Intercâmbio escrita por LaisaMiranda


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Acordei hoje e vi comentários e mais um favorito. Gente, vocês não têm ideia de como isso me deixa feliz, saber que tem gente lendo e gostando. A ideia surgiu na minha cabeça e eu tive que escrever, eu precisava que outras pessoas lessem o que estava na minha mente. Obrigada, por estarem gostando!!!



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Fiquei paralisada. Então senti mãos me abaixarem, era Enzo. Nos deitamos com tudo no chão. Eu tremia e não conseguia fazer mais nada, estava em choque total.

— Ninguém se mexe, ou eu atiro!

Olhei apavorada para Enzo. Não sabendo, ainda, como não estava chorando.

— Fica calma - disse ele para mim. Percebi que ele estava tão nervoso quanto eu. Enzo buscou minha mão e a segurou na sua.

O homem passou por nós e foi direto para atrás do balcão. Não consegui ver mais nada, só podia ouvir.

Tudo o que eu conseguia ver eram as outras pessoas deitadas no chão, como eu e Enzo. Um senhor de idade e uma mãe com seus dois filhos gêmeos. Ela tentava acalmá-los em seu colo, para que eles não chorassem ou gritassem. Nada para chamar a atenção do ladrão.

— Anda! - ouvi a voz do homem de novo. Ele devia estar falando com a garota que estava atendendo Enzo. Pobre garota. - Coloca a grana dentro dessa sacola. Rápido!

Ele gritava com ela. Escutei seu choro, ela devia estar apavorada. Então ouvi um baque no chão. Algo caiu. O homem gritou.

— Não! Droga! Você tinha que desmaiar justo agora? Droga! A polícia pode chegar a qualquer momento.

Ouvi ele se aproximando de novo. Não tive coragem de olhar para cima. Enzo apertava mais ainda minha mão agora. E por alguma razão eu sabia que não era porque estava com medo, mas para me confortar.

— Vocês! Vocês dois! - levantei a cabeça. - De pé! Agora! - gritou ele.

Enzo olhou para mim e assentiu devagar. Nos levantamos sem desgrudar as mãos um do outro.

O homem apontou a arma para a minha cabeça e depois para a de Enzo.

Por que isso estava acontecendo, meu Deus?

— Você - ele disse para Enzo.

Então com muita rapidez o ladrão envolveu seu braço esquerdo ao redor do meu pescoço, pressionando a arma na minha cabeça com a outra mão.

— Termina de colocar a grana - gritou ele para Enzo. - Anda! Ou eu mato ela!

Não! Isso não! Enzo me deixaria morrer...

— Eu faço o que você quiser, cara - disse Enzo, interrompendo meus pensamentos. - Mas não machuca ela.

Abri os olhos, sem nem ter percebido que os havia fechado. Fitei Enzo por alguns segundos. Ele estava assustado e estava com as mãos para cima, para mostrar que estava tudo bem.

— Vai logo merda! - gritou o ladrão e Enzo deu a volta no balcão e começou a pegar o dinheiro do caixa.

Eu estava tremendo dos pés a cabeça. Meus olhos começavam enfim a ceder, mas eu não me permiti chorar. Não agora. Não queria mostrar fraqueza para aquele homem. Ele não podia perceber que eu era mais frágil do que já aparentava ser.

Enzo finalmente terminou de colocar todo o dinheiro dentro da sacola.

— Toma, aqui. Agora por favor - ele olhou para mim, estava suando frio. - Solta ela, por favor.

Comecei a chorar em silêncio. Eu podia morrer a qualquer momento agora. Quem podia garantir que aquele homem cumpriria o que tinha dito?

— Gostei do seu relógio - disse o ladrão, enquanto olhava para a mão estendida de Enzo.

— Você gostou? Então é seu - ele tirou o relógio depressa. - Toma - ele jogou o relógio dentro da sacola cheia de dinheiro.

— Não se aproxime mais! - gritou o homem, dando passos para trás e me levando junto. A arma agora, apontada para o peito de Enzo. - Não se aproxime!

Era agora. Agora que eu morreria. Morreria em outro país, sem nem ao menos me despedir de meus familiares.

Então por um milagre de Deus, senti o braço me soltar e a porta se fechar com tudo atrás de mim. Minhas pernas cederam e só não caí com tudo no chão, porque os braços de Enzo me seguraram.

Eu estava fraca, não conseguia me mexer, não conseguia reagir, só conseguia chorar e chorar.

Ele me abraçou forte e me levou para o banco mais perto. Não se afastou nem por um segundo enquanto fazia isso.

— Está tudo bem. Tudo bem - repetia ele. Senti as mãos dele tremendo nas minhas costas e na minha cabeça, era lógico que ele ainda estava nervoso pelo o que tinha acontecido, mas eu não conseguia parar de chorar. Era mais forte do que eu. Eu podia ter morrido naquele assalto.

Ainda estava com a cabeça no peito de Enzo. Ele me abraçava com doçura, doçura essa, que nunca imaginei que ele tivesse.

— Alguém traz um copo d'agua, por favor? - pediu ele. Não tive forças para ver quem ainda estava na lanchonete.

A uma altura dessas sua camiseta já estava encharcada de tanto choro. Afastei a cabeça passando as mãos no rosto para limpar as lágrimas. Dando graças a Deus que não estava usando rímel ou delineador.

— Aqui. Toma um pouco de água - disse Enzo e pela primeira vez olhei para o rosto dele.

Ele estava preocupado comigo, eu consegui perceber isso mesmo pela visão embaçada.

Tentei pegar a água da mão dele, mas minhas mãos tremiam muito. Eu não conseguiria sozinha. Enzo pareceu perceber a mesma coisa, então colocou a mão em cima da minha, firmando o copo com ela. A outra mão ele passou delicadamente por meus cabelos, puxando os para trás e segurando minha cabeça com cuidado. Então aproximou o copo devagar e eu consegui beber a água.

— Acho melhor irmos embora. Daqui a pouco a polícia chega. Você não vai conseguir dar depoimento desse jeito - disse ele se preocupando.

Depois de beber um pouco de água, eu sequei os olhos mais uma vez. Por mais que minha voz de choro não saísse mais, meus olhos não se cansavam de escorrer água.

Tentei me levantar sozinha, mas Enzo quis me ajudar. Ele me levou até o carro e abriu a porta do carona para que eu pudesse entrar. Me sentei, ele fechou a porta e deu a volta no carro.

Enquanto ele ainda não tinha entrado, a imagem do homem, da arma, mais uma vez invadiram minha mente. Fechei os olhos com força, não conseguindo controlar o choro que vinha de novo à tona.

Enzo entrou no carro e eu tentei virar o rosto para o outro lado, para que ele não me visse chorar. Mas isso não era necessário, já que minha voz me entregava.

— Não. Não - disse ele devagar e docemente. - Não chore mais, por favor.

Enzo segurou minha mão, que já estava à caminho de secar meus olhos. A outra mão ele usou para puxar meu rosto com delicadeza.

— Desculpa... - tente dizer, mas achei que era melhor eu não ter dito nada, pois o choro veio mais forte.

— Não precisa pedir desculpas - ele secou as minhas lágrimas com as mãos. Eu tentei parar de chorar e mordi o lábio exterior.

Quando fechei os olhos com força, para que mais lágrimas pudessem sair de uma vez, senti os lábios de Enzo nos meus. Abri os olhos surpresa e afastei a boca dele devagar.

O que ele estava fazendo?

— Desculpa - Enzo abaixou a cabeça com vergonha. - Eu não devia ter feito isso.

Limpei os olhos e fitei ele confusa. Enzo voltou a olhar para mim.

— Acho melhor a gente ir para a casa.

Ele ligou o carro e pegou no volante. O carro começou a se mover.

No caminho para a casa ele não falou mais nada. Eu finalmente consegui controlar meu choro e as lágrimas, já não mais, cediam.

Enzo estacionou o carro na vaga de sempre e desceu. Ele correu para o meu lado para me ajudar, mas não era mais necessário. Eu estava bem melhor.

— Que bom que você se acalmou - disse ele.

— Obrigada - consegui dizer por fim, sem chorar, mas confesso que meus olhos ardiam um pouco. - Você salvou a minha vida.

— Eu teria feito isso por qualquer pessoa - ele voltou a usar o tom de sempre, mas por algum motivo, soou mais suave e gentil.

Ele abaixou a cabeça para fitar seus próprios pés.

— Mas você fez por mim - ele levantou a cabeça depois que eu disse isso. Nos olhamos nos olhos por alguns segundos.

— É melhor a gente subir. Você passou por muita coisa hoje.

Enzo contou o que tinha acontecido para Nico e Lacey. Ela ficou chocada e Nico preocupado comigo, tanto que me deu o dia de folga, para que eu descansasse. Aceitei, pois não conseguiria trabalhar desse jeito.

Passei o resto do dia trancada no meu quarto. Aproveitei para estudar um pouco, mas acabei não conseguindo mais, depois de uma hora lendo um livro de inglês.

O assalto ainda estava bem recente na minha cabeça, eu nunca tinha passado por algo assim. Foi horrível.

Eu não chorava mais, pelo menos isso. O pânico literalmente tinha ido embora. Agora o que restava eram apenas pequenas memórias do que tinha acontecido. E uma das coisas que eu não parava de pensar, era em como Enzo tinha sido legal. Ele realmente se preocupou e cuidou de mim.

Na hora eu não consegui notar nada, mas agora pensando com mais calma, eu me lembrava de tudo. Do corpo dele apertando o meu com força e com carinho. Das suas mãos, diversas vezes, no meu rosto, limpando minhas lágrimas ou acariciando meu cabelo. E do beijo. O beijo que ele me dera na boca.

Aquela foi umas das coisas que não entendi. Por que ele tinha me beijado?

Naquela noite eu estava contando o que tinha acontecido para Vanessa.

Vanessa: Amiga, que azar o seu.

VC morou 23 anos no Brasil e nunca foi assaltada.

Agora é só VC pisar em outro país,

que VC quase morre.

Não deixei de soltar uma pequena risada depois que ela disse isso. Só Vanessa para me fazer sorrir depois de um dia desses.

Giselle: Mas quase morrer não foi o mais estranho que aconteceu.

Vanessa: O que VC quer dizer?

Giselle: o Enzo me beijou.

Vanessa: O QUE? COMO ASSIM?

QUANDO?

COMO?

Eu já tinha contado que Enzo tinha me salvado, quando pegava aquele dinheiro, enquanto o ladrão apontava a arma na minha cabeça. Mas não tinha chegado na parte sobre o beijo no carro.

Giselle: foi estranho.

Eu estava chorando depois do que tinha acontecido

e ele de repente me beijou.

Vanessa: isso é o que eu chamo de beijo molhado.

Giselle: não chegou a ser um beijão.

Foi um selinho.

Um pouco longo demais...

Mas eu afastei antes que ele pudesse continuar.

Vanessa: e afastou pq?

VC tem algum problema?

Um gato desses te beija e VC se afasta!

Ai Gill.

Giselle: não sei.

Acho que ele me pegou de surpresa.

O que VC acha? Pq ele me beijou?

Vanessa: eu não sei.

Vai ver ele gosta de VC.

Giselle: isso não é possível.

Ele nem fala comigo.

E quando fala é grosso.

Vanessa: mas salvou sua vida.

Giselle: ele disse que faria isso por qualquer pessoa.

E é vdd.

Vanessa: VC devia falar com ele.

Perguntar.

Giselle: será?

Fiquei me perguntando se devia. Talvez fosse o único modo de descobrir o por que de ele ter feito isso.

Já estava bem tarde quando desci para beber um copo d'água. Eu estava com a boca seca de sede. Não liguei a luz da cozinha, só fui até o filtro de água.

Então a luz de repente se ascendeu sozinha e eu levei um susto, quase engasgando com o resto da água que ainda estava na minha boca.

— Desculpa, não quis te assustar - disse Enzo se aproximando. - Você está bem?

— Estou - disse ainda tossindo e coloquei o copo em cima da pia.

— Eu e o Nico acabamos de chegar. Só vim beber um copo de água.

Ele pegou o mesmo copo que eu tinha bebido e encheu de água. Então tomou tudo em um gole só e se virou para mim.

— Você está melhor? - perguntou sendo simpático. Eu ainda não tinha me acostumado com aquele jeito educado.

— Sim - respondi, então me lembrei do que Vanessa disse. - Posso te perguntar uma coisa?

Ele assentiu e falou ao mesmo tempo:

— Eu já sei o que você quer me perguntar - Enzo olhava nos meus olhos. - E a resposta é... Eu não me sinto muito bem quando vejo uma mulher chorando. A verdade é que eu não gosto nem um pouco.

Ele olhou para baixo e depois voltou a olhar para mim.

— Não sei por que fiz aquilo. E peço desculpas de novo. Não vai mais acontecer.

Ele ficou me fitando, talvez esperando por uma resposta. Eu não sabia o que dizer.

— Desculpa pelo seu relógio - disse me lembrando que ele tinha dado para o ladrão para salvar minha cara. Ele riu.

— Era um relógio velho. Sem problemas - ele colocou o copo na pia. - Boa noite.

Então ele saiu da cozinha.

Fiquei parada pensando no que ele tinha dito. O que mais podia ser? Que ele gostava de mim? Bobagem da cabeça de Vanessa e da minha também, por pensar que isso fosse possível.

Enzo tinha me provado que tinha sentimentos, mas isso não queria dizer que eram por mim.


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Notas finais do capítulo

EU SEI, que o capítulo ficou pequeno, mas eu tenho na minha cabeça o que vai acontecer nos capítulos e infelizmente esse ficou um pouco menor do que os outros.

Espero de verdade, que vocês estejam gostando e que continuem. Tem muiiiiitaaaaaa coisaaa legal que vai acontecer ainda. Comentem, please. Quero saber o que vocês estão achando.