Just Friends - 3ª Temporada escrita por Laia


Capítulo 5
Capitulo 5


Notas iniciais do capítulo

Um pouco atrasada, mas como prometido...



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–E como foi o seu dia?

Estávamos em uma lanchonete perto do hospital, aproveitando o tempinho que o Rodrigo tinha livre.

–Corrido. Eu e a Laura estamos tentando resolver o casamento dela logo.

–E conseguiram?

–Uma parte sim, mas ainda faltam algumas coisas. Ela ta pirando. Sem falar que o Gus não esta tendo tempo de ajudar ela. Eu mesma tive que marcar um almoço entre eles hoje, pra resolverem o que tinham que resolver.

–E eles resolveram?

–Não sei.

–Uai, não estava com eles?

Engasguei assim que entendi a pergunta.

–Fiquei em outra mesa pra eles poderem conversar – isso não era mentira. Eu realmente estava em outra mesa

–Te liguei no almoço, mas você não atendeu. Preferiu comer sozinha?

–Não é isso. Só não vi o celular tocar.

Baixei os olhos para o meu sanduiche, que parecia ter perdido o sabor de uma hora para outra.

–Sabe que é péssima pra mentir né?

–Não to mentindo – respondi, forçando mais uma mordida, que desceu rasgando minha garganta.

Na verdade, eu era ótima pra mentir. Mas o Rodrigo sempre percebia que era mentira. Tipo, SEMPRE! Não sei como. E odiava isso.

Ser descoberta e ter que admitir sempre era um horror.

–Não almoçou sozinha né?

–Almocei.

Metade do prato eu estava sozinha. Então só meia mentira.

–Certeza?

–Ta insinuando alguma coisa Rodrigo?

–Tem algo que eu não saiba Manuela?

Isso me irritou. Profundamente. Talvez porque tivesse algo. Ou talvez eu só estivesse estressada mesmo. Talvez o fato de ele desconfiar e insinuar algo – tendo razão ou não – me deixasse puta. Ou talvez eu só não quisesse estar ali.

–Tem sim – disse levantando – ta agindo como um perfeito idiota. Muito obrigada pela confiança.

Levantei e fui embora, a pé mesmo.

Ele sequer se deu o trabalho de me chamar, ou ir atrás de mim.

Eu sabia que ele só tinha pagado a conta, resmungado e voltado para o hospital. Ele era previsível. Completamente chato e previsível. E eu parecia ter me esquecido disso.

***

–E não esquece que ela tem que começar a tomar o remédio hoje à noite Eduardo, por favor.

–Relaxa Anne.

–E vê se não entope ela de besteira.

–Amo essa confiança que tem em mim... Pode deixar, vou cuidar direitinho dela, dando muito sorvete e batata frita no café da manhã.

A Anne tinha tido alguns problemas na clinica nos últimos meses e tinha que viajar por mais ou menos uma semana pra resolver tudo. Tínhamos levado a Meg ao pronto socorro um dia desses, por causa de uma alergia. O medico tinha passado um remédio e a Anne tinha certeza de que eu ia acabar fazendo alguma coisa errada no tratamento da minha própria filha.

Quanta falta de confiança!

Ta que eu sou meio esquecido e estabanado, e uma ou outra vez esqueci de coisas importantes, tipo buscar a Meg na escola, mas poxa, sou novo nisso.

Ela também, mas sei la. Não sou irresponsável como pareço.

Só to me queimando né? Vou calar a boca.

Voltando...

Levamos ela até o aeroporto, e depois de repetir as mesmas recomendações vinte vezes, repetir mais outras vinte mil ordens para a Meg e quase não largar a coitada, ela embarcou.

Assim que ela saiu do nosso alcance, a Meg estendeu a mão pra mim, pedindo pra irmos.

Segurei sua mão, e fomos para o estacionamento, com ela cantando alguma musica da escolinha enquanto balançava o vestido com a mão vazia.

Soltei sua mão para pegar a chave do carro.

–Parece que agora somos só nós dois Meg.

Sem resposta.

–Meg?

Olhei ao redor, ela já estava correndo pelo espaço vazio, parando as vezes para dar alguns pulos aleatórios em pequenas poças de que haviam se formado no gramado.

–Meg, não!

Aqueles sapatos eram novos. A Anne ia me matar.

Ela não demorou a dormir naquela noite. O remédio da alergia era forte e a deixou meio grogue em questão de segundos. Subi sua coberta até os braços, como sempre fiz, lhe dei um beijo e fui para o meu quarto.

Limpei-a assim que chegamos – tinha lama ate a metade das pernas dela – antes de coloca-la na cama e consegui salvar os sapatos antes que ficasse alguma mancha. Desliguei as luzes, deixando só a do meu quarto acesa e sentei a mesa. Tinha um novo projeto, que se fosse aprovado, meu deus! Mas eu não conseguia finalizar. Sempre faltava alguma coisa, e eu já não sabia mais onde mexer, por simplesmente já ter mexido em absolutamente tudo. E mesmo assim, ainda não me agradava. Faltava algo, que eu não sabia o que. Para Anne, faltava sofisticação. Para a Meg, faltava cor – na inocente cabecinha dela, o mundo se resolvia com uma simples caixa de lápis de cor. De preferencia, de 36 cores.

Devia ser umas duas da manha quando ouvi o barulho. Era uma tosse baixa, que começou meio fraca.

–Meg? – chamei não muito alto.

Ouvi um dos ursinhos cair, fazendo aquele barulhinho de “fon” bem chato.

Levantei apressado e abri a porta do seu quarto. Ela estava tentando se levantar, o corpo pequeno curvado e encolhido nas cobertas. A respiração era irregular e ela mal conseguia puxar o ar. Seus olhinhos estavam começando a lacrimejar.

Não tive outra reação além de pega-la e ir pro carro. Ela se ajeitou no banco de trás enquanto eu corria, sem me importar muito com os sinais ou as placas de “pare”.

Pareceu uma eternidade até chegar à emergência. Estacionei de qualquer jeito e a tirei novamente, pedindo ajuda. Ela chorava, mas não conseguia falar nada. Mas me feria vê-la daquele jeito. Mesmo sem falar nada, ela implorava pra que eu a ajudasse.

Um enfermeiro corria com ela enquanto outro ia buscar sua ficha para que eu pudesse preencher.

Devia ser um crime não deixar o pai acompanhar. Tecnicamente eu estava “alterado demais”. Deuses, eu só precisava vê-la bem.

Ela foi sendo levada pelo longo corredor, até que fez uma curva e eu não consegui mais vê-la.

***

Ele sequer fez questão de me ligar. Era o mínimo que ele podia fazer! Aquele idiota!

O plantão dele terminou quando o meu começou, e não fiz questão nenhuma de bater com ele na troca dos turnos. Na verdade, preferi evitar. Entrei pelos fundos da emergência só pra garantir que não ia correr o risco.

A noite estava bem parada. Mas a ala da pediatria também não era lá muito movimentada às duas da manhã. Os casos que chegavam eram mais relacionados à virose, um remédio e um soro resolviam tudo. Já estava ficando entediada, quando a Lucy veio gritando comigo.

Lucy era uma senhora, com o dobro de idade e de energia de qualquer um naquele hospital. Eram aquelas velhinhas mal humoradas, mas que tinham o papel de mãezona quando precisávamos. Ela sabia ser um amor quando queria ser. Era baixinha, um pouco acima do peso. A pele negra contrastava sempre com as roupas impecavelmente brancas e o batom forte que usava. O cabelo sempre preso e as sandálias, também brancas, a deixavam com uma aparência tecnicamente fofa. Mas não passava da aparência.

–Eu to te chamando tem mil horas menina! – ela gritou abrindo minha porta – Ta surda ou vai esperar ter que dar a causa da morte pra ir até o paciente?

Corri até o leito e quase cai dura no chão.

A franja aparada, os olhinhos marejados, o cabelo preto. Era ela.

–Qual o problema dela? – questionei correndo para mais perto, enquanto aferiam sua pressão.

–O pai disse que ela começou a tomar um remédio hoje para uma alergia. Acordou com falta de ar e palpitação. Parece reação alérgica.

Alergia ao remédio de alergia? Masoquediabostaacontecendo?

–Mas que remédio?

Me entregaram a prescrição, que estava no seu prontuário. E eu quase cai dura! A dose era absurda para uma criança, obvio que o sistema dela iria reagir contra uma quantidade tão grande.

–Mas quem foi o idiota que passou um remédio desses pra uma criança? Deuses... Os batimentos tão acelerados demais, alguém dá oxigênio pra ela, por favor. Precisamos baixar a pressão dela.

Os batimentos subiam mais a cada segundo... Deuses, foca Manu!

–Tem histórico de asma ou alguma doença respiratória do gênero? Alguma outra alergia?

Um dos enfermeiros negou, colocando a mascara de oxigênio. Ela estava nervosa, começando a entrar em pânico, o que não ajudava nada. Os níveis de adrenalina subiam cada vez mais. Os olhos enormes se arregalavam, me olhando apavorados. Ela abria a boca, sem conseguir emitir som, e mesmo que tentasse puxar o ar, ele se recusava a chegar a seus pulmões.

Se tinha uma coisa que eu odiava nessa carreira, eram os nomes enormes e complicados que eu era obrigada a saber. Eu sabia que tinha um remédio para isso. Só não conseguia lembrar qual.

Então não me pergunte o que aconteceu. Meu cérebro começou a trabalhar em um ritmo que eu mal conseguia acompanhar. Minhas mãos trabalhavam em busca do remédio certo, do qual até agora eu não me lembro o nome. Eu trabalhava no automático, e talvez por isso, não consigo me lembrar de nada do que fiz. Única coisa que eu realmente me lembro, e de ter visto os batimentos dela diminuírem e ver sua respiração se regular.

–Os batimentos normalizaram - uma das enfermeiras anunciou, sorrindo enquanto me olhava.

Ela soltou e puxou o ar seguidas vezes, até se acalmar. Ela parecia não conseguir acreditar que sentia o ar preenchendo seus pulmões novamente.

Ela não chorou. Era forte. Seus olhos enormes se enchiam, mas em momento algum ela realmente chorou.

E agora, eu tinha que ir chamar seus pais. Deuses, eu estava cuidando da filha deles!

Mas o que raios está acontecendo?


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Notas finais do capítulo

É isso... Vou tentar escrever mais, aparecer mais, sumir menos e tals...
Espero que tenham gostado :)
Beijos e cheiros pra vocês



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