Sick escrita por Mia Elle


Capítulo 15
Capítulo Quinze




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/60814/chapter/15

Gerard estava atordoado. Ele temia tantas coisas, que se precisasse dizê-las, não teria como explicá-las. Mas se precisasse dizer qual ele mais temia, a resposta seria fácil, e muito simples.

- Eu tenho medo de mim mesmo.

Tinha medo do que todos aqueles medos inexplicáveis causariam nele, por que sabia de sua inconstância e de seus problemas. E ele se odiava por saber que suas doenças de mentirinha tentariam roubar a cena.

Quem se importava com essas coisas imaginárias que sua cabeça havia criado? A doença de Frank estava ali em todas aquelas figuras agora nem tão abstratas que o médico mostrara. Ela era sólida, era palpável. E estava matando seu pequeno.

Mas suas doenças, ah, as suas doenças! Essas exigiam um pouco de força de vontade e só isso. Se ele fosse capaz de controlar a si mesmo a ponto de que não precisasse se temer, tudo estaria resolvido. Ele se livraria dessa coisa.

Mas Frank não podia se livrar daquele tecido cancerígeno que corroia seu corpo por dentro. Aquela parte dele matava-o, e ninguém podia fazer nada. Não era possível nem abrir a cabeça dele e tirar aquela maldição de lá.

E então, Gerard repetia para si mesmo que agora não era ele a vítima, e que nunca fora. E que era com Frank que ele devia se preocupar, e era do destino de Frank que ele devia ter medo.

Por que se não houvesse um Frank Iero, não haveria um Gerard Way, era simples assim. E então, ele não preocupava-se com Frank pela dor que isso causaria nele. Não era por seu sofrimento, por suas lágrimas. Não era esse egoísmo e hipocrisia que se vê por aí.

Ele preocupava-se com Frank por Frank. Era o sofrimento e as lágrimas do pequeno que importavam, e eram essas que ele tinha que impedir com todas as suas forças até que o fim chegasse, enfim; e não importava quantas vezes ele tivesse que sangrar para fazê-lo, por que ele faria.



Caminhou sem rumo pelos corredores do hospital sem prestar realmente atenção nos lugares onde passou. Por fim, acabou na sala de espera onde encontrara Linda no dia anterior. E ali estava ela.

Ocupava outra cadeira, e tinha a cabeça curvada, escondida por seus cabelos e suas mãos. Gerard podia ouvir que soluçava baixinho. Assim como no dia anterior, não conseguiu andar em silencio suficiente para que ela não o percebesse.

A mulher ergueu sua cabeça, revelando seus olhos vermelhos e inchados. Murmurou algo indefinido e limpou as lágrimas, encarando Gerard, que ocupou o acento ao seu lado. Ele realmente não sabia se tinha permissão para fazer aquilo, mas de certa forma, sentiu que deveria fazê-lo: aninhou-a em seus braços e murmurou um ‘vai dar tudo certo’ com o máximo de certeza que conseguiu dar a frase.

Aos poucos ele mesmo se rendeu as lágrimas novamente, e assim permaneceram por algum tempo: um confortando o outro.

- Ge... Gerard. Você é um homem bom, eu realmente peço desculpas por tudo que fiz a você, sei que não tem culpa. Obrigado por ser tão bom comigo e com nosso menino. Eu... quero que saiba que não me importo com o... o que quer que vocês tenham. Eu não me importo. – as palavras saíram assim, cuspidas; uma atrás da outra, sem tempo para respirar, por que ela sentia-se tão incrivelmente culpada por tudo que acontecia e precisava se redimir e concertar o que podia ser concertado.

- Realmente, Sra. Iero...

- Linda.

Gerard sorriu em meio as lágrimas que agora já rareavam.

- Realmente, Linda, não tem necessidade... o que importa agora é Frank. Só ele. – ela assentiu, saindo do abraço do homem e limpando as lágrimas com as mangas do suéter – e temos que contar a ele – completou Gerard.

- Eu não seria capaz. Não posso. Eu – ela respirou fundo – eu sei que é muito ridículo de minha parte, mas não acho realmente que seria capaz de ver a reação verdadeira de Frank em seus olhos e depois ver o modo como ele vai agir depois, fingindo que não se importa.

- Se quiser eu posso... conversar com ele.

- Não quer pedir ao médico?

- Eu não gostaria de receber essa notícia de um médico com um falso pesar no olhar. Quero que ele veja que eu me importo – respondeu sinceramente, o que fez Linda voltar a chorar, sentindo-se fraca por não conseguir contar isso ao filho.

Imaginou que se Gerard não estivesse ali, Frank receberia a notícia dos olhos cheios de falso pesar de um médico, e agradeceu a Deus por ele.



Frank acordou em seu quarto, sem ter noção de que horas eram. Reparou que a mãe não estava, e deduziu que devia ter ido conversar com o médico. Sentiu um frio na barriga.

Ele sempre fingia não se importar consigo mesmo, mas dizer que não sentia medo seria mentira. Apenas não queria demonstrar para não fazer com que o sofrimento de sua mãe e de Gerard fossem maiores.

Virou-se na cama, focalizando o relógio no criado-mudo. Eram onze da manhã. Ligou a televisão a fim de passar o tempo até que a mãe voltasse. Algum tempo depois, a porta se abriu, mas não era Linda. Era Gerard, e sua expressão não mostrava nada, embora o pequeno enxergasse em seus olhos que ele estava triste.

O maior sentou-se ao pé da cama de Frank, sem proferir uma palavra. O menino lançou-lhe um olhar indagador, que foi respondido pela simples declaração:

- Conversamos com seu médico.

E depois a mesma falta de expressão e o olhar parado. Gerard tentava achar forças para começar, mas então percebeu que não as acharia; teria que fazê-lo mesmo sem forças.

- Frank, eu... quero que me deixe terminar antes de qualquer coisa – o garoto assentiu – sua mãe gostaria de estar aqui, mas ela não conseguiu; então... olha... eu não sei como te dizer isso. Mas... o que você tem é bastante grave, pequeno.

E Gerard então viu a preocupação da qual Linda falara nos olhos do menino. Ele não a demonstrava: seus lábios tinham o mesmo pseudo-sorriso e ele nem ao menos perguntou do que se tratava. Mas seus olhos estavam aflitos, gritavam por respostas.

Respostas que foram dadas por Gerard, que repetiu tudo que se lembrava de ouvir o médico falando, cada vez mais aflito com a preocupação que exalava dos olhos do pequeno, mas que de repente sumiu.

Sumiu ao mesmo tempo em que o menino falou:

- Bem, parece que fazemos mesmo o casal perfeito; os dois tem problemas na cabeça.

Gerard podia ver que ele brincava para disfarçar seu medo. Ele não riu da piada do pequeno, embora ela fizesse um pouco de sentido. Apenas tentou demonstrar o quanto tudo aquilo o irritava.

- Frank, pare de fingir, por favor. Não faz bem nenhum a você isso, e nem a mim. Só me deixa mais angustiado. E você prometeu.

Por um momento, o garoto hesitou. Por um momento ele pensou em rir novamente e dizer que Gerard estava sendo bobo. Mas o momento passou, e com ele foi-se também a máscara de Frank.

O garoto regurgitou o nó que em sua garganta que ele tinha engolido, permitindo-se apenas chorar no ombro de Gerard, demonstrando o quanto tinha medo, e nesse instante o homem sentiu-se na obrigação de cumprir o que prometera.

Não podia deixar chorar, mas não sabia como fazê-lo parar. E por fim ele chegou a conclusão que era inevitável, e que o menino teria que desabafar. E era melhor que fizesse isso no ombro de alguém que se importava do que sozinho em seu quarto. Então apenas o abraçou, e se ainda tivesse lágrimas, ele teria chorado também.

- Eu tenho medo do que pode acontecer comigo.Tenho medo do que pode acontecer com a mamãe e com você. Tenho medo de tantas coisas... Ger, eu só queria poder ficar contigo em paz, por que as coisas não podem dar certo pra gente? – disse, em meio a soluços, ainda com o rosto enterrado no peito do maior, que afagou seus cabelos, dando-lhe um beijo no topo da cabeça.

- Frank, as coisas vão dar certo pra gente. Eu prometo. Eu vou pra qualquer lugar do mundo com você pra encontrar a sua cura. Vou até o inferno se for preciso. Você tem minha palavra de que tudo vai ficar bem – e disse isso sinceramente, por que realmente faria o que fosse preciso para que o menino não morresse. Se em algum lugar existisse um tratamento, para lá eles iriam. Não importaria o preço ou a distância. Mas temia não poder cumprir sua promessa; temia que as coisas realmente não estivessem destinadas a dar certo para eles.

Frank deixou mais alguns soluços escaparem, antes de botar pra fora o que mais lhe afligia no momento.

- Mas Gerard, você ainda vai me amar? – o maior franziu o cenho – ainda vai me amar quando eu não for mais quem eu sou? Vai me amar quando eu não tiver mais cabelos, quando minha pele for quase transparente e você puder contar minhas costelas apenas olhando para mim? Ainda vai me amar quando eu não for capaz de fechar o zíper da minha calça, ou talvez não tiver forças suficientes para dizer o seu nome?

E ao ouvir as palavras saindo da boca do seu pequeno, ele achou as lágrimas que ele pensou terem se esgotado. E elas caíram pelo seu rosto e se misturaram aos cabelos de Frank apenas por imaginá-lo desta maneira.

- Eu vou te amar sempre, Frank. Até quando você não estiver mais aqui.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ok, esse capítulo é super melado e tudo mais, mas me dêem um desconto. Q