Colisão Espiritual escrita por GabrielaSR


Capítulo 7
Desejo


Notas iniciais do capítulo

Ah, o amor...
Boa leitura!



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Serena encontrou um poço no meio daquela mata, após três horas à procura de amparo. Usou-o para acabar com sua sede. Localizou uma casa vazia de madeira numa enorme árvore, subiu-a e refugiou-se nela, mesmo tendo plena certeza de que morava alguém ali.

Vasculhou cada centímetro do lugar. Conseguiu encontrar alimentos e assim, comeu. Fazia tempo que não vinha nada até sua boca que não fosse suor, lágrimas, poeira e sangue.

– Está saciada? – a jovem tomou um susto ao ouvir a voz e voltou-se para trás, para ver quem era.

– Perdoe-me! Eu estava com fome e... – sentiu-se intimidada, porque havia se deparado com um homem usando máscara de leão subindo as escadas na árvore.

– Sei o que aconteceu. Não precisa explicar-se. Afinal, fiz esta casa justamente por ti...

– Micael?! – reconheceu o olhar, a voz e o vestuário. Aproximou-se e ele retirou a máscara.

– Certamente... A hora chegará...

– A hora de que?

– Do sacrifício... Sou mortal, assim como tu.

– Mas... Momentos atrás...

– Sim, também estava na forma mortal. Do contrário, não poderias me ver... Tens conhecimento disto: O pecado afasta de mim. Mas, como agora sou homem como tu, é naturam que me vejas.

– Se és mortal, por que ainda tens virtudes de Deus?

– Sou completamente homem e completamente Deus nesta ocasião. Uso minhas aptidões em momentos oportunos... Por exemplo, sarar as feridas de teu corpo, para mim, era oportuno.

A menina permanecia encabulada depois do que aconteceu. Não que estivesse com remorso de ter se arrependido, mas agora ela sabia que não era merecedora de tudo o que Micael fazia e faz por ela.

– Amada, por que não me ouviste acerca da ordem que te dei na masmorra? – ele chamou sua atenção, retirando-a dos devaneios.

– Mas... Mas eu saí do calabouço, da forma que tu pediste...

– Sim. Contudo, agiste por impulso para com o guarda do castelo de Lucian. Não era minha vontade. Não era esta a missão a qual me referi. Não quero que você saia agredindo a todos que tomam atitudes errôneas. Até porque, tu também o fazes e eu te perdoo.

– Desculpe-me, senhor... Só sirvo para gastar teu tempo...

– Não fale desta maneira. Peço-te para guardar as minhas leis... Nas leis, te mando amar o próximo como a ti mesma... Como poderás fazê-lo sem amor próprio? Podes não ser nada para o mundo, mas para mim, vales a vida de teu criador... – ainda assim, Serena não compreendia essa história de martírio, imaginava que fossem simplórias metáforas. – A tua missão será falar de mim para todo aquele que precisar ou quiser ouvir, para que seja salvo dentro de ti.

– Salvo dentro de mim?

– És minha escolhida, Serena... Quando eu voltar, quero que estejas à minha espera.

– Já vais embora?!

– Não, querida, ainda não. Contudo, hei de morrer...

– Por que falas tanto de morte?

– Porque é para isto que vim. Acompanhe-me, tenho coisas para te mostrar. – pegou-a pela mão e a levou para uma porta que ali havia, estava repleta de presentes. – Vamos, peça algum.

– Por que tenho que pedir se tu sabes qual eu gostaria de ganhar?

– Pela mesma razão pela qual não apareci sem tu teres me chamado... Tenho muitas bênçãos para ti, basta me pedir.

– Simplesmente pedir?

– Simplesmente pedir.

– Certo... Hm... Eu quero aquele. – apontou para uma embalagem azul.

– Aquele não.

– Oras, por que não? Disseste para pedir qual me agradasse!

– Sim, mas não é daquele que tu precisas e nem é aquele que quero te dar.

– Então... Podes dar-me o que tu desejas dar-me?

– Sabe... Gosto quando tu me perguntas assim... – a deidade pegou uma pequena caixinha e abriu. Tinha uma aliança dentro. – Queres casar comigo? – ajoelhou-se.

Não havia presente melhor do que esse... Ia além de tudo o que Serena conseguia imaginar... Ela estava sem reação, mas depois e segundos surpresa, finalmente sorriu e abraçou-o, dizendo que sim. Micael colocou-a no dedo anelar da mão direita.

– Ah... Não mereço... Todavia, obrigada... É muito bonita.

– Bonita, porém não tanto quanto a pessoa que está com ela. – aparentava feliz enquanto segurava sua mão. – Sabes que te amo, não sabes? – ergueu-se do chão e foi chegando mais perto. A garota sentia-se um pouco intimidada, por causa disso, andava para trás. Até que suas costas tocaram a parede da casa e não ter mais como se apartar.

– Sim... – ela fitava o peitoral de seu amo, porque estava demasiadamente vexada para olhar em seus olhos.

– No entanto, não sabes o tamanho do meu amor. Estou ardendo de paixão por ti... Induz-me a querer a tua presença... Instiga-me...– acariciou o pescoço da moça. Havia apenas dois centímetros de distância entre as bocas.

A donzela ficava cada vez mais acanhada com tudo aquilo, contudo, o rapaz não se agradava dessa timidez. Por esta razão, deu-lhe outro abraço e pediu para que não saísse da casa.

– Senhor... Eu terei que ficar presa aqui para sempre?

– Não estás presa... Podes sair à hora que quiser... Apenas te dei uma ordem. Tem a oportunidade de segui-la ou não.

– Eu gostaria de ver as tuas obras lá fora... Devem ser coisas formidáveis! E também devem ser muitas, contando o tempo em que fiquei detida... – praticamente sussurrava.

– Terás conhecimento daquilo que eu fizer. Necessitas ver para crer?

– Não, senhor. Tua palavra me basta.

– Alegra-me saber disto. Eu a levarei até o vilarejo quando for a hora certa. Tem roupas novas para ti bem em cima da cama, caso queira trocá-las.

– Está bem... Tome cuidado. – Micael estava contente pela preocupação de sua noiva com sua atual mortalidade. Beijou-lhe a mão e saiu dali.

Na mente da princesa: horas parada, após trocar as vestes, olhando para a porta, aguardando seu amado chegar. Todavia, foram apenas minutos. Estava ansiosa e cansada da espera. Resolveu sair dali e ir atrás dele. O que ele estaria fazendo para que demorasse tanto? Será que estava... Traindo-a com outra?

Aparentemente, Serena sempre abria ema brecha para falhas quando permitia que sua mente se afastasse das coisas espiritualmente edificantes.

Na floresta, tomou o máximo de cuidado para não fazer barulhos altos e não chamar a atenção. Depois de muito andar, chegou até o vilarejo. Tentava tomar cuidado para que nenhum dos guardas a visse. Estava no meio de um dos centros comerciais mais movimentados da região. Seria uma tarefa difícil encontrar um específico homem no meio de tantos outros... Ao menos, foi o que ela pensou. No maior aglomerado de gente, deparou-se com Micael acima de uma rocha, pregando para o povo que por ali passava. Alguns ignoravam, entretanto, a maioria o louvava e ouvia o que tinha a dizer. O próprio mencionara que sua amada seria a responsável por guiar os habitantes quando fosse embora daquele recinto.

A jovem teve a sua alma tomada por um sentimento angustiante... Além de ter duvidado de seu enamorado, ela novamente o desobedecera. E não sabia a razão de persistir em seus erros... Queria voltar para casa... Mas não poderia agir como se nada tivesse acontecido... Resolveu continuar observando as obras do simples homem.

Quando a hora em que as vendas foram encerradas, a maioria saiu. Poucos foram os que permaneceram com Micael para ouvir os sermões sobre amor e santificação dos adeptos de Lucian. Nesse meio de tempo, o rapaz fora conversar com um dos vendedores de cavalos que permaneceu com seu estabelecimento aberto:

– Acabo de conseguir vestimentas novas para a minha amada e não quero que ela suje-as e nem que se canse vindo até aqui. Quais alazões tu possuis?

– Hã? O que disseste?! És meu Deus, faço questão de que leve a nossa melhor carruagem de alazões sem que seja necessário pagar! Peço-te que perdoe todos os pecados que cometi... Não, não quero comprar teu perdão. Dei uma lembrança e fiz um pedido, respectivamente! – o homem tentava não confundir-se nas palavras, mas o entusiasmo de receber o criador deixava-o nervoso e acabava tropeçando em cada vírgula.

Enquanto isso, lá fora, Serena estava sentada atrás de um muro, com as mãos cobrindo sua face. Levantou-se, desejando sair dali imediatamente.

– Não é tu aquela feiticeira e ladra que todo o reino procura? – era um anjo caído, usando armadura que havia encontrado-a.

– Já disse que não sou feiticeira!

– Mas és ladra, certamente. Precisa vir comigo, senhorita.

– Eu não quero!

– Não perguntei se queres ou não! Precisas vir comigo! Serás castigada por seus delitos! Temos um governo justo!

– Não posso ir contigo, irei me casar!

– Achas mesmo que isso é desculpa? Nem que Draco abençoasse esta união eu permitiria que isso se tornasse um empecilho para julgar-te.

– Acontece que o meu noivo é o rei!

– És noiva de Draco?...

– Não, do verdadeiro rei! Sou noiva de Micael!

– É muita soberba da tua parte pensar que Micael iria querer alguém como tu! Só podes estar louca! Cometestes transgressões e crimes! Não és íntegra para receber misericórdia, tampouco amor! És impura, ignóbil, desprezível, abjeta! Fazes parte da corja da população! Considera mesmo que ele vá te perdoar? Renda-se de uma vez! É a coisa mais sábia a se fazer! Pare de inventar desculpas e assuma teus erros! Isto acabará com o teu sofrimento e não trará vergonha a Micael!

Serena concordava com tudo aquilo...

Retornemos ao estábulo... A deidade estava negociando com o vendedor para agradar sua futura esposa quando um de seus seguidores apareceu às pressas, dando-lhe um aviso:

– Senhor, senhor! Uma mulher está sendo presa e acho que é tua prometida!

O rapaz arregalou os olhos e saiu ligeiramente para poder ver o que ocorria. Verdadeiramente, era Serena quem estava sendo levada pelos demônios.

Muitos que antes ouviam os sermões da potestade agora satirizavam e escarneciam entre si “Não era esta a dama que viria nos guiar e nos afastar do mal?”.

Micael foi correndo até ela e os guardas pararam de empurrá-la, pelo respeito que aquele homem impunha:

– Por que saíste do lugar que te falei? – questionou de modo apreensivo.

– Demoraste... Então... Pensei que tivesse me atraiçoado... – respondeu sem coragem de elevar o rosto.

– Sabes que odeio adultério! Por que eu faria uma coisa dessas? Eu te amo! Sou apaixonado apenas por ti e por mais nenhuma! Para mim, és como um lírio no meio dos espinhos! Não acreditas em mim? Venha comigo, eu te perdoo se tu tomares teus atos em reconsideração!

– Já basta! Não sou benemérita de tua ajuda! Não a quero! Não consigo sequer dar um passo sem pecar! Saia de perto de mim para que não se contamine!

– Quem colocou isto em tua cabeça, querida? Eu te aceito, não interessa o que tu fizeste!

– Estou farta de viver dependendo de ti para tudo! Não quero mais viver! Deixe-me!

– Não irás desta maneira! És meu tesouro! Sou atraído por ti, não podes fugir de mim! Nada consegue desunir-me de ti! Meu coração está abrasado! – a cada segundo, ele ficava mais preocupado.

– Encontrarás alguém melhor. – Serena tirou o anel de seu dedo e o entregou de volta a quem o dera. Foi levada pelos guardas sem mais relutar...


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Notas finais do capítulo

Baixa autoestima afeta também àqueles que estão ao seu redor.
Já dava para perceber que Micael está apaixonado! Serena, aceita! Não tem como mudar isso!
Se não fizesse diferença, ele sequer teria te soltado do cárcere... Ou te abraçado... Ou te beijado... Ou te perdoado... Ou te presenteado... Ah, aceita logo, vai me poupar de discursos, porque não foram poucas as coisas que ele fez por você!



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