Avatar: A lenda de Mira - Livro 2 Ar escrita por Sah


Capítulo 12
Familiar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607918/chapter/12

Eu e Suni ficamos na sala enquanto Mira falava com a senhora. Percebi que Suni estava incomodada. Ela olhava constantemente para o caixão fechado no centro. Acho que ela nunca havia visto um velório. Eu não lembro se eu já havia visto um, mas essa cena era extremamente familiar.

Mira finalmente voltou. Ela estava com uma expressão estranha. Ela abraçou a senhora e sussurrou alguma coisa no ouvido dela.

Ela se aproximou.

— Já podemos ir, eu já sei onde meu pai está. – Ela disse baixo.

A senhora nos levou até a porta. Seu olhar antes cansado tinha certo brilho. Fiquei curioso, mas eu não perguntei nada.

Quando chegamos perto da cancela de saída, havia guardas ao redor do carro que viemos. Eles usavam um uniforme diferente, provavelmente eram guardas particulares da Airo. Eles estavam visivelmente nos esperando. Mira não fez cerimônia. Não escondeu que nós havíamos invadido esse distrito.

— Vocês podem nos deixar passar? – Foi o que ela disse quando estávamos mais próximos.

Havia três homens. Um deles era muito alto e não tinha uma expressão muito amigável no rosto.

— Vocês vão ter que nos acompanhar. – O alto disse.

— Não mesmo. Tenho coisas muito mais importantes para fazer. – Mira disse.

Um deles riu.

— Invadir um distrito particular depois do toque de recolher e quebrar a cancela? Você acha que deixaríamos vocês irem embora assim?

Pelo jeito eles não reconheceram a Mira.

— E quem vai nos impedir? Vocês? – Mira zombou.

— Suni, mostre para eles por que eles não vão nos impedir.

Suni pisou forte no chão. O lugar onde estávamos começou a tremer e blocos de pedra se desprenderam do chão.

Podíamos ter resolvido isso de outra forma. Mas com essas duas sempre é assim. Dois dos homens se afastaram rapidamente. Eles sabiam no que estavam se metendo. Só que o alto riu mais um pouco.

— Isso é uma incrível coincidência. Uma jovem dobradora de terra? Sabe como está difícil encontrar pessoas como nós?

— Nós? – Suni perguntou.

Ele repetiu o feito, a terra tremeu e alguns postes chegaram a balançar.

O que está acontecendo conosco? Como temos tanto azar? Acho que andar com o avatar tem dessas coisas. Nós atraímos dobradores e pessoas perigosas. Mas não temos tempo para isso.

Antes de qualquer outro movimento do homem. Eu faço o que é necessário. Respiro fundo e faço uma rajada de vento cortar o ambiente. Uma das mais fortes que eu já fiz. O homem cai de joelhos no chão.

— Mira, agora!

Ela já estava preparada. Um cano estoura e Mira faz a água envolver as pernas do homem e com precisão ela congela.

Agora ele parece surpreso. E não faz nenhum esforço para se livrar do gelo.

Corremos. Ignoramos o carro e pulamos o que resta da cancela.

Corremos até perder o fôlego. Paramos já longe da entrada do distrito.

— Você viu a cara dele no final. – Mira ri.

Ela havia recuperado o humor. O que será que a senhora disse para ela?

— Mira. Para onde vamos agora?

— Não vamos. Eu vou. Vocês não podem vir comigo.

— Por que não? – Suni pergunta.

— Eles estão me esperando. Meu pai está bem por enquanto.

— Você vai precisar de reforços! – Eu afirmei.

— Não, dessa vez eu terei que resolver sozinha. Se eu levar alguém eles vão matar os meus irmãos.

— O que aquela senhora te disse?

Ela ficou pensativa.

— Agora não posso falar nada. Eu ainda não acredito totalmente nela. Mas eu sinto que o que ela disse tem uma ponta de verdade.

Ela ficou divagando por alguns segundos.

— Vão para casa. As famílias de vocês devem estar preocupadas.

— Mas...

— Eu aviso vocês. Não se preocupem comigo, eu sou forte o suficiente para me virar sozinha.

Será que ela é tão forte assim? Apesar de ser a Avatar ela não tem muito controle emocional.

— Se você não entrar em contato daqui a 24 horas eu vou atrás de você.

— Eu também vou. – Suni me completou.

Mira concordou e se dirigiu ao norte. Eu não tenho ideia do que ela tem na cabeça, mas eu só posso confiar que ela fará o certo.

Eu tenho que voltar para casa. Eu não disse para ninguém além de Sina o que eu iria fazer, mas acho que a essa altura eles sabem.

Olho para a Suni. Eu sei que ela queria ir com a Mira tanto quanto eu.

— Vamos , eu te acompanho até em casa.

Sinto vontade de pegar a mão dela, mas me contenho. E ando um pouco na frente.

As ruas estavam vazias, olhei para a lua e para o céu que estava começando a clarear. Já estava amanhecendo?

Suni parou abruptamente.

— Eu não quero ir para casa. – Suni finalmente me disse- Eu não quero enfrentar Suki agora.

Suni tinha uma relação complicada com a família, principalmente com a irmã. Apesar de serem gêmeas elas eram as pessoas mais diferentes uma da outra que eu conhecia.

Suni descobriu que era uma dobradora de terra muito cedo. E Suki sempre era deixada de lado. Acho que a rivalidade entre elas existe desde sempre. Apesar de tudo Suni ama a irmã e por isso se veste desse jeito . Assim os seus pais levam Suki ao invés dela para os eventos. E Suki pode uma atenção que Suni nunca teve.

— Você quer ir para a minha casa? Acho que lá vai estar pior. Eu vou levar uma bronca e terei que enfrentar meu pai e Aarion. – Um arrepio correu a minha espinha quando eu disse o nome dele.

Ela sabia o que ele havia feito comigo, ela era uma das poucas pessoas que sabiam o que Aarion tinha tentado me matar, ela e Kendar.

— Pelo jeito estamos como a Mira, sem um lugar para onde voltar.

Triste realidade. Mas temos que enfrentar um deles.

Esperamos os primeiros raios de sol pra pegar um bonde.

Com fui esforço convenci Suni a ir para casa .

— Não se esqueça de mim. Se a Mirar entrar em contato venha logo me dizer.

— Pode deixar.

Ela me abraça com um pouco de desespero. Como se ela não quisesse ficar sozinha. O meu coração dispara e eu fico sem jeito quando ela me soltou.

— Se alguma coisa acontecer na sua casa eu fujo com você, ok?

Eu engulo em seco e só aceno a cabeça positivamente. Então ela segue o próprio caminho.

Demoro um pouco para processar o que acontecer, mas quando estou caminhando eu passo em frente a um pronto-socorro e me lembro do que prometi a madrasta da Mira. Passo por um telefone público e disco o número da emergência.

Explicar o endereço foi fácil. Difícil foi convencê-los a mandar algum médico para a cidade da fuligem, mesmo eu me identificando eles hesitaram, por fim eles me prometeram que mandariam alguém lá.

Andei a pé até o porto. O barco de Islar o único que tinha permissão de aportar na ilha do templo do ar ainda não estava lá. Sentei no cais e esperei. O sol ainda não havia surgido completamente.

O cheiro de peixe apareceu depois de alguns minutos. Os primeiro pescadores que saíram à noite já estavam voltando. A movimentação habitual finalmente estava dando as caras. Estruturas de madeiras estavam sendo montadas, e peixes frescos colocados em tábuas para exposição. Pescadores começaram a gritar nomes e variedades de peixes que eu não conhecia e pessoas de diferentes classes brigavam pelo maior peixe.

A cidade continuava como sempre foi. A população não foi avisada do Estado de Guerra, sorte deles ,poder aproveitar um pouco mais dessa paz passageira.

A buzina do barco de Islar era inconfundível. Feito de madeira e com uma estrutura rudimentar livre de qualquer tecnologia atual o “Brisa Marinha” era o único barco que meu pai permitia fazer o caminho livremente até a ilha. Qualquer outro barco precisaria de uma permissão e não poderia ficar aportado por muito tempo, meu pai acredita que isso ajudava a preservar a vida marinha ao redor da ilha.

Levanto e vou até o barco que ainda não estava totalmente preso na cais. Pulo com um impulso, atraindo uma atenção desnecessária.

— Meelo? – Islar finalmente me nota.

Ele era um homem grande com bigodes grisalhos e falhados. Ele escondia a careca em um quepe antigo e encardido de marinheiro.

— Sim. Você pode me levar até a ilha?

— Claro, eu só tenho que comprar alguns moluscos. Juno disse que irá fazer um ensopado para o almoço.

Juno e uma das ajudantes da minha atual madrasta. Como se fosse uma governanta. Eu suspeito que ela e Islar tenham mais que uma simples amizade.

— Ok, eu espero.

Ele se despediu me deixando sozinho naquele barco.

Me deitei no convés um pouco mais relaxado bocejei, eu ainda não havia dormido, olho para as nuvens e acabo cochilando.

Aarion levaria alguns dos meus irmãos para as montanhas para passear e brincar. Eu quero ir muito, mas meu pai não quer deixar.

— Kendar vai também. – Eu suplico. Mas ele não cede.

Ele é tão superprotetor. Eu não posso brincar com os meus irmãos, eu só posso ficar treinando e treinando. Estou tão cansado disso. Eu só tenho 7 anos, eu quero brincar também.

Eu resolvi ir mesmo assim. Me escondi, eu não sou muito grande entrei no barco e me escondi dentro de uma caixa fedorenta. Ninguém vai me ver aqui.

Eu senti o barco parar e quando eu não ouvi mais nada eu sai de lá.

Uau eu não lembrava que a cidade era assim. Prédios tão grandes e altos. Saio do barco mas não vejo ninguém que eu conheço. Ando mais um pouco viro para trás e o barco não está lá, nem o mar nem nada que eu lembre. Fico desesperado. Uma moça passa por mim. Ela tem o cabelo comprido e olhos gentis, será que ela conhece o meu pai? Ela pode me levar até em casa?

— Moça? – Eu pergunto.

Mas ela nem olha para mim. Tento chamar mais a atenção dela, mas ela me ignora. Eu fico muito frustrado e faço como o meu pai me ensinou. O vento faz os cabelo dela ir para o alto e ela me olha finalmente.

— Moça você pode me levar para a minha casa?

Os olhos dela mudam. Ficam assustadores. Ela puxa o meu braço com força me arrastando para um beco escuro. Eu grito e ninguém faz nada.

Acordo com o coração acelerado. O que foi isso um sonho? Ou uma memória? Eu não consigo diferenciar . Algumas partes do sonho começam a se perder na minha mente. Eu preciso lembrar, preciso perguntar para o meu pai. As minhas memórias dos meus sete anos não são claras, depois que Aarion tentou me matar muitas coisas se perderam.

O barco começa a tremer.

— Meelo ,já vamos partir. – Ouço Islar falar da cabine do capitão.

Eu aceno para ele.

O rosto da mulher de olhos gentis, eu me lembro. Eu não sei da onde eu a conheço, mas é extremamente familiar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!