Sick escrita por Mia Elle


Capítulo 5
Capítulo Cinco




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Gerard se sentiu... Traído com aquilo. Mikey já lhe dissera que era coisa de sua cabeça. Margarida já lhe dissera. Ray já lhe dissera. E nenhum deles lhe soou tanto como traição quanto vindo de Frank.

Qual afinal, era a dificuldade das pessoas em entender que ele era doente? Doente, não louco.

Na verdade, ele não ficara brabo com Frank, apenas triste. Magoado. Mas esperava, sinceramente, que o menor voltasse no outro dia, como se nada tivesse acontecido. Aquelas poucas horas eram a alegria dele, se sentia tão bem ao lado do menino...

Mas ele não voltou, e a cortina de seu quarto permaneceu fechada, embora estivesse calor. Na quarta-feira, quando Gerard foi olhá-lo ir para o colégio, ele ergueu os olhos pela janela e a sua cara fez com que o homem decidisse não voltar a fazer isso.

Estavam os dois magoados e arrependidos do que fizeram, mas ambos cheios de orgulho para dar o braço a torcer. Como sempre.

Gerard não desenhava mais nas paredes, seus últimos rabiscos com Frank continuavam lá, e toda vez que ele olhava lembrava-se do sorriso do menino em quanto os fazia, e depois se lembrava da cara com que ele o olhara naquela manhã de quarta-feira, e finalmente se perguntava: Será que ele está certo, e eu estou errado? Para só então se responder que era óbvio que ele estava certo, e tentar pensar em outra coisa que não o menino, embora esta dúvida permanecesse em seus pensamentos sempre.

Frank tinha que se controlar todos os dias para não sair correndo e entrar no prédio de Gerard. Sentia-se sozinho, não tinha mais vontade de conversar com os amigos, de sair... Por vezes olhava pela fresta da sua cortina para ver se o maior olhava, mas nunca estava lá. Ele entendia, de certa forma, a mágoa do mais velho, mas estava chateado também por ser tão... Dispensável.

Para os dois aquilo estava sendo diferente. Aquela falta era maior do que qualquer que já tivessem sentido antes, mas não queriam cuspir o orgulho e falar-se novamente. Quanto tempo perdido.

Mas, de certa forma, todo esse tempo foi bom, por que assim eles perceberam o quanto significavam um para o outro, e o quanto sentiam falta. E foi só pouco mais de uma semana depois que tudo se resolveu.

Gerard jantou, lavou a louça e, sem sono – coisa que vinha acontecendo desde que Frank não vinha mais. Ele se acostumara a dormir tarde por ter que limpar a casa depois de Frank sair e agora tinha aquele tempo livre – resolveu olhar pela janela, tentando encontrar algo interessante.

Involuntariamente mirou sua luneta na janela do garoto, que nesse instante, espiava pela cortina. Tomados pela vergonha, Frank deixou a cortina cair e Gerard largou a luneta. Acalmaram-se, voltaram as suas respectivas janelas. Olharam-se nos olhos.

Frank mordeu o lábio inferior e ergueu as sobrancelhas numa expressão de quem se desculpa. Gerard sorriu e assentiu. Frank não pode conter o sorriso. Os dois começaram a rir de si mesmos, e assim ficaram até Linda entrar no quarto perguntando qual era a graça, e Frank ter que inventar alguma desculpa. Quando Frank voltou à janela Gerard já tinha saído, por que o bom senso lhe dissera que Linda poderia verificar a janela.

Frank, então, deitou na cama, olhando para o teto com estrelinhas daquelas que brilham no escuro e que ele colara lá quando era criança e pensou. Sentia-se imensamente melhor com aquele mísero sorriso de Gerard. Sorriu pensando no mais velho, depois se repreendeu. Sorrir pensando no sorriso de uma pessoa tem apenas um significado, e isso não podia ser verdade.

O que Frank não sabia é que exatamente nesse instante Gerard, deitado em sua cama olhava atentamente para uma sujeirinha na janela, mas não se levantava para limpá-la, pois tinha seus pensamentos no menino, e sorria também. Ele não sabia se aqueles sorrisos foram suficientes para fazer o garoto voltar no dia seguinte, mas ele desejava que fosse.



Três e cinco da tarde. O interfone tocou. A voz conhecida do porteiro do outro lado perguntou:

- O menino da casa em frente voltou Sr. Way.

- Deixe-o entrar, Tom.

Dois minutos depois a campainha. Frank entrou, lavou as mãos, colocou as luvas e a máscara. Ele e Gerard tinham um acordo subentendido de não mencionar a ‘briga’ da última semana. Conversaram sobre banalidades, Gerard foi fazer café.

- Sabe, Frank, eu estive pensando. Acho que você tem razão.

- Tenho... Razão. Em que? – O garoto estava sentando no banquinho, apoiado no balcão da cozinha enquanto o outro passava café na pia, com as mãos ocupadas pelo coador e a garrafa.

- Eu realmente sou louco. – Gerard riu.

- Ger, esquece isso, eu não quero que você fi...

- Frank, ta tudo bem – disse o maior, fechando a garrafa e colocando-a no balcão já arrumado por Frank – eu pensei bastante nesses... Dias. O Mikey já me disse isso, o Ray, a Margarida... Minha mãe dizia antes de... Enfim. Acho que vou mesmo procurar um médico. – Frank não respondeu – é só que, você falando tornou a coisa mais... Real. É impossível não acreditar em você, pequeno.

Frank sorriu. Tinha feito algo bom para aquele homem, era tão... Satisfatório, fazer bem a quem se ama. Se ama... se ama... Eu amo Gerard? Eu amo Gerard.

Gerard sentou do outro lado do balcão e começou a se servir de café. Frank tinha os olhos parados, estava absorto em seus pensamentos.

- Frank?

- Qu... Ah?.. Ah!

- Tem certeza que acordou?

Frank riu e começou a se servir de café também. Depois de lavarem a louça, foram se sentar na sala. Passava um desenho animado na televisão.

- Adoro desenhos – Gerard disse feliz. Frank tinha os olhos parados de novo – Frank, você está bem?

- Não... Eu acho que o café não me fez bem... Preciso... – levantou correndo em direção ao banheiro. Quando Gerard chegou, ele estava inclinado para a privada.

- Frank, acho que você devia ir pra casa... Você não está bem.

- Tudo bem, é normal – o menor deu a descarga e enxaguou a boca na pia – tem uma escova de dentes?

Gerard assentiu e pegou uma escova de dentes nova na gaveta do banheiro. Entregou a Frank, indicando onde estava o creme dental. Depois que o menor escovou os dentes, Gerard, que estava preocupado, perguntou:

- Você disse que é normal?

- Sim, se como algo que não me faz bem, eu vomito, não fico passando mal tipo as outras pessoas – e de verdade, o menino parecia bem tranqüilo.

- Mas... Não acha que é melhor procurar algum médico? Você pode ter uma doença grave e...

Frank colocou o dedo na frente da boca do maior para impedi-lo de terminar:

- Ger, você acabou de admitir que isso é coisa da sua cabeça – sorriu – é sério, eu to bem. Mas já é quinze para as sete, melhor eu ir.

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