Legacy escrita por Skye


Capítulo 3
Capítulo 3 - "Walking round and around"




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Minha cara de emburrada era provavelmente nítida ao deixar o recinto em que recém havia entrado. Avisei a mulher que passaria ali no final da tarde, mesmo que não houvesse realmente uma decisão a ser tomada, eu não tinha condições de desistir da bolsa de estudos, mas precisava espairecer e tentar aceitar a ideia de me candidatar em uma irmandade. Aquilo tudo nem ao menos fazia sentido, conseguia ver uma irmandade apenas como um obstáculo no meu desempenho dentro da sala de aula.

— Pela sua cara, diria que algo não deu muito certo. – Charlie logo notou quando me viu saindo do hall. Levei alguns minutos para explicar toda a situação para ela e Josh, que felizmente entenderam minha indignação, ao invés de me acharem uma louca surtada.

— Entendo que isso seja uma merda, mas já é bom vocês verem desde agora que a universidade não é muito diferente do resto do mundo, às vezes sentimos que aqui dentro é uma espécie de outro mundo, mas somos sacaneados da mesma forma. – Josh comentou. – A única diferença é que geralmente o prejuízo é menor.

— Só sei que não me vejo em uma irmandade, nem aqui, nem em qualquer outro mundo. – falei.

— Irmandades podem te surpreender, assim como o sistema grego. – Josh repetiu o comentário da mulher do comitê.

— Assim como podem não surpreender também. – Charlie discordou. – E honestamente, não vejo Amy como uma garota de irmandade, assim como não me vejo também. – eu concordava totalmente com a visão de Charlie.

— Infelizmente, acho que isso não interessa muito agora, pelo que eu entendi esse é um problema sem saída. – Josh falou. – Ou você abriria mão da bolsa de estudos por um detalhe, Amy?

— Com certeza não. – respondi. – Só queria um tempo para aceitar essa ideia, por isso não assinei os papéis imediatamente.

— Então temos o plano perfeito, vamos dar uma volta, levo vocês para almoçar, podemos dar mais umas voltas, e depois você pode se estressar com isso. – Josh sugeriu.

— Sabia que estudar no mesmo lugar que meu irmão ia ter alguma vantagem. – Charlie disse em tom de brincadeira, nós três rimos, e então seguimos caminho.

O campus era maravilhoso em todos os sentidos, fácil de se localizar e se orientar, além de possuir um visual incrível, repleto de árvores e detalhes naturais bem cultivados, era extremamente agradável andar por ali. Caminhamos pelos arredores do começo da universidade, onde ficavam os prédios mais importantes para os alunos, como o Cadilab (laboratório da universidade), a Montée Progrès (maior biblioteca do campus, e também livraria), e alguns dos principais dormitórios. Por fim, antes de finalmente irmos almoçar, Josh nos levou ao AnTheater, o grande auditório da universidade, onde eram realizados grandes palestras, eventos e apresentações, e também local de realização do curso extra de teatro, o qual me interessava muito, já que seria minha escolha, não somente para cumprir com as condições da bolsa de estudos, mas porque eu era apaixonada por teatro desde que podia me lembrar. Não chegamos a entrar, pois estava fechado para visitação no período da manhã, antes do inicio das aulas, fiquei um pouco desapontada, mas sabia que o momento certo para conhecer o local chegaria mais cedo ou mais tarde.

— Se preparem para a melhor refeição da vida de vocês, pelo menos eu espero que seja, já que esse é o melhor restaurante que vocês irão encontrar aqui dentro. – Josh disse enquanto nos aproximávamos de um grande estabelecimento, com uma placa dizendo “Rise Meal.” – A vantagem do Rise é que, a comida é boa, não é cara, e ele fica no meio do campus, perto de tudo. O lado esquerdo é o restaurante, chamado de Rise Meal, todo fechado e tem espaço para bastante gente. – explicou ele. – E o lado direito é o café, chamado de Rise Café, tem área interna e externa, o café é ótimo e o resto das coisas também, é aonde a maioria das pessoas vão para fazer um lanche, e às vezes até para estudar.

— Parece confortável. – comentei.

— Concordo, já é um candidato de lugar para frequentar. – Charlie disse.

Gastamos um bom tempo com o almoço. Na verdade, mais com a conversa do que com a comida. Era fácil ter assunto quando você acabava de conhecer alguém legal. Talvez fosse ingênuo sair contando sua vida para uma pessoa que havia conhecido há algumas horas, mas naquele pouco tempo já sabia grande parte da vida de Charlie e vice-versa, querendo ou não teríamos que nos aguentar por um bom tempo a partir dali e eu realmente me sentia sortuda, pelo menos por enquanto, por ter sido colocada no mesmo quarto que ela. Assim como a irmã, Josh também tinha uma personalidade extrovertida, e quando o assunto sobre fraternidades e irmandades voltou, ele compartilhou várias informações que poderiam me ajudar, além de ter prometido me proteger dos “perigos do sistema grego", o que me fez rir, e também me sentir um pouco melhor com a situação.

— Bom, acho que agora está na hora de adentrarmos mais a fundo no maravilhoso campus da Cadillac. – Josh disse por fim. – Se não, vamos passar a tarde inteira aqui conversando.

Josh nos levou para a parte mais interior do campus nessa segunda parte do “tour”, a universidade era imensa, não sabia se ia me acostumar tão cedo com tudo ali, mas estava adorando. Os prédios de dormitórios e aulas mais antigos ficavam mais adentro do campus, teria algumas aulas por ali então tentei memorizar os caminhos ao máximo e encontrar referências para facilitar na hora de pedir informação. No fundo da universidade, literalmente, se encontrava Motown, que era uma espécie de bairro, onde estavam localizadas a maioria das casas de universidade, todas bem afastadas umas das outras é claro, Josh explicou que aquela área era consideravelmente longe dos prédios de estudo, o que dava mais liberdade para os grupos fazerem festas e coisas do tipo. Não chegamos perto das casas, amanhã eu teria que fazer isso de qualquer forma, já que era o dia em que os interessados visitavam as casas no horário programado pela universidade. Por último, fomos para o canto oposto de Motown, que era onde ficava o estádio de futebol da universidade, também suficientemente afastado para não incomodar em dias normais, mas de acordo com Josh, em dia de jogo aquela distância parecia inexistente, já que sempre é possível ouvir a torcida eufórica dos Risers (time da Cadillac) de qualquer canto da universidade. Acima da entrada principal do estádio, um banner gigante estava pendurado, com uma foto de três jogadores, os da ponta com seus capacetes na mão, e o do meio segurando uma bola de futebol americano com as duas mãos, com a frase “rumo aos play-offs nacionais, rise again”, e acima do banner letras gigantes diziam “Saint Clair Stadium”

— Já entendi porque as pessoas aqui gostam tanto de futebol. – Charlie comentou baixinho para mim, referindo-se aos três jogadores no banner. Não tinha como discordar, os três eram lindos. O do meio tinha a pele mais morena, cabelo preto e curto, e olhos escuros. O da direita tinha o cabelo mais comprido, de cor castanho escuro, e tinha uma expressão divertida no rosto. E por último, mas não menos maravilhoso, o da esquerda era loiro, com um corte de cabelo basicamente perfeito, e seus olhos verde-escuro pareciam encarar através do banner.

— Quando é o primeiro jogo? – perguntei, nós duas rimos e Josh notou.

— Ah não, agora vou ter que impedir que minha irmã vire uma fanática por jogadores universitários de futebol. – ele também entrou na brincadeira.

— Duvido que você também não seja. – Charlie disse rindo.

— Eu amo futebol, você sabe disso. – ele disse, nós três rimos dessa vez. – E já que a informação parece interessar, o cara do meio é o Theo Mason, quarterback do time e herói para muitos nessa universidade, o loiro é o Seth Tanner, o cara também joga muito e é um runningback, e o da direita é o Bruce, um monstro na defesa. – contou. – E apesar de eu amar os três mentalmente, não conto isso para ninguém, já que o Theo e o Seth são da Alpha Xi, ou seja, somos inimigos de fraternidade, mas os caras reergueram nosso time e depois de muitos anos voltamos a nos classificar para o regional, esse ano eles vão tentar o nacional, por isso esse banner está ai.

— Uau irmãozinho, você podia ser guia de visitação na universidade. – Charlie brincou.

— Sou o irmão mais velho, e ainda tenho que ser chamado de irmãozinho.

— Calma Josh, tudo na vida tem um lado bom. – falei, tentando parecer séria.

— E qual seria esse? – ele perguntou.

— Você ainda pode amar o Bruce publicamente. – brinquei e rimos mais uma vez.

Aquele foi o fim da nossa volta pela universidade, antes de voltar para o quarto passamos no hall para que eu assinasse os papéis, mesmo que receosa. Depois disso, Josh nos deixou no dormitório e passamos a noite nos organizando. Dividir espaço no quarto não foi um problema, até aquele momento eu e Charlie estávamos nos dando extremamente bem e tínhamos muito em comum. O resto da tarde, e a noite, foram divertidos, mesmo que estivéssemos fazendo coisas não tão divertidas, tanto que só voltei a pensar no assunto irmandade quando estávamos quase indo dormir.

— Ei, Amy. Nem se estressa com isso, tenho certeza que você vai se dar bem em qualquer irmandade. – Charlie provavelmente percebeu no que eu estava pensando.

— Como você pode ter certeza disso? – perguntei.

— Olha como estamos nos dando bem! Sei que isso é relativo, mas você é boa de conversar, e isso vai te favorecer muito. – Charlie respondeu.

— Talvez isso seja totalmente relativo e eu só saiba conversar com certas pessoas, com as quais me dou bem naturalmente, tipo você. – analisei a situação.

— Então ainda bem que vou junto com você amanhã.


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