Foi quase uma tortura!

E não é que Vingadores se vingam? Achei que minha mãe iria destruir meu cabelo até perceber que ele não mudou muito. E se minha mãe o deixasse liso de vez, eu voltava pra Dunbroch no dia seguinte. Minha saudade era tanta que eu estava quase fazendo isso. Minha mãe havia me arrumado. Eu ainda não tinha me olhado no espelho.

– Pra que tanto pó e tanto creme?! – questionei.

– Não se preocupa com sua aparência, Meri?

– Pra ser sincera, não.

– Merida Romanoff Barton! Por favor! Você é minha filha e, se você não se preocupa, eu me preocupo. – ela diz, passando um pó no meu rosto que já me era familiar: blush.

– Está parecendo minha mã… Elinor.

– Não estou fazendo isso pra fazer com que os rapazes te desejem. Se não, eu havia lhe comprado um vestido vermelho, justo e decotado. Mas isso seria uma atitude materna terrível.

– Já terminou?

– Sim. – ela disse, virando a cadeira giratória para frente do espelho.

– Mãe! Eu estou…

– Linda? – ela tenta completar.

– Diferente. De tudo o que eu sempre me vi no espelho. Estou diferente.

– E como se sente? – ela pergunta de forma doce.

– Livre. – eu sorri.

– Então essa é quem você sempre foi.

Continuo a me admirar. Eu estava tão diferente do que eu conhecia como “eu” que achei que fosse outra pessoa. Aquela não era a princesa de Dunbroch. Ela era outra coisa. Era algo que podia chamar de “eu”. Merida Barton. O pensamento que me correu foi:

– Eu fico bem de preto! – minha mãe riu.

Saímos do quarto e entramos na sala, onde encontro com meu pai, também muito bem arrumado, mas não de terno ou coisa parecida. Era só uma festa de aniversário de criança, não o casamento do Stark. Só não esperava que o salão fosse tão grande e bem ornamentado. Haviam imagens de corridas em telões e pareciam ser de apenas um corredor: Airton Sena. Já havia ouvido valar, mas me parece que ele morreu há décadas. Uma lenda do esporte. Era brasileiro, mas o mundo inteiro o aplaudiu e chorou sua morte.

Sentamos em uma das mesas e logo um garçom surgiu e nos serviu suco de uva. Também colocou na mesa três sachês de açúcar e outros três de adoçante para… qual o nome mesmo? Diabéticos! Lembrei. Ou pra quem está de dieta, sei lá, ou prefere. Bem, quem liga para o adoçante? Coloquei o açúcar e tomei um gole do suco. Só deu tempo disso, pois Krystal me encontrou e correu em minha direção:

– Meri! Você veio! São seus pais?

– Sim, eles são.

Ela leva sua mão até meus pais e diz: - Sou Krystal Walker. Amiga da Merida.

– Clint Barton. Pai dela. Um dos dois, na verdade.

– Ela me contou da Escócia.

– Natasha Romanoff. Então você é a famosa Krys?

– Imagino que não tão famosa quanto você.

– Só imagina? – pergunto irônica, quando vejo Lion se aproximar com um garoto que parecia uma versão dele loiro e bem mais novo.

– Meu Deus! – ele diz.

– Sim, eles são… - fui interrompida por ele.

– Você está linda! Nunca a vi desse jeito!

Por essa eu não esperava. Fiquei um pouco vermelha (espero que um pouco), e respondi: - Obrigada.

Ele olha para os meus pais, assim como o garoto, que os encarava dês de que chegaram. – Sou Lion e… sou um amigo dela e… é incrível conhece-los pessoalmente.

– O Gavião Arqueiro e a Viúva Negra! – disse o garoto.

– Andrew, meu irmão, essa é Merida. Filha deles e minha amiga. – Lion me apresentou.

– Feliz aniversário, Andrew. – falei. – Seu irmão falou que iria gostar de conhecer pelo menos dois dos Vingadores. Surpresa!

Meu pai me encarou sério e depois desse: - Gostei desse garoto!

– Será um prazer conhece-lo. – disse minha mãe sorrindo.

– Lion, promete que vai casar com ela? – pediu Andrew.

Lion pareceu assustado, mas levou à brincadeira. Krystal, que só observava, me mandou um olhar sugestivo. Minha mãe segurou a risada e meu pai pareceu incomodado.

– Muito engraçado, Andrew, mas Merida é muito cabeça dura para se casar um dia. – disse minha mãe.

– Assim espero. – disse meu pai em um tom desconfortável.

– Mudando de assunto… - fui interrompida, dessa vez por Krystal.

– Ah, não! Eu amo essa música! Valente, que tal eu e você irmos para a pista? Não consigo ficar parada ao som de uma das músicas mais dançantes da banda Jesus Culture!

– Sim, vamos. – falei.

Pouco depois de nos afastarmos da mesa deixando Lion e Andrew realizando um sonho, Krystal fala bem baixo:

– De nada.

– Pelo que?

– Por te tirar da confusão em que o And te meteu!

– Ah! Obrigada.

– Espere, ainda tenho que te apresentar à uma pessoa.

Saímos da direção da pista de dança e fomos para uma mesa maior e com uma mesa cheia de presentes ao lado. Na mesa, estava um casal e uma mulher jovem de vestido roxo. Ela falava algo sobre um grupo de dança da igreja ou coisa parecida.

– Krys! É ela? – perguntou a jovem.

– Sim, essa é a “Garota Valente”. – respondeu Krys.

– “Garota Valente”? – perguntei.

– Sim, ela te chamou assim quando te viu na TV semana passada. – explicou Krystal.

– Meu nome é Merida. Merida Barton.

– Sei disso. Sou Jenipher Mason. Irmã mais velha do Lion. Ele fala tanto de você! – ela falou feliz.

– Quando se tem os pais que eu tenho. – dei de ombros, me sentando ao lado dela e Krys com os pais do meu amigo.

– Engraçado! Demorou um tempão para ele me falar que você era filha de Vingadores.

– Sério?! O que ele falava?

– Que era tímida, tinha um cabelo cacheado ruivo enorme e chamativo, que era divertida, foi criada por pais adotivos na Escócia, era bonita… tem falado mais ainda ultimamente.

– Nossa.

– Você me parece legal, garota. Sabe, eu dou aula de dança na igreja. Se você se interessar…

– Que tipo de dança?

– Ballet.

– Minha mãe fez ballet, vou pensar.

– Merida. – ouvi uma voz atrás de mim.

– Lion, disse para sua irmã que sou bonita? – perguntei.

– Bom… eu… - ele ficou sem graça.

– Filho, nós dois sabemos que você só fala nela. – disse a mãe dele. – Aliás, sou Barbara. Mãe dele. Esse é meu marido Francis.

– Que isso? – perguntou Krys em tom de indignação – Lion, você me jogou de escanteio?

– Krys, você é quase nossa filha. – falou Francis.

– Engraçado. Francis é o nome do meio do meu pai. – não resisti não comentar.

Eles riram. O resto da festa foi incrível. Nos divertimos muito. Jen era uma pessoa completamente amigável. Nos divertimos, dançamos, comemos algumas coisas que eu nunca tinha provado antes, chamei Lion e krys para comer shwarma um dia desses, conversei com minha mãe sobre Jen e o Ballet, e se eu contar mais, vai ser pouca coisa. Haviam momentos em que eu podia ver meus pais na pista de dança abraçados e trocando beijinhos e risos. Então, me lembro de que eu sempre achei isso meloso e nojento. Mas eu achava aquilo legal. Minha mente estava mudando.

“Você está linda!”, disse Lion, e as palavras não saiam de minha mente. Era hora de deixar de ser a Princesa Merida, de Dunbroch, e ser a Merida Romanoff Barton, talvez, um dia, Vingadora. Sorri ao pensar nisso. Eu era uma garota valente, como disse Jen. Eu queria estar no meu lugar de direito, sendo a sétima Vingadora. Não iria desistir disso.

– Você não tinha falado que nós éramos o presente dele. – falou meu pai.

– Isso importa? – perguntei. – A festa foi divertida e vocês conheceram meus amigos!

– Principalmente o Lion. – disse minha mãe, por brincadeira.

– Mãe! – protestei.

– Natasha! – papai também não gostou.

– Foi só uma brincadeira!

Essa conversa aconteceu no carro, quando voltávamos da festa. Havia sido uma noite incrível. Me ajeito deitando no banco de trás e fecho os olhos, procurando cochilar. Fecho os olhos e vejo o rosto de Lion. “Você está linda!”. Essa frase não saia da minha cabeça. Haviam dois vingadores na mesa e ele olhou logo pra colega de turma dele?

– Mas se começarem alguma coisa, tenho que saber. – mamãe continuou.

– Mãe! – reclamei.

– Natasha! – meu pai já estava furioso.

Essa vai ser uma longa madrugada…