Pov Castle

A água morna que caía levemente pelo meu corpo relaxava os meus músculos.

Sentia-me vazio.

O que faço eu às 4h da madrugada tomando um duche? Tenho uma mulher linda, nua, na minha cama e sou incapaz de estar lá. Todas as noites tenho uma mulher diferente, mas isso não me deixa completo. Não me enche o peito com emoção, com paixão- com vida.

Encostei a cabeça à parede fria, tentando me abstrair. Desliguei a torneira e enrolei uma toalha preta em volta da minha cintura. Olhei o meu rosto no espelho e vi as pingas da água escorrendo lentamente pelo meu corpo. Sentia-me sozinho, apesar de todas as pessoas que me rodeiam.

A batida leve na porta, despertou-me.

-Richard? – A voz feminina, chamou-me.

-Está acordada? – Perguntei, desinteressado.

-Senti a sua falta. – A loira olhou-me maliciosamente e deslizou a sua mão pequena pelo meu peito. Agarrei com alguma força o seu pulso e pressionei os nossos lábios. Eu tinha que arranjar uma forma de tirar esses pensamentos da cabeça.

…

Pov Kate

Peguei na minha viola, na chave de casa e preparei-me para sair.

O destino? “New Iorque Moments” – é uma espécie de bar com música ao vivo.

O dono do bar, Michael, é meu amigo, ouviu-me cantar e desde esse dia sou a estrela do estabelecimento. E estou-lhe muito grata por isso.

Eu vivia com a minha mãe e desde que ela morreu, eu fiquei sozinha. O meu pai não suportou a dor e deixou-me sozinha com 20 anos. Tive que deixar de estudar e ir trabalhar para puder pagar casa e alimentação. Quando surgiu esta oportunidade de puder cantar, agarrei-a logo. Adoro cantar, desde criança.

Agora, aqui estou eu, indo para o sítio onde eu me posso exprimir e onde me sinto bem.

Pov Castle

O dia passou devagar. Durante um dia inteiro, sentado, em frente a um computador, esperando que alguma ideia surgisse. Mas nada.

Decidi comer alguma coisa antes que entrasse em loucura. Olhava pela janela gigante do loft que me permitia olhar toda a cidade de Nova Iorque iluminada.

O meu celular começou a tocar e premi a tecla verde.

-Oi mãe.

-Tudo bem, querido? Já viu que noite espetacular de verão? Porque não vai sair? Quase que adivinho que esteve o dia todo em casa.

-Você conhece-me tão bem. – Ri, suavemente.

-Então do que está à espera? Vá sair.

-Acho que é isso mesmo que eu vou fazer.

-Ok, beijo. Te amo.

-Te amo. Obrigada. – Desliguei a chamada e refleti um pouco. A minha mãe tem razão.

Peguei no casaco e saí de casa. Só preciso de escolher um sítio para ir.

…

Depois de algum tempo dirigindo, vi muitas pessoas entrando num bar que se chamava “New Iorque Moments”. Pelo menos, as pessoas pareciam alegres e o ambiente parecia ser agradável.

Estacionei o carro e depois de algum tempo esperando, consegui entrar.

Como suspeitava, o ambiente era muito agradável. A pouca luz que iluminava o sítio, tornava-o encantador. Conseguia-se ouvir várias vozes e gargalhadas moderadas, vindas de vários sítios diferentes. Havia sofás para grupos maiores de pessoas e as mesas era redondas. O balcão era comprimido e em madeira envernizada. O barman falava alegremente com os clientes e contava algumas piadas.

-O que vai ser, bonitão? – O moreno abriu um largo sorriso e veio ter comigo, enquanto limpava um copo.

-Whisky, por favor. – Foi inevitável não retribuir o sorriso.

-A sua cara não me é estranha… - Comentou, enquanto enchia o copo com a bebida.

-Deve ser dos livros…

-Não pode ser! – Interrompeu-me. – Richard Castle? – Perguntou, surpreso.

-Sim. – Assenti, positivamente.

-Adoro os seus livros. Já agora… - Estendeu-me a mão forte e morena. – Javier Esposito, o melhor barman de sempre. Parabéns, bro, adoro os seus livros.

-Obrigada. Nunca tinha vindo aqui. – Admiti, criando assunto para conversar.

-Nem sabe o que perde. Daqui a pouco a Kate vai cantar. Ela é show, bro. Canta lindamente.

Assim que o Esposito acaba de falar, ouve-se o som agudo do microfone e de seguida uma voz doce e calma, com um certo tom de rebeldia.

Rihanna feat Kanye West and Paul McCartney – FourFiveSeconds

I think I’ve had enough (Eu acho que já chega)

I might get a little drunk (Posso ficar um pouco bêbada)
I say what’s on my mind (E aí vou dizer o que me vai na cabeça)
I might do a little time ( Talvez eu precise dar um tempo)
'Cause all of my kindness is taken for weakness (Porque toda a minha bondade é confundida com fraqueza)

Virei-me para o palco para encarar aquela voz que preencheu o meu peito com qualquer coisa que eu desconhecia. Os seus cabelos castanhos com madeixas tom de cobre longos e ondulados davam-lhe um ar de rebelde ao mesmo tempo que aqueles grandes olhos verdes lhe davam um ar de ternura. Ela era linda.

Now I’m fourfiveseconds from wildin’ (Agora faltam quatro cinco segundos para eu enlouquecer)
And we got three more days ’til Friday (E ainda temos mais três dias até sexta-feira)
I’m just tryna make it back home by Monday mornin’ (Estou apenas tentando voltar para casa na segunda de manhã)
I swear I wish somebody would tell me (Juro que queria que alguém me dissesse)
Ooh, that's all I want (Isso é tudo o que eu quero)

A maneira como ela cantava, tão intensa com tanta paixão prendeu-me o olhar. Apesar do facto de ela ser linda.

Ao ouvir aquela letra, era como se ela estivesse a cantar a minha vida. Isso ainda me deixou mais estranho. Uma estranheza boa, mas ainda assim um sentimento estranho.

Durante todo o tempo que ela tocou e cantou, eu não consegui desviar os meus olhos dela. Era como se alguma coisa, muito forte, me impedisse de o fazer.

-Obrigada. – Olhou para o público, com as bochechas coradas pela vergonha e deu um leve sorisso. Algumas pessoas levantaram-se para aplaudir e eu nem consegui mexer um só músculo. Eu precisava de falar com ela. Nem que esperasse a noite toda. Eu precisava.