Just Friends - 3ª Temporada escrita por Laia


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Como prometido...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607141/chapter/2

–E ela pegou os convites hoje, vou passar lá mais tarde e pego o seu. Eu to tão animado...

Ele ia me contando enquanto andávamos pela calçada. Ele andava de lado, me olhando enquanto falava, e eu só olhava de beirada de olho, enquanto caminhava com pressa e puxava a gravata para afrouxar o nó.

–Mas como vocês já fizeram os convites?

–Sim, eu sei... Não tem nada pronto, não organizamos nada, mas ela quis... Acho que ter a data e todos os convidados avisados deixa ela sobre pressão, sem deixar tempo pra enrolar, e ela funciona melhor assim. Segundo ela “se não for desse jeito, esse casamento não ia sair nunca!”.

–Não tem medo de ter feito a escolha errada agora?

–Não importa que esteja errada. Se for errada com ela, eu já fico feliz.

A gritaria se aproximava a medida que as barras coloridas do portão passavam pelos meus olhos. Terminei de dobrar as mangas da blusa social, ajeitei o “canudo” com as plantas no ombro segurei o terno com a ponta dos dedos.

–E você como meu padrinho oficial, vai me acompanhar em tudo! Não quero nem saber.

Só confirmei com a cabeça, sorrindo.

–Você Eduardo!

–Eu sei Gus... Eu sei. Fica tranquilo que talvez ela nem esteja aqui.

–Hum... Você sabe que não é que eu não goste dela né?

–Eu sei, eu sei...

Paramos em frente a portaria também colorida, e não demorou pra sentir o aperto na perna, acompanhado do grito:

–Papaaaaaai!

***

–Laura?

Devia ser umas três da manha. Tava um frio do caramba e nenhuma das duas estava com coragem nem de levantar pra guardar a bacia da pipoca, que já estava vazia há umas duas horas.

–Hum? – ela grunhiu, tão sem coragem quanto eu.

–Vai mesmo casar?

–Mas que raio de pergunta é essa? Claro que vou.

–E... Ele vai vir morar aqui?

Ela levantou a cabeça.

–Não pensamos nisso ainda... Por quê?

–Uai Laura, Gus chega, e eu saio né? Não vou morar com vocês dois, principalmente recém casados. E mesmo que você vá morar com ele – o que eu realmente duvido - também tenho que sair.

–Você é idiota Manuela? Se eu sair, você acha mesmo que eu vou te expulsar?

–Não que você vá me expulsar, mas poxa Laura, não vou ficar aqui sem você.

–E como vai fazer então? – ela cruzou as pernas e sentou com o corpo apoiado no sofá.

–Não sei... Arranjar outra pessoa pra dividir o apartamento.

–Quer mesmo arriscar isso de novo? Depois de tudo que rolou? Depois de você sabe quem?

–Qual a chance de achar outro Eduardo, me apaixonar e me ferrar de novo?

–Qual era a chance de isso ter começado?

–Zero.

Realmente, a chance inicial da minha parceira de apartamento ser um parceiro, eu me apaixonar por ele e acabar aqui sozinha...

Pera. Sozinha não.

Quer dizer... Mais ou menos. Sei lá. Eu e o Rodrigo estamos bem mas... A gente ta sempre bem! Tipo, sempre mesmo! Isso é um saco às vezes.

–E que tal ir morar com seu boy?

Olhei para ela, incrédula. Nós duas sabíamos que eu sequer levaria essa ideia em consideração.

–Vou fingir que nem cogitou essa ideia.

É que sei la... Ele ta sempre de bom humor, sendo compreensível e me mimando, me tratando bem e sendo feliz. Ta sempre acertando em tudo. E esse é o maior erro dele: ser perfeito demais. Se eu sou louca por achar isso tudo um porre as vezes? Sim, eu sou louca.

Se ele é perfeito, eu tenho que ser perfeita. E me poupe, ultima coisa que eu sou é perfeita... A gente não briga, não discute, nada! As vezes eu até tento, juro, mas adivinha? Ele contorna e me dá a porcaria da razão! Tenho vontade de sacudir ele e gritar “reage porra!”.

“Mas Manuela, se você ta de saco cheio, por que não termina logo?”. Porque as vezes parece até que ele sente que eu não to tranquila com isso. E ai? Ai, ele me chama pra sair, a gente anda, conversa, eu dou risada de tudo e esqueço que eu ia terminar. E assim que fecho a porta de casa, tudo vem a tona de novo. Mas eu não consigo na hora, não dá. Eu sei, sou uma fraca mesmo.

E eu to nisso há três anos... E pode parecer extrema bobagem, mas eu nem sei o que estaria fazendo se não estivesse com ele todo esse tempo. Ele é meu amigo. É com quem eu posso contar a qualquer hora.

Até mais amigo do que namorado. Serio, não tem um equilíbrio.

Alem da mania irritante dele de me pedir desculpa por tudo. Não, desculpas não. PERDÃO! Isso me dá nos nervos!

Alem de que, o pedido de namoro dele foi uma atitude sem pensar e meio desesperada.

Mas olha o que eu to falando? O meu “aceito” também foi.

E eu só dando mais motivos para não ficar nisso... Calada Manu.

–Então acho que você ta muito ruim de estatística. Anda Manu, aceita logo que você pode ficar aqui o tempo que quiser.

–Mas Laura...

–Ainda falta cinco meses, não vamos esquentar com isso ta bom? Tem muita coisa pra resolver até lá.

Ela deu impulso com as pernas pra levantar, pegou a bacia da pipoca e foi para a cozinha, sem nem esperar minha resposta.

***

Estávamos no estacionamento, quase chegando no carro quando a Meg enfim parou de tagarelar. Eu só queria saber como ela tinha fôlego pra falar aquilo tudo. Era assunto desde o café da manha até a hora de dormir, sobre o padeiro que errou no “bronze” – como ela mesma dizia – do pão até a caixa de lápis de 36 cores do colega da sala dela. Sem contar os inúmeros pedidos sobre as tais 36 cores. Nunca entendi pra que uma criança ia precisar de tanto lápis.

Mas é claro que o silencio não dominou.

–Sabe que ela vai estar lá também né?

–Quem vai estar onde papai? – ela me questionou com aqueles olhões arregalados.

–Ninguem dona curiosa! – respondi batendo com a ponta do dedo no seu nariz. Ela riu e passou os braços pelo meu pescoço, me apertando e encaixando o rosto no meu ombro, ainda sorrindo. Ajeitei seu corpo no meu colo e respondi baixo – Eu sei Gus.

–Todo esse tempo...

–Quase quatro anos.

–É uma vida!

–Eu sei – disse alisando as costas da Meg – Literalmente uma vida.

***

–Bom dia!

Ele veio sorridente no meio do corredor pra mim, com aquele cabelo brilhando contra a luz. Estava com uma prancheta embaixo do braço e uma caneta no bolso do jaleco.

–Bom dia – respondi, nem um pouco animada.

Noite complicada, não conseguia dormir direito. Minhas costas estavam me matando de dor e meus olhos estavam pesados. “Mas você não é medica? Por que não dá um jeito nessas dores?”. Estudante de medicina, sim. E por acaso alguém ai já ouviu a frase “santo de casa não faz milagre”? Então!

–Aconteceu alguma coisa?

O semestre tava acabando, e eu tava bem nas avaliações do estagio. Era Clinica Médica, e eu tava simplesmente amando.

Mas... Algo me incomodava. E eu sabia bem o que era.

–Nada, só to preocupada com o resultado do estagio.

Ele sorriu.

Senti uma pontada. Meu estomago revirou.

Ele me abraçou, fazendo carinho no meu braço.

–Você sabe que vai se dar bem...

Só forcei um sorriso como resposta.

–Agora preciso ir.

Me afastei e segui pelo corredor, fingindo estar atrasada pra alguma coisa. Não precisei olhar pra trás pra saber que ele ficou esperando o beijo que eu sempre fugia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!