The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 9
Coincidências


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um! o/



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— Seu ex? — Dean franziu a cara.

— Sim, ele está aqui — murmurei. — E parece que não está sozinho.

Havia uma garota loira e alta segurando no braço esquerdo de Brad, os dois riam de alguma coisa e se comportavam como se fossem velhos conhecidos. Minhas dúvidas se tornaram certezas quando, após fazerem o pedido, trocaram um rápido mas significativo beijo. Senti uma pontada de desconforto com aquela cena, não era ciúme, mas o mal-estar de ter sido trocada tão rapidamente. Nosso relacionamento, embora péssimo, acostumou meu cérebro a definir Brad como sendo meu namorado, agora que esse posto está sendo ocupado por outra pessoa, é estranho. Meus devaneios foram interrompidos quando percebi que estava imóvel na cadeira olhando para o tampo da mesa à minha frente.

— Aurora, você está me preocupando. Está tudo bem? — perguntou Dean.

— O quê? — foquei no rosto de O’Conner. — Estou ótima.

— Acabei de descobrir que você mente terrivelmente mal — ele aliviou a testa vincada.

— Aurora? — aquela voz soou ao meu lado, quase me recusei a virar o rosto e encarar o dono dela, mas falhei.

— Oi, Brad — cumprimentei seriamente, a garota estava ao lado dele mas não me dirigi a ela — Você por aqui?

— Sim, que coincidência, não? — ele abriu um sorriso e se virou para Dean. — E quem é ele? Seu namorado?

— Bom, na verdade nã

— Sim — interrompi Dean.

O’Conner arregalou os olhos e ao mesmo tempo franziu o cenho, provavelmente deve ter achado que eu havia surtado. Era quase isso.

— Muito prazer, sou Brad Furrer — eles apertaram as mãos.

— Dean O’Conner.

— O que faz aqui em Nova York? — perguntei.

— Fui promovido na empresa, — falou orgulhoso — estou aqui para resolver alguns assuntos, sabe como é. — A garota ao lado dele pigarreou suavemente — Ah, desculpe. Esta é minha namorada, Emily.

— É um prazer — cumprimentei-a.

— Estamos um pouco atrasados agora — ele deu uma olhada no relógio em seu pulso — Mas será que qualquer dia vocês querem jantar com a gente? Passaremos três meses aqui, até lá espero que aceitem.

— Claro — Dean respondeu por mim.

— Combinado, foi bom te ver de novo, Aurora.

— Igualmente. — falei seca.

— Até qualquer dia — ele se despediu.

Depois que foram embora soltei o ar dos pulmões. A irritação me tomou, o dia passou a ficar menos extraordinário devido a esse infeliz acaso. Eu achava que havia me livrado de tudo relacionado à Lexington, Brad era uma das coisas que eu havia deixado para trás, ver ele novamente implicou também na volta de todas as minhas lembranças de casa.

— Aurora — a voz de Dean soou suave, como alguém procurando domar uma fera brava. — Vem comigo.

— O quê? — perguntei, mas ele já estava de pé ao meu lado com a mão estendida.

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— Para onde estamos indo? — insisti em saber à medida que eu seguia O’Conner andando ao meu lado rapidamente — Espere, minhas pernas não são tão longas, sabia?

— Se fomos rápido ainda pegaremos o metrô.

— Metrô? Dean!

— Você vai ver.

Já era algumas horas da tarde, não voltamos para a biblioteca e eu fiquei preocupada, não seria bom para mim faltar o resto do expediente no primeiro dia de trabalho. Chegamos à Kingston e o metrô ainda aguardava os últimos passageiros, embarcamos e nos esprememos entre as pessoas, um ataque meu de claustrofobia e ali seria minha morte. Desembarcamos na Penn Station e Dean apressou o passo, porém eu mal estava conseguindo alcançá-lo.

— Dean! — gritei ofegante — Será que dá para você parar de correr?

— Estamos perto — ele avisou.

— Mas até agora você não me disse o porquê disto tudo.

— Eu quero te mostrar uma coisa — falou entusiasmado.

— Seja o que for, não aguento mais — minha voz saiu ofegante.

— Eu te ajudo.

O’Conner agarrou minha mão e me puxou por entre as pessoas na estação, começamos a correr pela oitava avenida atraindo olhares curiosos e assustados ao nosso redor. Viramos à esquerda em uma rua e meus pulmões já estavam exaustos demais para continuar. Parei e me desprendi da mão de Dean reclamando para que ele fosse mais devagar, mas tudo o que senti foi algo à minha frente me segurando e elevando meus pés do chão. Ele estava literalmente me carregando em suas costas e correndo ao longo da quinta avenida.

— Você é louco! — gritei, mais me divertindo do que protestando.

— É a segunda vez que você me elogia hoje! — ele berrou de volta, seus cabelos castanho-claros voando com a velocidade — Estamos quase lá.

Não demorou muito até chegarmos na fachada de um prédio, eu o reconhecia de algum lugar, talvez de um filme, mas esperei O’Conner me dizer.

— Obrigada pela carona — falei quando desci das costas de Dean e este se endireitou — E desculpe por sua coluna.

— É por uma boa causa. — ele pegou em minha mão novamente, era uma sensação boa — Vamos, não temos muito tempo.

Pegamos um elevador e me surpreendi com a quantidade de andares cujos números se iluminavam à medida que o tempo passava.

— Onde estamos? — perguntei curiosa.

— No Empire State Building — respondeu ele, finalmente me fez lembrar.

— O-O quê? Estamos realmente no Empire State? — indaguei incrédula.

— Você verá.

Minha ansiedade fazia meu corpo tremer cada vez que os andares ascendiam, quando finalmente soou o “tim” avisando que havíamos chegado no último algo tapou minha visão, toquei e senti as mãos de Dean. Ele me conduziu cuidadosamente à frente, ouvi alguns murmúrios por perto então deduzi que havia mais pessoas visitando o local.

— Melhor do que estar no Empire State, é ver isto do Empire State. — O’Conner sussurrou em meu ouvido.

Quando suas mãos destamparam meus olhos me vi diante de uma parede de vidro com uma visão extraordinária de Nova York, estávamos em um ponto tão alto que pensei ser possível tocar o céu se não fosse pela barreira vítrea. Olhei para baixo e vi apenas pontos se mexendo, um formigueiro de pessoas atravessando a avenida, entrando e saindo de estabelecimentos, ou correndo para pegar os táxis, que assim como o resto dos outros veículos coloriam a pista.

— Isso é incrível! — falei com uma excitação incomum.

O céu ainda estava alaranjado, a visão da cidade era tão ampla que era como se eu pudesse ver a curva do planeta no horizonte. Eu sei que o Empire não é mais o prédio mais alto do mundo, mas conservou essa fama por décadas, estar aqui agora é como se fosse no topo do mundo.

— Eu sabia que você ia gostar. — Dean me acordou dos meus devaneios — Eu vi como você ficou na lanchonete depois que o Brad apareceu. Eu só não queria que este dia tão importante deixasse de valer a pena por causa daquele idiota.

— Acabou de valer a pena, com certeza — não consegui conter a empolgação.

Ficamos um bom tempo sem mais nada dizer, deixei que todo o meu ser se embebedasse daquela doce sensação de liberdade e independência, eu nunca havia me sentido tão viva. Foi como um renascer, eu já havia recomeçado do zero assim que cheguei a Nova York, mas agora fui batizada para uma nova vida. O primeiro passo já foi dado, os próximos serão consequências do destino que eu mesma vou traçar.

Contemplei os últimos raios nítidos de sol recuando preguiçosamente dos terraços dos prédios, o céu se tranfigurava suavemente para tons de cores em degradê formando o maior espetáculo da Terra. Por um momento pensei ser possível ver minha casa dali, a esta hora Edith estaria preparando o jantar, minha mãe provavelmente “conversando” com meu pai e Grace fazendo as primeiras coisas que viessem na sua cabeça de pré-adolescente.

A tarde se esvaía aos poucos, o sol já dava adeus a mais um dia e presenciar tudo isso de camarote foi, pela primeira vez em toda a minha vida, a coisa mais incrível que já vi.

— Isso… Deveria estar na minha lista de mil coisas para fazer antes de morrer.

— Você tem uma lista assim? — Dean se virou para mim impressionado.

— Não, mas sempre admirei quem tem e me pergunto se essas pessoas realmente conseguem cumprir todos os itens da lista — ponderei.

— Depende dos itens e do tempo que alguém tem para cumpri-los. Enquanto somos jovens achamos que o sol sempre vai voltar no dia seguinte, mas a verdade é que nunca estaremos prontos para a escuridão. — Ele se manteve pensativo. — Vou fazer uma lista de mil itens e tentar provar se essa teoria de “tempo x coisas a fazer antes de morrer funciona”, quando eu acabar digo para você.


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