Recebi um choque tremendo quando li a carta, nem passaria pela minha cabeça que eles queriam eu fizesse o teste para entrar na seleção do Japão. Zun também me olha com uma cara de menininha com um sorriso estampado no rosto.

Continuei a ler, eu tinha que me apresentar em uma semana na Raimon, no período da manhã. Que maravilha! Se o orfanato já é longe da Teikoku, é totalmente longe da cidade Inazuma. Mas eu tinha que ir mesmo assim, chances não caem do céu.

Me lembrei de uma coisa, antes de receber alta do hospital, a médica disse que eu não havia me recuperado e que provavelmente nunca me recuperarei completamente do que aconteceu, então deveria evitar muito esforço muscular. Mas eu só ia jogar futebol, eu não voltaria a usar aquelas estupidas técnicas, muito menos a utilizar a Água Sagrada. Não vi nenhum tipo de problema em voltar a jogar futebol.

No dia seguinte, já livre do castigo, fui no clube de futebol no intervalo, me toquei que estava muito tempo sem jogar futebol, e que sentia falta. Eu estava nervosa, queria fazer logo o teste.

Chegando lá, acho que fui aceita por todos, e fiz o teste, primeiros eles começaram por algo simples, passe de toques.

–Vamos logo com isso – sabia que o jogador que me testava (um meio-campista) estava sentindo pena de mim.

Acho que ele entendeu isso como um desafio, então ele começou a jogar sério. Eu estava me sentindo até um pouco culpada por roubar a bola com certa facilidade. Ele ficou um tanto surpreso, então falou para eu chutar a bola no gol.

Genda levou a sério, ele não duvidava da minha capacidade. Chutei com toda a força possível, e a bola foi bem veloz, mas Genda a bloqueou om sua técnica especial.

–Claro, com técnica especial é fácil – reclamei brincando.

–Você tem uma técnica especial? – ele perguntou.

Pensei um pouco, eu tinha criado uma recentemente, mas não acho que seja muito boa. Ele joga a bola na minha direção, em sinal de desafio. Ele está me subestimando?! Pensei brincando, eu ia tentar usar a técnica.

Meu chute especial individual era mais ou menos assim: eu chutava a bola para cima (bem encima), pulava e, empurrava a bola com toda a minha força para frente, mas era como se tivesse uma parede na frente, a bola não saia do lugar, e por último eu chutava com a outra perna e a bola, com a energia acumulada, ia em direção do gol.

Nunca pensei que a técnica fosse ir tão bem, ela lutou contra a técnica do Genda, que no fim cedeu e eu marquei um gol.

Eu fui aceita no time (eles viraram meus colegas), mas o sinal tocou e eu sai correndo, não queria levar uma bronca, tinha acabado de sair de um castigo.

As aulas passaram de forma bem lenta, e quando finalmente elas passaram, voltei ao clube, onde me diverti como nunca, me senti bem por jogar futebol, mas principalmente, porque estou jogando como eu mesma, como Chiharu Odair.

Passou seis dias, e eu estava me divertindo tanto no clube de futebol, que nem notei que já eram 5 horas da tarde.

–Espera um pouco, que horas são? – perguntei preocupada.

–5 horas e dois minutos – disse Genda olhando para o relógio.

–Mas que droga! – peguei minha mochila com livros escolares– Tchau gente.

Sai correndo, corri, corri, tropecei, corri, corri, corri, cai, corri, e quando cheguei o ônibus estava partindo, corri atrás dele, corri, corri, até o ônibus parar em um semáforo, onde recuperei o folego e subi no ônibus, pagando minha passagem e me jogando em uma cadeira.

Descarreguei a mochila de meus ombros, e coloquei a bolsa no chão, quer dizer, se tivesse uma bolsa com o uniforme para jogar no chão. Escondi meu rosto nas mãos. Retardada! Você esqueceu a bolsa! Tonta! Tonta!

Esse é o último ônibus que passa pela Teikoku (apesar de segui um caminho mais longo) e vai para minha casa nesse horário. Não posso voltar para a Teikoku, também, eu já paguei a passagem.

Cheguei no orfanato, minha irmã falou:

–Irmã, porque você voltou a essa hora? – ela estava preocupada – É melhor você tomar um banho, fazer a lição, jantar mais cedo e ir dormir.

O quê? Ela parece minha mãe! Quem ela pensa que é? Comecei a rir.

–Está falando muito para alguém de um metro – brinquei, cutucando ela no nariz – Além disso, ainda é cedo (6 horas e meia), apesar de amanhã ter aula, eu não preciso acordar tão cedo.

–Mas para ir a Raimon? – ela perguntou.

–E mesmo! Amanhã é o teste! – eu tinha esquecido, eu esqueceria minha cabeça se ela não estivesse grudada no meu pescoço.

–Viu só? – ela disse e tom acusatório.

Então eu acabei fazendo exatamente o que Zun disse, apesar de ela não mandar em mim.

Dormi mais cedo, eram 10 horas da noite. A professora de história pediu uma redação de 15 páginas para sexta (ela enviou hoje, na quarta), mas até ai estava bem, mas quando ela falou que tinha que ser digitado, ai que eu me encrenquei, eu não sei digitar, e na Teikoku não tem aula de informática.

Bem, eu vou acordar as quatro, para tomar banho e me arrumar, quatro e quarenta, depois tenho que pegar o ônibus, que não vai estar cheio, mas vai demorar para chegar, 5 e cinquenta, até eu achar a Raimon (apesar de na carta estar escrito o endereço, eu não conheço a cidade Inazuma e não sei o nome das ruas e muito menos como achar elas), 6 horas e dez, exatamente como diz a carta.

Bom plano. Eu só não posso me atrasar. Mas como deve ter percebido, eu tenho alguns defeitos graves, sou tonta, esquecida, tonta, e não tenho muita sorte, e sou tonta. Assim que quando percebo que o despertador que Moniuã me emprestou estava tocando, percebo que dei corda demais nele, e que já eram 5 horas da manhã, e o ônibus saia em sete minutos. Em outras palavras: Mas que droga.