Veni Vidi Vici escrita por MB Sousa


Capítulo 18
Bad Blood


Notas iniciais do capítulo

Bom, dessa vez eu atrasei um pouco o capítulo, porque minha internet estava/está com problemas, agora tá um pouco melhor, mas ainda não está 100%, então vou ter que ver isso também. Agora sobre o capítulo, espero muuuuito que vocês gostem, finalmente um dos segredos Dele é revelado, e eu estou louco para ver os comentários de vocês sobre isso! :3

Música do capítulo https://www.youtube.com/watch?v=QcIy9NiNbmo



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Vinicius já estava quase bem, havia se passado uma semana desde a agressão, e ele já começava a ir para a escola, já eu vivia praticamente na casa dele, ia da escola pra lá, ou passava em casa e depois ia pra lá, tinha dias que até dormia com ele.

Meus pais pareciam não se importar, para o meu pai eu era uma droga de uma tragédia, então fazia sentido ele não se importar, já a minha mãe eu não entendia muito bem, meu palpite era de que ela estava feliz de que eu estivesse feliz fora do lugar que supostamente devia ser meu lar.

E eu fingia que não iria acontecer, mas a hora que Vinicius me pressionaria porque não apresentava-o para meus pais, e essa hora tinha chegado.

Era uma tarde de segunda, nós estávamos deitados abraçados.

— Estou começando a achar que você tem vergonha de mim. – ele disse naquele tom de brincadeira que você sabe que tem um fundo sério.

Fiquei em silêncio.

— É sério? – ele perguntou, sorrindo irritado.

— Óbvio que não, animal. – respondi impaciente.

— Então qual o problema? – ele se afasta bruscamente, consequentemente me irritando também.

— Não interessa, Vinicius! – respondo. – Só é desnecessário você conhece-los.

— Desnecessário? – ele repete. – Você é meu namorado e conheceu minha mãe.

— Namorado? – repito mais instintivamente do que outra coisa.

Vinicius fica envergonhado, e eu surpreso, tudo bem que cada vez a gente ficava mais próximo e tal, mas nunca conversamos sobre namorar.

— Esquece. Você esconde as coisas de mim. – ele disse recompondo-se.

Encarei-o analisando a situação. No passado, foi o problema de não conseguir guardar segredos – tanto os meus quanto dos outros – que me fez perder tudo, agora era o contrário, Vinicius se irritava porque eu não contava tudo pra ele, talvez ele tivesse razão, mas eu não sei se conseguiria me abrir com alguém, desde que todas as verdades explodiram eu nunca falei isso com ninguém, nem com Amanda, que foi a pessoa que mais me aproximei, e agora eu ficava feliz de não ter compartilhado minhas tragédias com ela, eu tinha o receio de que o mesmo fosse acontecer com Vinicius, tinha medo de me abrir para ele e ele me decepcionar, assim como Richard...

Reviro os olhos, e ele parece realmente perder toda paciência.

— Qual o seu problema? Eu te contei tudo da minha vida e você nunca me fala nada! – ele exclama, levantando-se da cama, faço o mesmo. – Nem por que você tem... isso. – e então aponta para os meus braços, as marcas esbranquiçadas parecem serem feitas de gelo nesse momento.

Eu o encaro abismado e envergonhado ao mesmo tempo, Vinicius deve me achar, assim como todos que viram minhas cicatrizes, um covarde.

— O que você me contou, Vinicius? – exclamo no mesmo tom. – Que você tem ódio de um pai que mal lembra e nunca fez falta? Esse é seu maior problema? Pelo amor de Deus! Vê se cresce!

Ele me encara por um segundo antes de responder.

— Você deve ter muito mais problemas mesmo. – ele responde, e eu não consigo identificar se ele está sendo irônico.

— Você não sabe de nada. – respondo na defensiva.

— Claro que não! – Vinicius joga as mãos para o alto. – Por que você não me dá a chance de te conhecer de verdade!

Eu o encaro, seus olhos estão suplicantes, mas eu não consigo confiar neles, eu quero, mas algo dentro de mim luta para resistir, aqueles olhos negros podem estar muito bem disfarçados de preocupação mas serem apenas curiosidade.

— Vinicius... – eu começo baixinho, abaixando a guarda. – Eu não consigo, eu queria... Queria mesmo te contar as coisas, mas você nem precisa saber...

— É claro que eu preciso! – ele exclama, aproximando-se de mim. – Claro que preciso. – ele diz baixinho com seu rosto à apenas alguns centímetros do meu.

Encaro aqueles olhos e me lembro da primeira vez que o vi claramente, naquele intervalo, fumando um cigarro, o quanto era difícil de identificar onde terminava a íris e começava a pupila e a pele morena clara.

—- E isso... – ele diz pegando meu braço. – eu não me importo, você continua perfeito para mim. – ele se abaixa e beija suavemente as cicatrizes. Um arrepio passa por todo meu corpo, emocionando-me.

“Você já foi tocado tão gentilmente, que teve vontade de chorar?”

E nesse momento eu soube.

Eu o amava.

Mas eu não consegui dizer isso, o que fiz foi beijá-lo terna e demoradamente, queria pôr todas as palavras que expressassem o quanto eu o amava naquele beijo.

Quando nos separamos, entrelaçamos as mãos e sorrimos um para o outro.

— Eu não queria estragar esse momento perfeito contando sobre a minha vida. – eu digo, ficando sério. – Mas se você quiser eu faço isso, eu falo para você.

Ele parece considerar a ideia.

— Eu só quero te ajudar.

Okay, você consegue fazer isso. Digo a mim mesmo enquanto respiro fundo e começo.

Conto sobre meus pais, conto o quanto minha mãe se acabou por causa do vício dele em bebidas, conto brevemente que eles não aceitam muito que eu seja homossexual e que meu pai vê isso como um desastre, sem entrar muito nos detalhes. Vinicius escuta tudo muito pacientemente apenas acenando a cabeça de tempos em tempos.

E então a parte que eu mais tenho medo de contar, as coisas que eu fiz recentemente, as que me tiraram tudo, que mostravam que eu não era uma pessoa boa.

Engolindo em seco, eu conto à Vinicius, com medo de que ele pense que eu sou desprezível, e me deixe, assim como todos me deixaram, porque ninguém tentou me entender, ninguém tentou me ajudar, apenas me deixaram sozinho para lidar com a própria dor de simplesmente estar sozinho e sem amor.

Não lembro ao certo em qual parte comecei a chorar, mas era um alívio imenso finalmente desabafar para alguém tudo aquilo que estava guardado dentro de mim e só agora eu percebia o quanto o peso era imenso, mas parecia haver muito mais.

Ao terminar, Vinicius me observou por alguns segundos, pensativo.

— Você vai me odiar e me deixar agora? – pergunto brincando, enxugando as lágrimas, essa é outra brincadeira com um fundo de verdade, meu maior receio é exatamente esse.

— Cale a boca. – Vinicius diz, e me abraça forte. – Eu nunca vou deixar você ir. Qual o problema de você entender isso?

E eu choro mais ainda. É tão bom chorar no seu ombro, é um alívio.

— Eu entendo e acredito que você quer ser uma pessoa melhor, todo mundo comete erros, essa gente toda foram uns idiotas de não terem tentado te ajudar e te dar outra chance, mas eu quero que você saiba que apesar deles não acreditarem em você, eu acredito.

Em um estranho momento eu sinto como se aquilo fosse um dejavu, de quando eu desabafei com Richard na janela de seu apartamento e ele me disse aquelas palavras, elas eram parecidas com as de Vinicius agora, afastei rapidamente o pensamento, eles eram totalmente diferentes, eu tinha que acreditar nisso.

— Mas acho que você precisa zerar essas coisas para seguir em frente. – ele diz, logo depois do abraço.

— Como assim?

— Você precisa falar com elas. – Vinicius explica. – Eduarda e Fernanda. Esclarecer tudo, mostrar o seu lado da história, ainda mais agora que já faz um tempinho.

Pondero por um momento, e como não digo nada, Vinicius continua.

— Acho que só assim você finalmente vai tirar todo esse peso de dentro de você e realmente deixar o passado para trás.

O pior é que eu sabia que Vinicius estava certo, só não sabia se conseguiria fazer isso.

— Você consegue. – ele encoraja, como se lesse meus pensamentos.

E então eu acredito.

Eu consigo.

* * *

Eduarda não estudava no Piratini, então era mais difícil conseguir encontra-la, mas e soube que ela estava fazendo um estágio na Assis Brasil, foi lá que eu fui, esperar ela sair, e lá estava ela, rindo com outras pessoas, será que foi tão fácil assim para ela me esquecer?

Ela me avista. Rapidamente o sorriso foge de seu rosto, mas ela não desvia nem toma outro caminho, ela continua seguindo em minha direção, e desvencilhando-se dos colegas com alguma desculpa provavelmente tosca, ela chega em mim.

— O que você está fazendo aqui? – Eduarda me recebe irritada.

— Eu... Eu preciso conversar com você... – começo vacilante.

— Nós não temos nada mais para conversar, cada um segue seu caminho, lembra? – ela joga os longos cabelos negros para trás e cruza os braços.

— Eu só quero ter certeza que você saiba que eu sinto muito pelo que eu fiz.

— Sente muito sobre o que? – ela finge-se de desentendida. – Ah, lembrei! Ter transado com meu namorado?

Richard falou coisas lindas para mim.

Por mais que eu não me dê muito bem com meu pai, meus irmãos... Eu vou estar sempre aqui se eles precisarem, e você... – ele olha diretamente para mim. – Eu posso dizer que você é família pra mim! E eu não abandono minha família! Você pode tá na merda, eu vou estar sempre aqui pra ti.

Não me lembro de qualquer pessoa ter me dito algo assim em toda minha vida, e por essa razão eu choro mais ainda e Richard me abraça forte.

Gostaria que tivéssemos ficado apenas abraçados assim a noite inteira...

Mas não, Richard teve uma ideia brilhante...

Ei, se fizermos alguma coisa hoje, fica só entre nós?

Eu realmente não entendo de início, e quando entendo, acho que é brincadeira, então não digo nada.

Richard se separa de mim e vai até o interruptor de luz, desligando-o, a TV já estava desligada. O quarto é tomado pela escuridão, apenas uma ínfima luz perolada entra pela janela.

Tá falando sério? – pergunto, ainda confuso e sem acreditar.

Sim. – Richard caminha um pouco cambaleante até mim e me joga na cama.

Ele puxa minha camisa para cima e beija minha barriga e meu peito, não consigo deixar de ficar excitado, ele se deita ao meu lado e tira a cueca.

Richard, mas... – começo, uma parte minha queria resistir àquilo. – E a Eduarda?

Não, isso vai acontecer aqui e amanhã a gente vai esquecer e fingir que nunca aconteceu. – ele responde decidido, e eu estupidamente concordo, influenciado pelo álcool em meu organismo, no momento 90% de mim quer aproveitar o corpo de Richard, e é isso que eu faço.

Logo após acabarmos, Richard, podre de bêbado cai na cama e adormece quase que instantaneamente, já eu, com o álcool cada vez menos proeminente, venho tomando consciência do que acabei de fazer, do tamanho do erro que cometi.

Tento dormir e não consigo.

As memórias de minutos atrás me assombram.

Eu acabei de me tornar o que eu mais abomino. Na verdade eu já era, eu só nunca tinha me dado conta disso, mas essa foi a gota d’água.

É isso que faz eu perder minha melhor amiga.

10 anos destruídos e uma noite.

Como pude ser tão estúpido?

E são essas coisas que eu falo para Eduarda.

Ela escuta tudo com ar de impaciência, eu tento não chorar, e consigo.

— Eu acredito em você, acredito que tenha se arrependido. – ela diz afinal. – Mas é tarde demais. Algumas cicatrizes são para sempre, e confiança é algo que é construída uma vida inteira, e demora, como você mesmo diz, minutos para ser destruída.

— Eu sei mas... – tento começar, mas nem sei o que dizer, não há muito o que ser dito. Na verdade há, mas nada que possa mudar os fatos iminentes.

— Olha, eu costumava desejar o pior para você, mas eu sei que você já tem uma vida difícil e talvez seja até por isso que você se entregou por umas horas de prazer ao Richard. – ela não consegue deixar de ser ácida, mas isso não me incomoda. – Agora já se passaram meses e eu só desejo o melhor pra você, só que eu não consigo, não posso simplesmente fingir que nada aconteceu e continuar sendo sua amiga, mas espero sinceramente que você consiga deixar esses demônios para trás e se torne uma pessoa melhor.

Eu sinto novamente um grande alívio diante dessas palavras, mas ao mesmo tempo sinto dor, uma parte dentro de mim acreditava involuntariamente que tudo ficaria bem entre mim e Eduarda, que conseguiríamos deixar tudo para trás e ter um novo começo, mas eu entendia ela, o que eu tinha feito era quase imperdoável, mas ela era boa o bastante para perdoar, mas não para esquecer.

Talvez ninguém pudesse esquecer certas coisas.

Com um sorriso amigável em ambos os rostos, tomamos rumos diferentes, na rua, e em nossas vidas.

Para sempre.


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Notas finais do capítulo

Tuuuudo que é bom dura pouco, a partir de agora os capítulos serão postados semanalmente, pois faltam poucos capítulos para o fim dessa fic que eu amo taaaanto :(( Então, nos vemos dia 16 (seria 16 se eu não tivesse atrasado ontem, então, continua 16). Ahh, e estou louco para ler os comentários de vocês, então... Comentem u.u