção de mistérios. Estava pondo uma pilha de livros de volta nas prateleiras, quando me viu abandonou os volumes e me fitou ansioso com seus olhos caramelo fixos em mim.

— E então? Como foi?

— Dean… — abaixei a cabeça — Pode me dar meu uniforme?

— Ah! — ele tombou a cabeça para trás — Quase me deu um susto. Espere, isso quer dizer que…

— Sim, — desta vez fiz questão de me entregar à emoção — meu primeiro emprego!

Eu parecia uma criança de sete anos abrindo o primeiro presente em uma manhã de natal, não me preocupei em surtar, embora eu geralmente não me comportasse assim, era por uma boa razão. Dean me abraçou e parecia mais entusiasmado do que eu, isso durou até o momento que passou a ser constrangedor.

— Vem, vou te entregar seu uniforme. — Não era grande coisa, apenas uma blusa azul com o símbolo da biblioteca e uma frase nas costas dizendo “Posso ajudar?” — Ficou bem em você — ele deu um meio sorriso e eu revirei os olhos em resposta.

Não significa que eu não tenha gostado do elogio, é só uma estranha e incomum sensação de ter alguém reparando em mim. O’Conner me conduziu por todas as seções da loja, haviam tantas e eram tão pouco indistintas uma da outra que eu levaria algum tempo para aprender a localização de todas elas. “Você se acostuma” me confortou Dean, segundo ele mesmo já faziam dois anos que trabalhava na Book’s Machine e entrou tão perdido quanto eu.

O fato de estar entre o que mais adoro, os livros, já é prazeroso. Agora que finalmente vou gastar meu tempo fazendo algo útil como trabalhar o peso da maturidade começa a pousar nos meus ombros, mas não é desconfortável, pelo contrário, é a melhor sensação do mundo. Dean e eu tínhamos vários livros para pôr de volta nos seus devidos lugares entre as centenas de prateleiras, não hesitei em fazer o meu melhor. O’Conner tinha uma maneira bem-disposta e ao mesmo tempo engraçada de trabalhar, não paramos um segundo sequer e mesmo assim não me senti cansada, ele fazia a biblioteca parecer um parque de diversões e eu gostava disso.

De qualquer maneira estávamos em sintonia e acabamos de arrumar tudo a tempo de tomar um café na lanchonete ao lado.

— Hoje está sendo o melhor dia da minha vida! — declarei.

— Então, um brinde ao melhor dia da vida de Aurora Hopper! — Dean gritou, todos os outros clientes se voltaram para ele assustados.

— Você é louco — sussurrei para ele.

— Acredite ou não, isso é um elogio para mim. — riu ele — Aliás, obrigado.

Tomei um gole generoso de café, deixando que o líquido quente e deliciosamente doce penetrasse em minha garganta. Ouvi o barulho do sino da lanchonete avisando que mais pessoas chegavam, observei os novos fregueses se dirigindo ao balcão e notei algo familiar.

— Você parece assustada — notou Dean, mas mantive os olhos fixos no que prendera minha atenção — No que está pensando?

— Brad — consegui dizer com a voz rouca.


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