Saí de casa bem cedo aquela manhã, John me ligou novamente quando estava entrando no avião, eram quase 5:00. Se não houve nenhum atraso ele estará aqui em breve. Me sentia desconfortável naquele lugar, meu estomago se revirava como se houvesse um furacão dentro dele, e talvez esse furacão fosse tão forte que fazia minhas pernas tremerem como galhos velhos em uma árvore, mas isso não era culpa do Smith, nem um pouco, não me preocupo em vê-lo, me preocupo mais com quem vai nos ver.

            Essa sou eu, Rose Marion Tyler. Filha do dono da Torchwood, eu nunca tive de fato um nome, ou uma identidade própria enquanto crescia, era sempre “a filha de Peter Tyler”, a garota irrepreensível, a filha perfeita. Mas isso é só uma máscara me escondendo do resto do mundo, e a uso há tanto tempo que quase me esqueci de como era ser eu, e então quando estava quase desistindo de mim mesma e me entregando completamente a essa fachada um cara louco esbarrou em mim, e tudo mudou.

            John Smith tornou-se meu refúgio, alguém que não sabia quem era minha família, que não sabia quem eu era, que não sabia nada sobre mim, eu era para John uma tela em branco, assim como ele era para mim, era a fuga perfeita, conversávamos um pouco e me sentia sendo autentica novamente, mas as coisas ficaram complicadas, acho que ele se apaixonou por mim, isso não estava planejado, não era para acontecer, mas aconteceu.

            Agora aqui estou eu, plantada no aeroporto ás 7:00 da manhã de uma sexta-feira, esperando um homem que não é Matt, o namorado perfeito, segundo as revistas. Esperando um homem com quem eu se quer deveria falar. Não estou preocupada em ver John, mas sim no escândalo que isso geraria ao redor da minha família se algum daqueles paparazzi nos fotografasse e mandasse para uma daquelas estúpidas revistas de fofocas.

            Olhei para a esquerda e depois para a direita simultaneamente pela milionésima vez. O nervosismo faz coisas estranhas com seu corpo, primeiro se tem raiva, depois vem tristeza, e por último a paranoia, para alguém nervoso a cada segundo algo horrendo pode acontecer, todo o terrível mundo das possibilidades passa por sua mente, e infelizmente a maioria delas não é nada animadora.

            As pessoas passam muito tempo pensando sobre felicidade, em sua definição, em como alcança-la e em como mantê-la, mas então, acabam esquecendo que o significado de algumas coisas pode ser tão abstrato e subjetivo que nem todas as páginas em branco do mundo seriam suficientes para descrevera-las em um livro. Felicidade para mim é acordar cedo manhã e ouvir o silêncio ao meu redor, uma manhã quente de verão onde eu não tenha que usar várias camadas de roupa para não congelar e também, ver aquele homem magro com uma camiseta azul e um topete gigante sair pelo portão de desembarque arrastando uma pequena mala.

            Eu queria correr em direção a ele, mas era melhor evitar uma cena. Usei todo meu autocontrole, que fora aprendido e refinando ao longo dos anos em que tive de ouvir o senhor e a senhora Tyler frustrarem minhas aspirações, para andar normalmente em direção a ele, entretanto, não era minha culpa que meus pés resolveram andar mais rápido do que nunca, ou, que meus braços resolveram se jogar em cima do escocês. Tudo bem, talvez eu seja culpada.

—Acho que esse é um bom jeito de se começar o dia. – John comentou me abraçando de volta.

—Cala a boca. – Eu respondi. Estava feliz demais para me importar com suas piadinhas, ou mesmo com a sensação estranha de estar sendo observada, deve ser apenas o nervosismo, afinal, ele faz coisas estranhas conosco.