Sick escrita por Mia Elle


Capítulo 18
Capítulo Dezoito




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Dizer que os meses que vieram depois foram felizes seria mentira. Assim como seria dizer que eles foram de todo tristes. Foram como são para mim e para você: nem bons e nem ruins.

Frank decidira que levaria sua vida normalmente – ou o mais normalmente possível – até que ele já não pudesse mais. Ele continuou indo a escola, vendo seus amigos, passando as tardes com Gerard...

As poucas diferenças eram que Linda agora estava de acordo com o namoro dos dois, e que assim eles não precisavam ficar escondendo as coisas dela; e que cada espirro que Frank dava era considerado um sintoma grave da doença, o que deixava todos preocupados e o garoto irritado.

E também, é claro, que de tempos em tempos Frank era internado para fazer uma sessão de quimioterapia, e depois ser liberado – mais fraco do que antes – só para algumas semanas depois voltar ao hospital.

Seus cabelos foram caindo aos poucos, até que ele decidisse raspá-los. Ele perdia peso em uma rapidez inigualável, e estava cada vez mais pálido e fraco. Ele podia ver isso. Gerard podia ver isso. Mas eles fingiam que não viam, e levavam a vida normalmente.

Gerard continuava com a terapia, e o médico via nele uma melhora incrível, e justificava isso dizendo que ele não focava mais sua atenção na sujeira, ou nas doenças. E sim em Frank. De certa forma, Frank e sua doença haviam curado Gerard, e ele sentia-se impotente ao pensar assim, por que ele não podia fazer nada pelo pequeno.

Ele pagava o hospital, os remédios, os médicos. Mas a verdade é que aquilo não estava fazendo efeito. Aquele câncer apenas crescia com o tempo. Causava mais ataques epiléticos, mais falta de coordenação motora, mais vômitos, tonturas, perdas de consciência...

E cada vez que algumas dessas coisas aconteciam, Gerard fechava os olhos e contava nos dedos quanto tempo ele ainda tinha ao lado de Frank, e depois os abria, sugerindo um modo de aproveitarem esse tempo juntos.

Um ano e cinco meses, vamos ao cinema, ao teatro, ao shopping... um ano e três meses, vamos a um jogo de hockey, a um show de rock, a um concerto de música clássica... um ano e um mês, vamos dar uma festa, conhecer gente nova, filmar nossos momentos juntos...

Onze meses, vamos montar um álbum, escrever uma música, escrever um livro... Nove meses, vamos viajar por aí sem rumo – Gerard, está louco? Eu posso ter um ataque ou... – Seis meses, vamos para Hollywood, para Las Vegas, para Nova York... Quatro meses, vamos aprender a cozinhar, comprar um cachorro, comprar roupas novas...

Dois meses e... Frank já não podia fazer muita coisa. Tinham uma cama de hospital em casa. O Garoto podia levantar-se ainda, mas precisava de soro de vez em quando, por que nem sempre podia colocar alguma coisa no estômago.

Estava magro, pálido, fraco e ainda assim sorria. Chorava às vezes, de medo, quando não tinha ninguém por perto. Mas sorria a maior parte do tempo. Sorria assistindo o filme que ele e Gerard haviam feito, sorria vendo as fotos que tinham tirado. Sorria observando o filhote de labrador recém adquirido correr atrás de seu próprio rabo enquanto fazia companhia a ele.

Gerard agora tinha que trabalhar. Seria pedir demais a Mikey que este ficasse o sustentando agora que ele estava curado de suas doenças imaginárias. Ele saía da empresa todos os dias às cinco horas, mas ia direto para a casa de Frank, e na maioria das vezes até dormia lá.

Não deixaria o menino nem por um segundo se tivesse escolha. Ele tinha que aproveitar cada momento ali ao lado dele, por que sabia que eram coisas que não voltariam depois que se fossem, embora ele tentasse guardar mais vestígios da existência de Frank do que somente suas memórias.

E você deve imaginar o quanto é triste você filmar – ou fotografar – aquele que se ama, sabendo que aquela é apenas uma lembrança para depois que este se for. Sabendo que vocês dois juntos não verão aquilo quando forem mais velhos. Você verá aquilo sozinho quando for mais velho, e deixará as lágrimas de saudade escorrerem pela sua face. Isso, é claro, se você tiver forças para continuar depois que esta pessoa te deixar.


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