Elementium - Volume 1 - A Ascensão escrita por Sophia Jackson


Capítulo 22
Passaregos?


Notas iniciais do capítulo

Olá Pessoas...
Desculpem a demora, mas eu estava muito ansiosa... perturbada da cabeça (kkkkk)... com medo... depressiva... cansada... E o motivo disso tudo... Bem, o inferno carinhosamente nomeado de Vestibular.
Mas, se me lembro bem, no último capítulo eu pedi orações e tal para a primeira fase da UFPR e é com dor no coração que eu digo... MENTIRA!! A DOR SÓ SE FOR DE INFARTO MESMO KKKK EU PASSEI!!!
Certo, ai eu ia postar, mas ficou corrido e eu só estudava, estudava e estudava. Até pensei em deixar um aviso aqui e pedir orações para a segunda fase, mas não deu tempo, então eu fui fazer e não sei se vocês sabem, mas o resultado saiu ontem.
Eu quase morri gente, eu nunca tive problema do coração, mas eu quase desenvolvi ontem. O resultado saia as 14:00 e adivinhem o que aconteceu exatamente as 14:00? Minha internet caiu... Eu quase quebrei o modem tentando fazer esse troço funcionar kkkkk Reiniciei o note ( o que demorou um século aumentando ainda mais meu nervosismo)... Juro que se a OI fosse uma pessoa eu matava.
Enfim, a net volto depois de reiniciar o note, ai eu entrei no site e apareceu o artigo com os aprovados. Se vocês acham que eu tive coragem de ver o meu estão enganados, quem abriu foi meu irmão. Eu chorei, meu Deus, como eu chorei. Quase tive um ataque cardíaco. Conferi o número umas três vezes pra ter certeza que era eu mesma kkkkk
Então sim... EU PASSEI!! SOU CALOURA UFPR 2017!!
Não acredito ainda.
Pois é, agradeço a todos, mesmo eu não sabendo quem são.
Lembro também que eu tinha dito que se eu passasse, dedicaria o capitulo a vocês, mas como vocês não se apresentam para eu poder citá-los aqui... Dedico o capítulo a Alice e Helfo que são as pessoas que falam comigo, mas também a todos vocês fantasminhas.
Me perdoem pelos erros, aproveitem o capítulo e até lá embaixo.



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   – Pode repetir o porque de eu ter que vir com você? – ele mais uma vez atrai minha atenção mexendo-se desconfortavelmente na cadeira em busca de uma posição aceitável, aparentemente para dormir.

   – Por que temos prova, e você devia estar estudando, sabe muito bem que ainda temos aquele maldito trabalho para fazer. – ele revira os olhos e volta a se debruçar sobre os livros.

A biblioteca é um lugar aconchegante e se tornou meu refugio depois das mensagens. Sim eu recebi mais, não sei quem as deixa ou o por que, mas se o objetivo é me deixar assustada e acuada está funcionando, por mais que eu me recuse a dizer isso em voz alta. Porém, por mais que eu tente me concentrar em outra coisa, as imagens daquele dia voltam a minha mente.

Após dois dias, os outros pararam de perguntar, após três deixaram de lado, quando quatro se passaram eles esqueceram e depois de cinco é como se nunca tivesse acontecido, mas não é tão fácil para minha cabeça deixar de lado quando eu vejo aquelas malditas letras todo santo dia, sem contar que não consigo controlar mais meus poderes, eu já não conseguia antes, mas agora é um nível acima do descontrole.

Durante a noite eles estranhamente resolvem entrar em ação, não que eu não consiga dormir, mas é um pouco desconfortável acordar com o quarto inundado. Já aconteceu três vezes.

Martin disse que é porque meus poderes finalmente voltaram a ativa, o que é bom, mas eu preciso praticar para deixá-los “quietos”. O problema é que eu só tenho aula prática na quarta e hoje é sexta-feira. Não aguento mais queimar as pessoas acidentalmente (isso mesmo, a minha parte fênix resolve dar um oi as vezes) ou molhar tudo que toco.

A questão é que eu estou enlouquecendo, a beira da insanidade e não faço ideia do que fazer. Se ao menos eu soubesse o que está acontecendo eu poderia pensar em uma solução, mas eu não sei. Eu estou confusa. Mais confusa que o normal. Tenho medo do meu normal se tornar a insanidade de agora.

Tento espantar esses pensamentos e abro o livro de toxicologia, o qual eu deveria estar estudando para a prova de amanha. Sim, as provas geralmente são no sábado. Certo vou me concentrar agora, chega de pensar em bobagens.

“Mapas são coisas úteis e interessantes, mas se tornam perigosos quando roubados.”

O universo é perverso. A vida é sua aprendiz. E esse ser do inferno que me deixa essas mensagens é irmão do diabo. Seja lá quem for sabe do mapa e pode muito bem usar isso contra mim. Porque eu tenho a sensação de que ele sabe mais do que deve?

Talvez por que ela já deixou claro que sabe.

Cala boca, não é uma boa hora.

Nunca é, acontece que você está sendo idiota e está encurralada.

Me diga uma novidade.

Não tenho nenhuma e vou continuar não tendo se você não tomar uma atitude.

Se eu soubesse o que fazer já teria feito.

Duvido, você costuma ser bem idiota as vezes.

   – Cala boca. – acabo por falar em voz alta fazendo com que Austin me encare confuso.

   – Mas eu não disse nada. – ele protesta.

   – Esquece. – volto a encarar o livro meio corada, isso vem acontecendo constantemente.

Na terça-feira acabei gritando comigo mesma em plena aula de toxicologia o que me rendeu um trabalho extra. Como eu disse antes, não estou conseguindo me controlar ultimamente é como se alguma coisa dentro da minha cabeça tenha resolvido dar as caras justo agora.

Mais uma vez balanço a cabeça tentando evitar pensamentos indesejáveis, mas ao voltar meus olhos para a mensagem na folha uma fúria me atinge. Pego a borracha e forço-a contra o papel tentando desesperadamente sumir com as palavras, mas não surti efeito algum, posso tentar apagar até a folha rasgar que elas não irão sumir.

Frustrada, fecho o livro de forma violenta fazendo com que um barulho alto ecoe pelo lugar, atraindo vários olhares inclusive de Austin, o deste ultimo preocupado. Por um momento penso ter visto seus olhos mudarem de cor, mas deve ser minha mente me pregando outra peça. Logo em seguida alguém derruba algo na região mais retirada da biblioteca, mas é alto o bastante para me assustar, acabo dando um pulo vergonhoso.

Outra coisa que vem acontecendo diariamente são os sustos. Cheguei a me assustar com minha própria sombra. Evito lugares escuros e vazios. Não sei se tenho medo de encontrar o soldado ou de sei lá o que meu cérebro acha que eu vou encontrar.

“O escuro mantém as mentes mais próximas.”

Essa era a mensagem que se encontrava em meu espelho na manhã seguinte a do ocorrido. Se eu a entendi? Não. Se tenho alguma ideia de como ela foi parar lá? Com certeza não. Se sei o que fazer a respeito? Não tenho nem ideia. A questão é que me mantenho o mais acompanhada possível agora e o mínimo ruído me assusta.

Pode novamente ser coisa da minha cabeça, mas ao olhar para trás de relance consigo ver um vulto preto. Volto a me endireitar na cadeira e fecho os olhos com força. Minha respiração desregula por alguns segundos.

   – Tá legal, o que está fazendo agora? – a voz de Austin parece em segundo plano.

Levo minhas mãos até o rosto para apoia-lo e sinto uma forte vontade de chorar. O que está havendo comigo?

Pare de pensar bobagens e talvez melhore.

Você controla a minha parte racional, o que está fazendo em vez de trabalhar?

Que tal parar de me jogar para escanteio e me deixar comandar o time.

Pare de usar metáforas de futebol comigo.

Então pare de me forçar a usá-las.

   – Pare, pare, pare... – sussurro enquanto balanço a cabeça até sentir mãos me forçando a virar para o lado, elas seguram meus braços de forma gentil, então suponho que não é alguém querendo me matar.

   – O que está acontecendo? – não o encaro, como ele quer que eu responda algo que nem mesmo eu sei? – Thais, fale comigo, você está assim desde... Bem, desde aquela mensagem.

   – Pare. – me desvencilho de suas mãos me encolhendo na cadeira – não me faça perguntas.

   – Certo, mas olhe pra mim. – abro os olhos vendo-o embaçado por alguns segundos, mas então focando seu semblante preocupado – Quero saber se está bem.

Diga a verdade.

Não posso contar isso, ele vai achar que sou louca.

Ele já acha isso, conte a verdade.

Não, ele não acha que sou louca.

Até você sabe que é louca, como acha que ele não sabe.

Eu não sou louca.

Repita essa mentira muitas vezes e talvez se convença.

Eu não sou louca.

Isso, continue mentindo para si mesma.

   – Para de fazer isso. Está me deixando preocupado. – Austin me chacoalha chamando minha atenção.

   – Eu estou bem, só cansada. – seus olhos me analisam e então suspira assentindo e voltando a se sentar de frente para mim.

Novamente tento me concentrar, agora com outro livro, mais uma vez sem sucesso. Quando estou pronta para ter outro chilique, alguém se senta pesadamente ao meu lado. Ela suspira cansada e triste, remexe nos papeis desanimadamente e encara Austin novamente adormecido sobre os cadernos.

   – Como conseguiu trazê-lo até aqui?

   – Disse que se ele não viesse pediria ao treinador para deixa-lo fora do próximo jogo, infelizmente me esqueci de colocar nos termos que ele deveria estudar. – analiso-a tentando entender seu desânimo, ela não é assim.

   – Você tentou.

Ela remexe nos papeis e volta a suspirar. Certo, ela está chateada. E algo está errado por aqui, parece estar faltando alguma coisa, só não sei o que. Encaro-a tempo suficiente para reparar a ausência.

   – Onde está o Max?

Lilian nunca estuda sozinha. Ela está sempre com Max, eles fazem tudo juntos, revisam cada matéria, estudam para cada prova, mas ele não está aqui o que talvez seja o motivo do descontentamento dela.

   – Ocupado. – a palavra sai de sua boca demonstrando mágoa o que me deixa ainda mais confusa.

   – Pensei que fossem revisar as matérias juntos. – assim que as palavras deixam minha boca me arrependo de tê-las dito, Lili respira mais profundamente e me encara triste.

   – Sim, nós íamos. – e volta sua atenção para os papeis e então sinto algo vibrar em meu bolso, eu fui informada que tinha um celular para mim na sala de eletrônicos, todos os novatos ganham um.

“Você não precisava ter tocado no assunto, ela já estava chateada.  - A.”

“Sabe o porque de ela estar assim?  - T.”

“Não, mas com certeza tem algo a ver com o Google.  - A.”

“O que o google tem a ver com isso?  - T.”

“Max.  - A.”

“Certo.  - T.”

   – Não espera, mas como assim, você misturou os dois venenos e deu certo? – uma voz familiar atrai nossa atenção para as janelas da biblioteca.

   – Sim, eu só pensei que eles eram bons sozinhos então talvez ficassem ainda melhor juntos. – uma garota responde, mas não me lembro de já ter conversado com ela.

   – Você é demais.

Antes mesmo deles passarem pelo corredor eu reconheço a voz do garoto e talvez ele está  cometendo a maior burrada da sua vida. Max passa acompanhado de uma garota loira vestida com o uniforme de Three Fields dos Sharks, eles sorriem um para o outro e vejo Lili encara-los tristemente enquanto os dois adentram a biblioteca e seguem por um dos corredores sem nem ao menos nos cumprimentar. 

Troco olhares rapidamente com Austin e volto minha atenção para Lili, ela está novamente concentrada nas folhas, mas mais desanimada do que antes. Não sei bem como agir perante situações assim, pois nunca tive que lidar com isso considerando que minhas amigas mortais não tiveram problemas assim para eu poder ajuda-las.

   – Lili, o que você acha de nós duas irmos ver aqueles pássaros estranhos que o Jason falou? – cutuco-a gentilmente.

   – Não acho uma boa ideia, aquela parte do campus é proibida para alunos e eu tenho que estudar mais um pouco antes da prova de amanha, desculpe. – mesmo me direcionando um sorriso simpático ele não chega até seu olhos.

   – Tudo bem. Eu preciso fazer um trabalho extra por causa daquele maldito, fique bem. – segurei seu ombro  com gentileza.

   – Vou ficar.

Atravesso a porta ainda encarando-a e Austin me segue se espreguiçando. Ele desfaz o nó da gravata e tira o blazer para ficar mais confortável, mas se encontrarmos o Sr. Pinguim vai ser problema.

   – Está afim de receber mais castigo?

   – Quem sabe. É gratificando irrita-lo. – ele sorri abertamente de forma travessa.

A semana toda ele vem levando advertências por não obedecer as novas regras e realmente tenho certeza que ele adora irritar o Pinguino. Outra coisa que se tornou comum entre todos é a disputa de apelidos. Ele tem tantos que eu até perdi a conta.

   – Você foi ver o Patrick? – ele pergunta, agora sério.

   – Não, é um pouco complicado agora. – sussurro me certificando de que ninguém está por perto.

Patrick se tornou um assunto meio que proibido a pedido de Martin. Ele levou o garoto de volta para o hospital e ficou extremamente perturbado quando eu disse que achava que ele corria perigo. Ele sabe de algo, isso ficou muito claro quando seu escritório foi invadido e ele pediu total sigilo.

Outra pessoa que está estranha a semana toda é a Milena, ela anda desatenta pelos corredores, falando sozinha, não presta atenção nas aulas e está com olheiras horríveis o que me faz questionar se ela tem dormido nos últimos dias.

   – Você mencionou “pássaros estranhos” lá atrás, ao que se referia? – encaro-o enquanto guardo alguns livros no armário.

   – Jason disse que ontem quando foi fazer a coleta para a cozinha, encontrou alguns pássaros um tanto... interessantes no campus leste. – ele franze a testa e parece pensar no assunto.

   – O campus leste é proibido para os alunos, é onde os funcionários fazem estoques e tratam de negócios relacionados a escola. – levanto uma sobrancelha para ele.

   – Se é proibida a entrada de alunos, como você sabe de tudo isso? – um sorriso debochado toma conta de seu rosto e acabo por sorrir também – Você devia parar de quebrar as regras.

   – Talvez um dia eu pare. – ele da de ombros ainda sorrindo – Mas se me lembro bem, você estava convidando a Lili para te acompanhar até lá “Sra. Não quebre as regras”.

   – Eu só queria anima-la. – desvio os olhos para a bagunça no interior do armário. Céus! Eu preciso arrumar isso.

   – Eu sei, mas ainda quer? – olho-o confusa fazendo-o revirar os olhos – Ver os pássaros, sei onde é o lugar, posso te levar se ainda quiser.

   – Temos que fazer o trabalho de Cimex e você sabe disso. – ele revira os olhos novamente e retira os livros que acabei de pegar dos meus braços, colocando-os novamente no armário e fechando o mesmo – Austin!

   – Temos a tarde toda para fazer essa coisa. – ele se encosta na porta e segura meus pulsos me impedindo de tira-lo da frente – Qual é?! Você está com a cara enfiada nos livros faz dois dias, vamos nos divertir um pouco e quando voltarmos prometo que faremos o trabalho em menos de duas horas.

   – Tudo bem. – um novo sorriso perambula por seu rosto – Agora pode me soltar por favor?

   – Claro.

   – Se formos pegos...

    – Deixo você atribuir toda a culpa a mim. – ele me interrompe revirando os olhos – satisfeita?

Assinto e voltamos a andar. Os corredores estão praticamente vazios e os poucos alunos que ali se encontram estão concentrados em livros grossos. As aulas do período da tarde foram canceladas para que os alunos pudessem se preparar para as provas e quase todos preferiram ficar no Campus, nos quartos ou na biblioteca.

Caminhamos normalmente até a porta que lava para o jardim para não chamarmos atenção e assim que adentramos o gramado corremos até uma clareira. Do lado oposto ao que estamos se encontra um muro alto com uma placa: “Campus Leste”. Seguimos apressadamente até a passagem, mas Austin me segura antes que eu possa atravessar.

   – Não podemos entrar assim. – franzo a testa confusa – Acha que eles não colocariam um alarme aqui? Se atravessarmos isso, Martin vai saber em um segundo.

   – Então como vamos entrar?

Ele anda calmamente até um arvore que está encostada no muro e afasta as trepadeiras grudadas na pedra. Atrás das plantas posso ver apenas o muro e encaro-o mais confusa ainda. Ele revira os olhos e atravessa a o muro. Isso mesmo, ele atravessou o muro. Pisco algumas vezes para saber se não imaginei a cena, mas isso é tirado da minha mente quando sua mão aparece novamente em meu campo de visão.

   – Você vem ou não? Não temos o dia todo. 

Caminho hesitante até o local e seguro sua mão. Quando me dou conta já estou parada em um campo aberto com algumas arvores em volta e pequenas construções que desconfio ser os armazéns da escola. Austin está parado ao meu lado me analisando com um sorriso, encoro o muro as minhas costas e depois seu rosto com uma clara expressão de confusão.

   – Alguns alunos, não pergunte quais, eu não sei quem são, provavelmente já saíram da escola, enfim, eles enfeitiçaram o muro para que pudéssemos passar sem o consentimento do Martin. – o garoto explica dando de ombros.

   – Eu não sabia que podíamos fazer...

   – Feitiços? – ele completa e assinto – alguns podem, mas não é muito comum e nenhum natural possui esse dom, por isso achamos que é algo vindo da Terra.

   – Certo. – reorganizo as informações em minha mente e observo o lugar – Para onde vamos?

   – Você disse que Jason viu os pássaros enquanto fazia a coleta então devem estar próximos ao armazém da cozinha.

Ele me puxa rapidamente até uma das construções, talvez a maior. Austin parece saber exatamente o caminho. Quantas vezes ele já esteve aqui?

   – Você vem muito aqui? – ele olha rapidamente para mim enquanto ainda me arrasta em direção ao armazém.

   – Faz um tempo que não venho. É um lugar bonito e calmo, bom para conversar. – ele parece refletir sobre o que disse – Sim, ele é timo para muitas coisas.

   – Você veio aqui da primeira vez só por querer quebrar as regras ou teve um motivo? – indago quando paramos atrás galpão.

Consigo observar suas bochechas atingirem uma coloração forte de vermelho antes dele abaixar a cabeça. Ele coloca as mãos no bolso parecendo constrangido.

   – Meio que os dois. – volta seus olhos para mim rapidamente ainda envergonhado e não consigo conter um sorriso, suas bochechas ficam engraçadas vermelhas.

Quando estou prestes a fazer um comentário sua expressão muda, ele parece confuso e seus olhos focam algo às minhas costas. Viro-me vagarosamente e encaro os pássaros mais lindos que já vi na vida e talvez os mais estranhos. Eles tem o tamanho de uma arara, mas o rabo e consideravelmente maior. Sua coloração se assemelha a de um canário deixando-os mais bonitos. Mas tudo isso não foi que realmente chamou minha atenção, acima do pescoço onde deveria se encontrar a cabeça de um pássaro existe algo muito parecido com um morcego o que torna as criaturas meio bizarras. O fato de não ver picos e sua cabeça ter orelhas me faz encara-los meio abismada.

   – Acho que o Jason estava certo, esses bichos são estranhos. – ouço a voz de Austin, mas ainda encaro os animais empoleirados nos galhos da enorme árvore atrás do armazém – como eles podem ser meio pássaro e meio morcego?

   – Não sei, mas fico feliz que esteja vendo a mesma coisa que eu. – nesse momento uma das coisas me encara, os olhos são escuros e parecem fundos, um arrepio percorre minha espinha quando um barulho agudo sai da garganta do bicho. – Vamos sair daqui.

Nem espero Austin concordar, apenas sigo pelo caminho que viemos rapidamente. Em poucos minutos estamos novamente na entrada do corredor dos fundos ofegantes pela corrida. Não sei exatamente porque, mas uma sensação estranha toma conta de mim ao me lembrar dos animais.

   – Nem uma palavra sobre aquilo O.K.? – ele assente sério  - Agora vamos pegar os materiais para fazer o trabalho antes que não de mais tempo.

Ele concorda e andamos até o prédio dormitório. Ao contrário dos corredores das salas, os do dormitório estão repletos de grupos estudando, alguns atrapalhando a passagem. Apanho o necessário para terminar o maldito trabalho e quando estou prestes a sair noto que meu computador está ligado sobre a cama. Tenho quase certeza que o tinha deixado desligado em cima da escrivaninha.

   – Mas que diabos...? – reparo em uma luz piscando no canto da tela – Documento do word?

Abro o documento e outro arrepio sobe pelas minhas costas. Encaro as letras em pânico. Como ele conseguiu entrar aqui?

Da mesma forma que entrou antes, gênio. 

Fique quieta, estou tentando pensar.

Claro, não vou interferir neste fenômeno raro.

Reviro os olhos e só então reparo na luz vermelha brilhante que ilumina a cabeceira da cama. O sistema do quarto. Vermelho? Todas as vezes que vi isso acender foi azul. Aperto o local e uma voz ecoa das paredes.

   – O sistema de segurança informa que os campos de proteção do perímetro foram violados por uma invasão através do teletrasporte característico da raça Shadow. Todos os campos foram reforçados e o perímetro revistado, nenhuma outra ameaça foi encontrada. Tenha uma boa tarde senhorita Windchest.

   – Quem invadiu e por que não está falando em espanhol?

   – Não é possível informar a identidade do invasor, esta informação foi retida pelo SEW. – franzo a testa e encaro o quadradinho luminoso com raiva – Quanto ao idioma, não é o espanhol porque esse sistema não pertence ao seu dormitório e sim ao SEW, dessa forma não está programado para utilizar seu idioma natural. Mais uma vez, boa tarde senhorita Windchest.

   – Que diabos é SEW? – pergunto confusa, mas não obtenho uma resposta, a voz se calara.

Volto meus olhos para a tela iluminada encarando as palavras ali deixadas. Maldito.

“Agradeço pelas instruções, elas serão úteis”.

Logo abaixo uma foto da droga do mapa que encontramos, pelo menos eu acho que é ele. Para tirar a dúvida pego o notebook, deixando os materiais sobre a cama, ando rapidamente pelos corredores descendo as escadas e tropeço em Austin no caminho.

   – Ei, calma ai ruiva. – faço uma careta com o apelido fazendo-o rir – O que faz correndo por ai? Ainda temos bastante tempo pra fazer o trabalho.

   – Eu sei, mas... Eh.. – ele me encara me incentivando a continuar, me inclino em sua direção falando baixo para que só ele escute – Você ainda tem aquele mapa?

Observo sua expressão apreensiva, preciso ter certeza de que é o mesmo mapa. Ele fica parado olhando o nada meio surpreso e aparenta não ter me escutado. Franzo a testa e passo a mão em frente ao seus olhos. 

   – Austin? – ele parece despertar e me encara ainda com a expressão surpresa – então, tem ou não?

   – É, eu... – ele mexe nos cabelos e seu rosto fica corado, mas o que? – Desculpe, qual era a pergunta?

   – Sério? – cruzo os braços e reviro os olhos quando ele assente, olho para os lados para ter certeza de que não tem ninguém próximo de nos e volt a sussurrar – Eu perguntei se ainda tem o mapa.

   – Sim, tenho. – ele ainda parece meio atordoado o que não faz sentido algum – Por que a pergunta?

   – Eu... posso vê-lo? – ele arqueia uma sobrancelha – vai ser rápido, só preciso ver uma coisa.

   – Tudo bem, ele está no meu quarto.

Austin sobe novamente as escadas e para na porta me encarando impaciente.

   – Vai vir ou não?

   – Eu não posso entrar ai. – sinto meu rosto corar um pouco e ele me encara confuso – Austin, eu sou uma garota, tem um aviso bem grande atrás de você que impede minha entrada ai.

   – Relaxa, as meninas entram aqui o tempo todo e se não se lembra, eu mesmo já quebrei a regra do seu dormitório. – ele aponta para o aviso em vermelho atrás de mim – Além disso, não é seguro ficarmos carregando aquilo por ai.

Desvio meus olhos para o chão hesitante. Afinal, por que estou tão insegura? É só um dormitório como o meu, não é?

Sim, mas cheio de garotos.

Que são seres humanos iguais a mim.

Falando de espécies, biologicamente sim, mas mentalmente você sabe que não.

O que quer dizer com isso?

Nada, vá em frente, só não reclame sobre os boatos.

Boatos?

Você e um garoto... No dormitório dele... Sozinhos... Hormônios...

Céus! Não tem nada a ver com isso, eu só quero saber se eu tenho que entrar em pânico ou não.

Você já está em pânico querida.

Ora...

   – Você está fazendo aquilo de novo. – me assusto ao sentir mãos em meus ombros – Quando vai me dizer o que está acontecendo?

Diga a ele.

Já disse que não posso fazer isso.

E eu já disse que não tem porque esconder, você é louca e ponto final, não vai ser novidade para ele.

Eu não sou louca.

Fala sério garota, até seus pais achavam isso, você mesma ouviu.

Aquela voz. Me assusto quando não escuto minha consciência, mas sim ela... Meus olhos ardem atrás das pálpebras, pensei que tinha me livrado disso.

Eu nunca vou embora, não se iluda.

Meu corpo estremece e tento segurar desesperadamente as lágrimas. Não pode ser, de novo não.

   – Thais... Em nome de Zeth, o que foi? – a voz dele parece preocupada e sinto seus braços me rodearem em um abraço.

Me recomponho, ele não pode saber disso, ninguém pode. É meu segredo e vai ficar comigo, afinal de contas já o mantive escondido por tantos anos. Forço o nó em minha garganta voltar para o lugar de onde veio (que eu não sei qual é) e limpo o rosto discretamente. Afasto Austin de forma gentil e encontro seus olhos castanhos preocupados.

   – Está tudo bem, eu só estou me preparando para quebrar um regra bem explicita. – sorrio da forma mais convincente que consigo, mas não parece ser o bastante, ele suspira e segura minha mão, me puxando em direção a porta do dormitório masculino.

   – Só queria que parace de mentir. – consigo ouvi-lo sussurrar, mas finjo não ter percebido e sigo-o passando pela porta.

Ao contrário do dormitório feminino, não tem muitas pessoas no corredor e os poucos meninos que encontramos me olham estranho ou maliciosamente, me fazendo corar e abaixar a cabeça. Francamente, uma garota não pode apenas estar indo estudar com um amigo?

Não quando se trata do quarto desse amigo.

Calada.

Suspiro aliviada ao ouvir a voz conhecida e não ela. Austin para em frente a uma porta azul e só tenho tempo de ver o número 350 antes de ser arrastada para dentro do cômodo. O quarto é mais bagunçado do que eu imaginava, tem gravatas, blazers, camisas e outras roupas jogadas pelo chão. As prateleiras repletas de itens de Three Filds e me surpreendo ao encontrar uma bola de futebol, só então me lembro que Austin já foi um humano normal.

Sou trazida de volta pelo dono do quarto que está bagunçando ainda mais o local ao jogar tudo para fora das gavetas da escrivaninha. Um calafrio tomou meu corpo acompanhado por medo ao constatar que talvez ele não estivesse encontrando. Se ele não estava encontrando alguém...

   – Achei! – ele levanta o papel em frente aos meus olhos e não reprimo o suspiro de alivio, ainda esta ali, então talvez não seja o mesmo. – Aqui.

Apanho o papel e ando apressadamente até a cama, abro o notebook e encaro a imagem, comparando o papel com a foto. Meu coração se aperta ao constatar que a assinatura e o selo são os mesmos, assim como a data. Fecho meus olhos e tento me acalmar. Ele sabe. Sabe e vai fazer alguma coisa, vai ser tudo culpa minha, eu e minha cabeça grande por não entregar a quem deveria.

   – Quem é... LCSHW? – ouço a voz de Austin e fecho o computador assustada – O que era aquilo Thais?

   – Nada.

   – Não me venha com essa. Quem era e por que tinha uma foto disso? – ele aponta para o papel ainda em minha mãos.

   – Não sei, mas não importa, temos que nos livrar disso. – levanto rapidamente e ando até a porta mas sou impedida por Austin.

   – Como assim “nos livrar”? Ficou maluca, isso é importante.

   – E é por isso que temos que nos livrar dele. – ele franze a testa e me encara furioso – Austin já devíamos tem devolvido isso aos donos, é perigoso ele ficar por ai.

   – Ele está muito seguro aqui, não se preocupe.

   – Desculpe, mas ficou mais do claro pra mim que ele não está seguro e eu vou me livrar dele com ou sem você.

Novamente sou impedida de sair e ele tenta tirar o mapa das minhas mãos. Provavelmente o papel se romperia em pouco tempo devido a força imposta no pequeno “cabo de guerra”, mas antes que chegasse a esse ponto fomos surpreendidos pelo objeto irrompendo em chamas. Me afasto assustada e Austin faz o mesmo, deixando o mapa cair no chão se tornando cinzas em poucos segundos. Encaro minhas mãos espantada a tempo de ver as palmas extremamente vermelhas e as veias saltadas.

   – Você está bem? – não respondo, apenas continuo observando enquanto minha pele volta a sua cor normal – Ei...

   – Eu... Desculpe, eu não queria fazer isso, mas não estou conseguindo controlar meus poderes, eles ficam fazendo isso o tempo todo e...

   – Relaxa, está tudo bem. Não era você que queria se livrar dele? – um sorriso tranquilizador aparece em seu rosto.

   – Sim, mas...

   – Nada de mas, vamos, temos um trabalho para fazer.

Ele limpa rapidamente as cinzas do chão e pega alguns materiais. Volto para meu dormitório depositando o computador sobre a escrivaninha e rezando para não encontra-lo em outro lugar com voltar. Corro até o campus com alguns livros nos braços e encontro Austin embaixo de uma árvore fazendo aviõezinhos de papel. Reviro os olhos e me sento ao seu lado.

Depois de uns dez minutos fazendo o trabalho já tenho vontade de estrangular Austin. O motivo? Simples, ele não está ajudando em nada e ainda fica achando defeitos no que eu fiz, como, por exemplo, a capa.

    – O nome devia ter ficado mais no meio. – ele indica onde, segundo ele, eu devia ter escrito.

    – Cala a baca você nem mesmo tentou fazer alguma coisa. – afasto sua mão com um tapa voltando a me concentrar na capa.

    – Claro, não preciso de pesquisa, eu sei praticamente tudo sobre combate e monstros. – encaro-o debochada ao notar o tom de superioridade em sua voz.

   – É mesmo? – cruzo os braços irritada.

   – Obviamente, meu sangue é de guerreiro. – me olha com uma cara de “você é burra ou o que?”.

   – Então, tudo bem, me explique uma coisa, por que não fez nada no trabalho hoje mais cedo se você sabe tudo sobre monstros? – ele da de ombros indiferente me deixando mais irritada.

   – Isso é simples, você não me pediu ajuda. – diz se deitando sobre o gramado com os braços atrás da cabeça.

   – PORQUE ERA UM TRABALHO EM DUPLA, PARA ISSO NÃO PREICSA PEDIR AJUDA. – dou-lhe um cotovelada na costela fazendo-o se sentar novamente.

   – Não sei da onde, me ensinaram a não me meter se não me pedirem. – me encara irritado esfregando o lugar atingido.

   – Então, eu não te pedi ajuda para dizer como eu deveria fazer a capa. – retruco.

   – Tudo bem irritadinha, eu não ajudo mais.

   – Ótimo.

   – Ótimo, vire-se sozinha.

   – Maravilha, já pode ir embora.

   – Você não manda em mim, vou ficar aqui.  

   – Beleza, você não faz diferença mesmo.

   – Tá.

   – Tá.

Ele vira para frente e eu também. Depois de um tempo, desvio os olhos do trabalho e ergo a cabeça, a tempo de avistar uma luz verde tomar o horizonte e ouvir o barulho que anuncia o teleporte para dentro da cidade. Alguns segundos Milena atravessa os portões com seus fones de ouvido e brincando distraidamente com uma espada. Ela caminha até o colégio lentamente e quando passa mais próxima a nós, consigo notar alguns cortes em seu rosto e lama no cabelo negro.

   – Pensei que alunos não tivessem permissão para sair daqui. – olho para Austin, esquecendo o fato de não estarmos falando um com o outro.

   – Pensei que tínhamos brigado. –  continua deitado com os olhos fechados.

   – Tudo bem. – Me volto para o trabalho novamente, mas a dúvida ainda em minha cabeça.

  – Tá, o que foi? – ele se senta após alguns segundos.

   – Alunos podem ou não sair de Wirdgewt?

   – Não podem.

   – Mas tenho quase certeza que a Milena atravessou o portal para dentro da cidade.– ele assente me deixando confusa.

   – Nenhum aluno pode sair, exceto ela. – explica calmamente voltando a se deitar no gramado.

   – Por quê? – minha expressão deve ser engraçada porque o faz rir.

   – A Milena é a única de nós que realiza missões.

   – Tá, mas por quê? – insisto, seria mais fácil se ele respondesse o que eu pergunto e não com frases inacabadas.

   – Porque quando os combatentes estão em uma investigação e não conseguem resolver sozinhos, chamam ela. – suspiro irritada, odeio quando ele diz as coisas esperando que eu entenda o resto.

   – Tudo bem gênio, mas eu quero saber, por que chamam ela? Quer dizer, deveriam chamar os rápidos em combate ou estrategistas e me lembro da Milena dizer que não é muito boa com estratégias.

   – Veja bem, a Milena tem um... um dom ou mais ou menos isso, esse dom representa muitas coisas, por isso a Milena é rápida em combate, é rastreadora, é inteligente, é forte e sensitiva, então ela é a melhor escolha. Entendeu o porquê chamam ela? – finalmente uma resposta concreta.

   – Hum... Legal ela tem muitos talentos, mas tem mais alguém com esse dom? – alguns eventos estranhos que presenciei com Milena vem a minha cabeça e começo a entender ao que ele se refere.

   – Sim, outra garota, Luiza, uma Lamp, é chamada quando a Milena está ocupada, eles preferem os Shadows por serem mais discretos. – ele coloca um braço sobre os olhos e desconfio que vá dormir em pouco tempo. Folgado!

   – Legal, entendi. Mas agora para de ser folgado porque temos que terminar o trabalho e nada de falar da minha capa, entendeu? – dirijo-lhe um olhar sério e ele sorri, mesmo não me encarando.

   – Eu ainda acho que o nom...

   – Entendeu? – repito deixando claro que espero um sim.

   – Sim. Você é muito autoritária.

   – Cala a boca. – volto para minha capa irritada.

   – Viu, está sendo autoritária.

   – Austin chega.

   – Tá, tudo bem eu paro. – levanta as mãos em sinal de rendição e um sorriso travesso toma seu rosto.

   – Ótimo.

   – Mas ainda...

   – SANTO ZETH... Qual seu problema? – minha voz some algumas oitavas e ele sorri mais ainda.

   – Qual seu problema?

   – Já chega, vou fazer isso sozinha vale mais a pena. – começo a recolher meus materiais.

   – Ótimo, obrigado por me dar nota.

   – Até parece, boa sorte fazendo seu trabalho, SOZINHO. – saio andando para o prédio deixando-o para trás de olhos arregalados.

   – Não... Ei... Espera... Thais. – Ele vem correndo atrás de mim – Espera, eu não vou mais...

Ele é interrompido por um grito agudo vindo aparentemente da praça central. Assim como nós dois, vários alunos encaram os portões confusos.

   – PEÇAM AJUDA! CHAMEM O DIRETOR!

A voz do vigia dos portões só serve para assustar mais os presentes, vejo alguns shadows teleportando, mas não tenho certeza se para falar com o diretor ou para ver o que ouve do lado de fora. Assim que Sr. Glaus, o porteiro, sai de seu posto correndo até o local do grito os alunos começam a segui-lo.

Eu e Austin trocamos olhares rápidos antes de corrermos atrás dos outros. O grito não veio exatamente da praça como eu tinha pensado, mas mais próximo dos portais lestes. Um grande círculo de alunos é formado pelos alunos que arquejam e abafam gritos ao encarar a garota.

Ela parece tão assustada quanto os outros. Lágrimas escorrem pelo seu rosto, suas roupas estão intactas o que deixa a cena mais estranha. Não consigo encontrar uma explicação plausível para a imagem a minha frente. Ando lentamente em sua direção, consigo escutar os cochichos das pessoas as minhas costas, elas me encaram confusas e Austin tenta me impedir, mas me desvencilho de seus braços. Não tenho medo algum ao me aproximar da garota, ao contrario da alguns idiotas que estão fazendo comentários nada gentis altos o bastante para ela escutar, eu a conheço e não vou tirar conclusões precipitadas, tenho certeza que ela tem explicações.

Quando me aproximo ela me encara com os olhos castanhos lotados de lágrimas. O cabelo grudado na testa devido ao liquido escorrendo de sua cabeça. Sua pela está quase da cor das roupas.

   – Ei... Você está bem? – ela parece se surpreender com a pergunta e começa a chorar mais.

   – Thais.. eu não... ele... – seus soluços se tornam altos e ela não consegue terminar a frase.

   – Calma, vai ficar tudo bem. – abraço-a sem me importar que esteja sujando minhas roupas.

Ela retribui hesitante e sinto o sangue escorrendo por seu cabelo ruivo. Suas roupas encharcadas com o liquido vermelho me molhando. Mas de onde diabos venho todo esse sangue? Não vi um só machucado nela.

   – Lira?

Ela estremece e se afasta de mim encarando o homem as minhas costas. Se eu fosse ela também faria o mesmo, ninguém merece esse idiota.

   – O que você fez? – que tipo de pai vê sua filha coberta de sangue e pergunta o que ela fez em vez de ficar preocupado? Mathew Argonel, aparentemente.

   – Pai... Eu não...

Outro grito corta o ar, dessa vez, um grito de dor e vindo de dentro do colégio. Vejo Blake se desesperar e correr para dentro do colégio seguido por Rachel. Antes que eu possa raciocinar um baque surdo chama minha atenção. Atrás de Lira uma coisa enorme e negra está deitada sobre a grama. Demoro alguns segundos para reparar que não é uma sombra e sim um animal.

Mesmo um pouco distante consigo ver o sangue a sua volta. Mais gritos abafados vem do circulo de alunos e escuto a voz furiosa de Valeri.

   – O que você fez? – ela está com os punhos serrados e James segura-a, aparentemente  para impedi-la de correr até Lira.

Lira soluça mais uma vez e encara o chão. Ao ver a expressão dos outros alunos tenho quase certeza que sou a única que não está entendendo bulhufas. Tento caminhar até o animal, mas dessa vez Austin me segura firme contra si, me impedindo de me mexer.

   – O que você fez?

Mais uma vez a pergunta surge entre os alunos, meio desesperada e furiosa. Me surpreendo ao ver de quem é a voz. Blake encara Lira furiosamente, ele está carregando Milena que parece estar desmaiada em seus braços. Um arrepio sobe pelas minhas costas quando outro som alto chega a meus ouvidos. Vejo vários pássaros subirem ao céu e desaparecerem de vista, mas reconheço seu canto em segundos, os pássaros que eu e Austin vimos. Ele também parece perceber, me encara sério e preocupado.

   – O que está acontecendo aqui? – Martin aparece em meio a multidão e encara a cena parecendo compreender a situação em segundos (que inveja) – Senhorita Argonel, você está machucada?

   – Não pergunte se ela está machucada, pergunte o que ela fez com Rox! – Quem?

   – Senhorita Gareth, se acalme. – percebo que Martin tenta se manter calmo, mas não está se saindo muito bem.

   – Não vou me acalmar até saber o que ela fez! – Valeri aponta para Lira.

   – Eu não fiz nada. – Lira fala pela primeira vez, sua voz sai fraca e embargada.

   – Então porque está coberta de sangue?! – Valeri tenta novamente se soltar do aperto de James, mas esta a impede – Sua...

   – Chega! – Rachel grita desesperada, ela encara Martin e sua voz sai embargada – Ela está sem pulso.

Demoro alguns segundos para entender que ela se refere a Milena. Suas palavras entrando pelos meus ouvidos, ouço o grito furioso de Valeri e registro vagamente ela partindo para cima de Lira. Blake aperta Milena, abraçando-a e só consigo pensar em uma coisa, ela não pode ter morrido.


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Notas finais do capítulo

Pessoas...
Era isso que eu tinha para vocês hoje. Espero que tenho gostado e se não, fiquem a vontade para me falar assim como elogios também são aceitos kkkk
Então gente, se cuidem e até o próximo.
Beijo.



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