Meu irmão e o amigo dele escrita por Annie


Capítulo 1
Dois turrões que aceitaram as diferenças


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/608503/chapter/1

11 de abril de 2015

Estou sentada na escada. Daqui de cima eu tenho uma visão perfeita do meu irmão. Ele está jogado no sofá, trocando incessantemente de canal. Meus pais foram comprar um carro novo e deixaram a gente aqui.

Estou rabiscando o meu diário idiota. Não tenho muito o que fazer, nem pretendo fazer nada. Gosto mesmo de me lembrar do que vi ontem. Descobri o significado de uma palavra chamada epifania, devido a descoberta do significado de uma outra palavra chamada amor. John continua inquieto e eu o fotografo no meu celular, ele é grande e inofensivo demais, pro sentimento tão imenso, que resolveu carregar no peito. Um pouco mais profundo, bem lá no fundo do seu coração.

O John me disse pra tomar um banho e fazer o meu exercício de matemática, porém eu detesto matemática. Então preferi ficar aqui e observa-lo. Sei a razão do seu tédio, sei também quem é o seu remédio e sei bem o que eles fizeram, ontem a noite, Bem ali naquele sofá.

10 de abril de 2015

Eram 16:00h da tarde quando minha mãe disse que iria jantar fora com o papai e que por isso eu deveria ficar com o John e o Ângelo em casa. Eles são amigos de faculdade, e alguma coisa mais estranha que isso, porque o meu irmão parece que não sabe respirar normalmente perto dele.

Já o Ângelo, é aquele tipo de rapaz misterioso e quieto. Às vezes ele parece o rapaz mais meigo do mundo, mas de vez em sempre ele parece aquele amigo chato que vai devorar o meu irmão com o seu ar de superioridade. Hoje ele veio nos visitar, estamos os três conversando sobre nada interessante e tentando procurar algo pra fazer.

Resolvemos jogar dominó, mas eu desisti, uma vez que o Ângelo ganhava todas as rodadas, sem esforço algum.

– Vou buscar um refrigerante, vocês aceitam ? - Perguntei já me levantando.

– Aceito. - Ângelo respondeu sem desviar a atenção das pedras.

– Eu não quero, obrigado. - John respondeu desatento. Era sempre assim. Ele não comia nada na frente do amigo, muito menos falava muito, ele simplesmente ficava na lua.

Quando ele me apresentou o Ângelo a uns três anos atrás, vi seus olhos brilharem como duas estrelas cadentes na escuridão. Eu não entendia nada de nada naquela época, mas de imediato eu soube que aquilo não era uma amizade comum de faculdade. Eles parecem não ter muito em comum, mas alguma coisa, uma força vital os une, pode ser os estudos, pode ser o conteúdo, pode ser o tema da minha redação de português.

Corri até o cômodo vizinho e parei para admirar meu reflexo magro no armário, meus cachos armados e bagunçados da cor do sol. - Espero que algum dia, em algum lugar, alguém olhe pra mim, da mesma forma que o John olha pro Anjinho. Peguei as latas na geladeira e voltei para a sala, em seguida entregando uma ao Ângelo.

– Vamos assistir um filme ? - John nos perguntou, parecia aflito.

– Vocês decidem, não tenho nada para fazer em casa.

– Assistam vocês dois. Eu vou preparar o jantar. - Falei e fui pra cozinha, levando comigo as latas de refrigerante vazias.

– Vem cá loirinha, fique conosco. - Disse Ângelo, num tom de deboche que me fez sorrir alto.

"Ele deve estar grato por eu ter os deixado a sós."

Não precisa cozinhar hoje Yolanda. Eu vou pedir pizza. - Meu irmão sussurrou e bateu no jogo, ele conseguiu ganhar uma partida no dominó afinal.

– Obrigada bebê, eu vou pro meu quarto, até mais tarde.

– Até. - Responderam em uníssono.

Subi cada degrau na ponta dos pés. Eu quase consegui ver os olhares cumplices que eles trocavam naquele momento. Sozinhos enfim, pra falar o que quisessem e então me fazer entender um pouco da palavra amor, amor de casal.

– O que você quer ver ?

Ouvi um dos dois dizer, mas pela distancia não reconheci mas a voz. Eles falam suavemente quando estão sozinhos, eles se "sentem" quando estão sozinhos. Creio que a frase não estava referindo-se ao filme, e sim do amor que eles escondem de mim.

Fiquei sentada no corredor do andar de cima. Vi quando o Ângelo sorriu e tocou na mão do John, ele também sorriu. Concentrei-me para ouvir o que eles diziam.

– Não entendo como você pode me amar como você diz. - Anjinho disse baixo, mas eu era ótima eu leitura labial.

– Não seja idiota, você não é tão mal assim. - John disse em seu tom normal e leve, meu irmão é mesmo encantador.

– Eu não sou tão mal ? Eu apresentei uma garota aos meus pais na semana passada. - Ele falou sério e John abaixou o olhar, porquê ?

– Você não gosta dela, não toca nela, isso é só uma farsa, não é ? - Meu ruivo perguntou. A voz se tornou fraca, insegura, ele parecia eu, brigando com o meu namorado galinha da escola.

– É só uma farsa idiota, eu não gosto de garotas, aliás John eu não gosto de ninguém sabe ? Mas eu sinto uma vontade enorme de passar a minha vida inteirinha com você.

– Jura ? - John perguntou ao Ângelo, enquanto aproximava-se dele. O sorriso que ele tinha nos lábios era maior do que os cabelos da nossa vizinha Ester, e olha que o cabelo dela passa do bumbum.

– É John, eu te amo, é isso que quer ouvir ? - Ângelo falou um pouco mais alto. Vi o sorriso do meu irmão crescer ainda mais.

– Um "me beija" seria legal também. - John disse com um ar de tarado. Eu sorri.

– Não seja tão atirado. Sua irmã pode aparecer a qualquer momento.

– Ela está no quarto assistindo desenhos, não vai descer agora. - Disse John.

– Você acha que ela sabe de nós dois ?

– Se souber não há problema algum, pra ela quando existe amor, não existe problemas.

– Ela é igualzinha a você. - Ângelo falou empinando o nariz. Não entendi muito bem.

– Mas você não vive sem mim, não é ? - John fez a pergunta retórica e eles ficaram se encarando. Eu senti que veria aquela cena, senti-me ansiosa e pequena no meio daquele sentimento que eles tinham.

Ângelo agarrou os cabelos ruivos do meu irmão. Seus lábios se colaram e suas respirações se tornaram apressadas. O sofá parecia pequeno, uma vez que o Anjinho insistia ficar em cima do John. Minha consciência começou a berrar pra eu parar de olhar, pois sou muito nova pra essas coisas, mesmo assim eu não consegui. Quando olhei de novo o John beijava o pescoço do Ângelo. Era tão fofo, era amor, tenho certeza.

Tem gente que vive dizendo que o amor é quando um rapaz se ajoelha e pede uma moça em casamento no meio da rua. Alguns dizem que o amor verdadeiro é só de uma mãe para um filho. Eu Consigo enxergar o amor entre a mamãe e o papai quando eles dividem o quarto e a cama, depois de brigarem e berrarem na mesa de jantar. Mas também consigo ver o amor nitidamente no meu irmão e no amigo dele, que estão trocando carinho lá na sala, sem fazer muito barulho para não serem descobertos por alguma pessoa idiota que chama o que eles tem "errado".

Fechei os olhos contra a minha vontade e fui pro meu quarto. Comecei a minha redação rapidamente.

"O amor não é aquilo que quer saber do que você tem. O amor é quando você encontra alguém que faz o seu sorriso ter mais sentido. Nem sempre a pessoa amada é do sexo oposto ao seu, porquê o amor não é pela cor, pela conta bancária e nem pelo órgão sexual que a pessoa amada possui, mas é a capacidade de amar ao próximo. O amor não tem a ver com corpo nem nada disso, amor é a entrega de dois corações, de dois turrões que aceitaram as diferenças pra concordar ao menos uma vez, pra ser feliz, sem talvez."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso, até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu irmão e o amigo dele" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.