The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 3
Decisão


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap, espero que gostem!



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Não sei por quê, mas algo me incomodava, fui para a cozinha beber água e senti um impulso de comunicar a Rachel sobre o que vi. Desisti quando percebi que não podia fazer esse papel, ela é a mãe e talvez eu até fosse criticada por agir dessa maneira. Voltei lá para cima, terminei os deveres, chequei o celular apenas para ter a certeza de que Brad não me enviara nenhuma mensagem e ouvi música até adormecer.

No dia seguinte, no café-da-manhã era impossível não notar as olheiras que mais pareciam duas bolas de golfe na base dos olhos de Grace, pensei que iam estourar a qualquer momento.

— Não dormiu bem, Grace? — mamãe perguntou indiferente.

— É, eu não tive uma boa noite de sono — respondeu um pouco nervosa.

Procurei terminar de comer o mais rápido possível e quase corri até a escola. Chegando lá havia amontoados de alunos em frente aos resultados fixos no painel de avisos. Fiquei na ponta dos pés e não consegui ver nada, achei uma pequena brecha por entre as pessoas e me enfiei nela, só parei quando quase bati a testa na parede, procurei meu nome e a palavra APROVADA me deixou feliz por alguns segundos embora eu já soubesse que tinha me saído bem nos exames. Ainda houve aula, mas só para passar o tempo, na verdade os professores não ligaram para o caos de adolescentes com hormônios à flor da pele gritando, xingando, jogando coisas pelos ares, casais quase se engolindo em beijos quentes e coisas obscenas sendo desenhadas na lousa.

— O nosso último dia no inferno. — comemorou Oliver na saída.

— Já pegou a beca para amanhã, Aurora? — perguntou Jasmine.

— Sim, já está aqui — dei umas tapinhas na bolsa.

— Cadê o Brad? — perguntou Brian.

— Não sei — olhei em volta — E não me interessa saber.

Estavam todos eufóricos ao meu redor, tirando fotos uns dos outros, sorridentes por terem passado em alguma universidade, por já estarem com a vida ganha daqui para frente ou simplesmente por não ter que ver mais a cara dos professores. E eu aqui, sem ideia do que fazer da minha vida, a formatura será o fim da estrada e depois disto haverá um precipício enorme chamado nada. Aquela alegria toda passou a me incomodar, a minha energia não era compatível com a daquelas pessoas e já estava me dando enjoo. Comecei a caminhar apressadamente para longe dali, no caminho para casa me maldizia das piores palavras que saltavam da minha cabeça e depois de tanto repeti-las soavam mais como elogios do que insultos.

Passei pela porta como um vulto sem dizer nada para ninguém e me soquei no quarto, andei de um lado para o outro com uma enorme vontade de quebrar tudo, mas não havia nada inútil e quebradiço o suficiente para jogar na parede. Três batidas me sobressaltaram de repente.

— Aurora — reconheci a voz de Edith.

— Agora não, vó — minha voz saiu como um trovão.

— Não sei o que está havendo, mas... O jantar está na mesa.

Não respondi nada e ouvi o barulho do chão rangendo enquanto ela se afastava da porta. Meu estômago instantaneamente doeu e roncou de fome, bati o pé em sinal de protesto e mesmo assim ele me obrigou a descer. Sentei à mesa e não consegui disfarçar meu descontentamento. Rachel também me parecia irritada e Grace amedrontada, será que ela soube do que aconteceu ontem à noite? Já vovó estava com a expressão de que uma bomba ia explodir a qualquer momento.

— Eu não sei como vou conseguir — mamãe começou a falar e batia os talheres no prato furiosamente — O castigo me parece uma boa opção, mas acho que seu pai, Grace, acharia melhor mandá-la para um acampamento de verão, daqueles que você não faz mais nada além de estudar.

Grace se encolheu ainda mais na cadeira enquanto Rachel falava sobre o que meu pai faria, que ele abominaria aquela atitude, sobre os castigos que seriam postos em prática, sobre o que John pensaria sobre isso se ele estivesse aqui, se estivesse aqui, estivesse aqui, estivesse...

— Chega! — aquela conversa já havia estourado minha cota de paciência, só o episódio do que houve no meu último dia naquela droga de escola tinha me tirado dos eixos. — Seu estado de insanidade já passou dos limites, ninguém quer saber o que o papai acharia se estivesse aqui, você fala como se soubesse o que ele pensaria disso tudo. Tem conversas com as paredes, vive no seu próprio mundo com John e se esquece de que nós também sentimos a falta dele. Então tenho uma novidade para você, mãe. John. Não está. Aqui. E se você continuar assim suas paranoias vão te levar para o fundo do poço.

Os olhos de todas se arregalaram, inclusive os de Rachel, que variou rapidamente para a raiva.

— Não ficará impune de um bom castigo, menina. Guarde minhas palavras — ela praticamente rosnou isso.

— Já paguei um bom preço estando condenada a ficar presa nesse hospício com você — levantei e subi para o único lugar onde eu tinha paz.

A fome passou e agora a única coisa que me restava era pensar em um modo de me livrar desse lugar, se eu tivesse um carro já estaria a quilômetros daqui. Papai me ensinou a dirigir e só essa lembrança dele e de como tudo era melhor fez as lágrimas escorregarem dos meus olhos. Mas a leveza de ter posto para fora o que me engasgava há tanto tempo me aliviou um pouco, abri a janela e coloquei a cabeça para fora inspirando um pouco de ar puro enquanto observava a calmaria do mundo. Era como se eu observasse o universo dormindo diante de mim daquela janela. Tudo aqui é tão morto, que diabos eu fiz em vidas passadas para vim parar neste lugar? E a droga desta vida não ajuda em nada minha permanência aqui na Terra. Então algo surgiu na minha mente, parecia tão óbvio e ao mesmo tempo tão idiota, mas de qualquer maneira é uma opção, a única na verdade. Por que não? Como eu não pensei nisso antes?

Voei até o celular posto em cima da escrivaninha e procurei entre os poucos números da minha lista de contatos aquele que seria minha salvação. Disquei e logo no segundo toque fui atendida.

— O convite ainda está de pé? — perguntei esperando ansiosamente que a resposta fosse "sim".


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