Sick escrita por Mia Elle


Capítulo 17
Capítulo Dezessete


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é bem curtinho, ok? E não é uma continuidade na história, por assim dizer. q



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Quantas vezes já te fizeram aquela famosa pergunta: se você morresse amanhã, o que você ia fazer?. O que foi que você respondeu? Disse que faria o que desse vontade, sem se preocupar com as conseqüências? Que sairia para dançar e beber até se acabar? Que escreveria um testamento? Que permaneceria ao lado daqueles que você ama?

Frank pensava essas coisas também. Mas depois que lhe disseram que ele morreria amanhã – bem, não exatamente amanhã, mas você entendeu a metáfora – ele poderia afirmar que essa pergunta é uma completa bobagem.

Por que quando se descobre que vai morrer amanhã, é automático, você simplesmente deixa de ser egoísta ao ponto de usar seus últimos batimentos para se satisfazer. Quando se descobre que vai morrer amanhã é que você realmente vê a beleza do mundo.

E ele caminhou pelos corredores do hospital, pela primeira vez totalmente consciente da presença das outras pessoas. Pela primeira vez ele olhou para elas como os milagres que eram, e não como os figurantes de sua vida, como nós vemos.

E ele saiu do hospital e maravilhou-se então ao ver como o azul do céu era bonito, e como tudo era tão grande e ele tão pequeno no meio daquele infinito, e percebeu o quanto nós passamos a vida sendo egoístas quando pensamos que valemos de alguma coisa naquilo tudo.

E então as lágrimas rolaram sem ser percebidas, mas não de tristeza. Frank não estava triste, ele estava maravilhado. Cada coisa que penetrava seus olhos parecia ter outra cor, outra forma e outro gosto. Era tudo novo, como ver pelos olhos de uma criança que não se acostumou ainda com o mundo.

Como pelos olhos da garotinha que chamava a atenção do pai para um cachorro, como se nunca antes tivesse visto um. E aquele pai, ah, aquele pai, apenas sorria, sem ver a beleza que a garota via.

Mas a beleza estava ali! Estava em todos os lugares! Estava na grama verde que crescia naturalmente sem que nenhum humano fizesse nada por ela; estava nos pássaros, nas árvores, nas nuvens, no ar, nas pessoas...

Era tudo maravilhoso demais para ser ignorado daquela maneira... o tempo era algo precioso demais para ser desperdiçado daquela maneira. E tanta gente correndo, engravatada, olhando em seus relógios... tanta gente entediada, matando o tempo com alguma coisa qualquer...

Não era o jeito certo de viver, estava errado! Ele ali, consciente do milagre que era ele apenas respirar e essas pessoas todas ignorando tudo. E ele sentiu vontade de gritar. Gritar que não estava certo, que não era assim que as pessoas deviam viver, que elas deviam dar valor a vida, ao tempo, a tudo! Que elas deviam parar de reclamar de qualquer coisa que pudesse não estar certa e abrir os olhos para aquelas que estavam certas.

E então ele riu de si mesmo, percebendo que ali estava ele reclamando de algo que não estava certo. E olhou para o lado, para o olhar indagador de Gerard sobre suas lágrimas e riso misturados.

E então ele abriu os olhos para algo que estava certo. Gerard ali, em sua frente, e como eles estarem juntos e se amarem era um milagre. E pela primeira vez ele realmente o viu. Ele passou seus olhos por seu rosto branco – quase transparente – e redondo. E por seus lábios finos, e seu nariz empinado e para as cortinas negras que seus cabelos criavam em volta disso tudo.

Sorriu mais abertamente e chorou mais descontroladamente. E viu Gerard abrir a boca para murmurar algo que fizesse Frank explicar o que acontecia, mas interrompeu-o com um beijo. Não se importava com sua mãe ali ao lado, ou com as pessoas ou com qualquer coisa.

Ele precisava compartilhar tudo que sentia com Gerard, e aquela era a única maneira. E ele tentou passar todo o amor e gratidão naquele beijo.

E no momento em que os seus lábios tocaram os do maior, ele realmente entendeu o que as pessoas queriam dizer com ‘como se fosse o último’. Por que a partir de agora, tudo teria de ser feito como se fosse a ultima vez. E cada ‘até mais’ poderia se tornar um ‘adeus’. E ele beijou Gerard como se fosse a última vez.

Ele se esforçou pra aproveitar cada milésimo de segundo e sentir cada contato que sua língua e seus lábios faziam com os de Gerard. E ele selou seus lábios nos dele como se fosse a última vez, e então olhou para sua mãe – que tinha uma expressão que misturava espanto e admiração – e a abraçou, agradecendo por cada pequena coisa de que se lembrou.

E então, mais feliz do que esperava se sentir depois de descobrir que morreria dentro de pouco tempo, ele deu sua mão direita a Gerard, indo em direção ao carro.

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