Questão de Honra - Livro 1 escrita por Melaine_


Capítulo 5
A Notícia


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora.
Eu demorei porque percebi que os capítulos pareciam vagos, eu senti que estava sendo muito sucinta em tudo. Então decidi acrescentar mais algumas coisas nesse capítulo.
Adoraria se vocês me ajudassem e falassem se assim está melhor ou não :D
Espero que gostem!



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Sem poder fugir das responsabilidades do trabalho ela voltou ao restaurante para ajudar Tyn no que ainda faltava. Tyn era um garoto baixinho de cabelos bem pretos, Kira sempre achou impressionante a capacidade de alguém tão pequeno como ele conseguir carregar tantos pedidos ao mesmo tempo sem derrubar um grão de arroz sequer.

Zuko não apareceu no restaurante depois dela ter que deixá-lo para trabalhar o que parecia minimamente esquisito para Kira. Depois deles passarem dois anos sem se ver e sem notícias, ele não parecia fazer questão de passar o tempo dele com uma velha amiga.           

Quando Kira saiu do restaurante ela quis procurá-lo e perguntar o que estava acontecendo, mas logo desistiu da idéia e foi para seu quarto.  O clima estava ficando cada vez mais frio e para Kira era péssimo não poder usar a dobra de fogo, ela sentia falta dos velhos tempos em que suas habilidades conseguiam afastar aquela sensação de frio e insegurança. Ao entrar no quarto sentiu uma aragem gélida e correu para fechar a janela, mas se deteve ao olhar o céu. Havia grandes nuvens escuras circundando a cidade e anunciando que dentro de poucos dias uma temporada de chuva chegaria.  

Depois de tomar um banho quente ela ainda se sentia com frio e aproveitou para pegar um cobertor no seu pequeno guarda-roupa de madeira antes de deitar um pouco para esperar a hora do jantar, mas logo Zhen bateu na porta do quarto.       

— Não quer ir à feira mesmo? – perguntou ela.

Zhen estava bem arrumada. Vestia um conjunto de saia e blusinha de cor verde com um cinto marrom todo retorcido. Kira se sentiu feliz, era difícil ver Zhen sem as cores vermelhas da Nação do Fogo e aquela cor caíra bem nela. Kira reparou também que ela usava maquiagem, pois seus olhos castanhos estavam mais marcados.

— Nossa, hein! Para que toda essa produção? - perguntou Kira.

— Para a feira, ué. - disse Zhen fingindo espanto.

— Para a feira… sei! Qual era sua pergunta mesmo?

— Se você quer ir à feira…

— Não sei, tenho a impressão de que você vai se dar melhor sozinha lá. - respondeu Kira dando uma piscadela para a amiga.

— Não seja boba. Só vou fazer umas comprinhas… - disse Zhen rindo nervosamente quase corando, quase.

— Não se preocupe, pode aproveitar sem mim. Só não coloquei meu pijama ainda porque quero jantar. Divirta-se, mas me conte os detalhe depois. - Incentivou Kira.

— Não dá para esconder nada de você, não é mesmo? - perguntou Zhen com uma voz cantada.

— Sou muito observadora! - Kira respondeu sorrindo. - Vou na feira amanhã. Você também vai?

— Então ok, está combinado.

Após terem combinado de ir à feira juntas no dia seguinte Zhen foi embora deixando a garota sozinha, e, aproveitando que já estava de pé ela resolveu sair do quarto e ir em direção ao restaurante já que estava quase na hora do jantar ser servido. Ao chegar no hall de entrada ela viu de longe Zuko que estava sentado em uma das poltronas da sala de estar aparentemente esperando seu tio. Ao observá-lo de longe ela se pegou imaginando que o que mais a intrigava era o fato dele nunca tirar aquele capuz do rosto. O que será que ele tentava esconder?

— Kira! – disse ele sorrindo ao vê-la.

— Achei que você e seu tio fossem ao restaurante de tarde, mas vocês não apareceram. - Disse Kira aproximando-se de Zuko.

— Boa noite meninos. – disse Iroh chegando e se sentando em uma cadeira perto do sobrinho.         

 - Boa noite Iroh! - Cumprimentou Kira - Zuko?         

 - Sim?           

— Por que você usa essa capa, cobrindo o rosto? Você nunca teve vergonha de ser o Príncipe da Nação do Fogo.         

— Não é por eu ser príncipe que eu uso a capa, Kira.         

— Então por quê? – disse ela se aproximando dele e tocando no capuz. – Me deixe ver seu rosto.           

— Não. – disse ele rudemente, tirando as mãos dela do capuz.           

— Por quê? – perguntou ela tristemente.         

— Não gosto que as pessoas fiquem me encarando.         

— Zuko, não tem porque ficarem te encarando. – disse ela achando graça.           

Confusos com a reação da garota Iroh e o sobrinho se entre olharam, parecia que a garota havia perdido alguma parte da história e assim que percebeu os olhares ela automaticamente tentou se aproximar mais do garoto para vê-lo mais de perto.        

— Kira, você foi à sala do duelo, naquele dia? – disse Zuko num tom de voz baixo.         

— Sim, com aquele tanto de gente achei que você não me veria mesmo.           

— Você assistiu o Agnai Kai? – perguntou ele meio envergonhado.         

— Sim. – respondeu ela. – Quer dizer, mais ou menos.           

— Você ficou até o final? – perguntou Iroh.         

— Quando eu vi o que aconteceria eu sai do salão.           

— Então você não viu o que aconteceu? – perguntou o príncipe mais aliviado.           

— Não. Eu apenas ouvi. Ouvi a dominação... E ouvi o seu grito. – disse ela se lembrando.         

— Então é por isso que eu uso a capa.           

— Por qual motivo? Pelo Agna Kai? – perguntou ela confusa.           

— Não, Kira! – disse Zuko irritado. – Por causa da cicatriz.           

— Mas porque usar uma capa por causa de uma cicatriz, Zuko? Você, sei lá, ergueu a mão para se defender e se queimou? Não precisa usar uma capa por isso.         

— Aconteceu que eu não levantei minha mão. Eu não me defendi.           

— Mas então... – disse ela levando as mãos à boca.         

— A dobra de fogo pegou no meu rosto. – disse ele sussurrando.           

Os hóspedes do hotel já estavam descendo de seus quartos indo em direção ao restaurante, e então eles, calados, também foram. Sentaram-se juntos, em silêncio. Iroh por vezes tentava engatar um assunto, mas não conseguia. Zuko estava extremamente irritado e Kira não se sentia bem, talvez fosse vergonha ou talvez as lembranças não a fizessem bem.           

Após o jantar, eles se sentaram na sala de estar novamente enquanto Iroh tomava seu chá.           

— Faz tempo que você está na cidade? – perguntou Zuko.           

— Uns 6 meses, acho.        

— Achei que morasse aqui desde que saiu da capital.         

— Não, eu estou sempre mudando de cidade. Esta é a que eu passei mais tempo.         

 - Seu pai mora em outra cidade? – perguntou ele.           

Kira sentiu um baque no estomago. Evitava pensar em seu pai sempre que possível. Vendo a reação da garota à pergunta, Iroh questionou:           

— Kira, onde está o seu pai?           

— Morto. – disse ela com lágrimas nos olhos.           

— O que? – perguntou Zuko.         

— Ele foi assassinado. Os soldados nos acharam em uma cidade.           

— Como você conseguiu fugir? – perguntou Iroh curioso.           

— Eu não fugi. Eu não estava em casa quando aconteceu.           

— Então é por isso que você se mudou tanto. – disse Iroh pensativo.           

— Mas o que eles querem com você? – perguntou Zuko irritado.            

— Bom, eu sai fugida da capital, não? – disse ela baixinho.           

— Mesmo assim, não iriam atrás de você por isso!           

— Mas você se esqueceu né? – perguntou ela.           

— Do que? – perguntou.           

— Eu também sou dominadora. – disse ela sussurrando. - Eles convocaram TODOS os dominadores para a guerra.           

Zuko levantou-se rapidamente, e começou a andar de um lado pro outro.           

— Você precisa sair daqui, ir para um lugar seguro. – disse ele.           

— Shiu, fale baixo! Aqui é seguro, mas se você ficar gritando pode ser que não seja mais.           

— Que droga, Kira! Nós vamos pensar em um lugar.           

— Eu não vou sair daqui. – disse ela séria.            

— Eu vou consertar isso. – disse ele baixinho, como se fosse para ele mesmo. – Tá vendo, Tio? Não tem loucura nenhuma em procurar o Avatar.            

— Avatar? Você tem procurado o avatar? – perguntou ela desacreditando.

Ele não respondeu.           

— Isso é loucura sim. Ele está desaparecido!           

— É por isso que estamos procurando. – respondeu ele irônico.         

 Kira não conseguia acreditar. Aquele não era o tom de voz que seu amigo usaria com ela.           

— Eu vou capturá-lo. Pelo jeito, essa também é a única maneira para salvar você, já que você se recusa a ficar salva.           

Irritado  Zuko saiu da sala e pelos seus passos havia subido para os quartos, Kira permaneceu alguns instantes em choque com a atitude do garoto, ela quase não conseguia mais reconhecer Zuko.           

— Eu achei que seria preciso avisar, mas você percebeu sozinha. – disse Iroh calmamente. – Zuko mudou. Quando ele fala com você, algumas vezes é como se eu conseguisse ver como meu sobrinho costumava ser.           

— Talvez por isso eu não o tenha reconhecido. Seu rosto está diferente, suas feições. O pouco que consigo ver, né...– disse ela. – Mas e quanto ao senhor? Por que eu não o reconheci?       

— Você passou por muita coisa e ainda está passando. Está enfrentando tudo sozinha.  Você foi obrigada a se distanciar do seu amigo de infância, perdeu seu pai. Tudo o que você achou que era seguro, desmoronou e então talvez você tenha preferido guardar as suas lembranças boas o mais fundo possível, para que os acontecimentos ruins não doessem ainda mais. Você não reconheceu o Zuko só porque ele havia mudado. Você não o reconheceu, e nem a mim, porque nossos rostos faziam parte de suas lembranças boas. De um jeito ou de outro, você quis apagá-las.           

Naquela noite Kira adormecera pensando em seu pai e nas palavras de Iroh. Seus sonhos não foram tranquilos, e quando acordou pareceu ter trazido toda a tristeza e saudade de seu pai. Depois de colocar os pensamentos e coração no lugar, enrolou o quanto pode para sair debaixo das cobertas e ir tomar banho.

Após um longo banho a garota resolveu sair do quarto e ir ao restaurante tomar algo quente. Quando passou pela sala de estar viu que Zuko e Iroh estavam conversando com feições fechadas com um guarda da nação do fogo. Aquela conversa despertou a curiosidade dela que apenas sentou em uma mesa do e esperou que a conversa terminasse, na esperança de que eles viesse até ela e ela conseguisse alguma informação sobre o que aquela visita se tratava.           

— Bom dia. – disse Iroh entrando na sala e se sentando.           

— Bom dia. Está tudo bem? – perguntou ela.           

— Está sim, por quê?         

— O guarda. Aconteceu algo?           

Iroh olhou para Zuko mas ela não conseguiu decifrar seu rosto.           

— Ela vai ficar sabendo de qualquer maneira. – disse Iroh.           

— Ficar sabendo do o que?           

— Nós vamos embora. – respondeu Zuko seco.         

— Embora? – repetiu ela.           

— Sim. Vamos partir amanhã pela manhã.           

— Não. – disse ela se levantando com lágrimas nos olhos - Não! Não!           

— Por que está chorando, Kira? – perguntou Zuko.           

— Por que? Por que eu estou chorando?            

Zuko olhava sem saber o que fazer.           

— Eu te encontrei, nós nos encontramos de novo, e aí você vai me deixar?           

— Eu não tenho escolha. – disse ele.           

— Tem sim. Todos temos escolhas. Você poderia ficar aqui na cidade, comigo.           

— Não, eu preciso ter minha honra de volta. Eu preciso deixar você segura.      

Ter a honra de volta? O que ele queria dizer com isso? A cicatriz não mudava o fato de que ele era o príncipe. Sem querer acrescentar outro tópico na discussão Kira apenas falou:

— Ótimo. Eu ajudo você então.         

— E como você vai me ajudar?           

— Eu vou embora com vocês.

— Não, você não vai! – disse Zuko irritado.           

Iroh assistia a discussão sem poder fazer nada.           

— Então, você não quer que eu vá?           

— Não. – disse ele irritado.           

Magoada, Kira não conseguiu conter suas lágrimas.           

— É que eu não... – começou ele.           

Kira ignorou a frase inacabada e se virou indo em direção à cozinha do restaurante.        

Tão irritada quanto possível, Kira só queria que o tempo passasse rápido para que pudesse ir para seu quarto ficar quieta. Zuko tentou em vão falar com ela durante o almoço, mas ela alegando estar muito atarefada, mal o ouviu.           

Quando finalmente pode sair do trabalho, Zhen  estava esperando por ela no hall de entrada para marcarem o horário de ir à feira. Tentando parecer animada, Kira falou alegremente do que estava interessada em comprar na feira e então foi se arrumar. Tomou um banho demorado e se sentou na cama ainda de toalha, pensando. Ela não entendia porque ele queria partir e não entendia porque ele não a queria por perto.

Tentando se livrar desses pensamentos que só a atormentavam, ela se demorou em frente ao guarda roupa pensando no que vestir, como estava frio, saia ou vestido com certeza não eram opção. Após vestir uma calça vermelha e uma blusa preta soltinha, decidiu trançar seus longos cabelos negros. Enquanto estava parada em frente ao espelho a garota tentou ver alguma animação para ficar fora do quarto, mas seu rosto estava triste.           

Mal saíra do quarto e Zuko a estava esperando na entrada do hotel. Sem querer conversar ela continuou caminhando para a sala de estar, mas Zuko a acompanhou. Iroh estava sentado tomando chá quando mais uma vez assistiu a tudo.           

— Espere, Kira. Quero falar com você.           

— Eu não tenho nada para falar com você. – disse ela secamente.         

— Mas eu tenho!           

— Só que eu estou ocupada. Estou esperando alguém.           

— Quem? Mas espera aí, onde você vai? – perguntou ele após reparar que ela estava bem vestida.         

— Não é da sua conta. – disse ela.           

— É sim! – disse ele irritado.           

— Não, não é!           

— Por favor, Kira. Ouça.           

— Por que você se deu ao trabalho de deixar que eu encontrasse a sua pulseira?           

— Por que eu achei que você gostaria de me ver também.           

— Eu gostaria de ver meu melhor amigo, não esse garoto que está na minha frente agora.           

— Eu sou seu amigo. – disse ele ressentido.           

— Não. O meu amigo está perdido em algum lugar.           

— Kira, para! Eu sou seu amigo! Sou o Zuko. Você sabe que sim! – disse ele.           

— Não Zuko! Eu nem ao menos te reconheço.           

— Se eu não sou mais seu amigo, então porque você ainda anda com o colar que eu te dei?           

— Porque ele me lembra uma pessoa maravilhosa. Quem jurou me proteger a todo custo. Quem ria, brincava, dividia seus sentimentos e segredos comigo. Quem fazia meu coração acelerar só com um sorriso.           

Ela mal percebeu, mas estava chorando. Zuko apenas olhava, e ela chorando continuou.           

— E quem me beijou na ultima vez que nos vimos e que mesmo depois de dois anos, quando eu fecho meus olhos e me lembro daquele momento, eu consigo sentir os lábios dele nos meus.

Iroh sorria enquanto Zuko se virava de costas para a garota.           

— Espero que você ache o avatar e consiga sua honra de volta. Eu vou ficar aqui, esperando meu melhor amigo encontrar seu caminho e depois vir me encontrar. – enxugando as lágrimas se despediu olhando Iroh. – Boa noite.           

Zhen que estava parada na porta do hotel viu Kira sair com os olhos marejados. Preocupada a amiga quis conversar, mas Kira só pediu que elas saíssem logo dali.     

Após andarem alguns quarterões as garotas chegaram na praça central da cidade onde estava acontecendo a feira e resolveram se sentar um pouco, Kira contou para sua amiga sobre Zuko e que ele havia dito que logo iria embora.           

— Olha, eu sei que você está magoada, mas ele vai embora Kira. Você não sabe quando vai vê-lo novamente. Por que não se despede dele corretamente?           

— Eu não sei.           

— Se ele não estiver esperando por você quando voltarmos, nós vamos procurá-lo e então você conversa com ele.           

Mais animadas as garotas começaram a olhar as barracas da feira. Havia barracas cheias de objetos para casa e cozinha, barracas vendendo bijuterias e objetos de decoração, barracas de comida. Os artesões da região eram muito talentosos e ela pode ver que eles eram recompensados, pois a maioria das pessoas que estavam na feira saiam de lá com sacolas  cheias. Não demorou muito e uma chuva fina e gelada começou a cair na cidade.

Com a chuva as garotas resolveram correr para o hotel e procurar por Zuko. Assim que chegaram elas se dividiram:           

— Vou ver se ele não está no jardim. – disse Kira.           

— E eu vou verificar se ele já subiu para o quarto.           

Kira voltou desanimada do jardim e resolveu dar uma olhada na sala de estar, mas logo viu que ele também não estava ali embaixo.           

— Ele está no quarto, né?! – perguntou ela para a amiga.           

— Kira, eu sinto muito.           

— O que foi? – perguntou ela preocupada.           

Zhen abriu a mão exibindo uma chave.           

— Eles fecharam a conta do hotel a mais de duas horas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? =)



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