Azul Noturno - Interativa escrita por Casca de Sorvete


Capítulo 9
Nossa doce Clara!


Notas iniciais do capítulo

Espero que me perdoem pelo atraso, realmente foi difícil postar, isso porque este deveria ser o capítulo mais rápido que postaria (e o maior também) já que a segunda parte do capítulo anterior.
Eu atrasei muito, mas não vou abandonar essa fic, pode ter certeza.
Boa Leitura!



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Acordar foi um pouco difícil, principalmente depois da lembrança aconchegante do que um dia foi um lar. Clara se perguntou porque sentia tanta dor ao se lembrar de algo tão amoroso como aquele momento. Ainda com os olhos fechado sentindo o cheiro forte de maresia e lenha gasta, escutou as ondas não tão distantes.

O vento soprava seus cabelos loiro-escuro junto com a areia, ela podia sentir os pequenos grãos lhe tocando a pele. Ela queria acordar e ver os olhos de sua mãe de novo, o sorriso de seu pai e escutar mais uma história violenta. Porém, uma sensação estranha lhe percorreu, não podia deixar os outro naquele mundo estranho. Clara podia não os conhecer, mas por uma razão desconhecida amava a todos, mesmo Lis, que a chamara de fofa. Por algum motivo mais desconhecido ainda, esse pensamento a fez querer se levantar e abraçar a todos, só que uma lembrança a impediu...

A sala liberava a sensação de prisão, era impressionante como uma simples área de espera pudesse ser tão sufocante. Sentada no sofá preto, de braços cruzados e olhos fixos no relógio de parede a sua frente, Clara ansiava por um fim naquilo. Odiava a diretora e imaginava o que ela estaria dizendo ao seu pai.

Pelo visto, só coisas ruins, a cara que o homem fez ao sair da diretoria foi assustadora. Ele a lançou um olhar duro e andou até a saída, a menor entendeu que era para segui-lo. Ao chegarem no carro Alan quebrou o silencio.

– Você tem noção do quão grave é a situação, Clara? - A menina fez menção de responder, mas o pai ergueu a mão indicando silencio - não pode sair por ai atacando as pessoas.

– Ele me provocou, já me provocava a muito tempo e eu não tive a intenção de derrubá-lo da escada, só quis dá uma voadora nele. Além do mais ele ficou bem e sem ferimentos graves, além do osso exposto - ela falava muito esperançosamente, torcendo para que o pai a entendesse.

– Não me importo como ele ficou, pode parecer um pouco egoísta, mas eu me preocupo em como você está? - Desse ele apertando o volante.

– Papai, me desculpa, eu estou bem...

– Está bem? - disse ela com um voz severa - Tem certeza de que está bem? Clara, o que somos não é o que dizemos ser e sim o que fazemos, o que você fez foi a demonstração de falta de características que eu sei que você tem... Coragem, bondade, gentileza e força... Conseguir dá uma voadora não é sinônimo de força, mas não se rebaixar a bater num mais fraco é.

– Eu sinto muito - dizia Clara com lagrimas nos olhos se esforçando para não chorar, mesmo com 5 anos odiava o gosto das lágrimas - eu juro que sinto!

– Eu acredito em você - falou Alan - e quero que você também acredite quando crescer, se você trair seus valores sempre que um impulso momentâneo lhe vier à cabeça isso não vai ser possível, porque com o tempo você vai acaber deixando ser quem é ou de que poderia ser para se torna uma versão traída de si mesma - ele ergueu o queixo da menina que agora chorava muito, fitou os olhos violetas com evidente dor por ser tão rígido, mas com determinação e amor - Clara, lembre-se sempre de que você e do em quê você acredita...

– Eu vou me lembrar, sinto muito - a menina abraçou o pai com força e foi correspondida a altura recebendo vários beijinhos no topo da cabeça.

– Uma voadora? - falou Alan depois de um tempo - imagina se você fizesse alguma aula de luta?

O comentário fez Clara rir...

Mas abriu os olhos com uma lágrima escorrendo pelo rosto, não desmaiara, apenas se lembrara do que o seu pai lhe dissera. Nunca me esquecer de quem eu sou e no que eu acredito, pensou ela, isso é tudo o que não me lembro. Ao abrir os olhos viu que estava deitada de frente para fogueira, se levantou devagar e sentiu um mão segurar seu ombro, a fazendo deitar de novo.

– Clara, você precisa descansar - o vulto que estava sobre a menina tapava a luz do céu, a tornando apenas um vulto, mas Clara sabia que era Elizabeth pela voz.

– Me desculpa? - Perguntou a mais nova.

– Pelo o quê? - Perguntou Lis.

– Por atacar você - disse Clara em um murmurio fitando a areia ao seu lado, constrangida pelo vulto de Elizabeth. E a mais velha apenas deu uma leve risada.

– Não precisa me pedir desculpa, você tinha acabado de chagar em um lugar desconhecido sem lembrança alguma, o que você fez foi apenas uma defesa - disse ela acariciando de leve os cabelos da menina.

– Mas eu não deveria...

– Já que errou, aprenda com o erro do passado, mas não fique se martirizando por algo que já passou. Você escolhe quem quer ser, alguém que olha pra trás ou alguém que olha pro agora - Ao dizer isso Lis conseguiu a atenção da menina.

– Você teve alguma lembrança, Elizabeth?

– Não - respondeu.

– Isso não te incomoda? - Perguntou Clara.

– Estou curiosa, confesso - disse gesticulando como sempre - mas eu só sou assim por que me lembro de nada, se eu tivesse as minhas lembranças será que eu seria assim?

– Eu gosto de você assim - disse Clara sorrindo - louca.

– As melhoras pessoas são loucas - Elizabeth retribuiu o sorriso - ah! E só para informar, você tem uma lua no pescoço.

– Que? - Clara se levantou de um vez e meteu a testa no queixo de Elizabeth - Ai! - Falara as duas em uníssono esfregando as partes machucadas, se entreolharam e então riram - desculpa - murmuraram em uníssono novamente, e novamente riram.

– Vem, tem um lugar que temos que ir - disse Lis, puxando a menina - os outros também têm que ir.

***

– Onde quer nos levar Lis? - Perguntou Chelsea, Ela e Nick estavam coletando troncos caídos de arvores de ouro, Sugar limpava alguns peixes no mar e Josh fazia o desenho em uma folha do que parecia ser um chalé ou uma cabana. Haviam decidido na noite anterior que a caverna era fria e escura demais, então planejaram construir uma cabana.

Clara parecia ofegante e faminta, o fez Josh dá à ela umas frutas que sobrara da noite anterior.

– Então, por que tanto mistério? - Perguntou ele para Elizabeth enquanto seguiam floresta a dentro.

Estavam indo na direção oposta ao lugar onde haviam encontrado as frutinhas e a medida que se afastavam um vento gélido parecia soprar mais forte. As arvores douradas iam sendo substituídas por arvores de cristais, o pequenas folhas brancas. Elizabeth insistia em manter silencio e ficava com um sorriso travesso no rosto. Até que Nick desvendou o mistério ao sentir um floco de neve cair na ponta do nariz.

– Neve? - exclamou ele.

– Sim! Neve! - Clara olhava para cima com a mão estendida tentando pegar alguns floquinhos.

– Aqui também neva, claro! - disse Sugar com um sorriso sincero, é, definitivamente aquilo não era entediante, ou seja, anormal.

– Está logo ali, venham! - Chamou Elizabeth com um brilho travesso do olhar.

Ao andarem mais um pouco, quase correndo para acompanhar Elizabeth, viram um lago congelado, vasto e extenso, no final havia uma muralha de pedra, a mesma em que a caverna se encontrava a metros dali.

– Então o que acharam? - Perguntou Lis virando de costas para o grupo e erguendo os braços, como se quisesse voar com os flocos de neve, seu gesto fora interrompido por um bola de neve branca que se espatifou em sua cabeça. Lis virou-se lentamente para o grupo - quem foi? - Perguntou ela.

Josh e Clara que estavam lado a lado, Clara com as mãos escondidas atrás do corpo, se entreolharam e apontaram um para a fuça do outro.

– Foi ela - disse Josh ao mesmo tempo que Clara dizia - foi ele.

– O jeito vai ser descontar nos dois - Elizabeth começou a coletar muita neve do chão e juntar em uma bola gigantesca, a ergueu no ar e então PLAF! Outra bola de neve a atingira em cheio fazendo com que se desequilibrasse e caísse com tudo no chão, o gigantesca bola de neve que erguera caiu em sua cabeça sujando todo o cabelo de neve branca. Todos riram, especialmente Nick que jogara a bola, então uma bola de neve o atingiu forte no ombro jogada por Chelsea, que ria da situação. O garoto começara a coletar neve para atingir a ruiva quanto quatro bola o atingiram o fazendo cair. Assim começou uma longa e divertida guerra de bolinhas de neve.

Era bolas brancas voando em todas as direções, incrivelmente o grupo não sentia frio, mas não os impediam de ficarem com neve por todo o corpo. O cabelo rosa de Sugar estava completamente branco, o óculos de Nick ficara em algum lugar no gelo. Sem perceberem estavam caminhado para o lago e deslisando como crianças, Clara, que era mesmo uma criança, conseguira construir uma barricada de neve e se escondia atrás dela, só se levantava para jogar uma saraiva de bolas nos amigos, era a que mais atingia e Elizabeth a que mais era atingida.

Josh estava revesando na mira e desviava com muita facilidade e sempre dava um jeitinho de derrubar um amigo. Mesmo assim, Nick e Clara estavam ganhando, Chelsea e Sugar pareciam ter formado um equipe e fizeram outra barrigada, do lado oposto do lago de onde revesavam para atirar. Sobraram expostos apenas Elizabeth, Josh e Nick, e incrivelmente Lis era a unica a receber boladas.

Clara havia preparado uma bola tão grande quanto a de Elizabeth, se levantou e a atirou com tudo atingindo a barricada das meninas no outro lado, porém escorregara e caíra com tudo ficando escondida pela pequena muralha que construíra. Nick e Lis, que não conseguiram enxergar a menina através da neve, mas viram a queda gritaram em uníssono - Não!

Os outros param de arremessar bolinhas e olharam para a barrica de Clara, o menor apenas ergueu o polegar por cima do gelo indicando estar bem, Nick e Lis suspiram aliviado e riram.

– Um falso déjà vu - falou o moreno para que apenas Lis escutasse, a mesma sorriu e assentiu positivamente. Até ser acertada por outra bola de neve.

Clara que se vertia vendo a cena dos amigos brincando, de repente teve uma sensação estranha como se um fantasma tocasse seu coração. A visão dos amigos se divertido congelou e começou ficar embaçada, até que os personagens mudaram.

Ali estava ela e os pais, brincando e rindo no Central Park. Era um dia frio, mas não nevava, porém estava cheio de neve aglomerada no chão, outras famílias também se divertiam. No dia anterior havia acontecido a maior nevasca de todos os tempos. A Clara da imagem só se concentrava em se divertir, mas a Clara que observava a cena como um fantasma percebeu que de longe alguém os observa.

O sujeito estava todo encapuzado e carregando vários cachecóis, o que era comum no frio, apenas seus olhos estavam expostos. E fora isso que chamara a atenção do espectro Clara. Os olhos do sujeito eram de uma cor amarelo-dourado, como se focem o sol. A menina sentiu um frio imenso percorrer pelo corpo, um ódio ácido invadir seu coração puro, era como se seu sangue congelasse e um imenso medo misturado com sede de justiça se formasse nas veias.

O homem estranho observava cada movimento da família com evidente desprezo no olhar, então aqueles dourados olhos focalizou-se em Clara, a menininha que ria e se divertia, que estava feliz.

De repente tudo começou a girar e a ficar embaçado, até desacelerar e mudar de cena. Agora o espectro de Clara estava na frente do cinema. A primeira coisa que notou foi que o mesmo homem, agora sem os cachecóis, estava escorado na bilheteria. Sentiu uma imensa vontade de chuta-lo. Porem uma voz a fez olhar para o outro lado.

– Está gostando querida? - Perguntou Sara, sua mãe.

– Sim mamãe, esse é o melhor natal de toda a minha vida! - Clara estava animada e saltitando com um grande copo de chocolate quente na mão.

– Tome cuidado pimpolha - disse Alan pagando um pacote de doces de uma carrocinha ali perto - ou vai escorregar no gelo. Tome aqui.

A menina recebeu os doce de bom grado e os devorou de uma vez. Estavam começando a caminhar quando o sujeito estranho finalmente se pronunciou.

– Os West não cumprimentam mais os velhos amigos?

A mãe de Clara deu um salto, se virou e tentou esconder a filha atrás do corpo, essa nem percebeu pois estava concentrada na embalagem do docinho que parecia ser bem complicada de abrir.

– O que você quer? - Perguntou Alan, o que fez Clara, o espectro, deduzir que aquele homem deveria ter feito algo de muito ruim, pois seu pai estava com muita fúria.

– Só vim dizer olá - ele sorriu para o casal e então para a menina que brigava com a embalagem - Oi pequena - A Clara de cinco anos desviou o olhar do doce para o homem.

– Oi - respondeu inocentemente. O homem sorriu, murmurou um até logo, deu as costas e foi embora.

– Fiz algo de errado, papai? - Perguntou a pequenina enquanto caminhavam até o carro, o pai pensativo, mais do que o normal.

– Não, meu anjinho, não - respondeu ainda avoado. Chegaram à picape velha e ele entrou, mas a porta do passageiro não estava abrindo então teve de sair e abrir a porta para a mulher de forma que apenas Clara estava no carro brincando com o celular do pai.

Então a menina percebeu que estavam de morando e observou que ambos cochichavam quando de repente a cabeça de seu pai batera no vidro o quebrando, a menina e a mãe deram um grito. Então Clara viu que atrás do pai dela estava o homem do cinema. Ela imediatamente ligou para a polícia e deu o endereço. Sara tentava segurar o braço do homem inutilmente enquanto o cara socava o outro inconsciente.

Tanto Clara quanto Sara choravam muito. Algo impedia Clara de fazer qualquer coisa, ela simplesmente ficou ali, dentro do carro, imobilizada com lagrimas grossas descendo pelo rosto enquanto via seu pai morrer. Quando o rosto de Alan já estava irreconhecível o assassino parecia ter se contentado. Se virou para Sara, tentou bater na mulher, mas a mesma desviou e tentou correr, deu um olhar significativo para clara, "fuja", foi o que a menina fez, mas cometeu o erro de olhar para trás. O homem havia sacado uma arma e conseguira puxar Sara pelos cabelos, que só conseguia pensar em dar tempo a filha. O assassino colocou a faca no pescoço da mulher e...

Clara abafou o grito com a mão, as lagrimas embaçando a visão da menina. O homem, sorrindo, tirou os olhos do corpo inerte de Sara e os voltou para Clara. A menina juntou todas as suas forças e começou a correr, mas tropeçou antes de virar a esquina, o que fez com que o bandido chegasse perto dela. A menina fechou os olhos com medo, mas então escutou as sirenes. A polícia chegara. Ela olhou para o assassino a alguns metros de distancia e no final da rua a primeira viatura apareceu.

– Eu vou voltar - sibilou ele para a menina que estava em prantos - eu juro. - Depois disso fugiu.

Clara fora atingida por uma bola de neve de Josh, que parecia contente de ter sido o primeiro a acertar a menina, mas logo seu contentamento acabou, pois viu uma lágrima escorrer do olho de Clara.


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Notas finais do capítulo

Não foi muito animador, mas necessário para entender a jovem Clara.
Que agradecer a Lady Eivor pela mensagem que me mandou preocupada com a fic, novamente obrigada Asgardiana.
A pergunta desse capítulo é: quem você mais odeia?
Até a próxima!



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