(Narração Cobra)

Era uma quinta-feira estranhamente fria. Parecia que o mundo externo imitava o mundo interno, o meu mundo interno. O céu estava nublado, ventava muito, e a temperatura não chegava aos 16 graus. Não era o típico clima goiano, mas pra mim pouco importava. Parecia que esse tempo nublado e triste se completava ao meu mundo.

A cerca de um mês a minha vida havia mudado de maneira drástica. Meu pai havia morrido de um câncer, minha mãe se afundava em uma depressão, meus irmãos... - revirei os olhos - sinceramente pouco me importava com eles, assim como eles comigo, o sítio da minha família havia sido tomado, e eu? Passei de caçula para ovelha negra, de Ricardo para Cobra, de um fracassado para alguém que não abaixaria a cabeça para ninguém.

Engraçado, toda a minha vida tentei dar o meu melhor; estudei, fui atrás dos meus sonhos. E quando meu pai adoeceu abandonei tudo para ajudar em casa, abandonei os treinos de muay thai, um curso que fazia, abandonei tudo para ajudar com as despesas de casa, aliás, toda a minha família se sacrificou, e que ganhamos? Uma carta de despejo. Então eu te pergunto: de que adiantou tanto esforço de todos, se acabamos como um bando de fracassados, com todos olhando para nós achando graça? Eu te respondo, de nada adiantou. Meus irmãos foram todos trabalhar em lojas, viver de salário mínimo e vale transporte, mal sabem eles que que morreram como um bosta, assim como o pai.

Esse não é o futuro que eu sempre sonhei pra mim, essa não é a vida que eu nasci para ter. Eu sou um campeão, eu só uma cobra, eu mordo, eu mato, eu não tenho medo. E toda essa tristeza apenas me impulsionou para trás para dar melhor o bote.