Era no Tempo do Rei escrita por BloodyMah


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Reino de Santana


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas... Já faz um tempo que estou com algumas ideias na cabeça... Nada melhor do que botar elas no papel, ou no caso, no pc. Espero que gostem!

#1anoMeuPedacinhodeChao



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Há muitos anos, tantos que a data correta foi esquecida pelo tempo, existia um reino. Era um reino vasto, com diversas províncias. O rei era justo e detinha a lealdade dos súditos.

Os países próximos tinham uma relação politicamente agradável entre si. A economia era estável e possuíam grande reserva de matéria prima.

Seria o local perfeito, a não ser por um problema: localização. Como o reino ficava no litoral, frequentemente era alvo de navios inimigos, apesar de possuir uma grande e especializada força armada.

O rei foi coroado com 25 anos. Alexandra, sua esposa, era tão justa e boa quanto ele. Juntos tiveram uma bela filha, a quem deram o nome de Juliana. Tinha os olhos azuis do pai, e os cabelos rosados da mãe. Infelizmente, dois anos após o nascimento da princesa, a rainha adoeceu e veio a falecer. Foi uma comoção geral. O rei nunca mais encontrou alguém como ela.

Os anos se passaram, o pai criou a menina do melhor modo que podia, que cresceu lindamente, assemelhando-se muito à mãe, tanto na beleza quanto em suas ideologias.


- Juliana! Abra essa porta! Eu não terminei de falar com você! – ele batia com força na porta fechada.
- Pois eu terminei! – gritou a filha, do lado de dentro.
- Juliana!

Ainda que contrariada, ela abriu. Olhava irritada para o pai nervoso a sua frente.

- Filha... Eu não tenho escolha!
- E eu? Tenho? Você vem me dizer que amanhã vou conhecer meu futuro marido, e ainda afirma que você não tem opção?! – ela saiu pelo corredor.
- Eu já disse que é uma aliança entre os reinos... – tentou explicar novamente.
- Alianças são feitas com papel e tinta. Eu não sou nenhum dos dois! – ela parou de andar e virou-se para ele – O senhor se casou assim também?
- Juliana... – ele suspirou, olhando para baixo.
- Me responda! O seu casamento foi por amor, ou foi uma aliança? – os olhos dela já estavam brilhando pelas lágrimas.
- Eu amava sua mãe... De uma maneira impossível de se explicar.
- E porque eu não posso ter a mesma chance de amar aquele com quem eu vou me casar?
- Filha... Entenda, isso já estava resolvido quando você ainda era um bebê!
- Mais um motivo para acabar com tudo! O senhor é o rei! – ela suplicava.
- Não é tão simples...
- Está certo, meu pai – ela suspirou, tentando controlar as lágrimas – Estou vendo que nada do que eu diga vai fazer alguma diferença. Aja como quiser.

Ela se curvou em sinal de respeito e voltou para o quarto, andando normalmente, lutando contra o próprio impulso de correr para longe, e nunca mais voltar. As lágrimas agora corriam pela face sem pudor. Toda a vida ela havia lido sobre romances, amor verdadeiro, e ela queria ser uma daquelas princesas. Mas estava prestes a se casar com um completo desconhecido. E se não gostasse dele? Ou se ele não gostasse dela? Iria valer tanto a pena um casamento sem qualquer alegria? O pai não podia obriga-la... Ou podia. Ela sabia que podia. Infelizmente, ela lembrou-se de seu dever. Era uma princesa e, acima de tudo, acima da própria felicidade, tinha que fazer o que fosse melhor para o povo. Era seu dever, e ela sabia.

Victor olhava a filha e lembrava-se, instantaneamente de Alexandra. Na época ela também havia sido contra tal aliança, alegando que não podia controlar uma coisa tão pura e única como sentimentos. E não qualquer sentimento, amor. A filha deveria ser tão feliz quanto eles um dia foram. E agora Juliana se utilizava dos mesmos argumentos que a mãe, mesmo sem nunca os ter escutado “Alianças se fazem com papel e tinta”. Apertou a ponte do nariz, fechou os olhos e suspirou. Sabia que as duas estavam certas, mas, infelizmente, era necessário.

- Vossa majestade – chamou uma das empregadas do castelo, curvando-se – Os quartos que o senhor havia pedido já estão prontos.
- Ótimo. E como estão os preparativos para o festival?
- Está tudo conforme o planejado. Tivemos um problema com um dos músicos, mas já foi resolvido.
- Fico feliz em saber. Obrigado, Rosa. Mantenha-me informado de qualquer imprevisto.
- Claro, vossa majestade.
- E não se esqueça que o príncipe de Terranova chegará amanhã a tarde. Quero tudo perfeito.
- Certamente, majestade.

**

O mar estava calmo a seu modo, e o vento soprava favoravelmente. O navio seguia seu curso da maneira prevista, fazendo com que os planos corressem bem. O cheiro salgado da água já era costumeiro para eles, mas ainda sim, dava uma sensação de liberdade sem igual.

- Ocê tá certa do que vai fazer? – perguntou um homem de olhos escuros e profundos, com um forte sotaque do interior, denunciando sua terra natal.
- Tão certo como sem dúvida, Zé – respondeu ela, sem desviar os olhos da rota e as mãos do timão, com o mesmo sotaque do outro, proveniente do longo convívio entre ambos.
- Ieu já disse que é Zelão! – corrigiu.
- E ieu já disse que Zelão não é nome de pirata!
- E nem Gina! – ele rebateu.
- Mai Gina é o meu nome! – respondeu irritada.
- E Zelão é o meu!
- Tá certo – ela sabia que era inútil discutir. Ele era tão cabeça dura quanto ela – Pede pra sua mãe prepara as coisa pra amanhã.
- Ques coisa?
- Ieu quero pedir a proteção dos deuses. Na urtima veiz, nóis fizemo tudo o que precisava sem ninguém ficar machucado. Agora, mais do que nunca, ieu quero toda a proteção possiver.
- Tudo bem. Ieu vou falar com ela.
- Pruveita e dá os aviso pra tripulação.
- Dá ocê! Ieu sou só o imediato... A capitã aqui é ocê! – disse rindo, descendo as escadas em direção ao convés.
- Mai tá muito abusado! – ela também riu.

Verificou se o curso estava correto antes de dar os anúncios. Ela ajeitou o chapéu que o vento teimava em mover para a esquerda, e apertou o cinto que carregava a espada. A bússola bateu contra a perna dela. Gina tinha um ar imponente, complementando sua autoridade. Ela ficou parada, com as mãos na cintura, observando os homens da tripulação fazendo seu trabalho. Ela gostava daquilo. Eles eram sua família, mas ao mesmo tempo, eram subordinados a ela. Gostava de estar no comando. Sempre.

- Escutem aqui, seus molengas! – ela gritou da popa do navio, chamando a atenção deles – Como ocês sabe, amanhã a noite nóis vai atacar o castelo de Santana. Mai dessa veiz, ieu num quero ninguém atacando o vilarejo, fui clara?! – ela andava de um lado com a expressão séria e a voz firme.

Ouviu-se um “sim, senhora” em coro. No entanto, alguns deles se entreolharam, com receio. Nada passava despercebido pela capitã.

- Ques cara é essa? Qual o pobrema?
- É que... Esse castelo é mais bem vigiado que os outros que a gente já atacou – disse um rapaz novo, gaguejando, com medo da reação que ela pudesse ter.

Gina o encarou. Ainda com as mãos na cintura, sem desviar os olhos ela desceu em sua direção. Os outros marujos abriam espaço para ela. Ela não aceitava ser questionada, menos ainda quando era sobre um plano de ataque. Ninguém era melhor que ela, e Gina sabia disso. Depois de 11 anos no mar, ela entendia do assunto mais do que qualquer um daqueles que estavam ali.

- Castelo é tudo igual – começou ela quando estava na frente do rapaz, que já se arrependera de ter aberto a boca – Se ocê tá com medo de meia dúzia de guardinha, pode pular pra fora desse barco, porque ieu não quero frangote na minha tripulação!

Ele ficou parado, com os olhos baixos, enquanto ela o encarava com o rosto próximo ao dele.

- Mai arguém vai arrepiar carreira? – gritou para os outros.

Silêncio. Aquela não era a primeira vez que questionavam seus planos e, portanto, ela mesma. Ela odiava aquilo.

- Ocês sabe porque ieu sou a capitã? – ela começou, andando por entre eles. Em um movimento rápido, sacou um facão que trazia na cintura, próximo a espada, e apontou para um marinheiro, na garganta – Sabe?!
- Porque a senhora é valente! – ele respondeu, de uma vez, com a voz fina de quem fora pego de surpresa, engolindo em seco.

Ela parecia satisfeita com a resposta.

- Não só valente – ela corrigiu, abaixando a arma, recolocando na cintura – Ieu sô a mais valente. Ieu sozinha tenho muito mai coragem que muito par de carça por aí – ela menosprezou, olhando para eles, esquecendo que ela mesma usava calças – É por isso tumém que não tem mais muié nesse navio além de mim e da Mãe, porque ieu num suporto “mi mi mi” no meu orvido – continuou, voltando ao seu posto na popa – E seu ieu já num aceito isso de muié, muito menos de marmanjo que nem ocês. Intão ieu vou perguntar mais uma veiz, tem argum covarde aqui que quer desistir?!

Todos ficaram no mais absoluto silêncio, e o único som que se ouvia, além das ondas batendo no casco do navio, era o baixo salto das botas de Gina contra o chão de madeira enquanto ela andava de um lado a outro.

– Ótimo. Intão estejam avisados – ela parou – Se arguma coisa der errado por incompetência d’ocês, ieu vou fazer questão de passar fogo em cada um, com as minha próprias mão! Ocês entedero?!
- Sim, senhora!

Ela passou a mão pelo chapéu e analisou a direção do vento para continuar a viagem. Sim, tudo ia muito bem. Ela voltou para a tripulação:

- O que ocês tão fazendo aí parado?! Anda! Arrumem as velas, posicionem os canhões a estibordo, quero remadores preparados a bombordo, pra quando estivermos perto da costa! E quero esse navio brilhando antes de atracar amanhã! – ela ordenava.

Gina voltou para o timão enquanto os marujos corriam para atender suas ordens.

O sol se punha no horizonte e a brisa fria da noite se anunciava. As gaivotas que viviam em volta do navio iam desaparecendo gradativamente, a medida que o céu alaranjava. Gina apreciava aquilo como que agradecendo por mais um dia em alto mar. Ela lembrava-se de um passado que lutava todos os dias para esquecer. No entanto, há alguns dias, decidiu por fim enfrenta-lo. Não sabia como iria fazê-lo, mas iria. Ia entrar no castelo, pegar o que era preciso, e depois do festival, terminar o que tinha que ser terminado, que já estava levando tempo demais. Como um suspiro para o além, Gina anunciou, com um sorriso no canto dos lábios:

- Ieu to vortando, meu pai. Se prepare.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Devo continuar ou ficou chatinha e previsivel?? Por favor, comentem ;)



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