Harry Potter e a Neta de Voldemort escrita por Thaty Shinoda


Capítulo 18
Capítulo 17 - Confissões


Notas iniciais do capítulo

História originalmente escrita com Sheila Farias.
Porque existem histórias que quando não são contadas ou finalizadas, ficam na sua mente lhe perturbando até que as deixem sair.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/608112/chapter/18

Capítulo Dezessete – Confidências

 

Era o horário vago de Sabrina, Rony e Harry, enquanto Morgana e Hermione iam para suas aulas de Runas Antigas, e o castelo se encontrava em polvorosa. Alguns ainda faziam brincadeiras com Sabrina, perguntando se haveria ou não outra festa de arromba e ela quase queria não ter que estar na biblioteca naquele instante, fazendo os deveres de Transfigurações antes da visita. Além disso no Domingo ocorreriam os testes de líderes de torcida, para que o campeonato de quadribol começasse na segunda feira, e isso fazia com que fosse quase um feriado na escola.

— Muitas coisas acontecem aqui, me pergunto o porquê. – Ela resmungou enquanto molhava a pena observando um grupo de Lufanos cochichando enquanto Madame Pince pedia silêncio. Rony estalou a língua fechando seu dever e esticando as costas, cansado:

— Provavelmente Dumbledore não quer que todos fiquem olhando os jornais cheios de pânico.

— É, só eu posso. – Harry resmungou mau humorado enquanto escrevia seu último parágrafo na redação. Sua atenção foi voltada á uma mesa a frente onde Cho, Gwyneth e mais algumas garotas, olhavam para ele tentando chamar sua atenção, e o fazendo corar quando acenaram e deram risinhos animados. Sabrina ergueu uma sobrancelha ao ver isso, e Rony estremeceu.

— Elas me assustam quando fazem isso.- Confessou o ruivo. – Será que Cho contou sobre a ala hospitalar?

— Não sei, talvez sim. Isso é meio constrangedor. – O moreno voltou a olhar para seu dever, sentindo as bochechas quentes ao se lembrar de como fora o interrogatório que acabou vindo quando ficaram todos juntos depois do almoço, sobre o que acontecera na ala hospitalar.

Sabrina também se lembrava disso, e de como Gina se juntara a elas nos dois dias que Harry estivera na enfermaria, para tentar achar uma solução, qualquer uma, aos problemas de Morgana e Harry. Sentindo aquela falta de espírito que a vinha acarretando ela finalizou o parágrafo e soltou sem nem mesmo erguer os olhos de seu pergaminho.

— Harry você ama a Cho? – Afinal, não era essa a pergunta que ela deveria ter feito desde o princípio? Ou qualquer uma delas? Não era essa a dúvida?

O garoto engasgou com sua própria saliva, e ela finalmente parou de assoprar o pergaminho para olhá-lo. Uma mudança gradual se tomou em seu rosto e até mesmo Rony parecia interessado na questão. O ruivo apoiou o queixo na mão e ficaram os dois observando o rosto de Harry ter espasmos como se ele tivesse pensando consigo mesmo, em um conflito interno.

Ele não podia dizer que sim, porque nem ele tinha certeza. Mas a questão ali, era que ele precisava desabafar, precisava falar para alguém aquilo tudo, alguém mais para decidir se ele era um canalha, ou mesmo lhe dar um conselho, fosse qual fosse. Sabrina era sua amiga. Sabrina era mulher. Rony não era o melhor nisso, mas era seu melhor amigo no mundo. Hermione seria boa também, mas ele tinha alguma espécie de vergonha em se abrir com a amiga que quase nunca conseguia se abrir com ele. E Sabrina perguntara! Isso foi como se oferecesse sua válvula de escape.

Apertando bem os lábios juntos ele enrolou seu pergaminho e pediu que os outros fizessem o mesmo. O que fez a ruiva estranhar aquela solenidade toda que havia causado uma simples pergunta. Não deveria ser uma resposta simples?

Quando já estavam andando em direção ao lago, Harry finalmente abaixou e pegou um ramo de grama, mordendo a parte interna dos lábios antes de dizer.

— Presta atenção vocês dois, eu estou confiando em vocês, portanto vocês tem que jurar, dar sua palavra, que não vão dizer nada do que eu falar aqui nem sob tortura. Ok? Principalmente você, Sabrina!

Os dois balançaram a cabeça assustados, o que de tão grave poderia ser tudo aquilo? Harry continuou:

— Eu amava, ou sei lá gostava, da Cho ano passado e tinha plena certeza disso, mas...esse ano. Têm uma garota que, bem... me deixou confuso, entendem? Ela é...linda, e é simpática, inteligente e tem um charme especial. Eu não sabia que eu sentia uma coisa diferente por ela até uns dias atrás. Tinha todas as dicas, mas eu nunca parei para pensar nisso...

— Você tá gostando da Mione? - Rony se adiantou, com as orelhas muito vermelhas.

— Ahn? – Harry e Sabrina o olharam sem entender absolutamente nada, e o ruivo bateu o pé numa moita próxima, sem responder. – Não! De onde você tirou isso?

— Não sei, você veio com o papo de dicas, de que nunca se deu conta.

— Bom sim, mas não é algo tão antigo assim. Só você é estúpido a esse ponto, Ron. – Harry revirou os olhos, como quem dissesse que a lentidão do amigo era inacreditável.

— O que você quer dizer com isso?

— Então quem?- Perguntou Sabrina, mas no fundo ela já sabia quem era. E isso meio que a animou, a fazendo sorrir um pouco.

— Eu não sei se posso dizer pra vocês, eu tenho medo que vocês...- Ele olhou para Sabrina.- contem pra ela.

— Mesmo que eu quisesse eu já dei minha palavra. - Disse a garota.- Você está confuso entre a Cho e a Morg, não é?

Harry balançou a cabeça numa afirmação muda, se perguntando se deixara transparecer tanto assim seu sentimentos. Sabrina riu e pensou que a amiga tinha que saber disso o mais rápido possível, mas então lembrou-se que tinha dado a sua palavra, ótimo Sabrina, porque não tinha cruzado os dedos nas costas?

— Olha eu sei que parece idiota, e eu estou fazendo um drama sobre isso. Mas isso é mais perturbador do que achei que seria. Eu fico pensando sobre as duas e simplesmente não sei como me sinto sobre nenhuma delas. E eu tenho coisas melhores com o que me preocupar, mas isso é real, e isso está aqui, e eu fico tendo esses pensamentos... – O moreno revirou os olhos, como se decepcionado consigo mesmo e com o que gastava pensando quando tinha toda uma guerra lá fora.

Sabrina deu um tapinha em suas costas, compreensiva.

— Você é um adolescente, Harry, nem tudo é violência sangrenta, mesmo que você tenha todo o peso do mundo nas suas costas.

— É cara, desencana, você tem que viver. Agora, eu desconfiei que tinha algo errado quando você brigou comigo. Porque não me disse? – O ruivo deu um soquinho de brincadeira em Harry, e o outro se resignou.

— Você é tão sensível quanto uma lesma, Rony. E não é o melhor cara no mundo pra se falar sobre relacionamentos.

— Sim, a Hermione... – Começou Sabrina. Ela estava mesmo gostando do que suas perguntas causavam. Mas então Rony a interrompeu, cerrando o maxilar.

— ...está em Runas Antigas, e é melhor deixar ela lá.

— Sim, com o Boreanaz. – Resmungou Sabrina e ele fingiu não escutar. – Bom, você tem um problema, Harry, mas como sabe que é um problema? Digo, você diz que se sente diferente em relação a Morgana, o que exatamente sente? E porque acha que é o mesmo em relação a Cho?

— Não é o mesmo...é...eu não sei. Só que quando eu penso em Morgana falando com o Vighty agora pelos corredores, ou chamando Malfoy de Draco, ou coisas assim. Eu não gosto! E gosto quando ela acidentalmente acaba segurando meu braço, como me abraçando, antes de se dar conta de que não sou seus irmãos e que é intimidade demais. Eu me sinto...constrangido, mas... aquecido. – Rony segurou a risada. – Não! Idiota! Não é isso. É só... bom.

— Sim, a ponto dela perceber e tentar segurar a intimidade com você, porque acha que te incomoda. - Sabrina sentenciou. Harry apertou os lábios e ergueu as sobrancelhas, pensativo.

— É melhor do que eu a deixar fazer isso, gostar e acabar em uma situação tonta como quando ela caiu em cima de mim. – Ele engoliu em seco, corando. – De qualquer forma, não acho que ela saiba disso, e eu não sei lidar exatamente com as garotas.

— Isso nós percebemos quando Cho te olha, fala com você, te visita...

— Sim, Rony. Na verdade, todos percebemos, até Morgana. Se você se sente assim com a Cho, e ao mesmo tempo confuso com Morgana, a verdade é que passa a impressão de que só se sente assim com a primeira.

Harry suspirou. Isso podia ser verdade, mas metade das vezes ele apenas estava pálido sobre como Morgana ia reagir aos avanços de Cho. Fora assim na enfermaria. E ele disse isso aos amigos, ao que Rony começou a rir.

— Ah, era por isso aquela cara de quem levou um chute bem lá. Entendo. Mas, com qual das duas você acha que quer sair? Digo, tem mais do que apenas ciúmes fraternal, e vergonha, ou atração nisso sobre Morgana?

— Não é ciúmes fraternal. E se eu soubesse exatamente a resposta não estaria pedindo conselhos logo a você! – Ele revirou os olhos, observando Sabrina.

A ruiva estava em uma conversa interna consigo mesma, se descriminando por não poder contar nada daquilo a Morgana, se perguntando se aquilo contaria como traição, descobrindo como faria Harry desistir de se encontrar com Cho, e se encontrar com Morgana em vez disso. Mas o que ela diria a Harry? Porque ela era amiga dos dois, e era essa sua posição ali, não? Ela deixou os ombros caírem, cansada.

— Bom, Harry, então eu acho que tá na hora de você resolver logo isso, você vai lá e marca um encontro com a Cho, só que aí vem e diz que também gosta da Morg. Você acha mesmo que se a Morgana sentir alguma coisa por você ela vai continuar se iludindo, sabendo, ou pensando que sabe, que você gosta da Cho?

— Quem marcou esse encontro foi Rony, não eu! - Os dois amigos olharam acusadores para o ruivo.

— Tá, mas pra mim você gostava da Cho. E o que você ia fazer, sair correndo? – Ele foi extremamente prático, para variar.

— Não eu só ia dizer que acho a Cho bonita, foi isso que a Gwyneth me perguntou.

— Mas e se ela perguntasse se você queria ter um encontro com ela, então? Se você disse-se não a Cho nunca mais ia querer nada com você, aí vai que você descobre que é dela que você gosta de verdade?

— E o que vocês querem que eu faça? Não dá pra desmarcar mais nada. E se, como você disse, eu descobrir que é dela que eu gosto de verdade?

— Então, é melhor você tirar Morg da cabeça. Eu concordo, você deve sair com Cho. – Sabrina sentiu as palavras saírem meio amargas de seus lábios, se odiando por dentro. Mas era o que ele devia fazer. – Você sai com ela... e então com Morgana! – Sorriu a ruiva, radiante. – Digo, Morgana vai resistir, mas eu posso dar um jeito nisso.

Harry parou de andar e olhou Sabrina, desconfiado. Então ele tornou:

— Estamos todos aqui falando como se Morgana sentisse algo por mim também. Porque você nem leva em consideração que ela pode gostar do Vighty, por exemplo, e rir quando eu sequer pensar em chamar ela pra sair?

Sabrina hesitou, e então deu um sorriso amarelo.

— Bom, ela realmente se sente atraída, pelo Alecs, e não consigo culpá-la, mas... mas eu não acho que ela goste dele. – Ela coçou a cabeça, insatisfeita consigo mesma. Droga. – Ela pode precisar de alguém que a conquiste, e pode ser você. – “Mau Sabrina. Animada demais, ele não vai engolir essa.”— E você é um cara melhor para ela do que o Vighty, eu acho...

— Você acha, é? – Rony começou a ensaiar um sorriso, ao que Sabrina cortou.

— Sim. Acho. Na verdade acho que ela gosta mesmo é do Malfoy, e você é um cara melhor que ele também, Harry. – Foi a primeira coisa que pensou.

Só não achou que ia causar um tropeção de Harry e uma crise de tosse em Rony.

— Ela o que? – Os dois fizeram idênticas caras de nojo. Não podiam ser mais parecidas nem se eles fossem os Gêmeos.

— Não importa a vocês, não vou dizer de quem minha melhor amiga gosta, se não posso revelar o segredo de vocês dois. Aliás, já que estamos nisso, de novo Rony: Se você não se mexer, Hermione vai cansar.

— Não sei do que está falando...

— Sim, você sabe. Além disso Carlos está cercando-a, fazendo bem a ela, como você não faz. Então, é bom que você tenha isso em mente.

— Cercando como? – Sabrina suspirou, feliz por ter conseguido mudar o foco da conversa.

— Ele a paquera, de verdade! A faz sentir bonita, e é carinhoso nas aulas. Carrega seus livros e...

— Eu já entendi. – Disse o ruivo com uma careta emburrada, as orelhas vermelhas de raiva de novo.

Mas Harry não pareceu se deixar levar por esse tipo de artimanha. Na verdade, ele se sentiu meio miserável por ir nesse encontro pra começo de conversa, mesmo com a opção de sair com Morgana depois. Enquanto Sabrina e Rony se provocavam, ele pensava que talvez fosse melhor não sair com nenhuma das duas, as palavras de Morgana enquanto dormia, martelando em seus ouvidos.

xxXXxx

— Como estou? – Perguntou a oriental, ajeitando sua franja para longe dos olhos amendoados devidamente maquiados com rímel e delineador. As bochechas coradas denunciavam algum blush, e os lábios com uma camada fina de batom cor de rosa pareciam chamativos o bastante para que Harry quisesse beijá-la.

Gwyneth analisou Cho de cima a baixo, do vestido caído em um ombro, estilo camisetão de cashmere cinzento, ás meias calças grossas, por conta do frio leve que fazia, e ás ankls boots azul royal que a amiga usava. Cho parecia cintilar, com uma beleza arrumada, mas não tanto, para aquele encontro. Até o gorrinho estilo boné caído meio de lado em seus cabelos lisos contribuía com o visual. Mas a amiga nunca precisava de muito para ficar linda, o que ela vivia dizendo.

— Está ótima Cho, o garoto vai admirar, se não for muito idiota.

— O Weasley também! Eu não acredito que você foi tão cara de pau, Gwen!

A outra riu, encolhendo os ombros meio constrangida. Rony Weasley tinha alguma coisa. Ela vivia dizendo isso a Cho, desde que a amiga reparara em Harry. Ele tinha toda aquela aura alta, ruiva, e charmosa com as sardas, o jeito engraçado e meio bruto, e ela gostava de caras bonitos, altos e meio brutos, talvez porque fosse tão absurdamente racional. Ela não esperava que ele aceitasse, visto que observava Hermione Granger e ele sempre em briguinhas de amores, mas pelo visto não era nada.

Usava por sua vez um modelo de vestido de mangas compridas marsala, bem acinturado, como se fosse um casaco, e botas de cano longo que torneavam suas pernas, deixando mais chamativo que pretendia agradar alguém, ao invés de ser mais discreta como Cho, mas o roupão da Corvinal por cima ajudava a esconder e aquecer o corpo, de forma que não chamou muita atenção. Seus cabelos estavam lisos para a ocasião, e ela os deixara presos em um coque meio desleixado no alto da cabeça. Não se maquiara muito, tal como a amiga, não gostava de abusar demais disso.

As duas pararam em frente o Madame Padfoot, observando alguns bolos na vitrine e conversando sobre amenidades enquanto olhavam o relógio.

— Você acha que eles não vem?

— Não sei, garotos sempre são idiotas, eles podem ficar com vergonha ou... não sei. – Gwyneth apertou os lábios, observando alguns lufanos conversando sobre quadribol animadamente a sua frente. – Hum, Louis nem me procurou mais depois da segunda semana de férias. – Ela suspirou, meio chateada. Havia brigado com o namorado Louis Vernon no verão, e desde então os dois estavam se evitando, apesar do histórico que tinham de terminar e voltar quase o tempo todo.

— Esqueça-o Gwen, ele não merece que você fique pensando nisso.

— Sim... eu gostaria de não ter ficado com Arthur Summers pra fazê-lo ciúmes no Beco Diagonal, porém. – Cho olhou para o lufano mais velho e corou quando ele sorriu, mas logo deu tapinhas nos braços de Gwyneth. – Você é meio impulsiva as vezes, só isso.

— É, por isso o encontro, não que eu não esteja interessada, e não soubesse que você está. Mas eu deveria ter te dito o que ia fazer antes de ir falar com Potter, desculpe, Cho.

A oriental sacudiu a mão como se dissesse: Deixa pra lá. Depois olhou o relógio com impaciência e um biquinho quase magoado.

— Mas será que eles veem?

xxXXxx

Não que Harry soubesse se iria mesmo. Não até Morgana mesmo dar uma ajuda nisso.

Ele se trocou, é verdade. Se arrumou mais do que o normal, e mais do que era possível com suas poucas roupas úteis de segunda mão, nas quais salvavam-se uma ou outra camisa e jeans que ele comprara ou ajustara com magia. Quando desceu as escadas do dormitório, Rony resmungou sobre ele parecer uma garota, e Harry viu que ele mesmo tinha tentado se dar um jeito, com um suéter azul escuro e um par de jeans de bom caimento, com tênis que imitavam couro de dragão que Harry não fazia ideia de onde tinham surgido. Também estava perfumado, o que era anormal, visto que Gina começou a cheirar ao redor dele e fazer piada, sobre como quem fosse ficar perto dele era sortudo por o ver cheirando bem. Mas Rony também não parecia muito certo daquilo, estava meio esverdeado, conforme o grupo deles saia do castelo e se dirigia á estrada para Hogsmeade em silêncio. Parecia uma espécie de enterro.

Por fim Harry tentou quebrar o gelo, perguntando o que as garotas iam fazer no povoado.

— Ajustar algumas roupas de líderes, comprar algumas coisas. – Foi a resposta sucinta de Hermione, como se isso não tivesse importância alguma. Por algum motivo Harry quis perguntar que roupa cada uma usaria. Estava interessado até nas cores e estilo das saias e tops, se isso fizesse aquela sensação ruim na boca do estômago passar.

Se deu conta de que em algum momento os outros haviam se adiantado, e ele e Morgana ficado para trás, como se fosse de propósito para que eles conversassem, e fixou o olhar em Sabrina que puxava o grupo enquanto falava animada. Harry gelou, e soltou um murmúrio nervoso, engolindo em seco várias vezes sem saber o que fazer, ou dizer.

— Você está bonito. – Foi Morgana quem quebrou o silêncio, analisando o jeans escuro, os tênis bege de cano curto, mais limpos que ele tinha, e a camisa branca por baixo da camisa aberta xadrez de vermelho e preto que ele usava. Ela riu baixinho, apontando os cabelos rebeldes do grifinório. – Ao menos eles não parecem tão revoltos hoje... e você... ela se aproximou um pouco. – Não, não se perfumou tanto, mas cheira a sabonetes, isso é legal.

Harry segurou o riso ao ver na feição dela de que isso talvez não fosse um ponto tão bom.

— É ruim cheirar a limpo? – Tentou, brincando com as palavras. De alguma forma, o clima havia ficado um pouco menos pesado com a escolha de conversa dela.

— Bom, não. Mas você cheira a sabonete de lavanda, que é o que as garotas usam em seus dormitórios quando usam o da escola. Achei que os meninos tivessem sabonetes de limão ou algo assim, sempre cheiram a algo masculino quando saem do banho. – Ela pestanejou, como se se dando conta de que conversa era aquela que eles estavam tendo.

— Então algum elfo trocou os sabonetes de nosso dormitório. Sabia que eles nos sabotavam. – Harry tentou, rindo de verdade agora. – O que farei agora?

Morgana apertou os lábios para segurar seu próprio riso, então, seu rosto pareceu cair e ela disse cortante.

— Tudo bem, Cho vai gostar.

Harry sentiu seu próprio riso morrer e suspirou. Ótima ideia para quebrar uma conversa, de tantas coisas a se dizer.

— Morgana...

A morena viu que eles se aproximavam do povoado e parou, o fazendo parar também em reflexo. Parecendo hesitar e entrar em conflito interno por vários segundos, ela segurou o braço dele e o fez virar para si, observando Harry a ponto dele não saber como reagir, incapaz de formular qualquer coisa, apenas olhando-a com curiosidade para saber o que viria. Se deixou ver o contraste dele mesmo e dela, pequena, com o cachecol vermelho e dourado em volta do pescoço, o roupão da escola e em jeans e botas baixas, Morgana não parecia alguém que marcara um encontro. Ele sim, e se sentiu mais consciente disso.

Se perguntou o que ela faria se naquele instante ele a chamasse para tomar um café no Madame Padfoot, e ainda brincava com a ideia quando ela começou a falar.

— Sabrina veio ontem pro dormitório, com uma ideia esquisita. – Os cantos dos lados de Morgana subiam e desciam, como se ela não soubesse se ria ou não, isso o deixou meio apreensivo. Ela iria rir dele? Sabrina tinha contado o que ele disse? – Ela perguntou se eu aceitaria sair com você. Ela não disse exatamente quando, nem porque, mas disse que seria um encontro, e sabia que você aceitaria, um encontro depois do seu e Cho.

— Uhhg – Ele abriu os lábios, mortificado, e sem saber como reagir.

Como no mundo ele sabia que Morgana o abordaria com isso? Ou que Sabrina fosse tão...tão rápida?

— O-o que ela...ela disse mais?

— Não importa, mas eu não acreditei nela. Quer dizer, você gosta da Cho não é? Porque eu preciso mesmo saber disso, Harry.

— Eu...

— Eu não sei porque estou tendo coragem de falar assim com você agora, não é engraçado? – Ela não parecia estar achando divertido, e Harry também não estava. – Não importa muito. O caso é que você marcou um encontro com Cho, então gosta dela. Aí Sabrina veio com essa história engraçada...

— Morgana...você...?

— É meio cruel sequer se você tivesse proposto algo assim. Você não é um cafajeste que sai com uma garota, depois outra, como se elas fossem conquistas de finais de semana, então eu sei que você não teria falado isso ou dado a entender isso. – Harry fechou os lábios, se impedindo de continuar e perguntar se ela iria caso ele convidasse. A palavra cafajeste fez esse trabalho. Morgana ainda não terminara, é claro. – Sabrina entendeu errado, ela é minha amiga e entendo que ela queira... – Foi a vez da morena de se calar, pondo os dedos nos lábios que mordera num reflexo de se impedir de continuar.

Harry se sentiu em um mundo meio surreal, meio sabendo o que ela diria, mas sem saber se sabia ou queria que ela dissesse aquilo. E ele ali, estático, sem saber como lidar com tudo. Então Morgana deixou a mão cair, e o olhou por um tempo para ele, os olhos meio marejados, ou isso parecida. Ela engoliu em seco.

— Sabe, eu também gosto de alguém, mas não sou correspondida, infelizmente. Na verdade, acho que ele ficaria meio sem reação quando eu falasse isso, ou desse a entender... não é culpa dele. Por isso eu decidi que quero ver ele se divertindo sem ficar se preocupando com nada sobre mim. Por isso: não Harry, eu acho que mesmo se fosse verdade talvez eu não aceitaria ficar entre você e Cho. – Ela não disse o que pensava sobre ser a segunda opção tão pouco. Na verdade, ela omitiu e deixou sua frase propositalmente ambígua, para ver como Harry reagiria a isso.

E ele pareceu entender, por milésimos ele se perguntou se era para ele que ela dizia aquilo, se ela tentava se declarar ou dizer algo que ele estava perdendo ali. E se talvez ele tivesse tido coragem de perguntar isso, ou de reagir com o que ela fez em seguida, se não fosse tão desajeitado sobre as garotas e sobre tudo, ele tivesse tido um desenrolar diferente naquele dia, e nos que viriam depois. Mas Harry não reagiu, perguntou, ou fez nada mais do que prender a respiração.

Porque Morgana sorriu, um sorriso cheio de covinhas e disse:

— Não que você tenha alguma coisa a ver com isso, claro. E não se preocupe, sei que Sabrina entendeu errado. De qualquer forma, você está mesmo bonitinho, e espero que Cho aproveite isso. Bom encontro Harry. – E ficando próxima, na ponta dos pés, ela se apoiou nos ombros do moreno e colou os lábios na bochecha dele.

Foi como um breve segundo parado no tempo, beirando as portas do céu, ou foi assim que ele se lembraria disso, já que no momento não conseguiu pensar muito. Só sentiu o peito dela encostado no seu, as mãos delicadas em seu ombro, o cheiro do cabelo dela, de perfume floral, feminino, e seu próprio perfume adocicado como algo que dá dor no estômago de vontade de provar, e o calor na bochecha onde ela apertou os lábios por instantes eternos. E quando ele pensou que podia erguer as mãos e segurar ela ali, que podia mesmo virar o rosto só um pouquinho, deixando os lábios escorregarem para a direita, que fechou os olhos sentindo seu coração triturar o peito; ela se afastou. Como se fosse uma onda o frio o invadiu, onde ela estava, e Harry a viu simplesmente girar, acenar e sair correndo arrastando Gina, Hermione e Sabrina para longe dos dois.

— Até mais tarde, boa sorte.

xxXXxx

— O.que.você.FEZ? – Perguntou Sabrina enquanto andava de um lado á outro da Trapos para Bruxas Jovens. Morgana estivera miseravelmente chorando e contando o que tinha feito e dito a Harry. De forma que ele praticamente parecera a rejeitar e negar, ao invés de apenas não saber como agir. O que Sabrina sabia fora o que tinha acontecido. O que Hermione Gina pareciam pensar assim também. E o que Morgana, somente ela, achava que tinha sido clara, convincente e que dera todas as chances dele desistir e sair com ela, ou algo assim.

Claro, Sabrina sabia que ele estava dividido e Morgana não. Isso ajudaria em mudar a imagem que a amiga tinha de que Harry era louco por Cho e não fosse o drama dela, tudo estaria bem. Ajudaria a outra descobrir que não tinha “dado um jeito de se declarar e lutar uma última luta antes de perder” e sim que praticamente empurrara Harry pra Cho e desistira antes sequer do garoto processar o que estava acontecendo. Ótimo. Ótimo mesmo.

“Vamos ser duas amarguradas de coração partido nos próximos dias.”, pensou a ruiva. “A diferença é que eu fui mesmo, e ela praticamente se forçou a isso.”

— Você queria que eu saísse com ele depois, eu sei, sei da sua idéia. Mas ele não queria isso. Porque você ia querer me forçar a ser rejeitada, Sabrina? Isso é cruel.

— Eu não queria forçar você a ser rejeitada. Ele...arg! – Ela revirou os olhos e começou a roer as unhas em sinal de protesto e nervoso. Gina voltou da janela, com o cenho franzido.

— Rony finalmente conseguiu puxar Harry do lugar onde ele pareceu ficar petrificado, ele não tinha uma cara muito boa!

— Estraguei o encontro dele. Harry é alguém de coração bom, que deve ter entendido, e não quer me magoar...

—Até ontem ele era uma pessoa ruim, cruel, que você esperava que fosse gay. – Ponderou Hermione, sem acreditar naquela cena estranha que acontecia.

— Sim, bom, não era sério.

— Você sabe, Morg, eu tenho que dizer: isso que você chamou de confissão não fez muito sentido, se foi como você nos contou, né? – Gina olhou a morena, meio desconfiada, depois se tornou alheia, pensando consigo mesma. Não demorou e ela se ergueu de um pulo, sorrindo como se fosse a pessoa mais genial da face da terra. – Encontro vocês mais tarde.

— Ei onde você vai? – Perguntou Hermione, sem saber como lidar com tudo aquilo e ainda o fato de que Rony tinha um encontro também e ninguém parecia entender isso.

— Vou com Neville tomar chá no Padfoot, até mais tarde. Não se preocupe, Mione, eu vou lidar com Rony também. – E saiu dali, decidida.

Nenhuma delas conseguiu dizer nada por alguns minutos.

Então entraram em pânico.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, é isso que nosso babaca Potter assumiu: Ele gosta das duas! É normal, acontece, queria cortar também, mas aí ia sobrar o que pra encher linguiça né gente? KKKK Além disso, bem da verdade, gosto bastante desse dramalhão e... ah, vou me calar pra não dar spoilers demais XD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harry Potter e a Neta de Voldemort" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.