Colisão Espiritual escrita por GabrielaSR


Capítulo 13
Tiatira


Notas iniciais do capítulo

Deu dor de cabeça hoje... Mas, como me comprometi a postar...
É como eu costumo dizer:
Boa leitura!



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A potestade levou a donzela até uma rodovia, próxima ao local em que dois vales se encontravam. Precisariam se separar. O vento tornava aquela cena ainda mais intensa. Com sua voz mansa, a majestade dirigiu-se a ela:

– Tenho um presente para ti.

– Novamente, meu senhor?! Já me deste uma bolsa para carregar o livro!

– Não gostas dos meus presentes?...

– De modo algum! Amo tudo que venha de ti! Além de belos, são úteis! Amo tudo, tudo... Mas tu és o principal. És o meu maior presente... Mesmo que tenha vindo antes de mim e... Ahm...

– Compreendo. – ele achava uma mistura de engraçado e lindo o jeitinho desajeitado que a moça tinha para explicar seus sentimentos. Era falha, por isso possuía uma grande dificuldade de provar que realmente o amava. Entretanto, Micael não olhava para isso. Olhava apenas para seus esforços. – Aqui. – apresentou-lhe uma manta de cor púrpura e colocou-a nas costas de sua amada.

– É maravilhosa! Obrigada!

– Usam plantas para ter essa cor... Esse vermelho-escuro é bem raro por aqui, assim como tu.

– Só tu mesmo para ser capaz de enxergar algum lado bom na minha pessoa...

– Não fale assim... És boa para mim! Não tens ideia da imensidão do meu amor!

– Agradeço... Agradeço por me aceitares.

– Eu é que agradeço por aceitares meu sacrifício.

Após alguns segundos de silêncio, enquanto observa os transportes que transitavam pela rodovia, Serena perguntou:

– Por que me trouxeste aqui?... Irás me deixar... Certo?... – lamentou a despedida, mas sabia que tinha um objetivo a cumprir.

– Jamais te deixei e jamais te deixarei. Não pense assim! Quando precisar, pode me chamar. Sempre conseguirei uma maneira de me comunicar contigo. Chegou na hora de ver como seu povo está...

– Pensei que tivesses dito que eu não deveria ir até lá...

– Não deveria naquele momento. Lucian conseguiria uma forma de condenar-te. Quis te proteger...

– Agradeço mais uma vez... – a moça pensava o que seria dela se não fosse seu enamorado. – Acabei de notar uma coisa... Eu... Eu sei... Eu sei que és meu noivo... Que já me beijaste... Porém... Nunca te beijei.

– É um bom momento para começar a fazê-lo... – Micael riu e fechou seus olhos.

A jovem foi envolvendo seus braços lentamente ao redor do pescoço do rei. O rosto dele era dócil, suave e cativante. Esperava a vontade de sua futura esposa, todavia, ela estava nervosa. Fantasiava o que aconteceria caso a deidade não gostasse, mas, apesar do medo, sua atração falou mais alto.

Esticou-se, também de olhos fechados, e deu-lhe um rápido e curto beijo. Após perceber que tocá-lo aquecia seu coração e sua face, fez questão de repetir o ato várias vezes, em diferentes direções. Os sorrisos de Micael entre cada contato, além de enormes, eram encantadores.

Quando a moça resolveu parar um pouco, a deidade passou a língua em seus próprios lábios, como se quisesse que aquele sabor fosse incessante, e disse:

– Lamento ter que reduzir minhas aparições fisicamente...

– Não aparecerás mais para mim fisicamente, mestre? – questionou embaraçosamente. – E-Eu posso melhorar! Isso é, se o senhor tiver paciência, eu posso... O-ou se o senhor não aprovar do mesmo jeito, eu paro de te beijar! Só quero que esteja perto de mim... O que o senhor quer? Estou à sua mercê! Faço o que quiser! – ela já se colocava na ponta dos pés para beijá-lo novamente.

– O problema não é esse, querida. Foi excelente! Quero que não tenha tanta baixa autoestima! Tu és maravilhosa! – apalpou os quadris dela calmamente. – Decerto aparecerei para ti. Contudo, tornar-se-á mais complicado no decorrer desse tempo. Nosso população caiu em trevas... Nunca houve época tão obscura quanto essa.

– Não creio que esteja tão ruim como imaginei...

– Não. Está pior.

– Preciso ajudá-los...

– Sim. Tome cuidado. Procure manter-se calma, não se mantenha ansiosa. A viagem durará quatro dias. – uma das carruagens que por ali passavam, parou ao lado do casal.

– Quatro dia... Ah! Chegarei lá num Sábado! – comemorou, entrando no veículo.

– Realmente. – a alegria da dama pareceu contagiá-lo.

– Meu dono...

– Pois não, amor?

– Já estou com saudades...

–Hahahaha! És a mais graciosa, certamente! Eu também! Amo-te muito! Estou com saudades desde o dia em que fora roubada de mim...

– Se me deres forças, batalharei e vencerei. Logo, retornaremos a ser felizes! – a carruagem afastava-se.

– Almejo este dia. – respondeu acenando de forma simpática.

Serena não pôde deixar de perceber os furos que estavam nos pulsos dele. As memórias de todo o sofrimento que ele havia passado uma vez, atravessaram sua mente como uma lança.

Por sobre a estrada, anoiteceu e amanheceu. Isso fez com que ela notasse que até mesmo os dias sombrios pertencem a seu amo. Enquanto dormia, o idoso que conduzia os cavalos, acordou-a já na seguinte, dizendo ter chegado ao ponto que lhe fora ordenado.

Ao pisar no chão, os pés da princesa tremeram. Parecia que uma nuvem cinza havia parado sobre o vilarejo e que nenhuma ventania a faria sair. O cenário era de extrema balbúrdia. Repleto de idolatria. Pessoas com medo, pessoas escondendo a fé, pessoas que passavam fome enquanto templos de ouro maciço eram frequentados pelos nobres.

Quatro homens brigavam por um pedaço de pão, e um, que parecia nem querer estar envolvido na briga, caiu aos pés de Serena e clamou algo que ela não conseguiu entender, e, logo depois, pareceu desmaiar. Tentou socorrê-lo, mas em vão. Estava morto.

A situação não deu brecha para que ficasse triste. Não muito tempo depois, alguns vendedores gritavam na data que deveria ser de descanso e comunhão. Ela, correndo até eles, foi reclamar:

– Não sabeis que é Sábado, dia do vosso senhor?! Não deveis fazer negócio!

– E quem és tu?! Uma santa?! Pare de fingir que sabe de alguma coisa! És apenas outra estrangeira metida! Temos que sobreviver, é assim que fazemos! Se quiser um dia melhor para se fantasiar de religiosa, espere até amanhã, que tem missa! Eu deveria é te denunciar por ficar querendo impor heresias a nós, sua bruxa!

– “Heresias”? Apenas digo a verdade! As verdades que estão na palavra! – retirou o livro de sua bolsa.

– Ah! Ela tem o livro das maldições! Tire isso de perto de mim! Socorro! Socorro! – o homem começou a gritar desesperadamente e Serena simplesmente o guardou para que ele cessasse os berros.

Temendo que alguém aparecesse por ali e a acusasse de qualquer loucura, correu para outro canto dali e começou a pregar. Numerosas pessoas ficaram convencidas de suas palavras, por serem coerentes. Ela tinha eloquência concedida pela Força Maior. O Sábado inteiro fora um dia missionário e muitos voltaram a crer nos mandamentos originais.

Uma das crentes convidou Serena para passar a noite em sua casa e a própria aceitou. Entretanto, no “domingo”, vira muitas pessoas entrando em um dos templos que foram construídos. Aquele período realmente foi o mais terrível da sociedade. A jovem teve essa certeza quando chegou até o solo que chamavam de sagrado. O local que entrara era justamente onde havia imagens pagãs em excesso e um homem pregando (o homem que encontrara em sua visão). Entretanto, ele estava com uma pompa ainda maior do que antes. Todos glorificavam, davam-lhe títulos blasfemos, proclamando-o como mediador entre Micael e os homens.

A garota, procurando seguir o conselho de eu noivo, sentou-se entre os supostos crentes sem fazer alarde. Contudo, depois de muito ouvir as mentiras impostas no púlpito, exaltou-se:

– Como pode inventar tamanhas calúnias?! Por que te vestes com tanta ostentação, sendo que o próprio Micael veio a nós como homem humilde que usava seu tempo para auxiliar os desfavorecidos?! Enquanto ficas aí, inventando historinhas, há gente morrendo de fome lá fora!... E compra de indulgências não salva ninguém! Não passas de um tapeador! É impossível vender salvação! Ela é de graça! E que desgraça é esta de que o Sábado não vale mais?! Que tipo de líder religioso és tu?!

– Quem ousa interromper o culto em louvor de nosso Deus?! – a besta analisou os bancos cheios. – Ah! Tu! – olhou para Serena. – Se não concorda com as palavras de nosso senhor, ou saia daqui ou ouça-as e abandone sua impureza para que seja santificada!

Ela apenas sentou-se, por pura curiosidade. Quando todos ali foram induzidos a orar para uma estátua e comeram coisas sacrificadas a ela. Serena fora a única que não se mobilizou e isso deixou Pontifex com determinado ódio.

No momento em que acabou e todos os outros saíram, a princesa foi ter com o pregador, mesmo ele sendo protegido por guardas.

– O que há? Decidiu converter-se? – a besta perguntou.

– Não. Vim apontar o que tem de errado nesta congregação. Se desejares me ouvir, saberei que a tua vontade é que o povo esteja bem espiritualmente.

– Não existe nada de errado! Herege! Bruxa! Eu vi que desrespeitaste os nossos santos! Sei que és traidora!

– Não sou nada disto! Meu querer é iluminar a mente escura desses pobres ignorantes! És um monstro por omitir as verdades e ameaçar os que nela acreditam! Pagarás mui caro por isto!

– Certo! Certo! Façamos um acordo: Afogar-te-emos. Se sobreviveres, és bruxa e serás queimada. Se morreres, és inocente.

– Esse acordo não faz o menor sentido! Eu não seria estúpida de aceitá-lo!

– Então só me resta condenar-te por falta de honra para com as autoridades eclesiásticas! Anjos, torturem essa profana até que se arrependa de seus pecados! Se possível, façam pior do que com os outros protestantes! – chamou os demônios, que chegaram bem perto. Mas Micael apareceu imediatamente ali. Apenas seu olhar já fez os adversários recearem.

– Quem vós pensais que sois para tocar na minha mulher? – a Divina Providência estava irada.

– O que está acontecendo aqui? – Lucian também apareceu e encarou seu senhor.

– Acalme-se, meu senhor... – Serena segurou o braço de seu mestre.

– Permiti que tentasse todos os meus servos, mas não tocará um dedo teu nela. Estás me ouvindo?! – junto a frase, foi possível ouvir trovões lá de fora e também gritos. Os sentimentos da potestade pareciam controlar o clima.

– Ui, tem alguém apaixonado aqui? – Draco debochou.

– Sim. Tem sim. Minha paixão arde tanto que tu não gostarias de vê-la transformando-se em fúria.

– Vá! Mate-me! Mostre tua real personalidade, ó, grande e perfeito criador! Essa é a tua grande chance! – o anjo caído não parava de escarnecer.

– Lucian, cale a boca! Não vês que ele está bravo? Não brinque com isso! É mais que óbvio que ele tem mais poder que tu! – a besta contestou e, surpreendentemente, o rei do mundo ouviu seu conselho, apesar de ranger os dentes pela antiga inveja cultivada.

– Não posso obrigar ninguém a me adorar. Eles têm liberdade para caminhar à apostasia e ao paganismo, mas enquanto houver seguidores fiéis, eu estarei no meio deles. Tanto que tu já mataste milhares de pessoas que não aceitaram negar meu nome. Esses estarão no meu exército. Os humilhados voltarão como gloriosos príncipes e princesas. Sentirás a amargura de ter desdenhado de humanos como eles. Eles possuem autenticidade. Mesmo que tu borres a pura doutrina, eles continuarão a propagar os fatos até o fim dos tempos. Os louvores dos mártires queimados? Escutei a todos, foram recebidos e serão lembrados. Recompensarei a cada um segundo suas obras. É por isso que de minha noiva, tu não chegarás perto.

Draco sentia cada vez mais raiva por saber que alguém seria salvo. Tudo o que ele uma vez teve no Céu, ele não desejava para nenhum daqueles humanos, porque sabia o quão bom era. Sempre cobiçou a tudo, por isso o seu atual desejo era convencer a população de que seguir a lei de Deus é impossível.

– Já que esta não é tua casa, poderia fazer o favor de retirar-se? – a besta falou com Micael, de maneira arrogante. O legítimo rei respondeu:

– Sim. Eu e minha amada já estamos de saída. – virou as costas. – Lucian, diga à Francine que a porta da graça ainda está aberta.

– Por que não falas por si mesmo? E por que queres dar um recado a Francine? Ela não quer saber de ti. Já teve até relações com a besta.

– Justamente. Ela não quer me ver, não irei obrigá-la.

– Está certo... Direi. Mesmo sabendo que não adiantará nada. – riu-se.

– Comprometi-me a alertar a todos sobre o que é certo e o que é errado. E se não adiantar? Não se esqueça que apenas eu sei de tudo.

O rosto de Lucian ficou vermelho, tanto por vergonha quanto por ciúmes. Ele ainda não se conformara de que fora derrotado. Porém, por mais que criasse ídolos de pedra, ouro, mármore, prata, bronze ou seja lá o que fosse, por mais que exaltasse seu próprio nome, continuaria havendo apenas um Deus.


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Notas finais do capítulo

Por favor, comente! Acho que mostrar opiniões sobre o que está acontecendo é muito importante. Além de que seria bem legal receber o seu ponto de vista!



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