Um Breve Suspiro de Felicidade escrita por Migaylangelo


Capítulo 17
De Olho No Futuro


Notas iniciais do capítulo

E........ eu sumi de novo. Eu sei. Desculpa. Não vou mentir, eu desmotivei tudo de novo porque quando eu voltei quase não tinha comentário. Eu voltei de qualquer jeito, mas se tem gente lendo ainda, não custa não deixar acontecer de novo :3 COMENTEM, PORRA
CAPÍTULO IMPORTANTE ESSE
Estamos entrando na reta final da fanfic. Ainda vai acontecer bastante coisa, mas daqui pra frente cada capítulo é um a menos para o fim. Me aguardem muahahaha



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Quando Feliks chegou em casa, a primeira coisa que fez foi afastar o dedo do interruptor antes que acendesse a luz. Mesmo na escuridão, tinha notado a silhueta de alguém deitado em sua cama e não quis acordá-lo. Se trocou no maior silêncio que conseguiu e se juntou a ele debaixo dos cobertores, abraçando suas costas como de costume.

Pensou que ele não viria naquela noite, mas por precaução deixou um bilhete avisando que tinha saído para beber com uma amiga, que estava se mudando. Deu a Toris no bilhete a liberdade de dormir ali se quisesse, embora fosse mais a cara dele ir embora. Entretanto, ficou feliz por ele ter ficado, porque dormir abraçado era sempre melhor. Por outro lado, não tinham se encontrado desde a última briga, e não sabia bem o que diriam. Agora Feliks sabia toda a verdade sobre sua vida – sabia de seu histórico com Ivan, o irmão de sua amiga e de sua obra-prima. Que mundo pequeno. Queria não sentir tanto ciúme de algo que Toris jurava ter ficado no passado, mas sentia.

Quando os dois dormiam juntos assim, era tão bom... Porque Toris era só seu e não parecia estressado com nada. Se fosse assim sempre, as coisas seriam bem mais fáceis, Feliks pensou enquanto analisava seus traços dorminhocos no escuro. Ele era mais feliz dormindo que acordado, contanto que não estivesse no meio de um pesadelo. Estava tranquilo demais para isso, então Feliks finalizou a noite com um beijo em sua testa e fechou os olhos para dormir.

Mas ele teve uma ideia.

...

Desde que encontrou a casa rosa vazia, Toris enrolou um pouco para voltar. Às vezes se esquecia que Feliks tinha uma vida e que pessoas da sua idade não costumavam ficar em casa todas as noites esperando seus amantes. Não queria atrapalhá-lo. Mas ao menos foi bom ter a casa só para ele, quando parava para pensar, não tinha estado verdadeiramente sozinho havia anos. Sempre havia alguém no cômodo ao lado ou o observando. Foi um momento bom para olhar para o teto e refletir.

O cobertor tinha o cheiro de Feliks. Tudo lá tinha o cheiro dele. Era como se ele estivesse lá, apenas... silencioso. Toris se espreguiçou com um sorriso e se aconchegou. Antes de dormir, procurou na mente as primeiras lembranças com ele, como tinham se conhecido, até como tinham se separado. Essa lembrança não parecia mais tão horrível quanto era antes. O tempo que passaram separados foi crucial para crescerem, Toris se tornou muito mais forte como pessoa, amou várias vezes; Feliks aprendeu a pintar. Eram outras pessoas quando se reencontraram, no meio do inverno, naquela noite iluminada que Toris adorava lembrar. E tinham se apaixonado de novo do mesmo jeito.

O casarão andava melhor com Katyusha de volta e Natália longe. Ivan estava mais calmo e passava todo o tempo que podia com a irmã. Eduard estava mais mal-humorado que de costume, porque as promessas de Natália tinham se mostrado apenas parte de sua manipulação, mas fora isso, todos estavam mais felizes. Toris até flagrou Raivis cantarolando enquanto tirava pó de alguns móveis na sala. A primavera se aproximava como uma brisa colorida cheia de promessas.

Alguns dias depois, quando Toris voltou à casa cor-de-rosa, pensou que dormiria mais uma noite sozinho, porque a porta estava aberta, mas todas as luzes apagadas. Tentou procurar Feliks, porém escuridão não permitia que enxergasse absolutamente nada a frente. Por isso, levou um susto quando sentiu duas mãos em seu rosto, cobrindo seus olhos do que já não enxergavam.

— Bu! — ouviu um sussurro alegre e seus ouvidos, junto com corpo grudado em suas costas. — Tenho uma surpresa pra você, não vale espiar.

— O que? — se acalmou ao reconhecer a voz.

— Uma surpresa, dã.

Pôde perceber uma variação de luminosidade, indicando que o Feliks havia acendido as luzes, mas com os olhos cobertos, não fazia muita diferença. Feliks deu um passo à frente, fazendo Tóris andar também, e o guiou até o que ele supôs ser o centro do cômodo único.

— Eu andei pensando… — começou, sem soltá-lo. — Você dorme aqui mesmo quando eu não estou… Já estamos juntos faz um tempo… Então eu pensei… — Antes de completar a frase, até que tirou as duas mãos do seu gosto, permitindo ver o quarto todo outra vez.

— Uau. — Toris perdeu a fala.

O quarto parecia menor, mas só porque eu espaço antes vazio agora ocupado por uma bela cama de casal com lençóis bordados. Para alguém que passou a vida em colchões papel, aquilo parecia a coisa mais confortável do mundo.

— Surpresa...

— Você conseguiu isso pra gente…? — Toris se virou pra ele, sorrindo de deslumbre.

— Positivo. — confirmou, cheio de orgulho de si. — Foi uma semana boa, vendi uns quadros, então pensei em te dar um presente.

— Não precisava… — apesar disso, se aproximou da cama pra sentir a textura dos lençóis.

Feliks sorriu haver a fascinação nos olhos do amado em frente ao presente. Porém, o sorriso sumiu quando lembrou-se do propósito daquilo, que não sabia como dizer.

— Sabe, Liet… — começou, sem olhar pra ele. — Eu sei que você não vai embora daquela casa maldita, mas… Eu estava pensando… — coçou nuca, procurando as palavras. — Você já, tipo, vem aqui toda hora e dorme… E eu detesto pensar que você vive num lugar daqueles, Então, se você quiser… Você podia vir morar aqui.

Toris tomou um susto com a proposta, se afastando da cama do seu amante.

— O que você está falando?

Feliks deu de ombros

— Você continua trabalhando lá, mas mora aqui… Não vai mudar muita coisa, só que… Eu vou te ver todo dia.

O coração de Toris amoleceu. Feliks estava corado e sem jeito para pedir, mas era uma graça como se importava. Se morassem juntos, poderia cuidar dele, deixá-lo menos tempo nas mãos de Ivan, mas sem tirá-lo de lá. Parecia perfeito, se fosse possível.

— Olha, Feliks. — Toris abraçou, apertando o rosto dele contra seu peito. Ficara realmente tocado com um gesto, mas igualmente triste. — Isso é loucura. Ninguém pode saber sobre nós, muito menos vão deixar eu morar aqui...

— Porque não? — choramingou — Não vai te atrapalhar em nada…

— Eu sei, mas não vão deixar… — desfeito abraço, segurou seu rosto pra dar um beijo na testa. — Obrigado mesmo assim.

Ficou surpreso por Feliks não insistir mais. Segurou suas duas mãos, tentando espantar aquele olhar tristonho. Sem sucesso, o puxou pelo pulso até a cama nova, para mudar de assunto.

— O que é uma pena, porque essa cama realmente boa… — comentou antes de se deitar, jogando os braços no travesseiro — Talvez a gente devesse estreá-la...

Toris nunca tentava ser sensual, a menos que quisesse fugir do assunto ou deixar Feliks feliz. Não era surpresa que não fosse bom nisso, tanto que de nada adiantou, ele continuou triste e encarando chão com olhinhos perdidos. Tinha tentado fazer uma surpresa e sido rejeitado completamente.

— Ah, não faça essa cara… — Toris também ficou triste por vê-lo dessa forma, porque não era verdade.

— Às vezes parece que você não dá mínima… — pensou alto, mordendo lábio.

Toris se levantou imediatamente, ficando sentado na cama

— Claro que não, como pode pensar nisso? — discordou, sentindo-se péssimo por deixa-lo assim. — Você sabe que eu te amo. Se eu pudesse, eu arranjar uma casa enorme pra nós dois vivermos. Eu compraria dois anéis de ouro e me ajoelharia no meio de um restaurante chique pra dizer que eu quero passar o resto da minha vida com você, mas eu não posso.

Feliks virou rosto bruscamente pra ele, não parecendo mais triste, apenas… Incrédulo.

— Tá querendo me pedir em casamento?

— Se eu pudesse, já teria pedido…

— Bem… — Feliks olhou para o lado, voltando a sorrir — Talvez você possa…

— O que quer dizer? Você sabe que eu...

— Fecha os olhos. — ordenou, parecendo alegre de repente. — Eu tenho outra surpresa pra você.

Muito satisfeito, Toris obedeceu, concentrando-se no som dos passos de Feliks pelo piso, até sentir um peso na cama, indicando que ele tinha sentado lá também outra vez.

— Não vale expiar! — dito isso, seguro sua mão esquerda com cuidado, passando o polegar carinhosamente por seus dedos. — Toris Laurinatis, você quer se casar comigo?

Sem abrir os olhos, Toris deixa escapar uma risadinha.

— O que você está falando? É claro que eu quero...

Querer queria, só não podia. Mesmo assim, Feliks sorriu e Toris sentiu algo estranhamente macio circular por seu anelar, fazendo a volta toda onde iria uma aliança.

— Então pode abrir…

Em seu dedo, Feliks tinha pintado com tinta dourada um anel de casamento. Não era o que esperava, não era bem seu sonho, mas soube que não era brincadeira. Aquele foi o gesto mais feliz que recebera em sua vida.

Precisou de um instante analisando a tinta em seu dedo antes de levantar o rosto para os olhos verdes que aguardavam ansiosamente sua reação. Porém as palavras não tinham voltado, nada conseguia fazer senão sorrir até suas bochechas doerem. Jogou-se no braços dele, envolvendo-o com seu amor e felicidade, que mesmo sendo pequena e oprimida, era verdadeira. Ao soltá-lo, não sem um beijo curto para finalizar, viu Feliks lhe estender o pincel.

— Agora é sua vez.

— Quer que eu pinte seu dedo? — pediu confirmação, analisando desajeitadamente o pincel sujo de dourado.

 — Claro que não, bobão.— levantou-se na cama em um salto, quase parecendo ofendido. — Você não acha que eu ia passar minha vida sem receber um pedido de casamento, né? Ajoelha.

Toris finalmente entendeu a vontade de Feliks e obedeceu. Ajoelhou-se em sua frente e pegou sua mão, na clássica cena romântica da qual ele não abriria mão.

— Agora pede, pede...

Feliks parecia segurar as lágrimas de maneira até cômica, com o rosto virado esperando o pedido que ele mesmo já tinha feito. Com uma risada boba em frente a toda aquela cena, Toris pegou o pincel e pediu.

— Feliks, você quer...

E antes que pudesse terminar a frase, Feliks pulou encima dele e o jogou no chão.

— SIM!

Os dois caíram e caíram também em gostosa risada, que acabou com um beijo alegre. Ainda no chão, Toris pintou o dedo de Feliks com o pincel dourado.

— Eu só queria que fosse verdade... — suspirou com um sorriso distante. Os dois tinham anéis de tinta e brincavam de casinha e era... tão bom.

— Como assim? É claro que é de verdade. A gente vai se casar.

— Feliks, não é nem possível. — se levantou, ajudando o amante com a mão. —  Além do mais, eu já te disse que não posso morar aqui.

Ele fez biquinho e cruzou os braços. Mais um esforço pra nada.

— Então por que aceitou meu pedido?! — pareceu ofendido.

O rosto de Toris permanecia sorrindo calmo:

— Porque eu te amo... E eu queria que fosse verdade. — inclinou-se para dar-lhe um beijo na testa. — Desculpa. Se ao menos houvesse um jeito.

O rosto de Feliks se iluminou. Lá tinha chegado uma nova ideia. Havia um jeito.

— Eu quero que você fuja comigo! — anunciou subitamente, segurando suas mãos com um sorriso de orelha a orelha e brilho nos olhos. — Por favor... Eu tenho um amigo na Itália, ele pode conseguir passaportes pra gente, Ivan nunca vai te achar... A gente pode construir um futuro novo, só pra nós...

— Feliks, já falamos sobre isso, eu...

— Eu sei que você não quer abandonar esse cara, mas poxa, pensa na gente. — apertou mais forte suas mãos. — Pensa na nossa vida. Você acha que eu gosto de viver sozinho nessa casa pensando que você tá na casa ao lado, mas que não podemos ter uma vida juntos... Você não quer uma vida nova?

Ele estava atuando. Estava pegando um desejo real e transformando num discurso dramático. Toris sabia disso, mas funcionava. Uma vida nova era seu sonho desde sempre. Uma casinha distante, só com a pessoa que amava... Ivan estava com Katyusha, o casarão estava tranquilo. Se fizesse na hora certa, ele não iria atrás. Poderiam ser de fato feliz. Mas não era tão simples abandonar sua casa assim. Não estava pronto.

— Toris, pensa... Uma casinha bonitinha na Itália, ou na América, onde você quiser! Só nós dois... Podemos até pegar uns cachorrinhos ou então... — o abraçou ternamente, caminhando com os dedos em seu peito com um sorriso brincalhão. — Uns baixinhos de rua pra gente...

— Baixinhos?

— Estou pensando um pouco mais pra frente... — levantou os olhos, sabendo que estava ganhando. — Mas o que me diz? Diz que sim... Diz que foge comigo.

Natalia longe, Katyusha perto, Ivan bem. O casarão em decadência. Era só questão de tempo até que os rebeldes também fugissem. Feliks do seu lado, bem longe, com cachorros e baixinhos e alianças de tinta. Tudo perfeito. Queria dizer não. Queria ser sensato. Mas algo no seu coração apertava. Não era hora de ser racional. O olhar de expectativa de Feliks era só mais um dos mil olhares dele que Toris amava e sonhava toda noite em ter sempre. Não dava pra resistir.

— Eu fujo.

E com um grito de comemoração e um beijo, era mesmo oficial.

...

Feliks fazia amor com um sorriso no rosto. Era um sorriso diferente do sorriso de superioridade que ostentava de dia, era um sorriso que parecia o sol, mesmo no quarto escuro. E naquela noite, estava tão brilhante que iluminaria a cidade inteira. Tóris viu aquele sorriso e sentiu seu coração transbordar. Sorriu de volta e, pela primeira vez, sentiu vontade de continuar sorrindo. Ao final, quando o suor da noite contrastava com o frio do quarto, virou a cabeça e viu Feliks se jogar ao lado, agora que na cama tinha espaço para tal, ofegante como uma criança que tinha brincado na rua o dia inteiro, porque tinha a mesma alegria inocente de uma. Quis abraçá-lo, mas ao mesmo tempo não queria se mexer. Queria congelar aquele instante no espaço e ficar ali até perder o sentido de sua existência. Mas ao conseguir levantar o braço para ajeitar os cabelos embaraçados, viu a tinta dourada em sua pele, intacta como uma tatuagem, e precisou observá-la em detalhes por todos os segundos que duraram até Feliks perceber.

— Você tá proibido de tirar isso. — brincou ao se aproximar, depois de estalar um beijo barulhento em sua bochecha, permitindo se aconchegar com a cabeça em seu peito.

— Tudo bem, não tiro. — retribuiu com um beijo longo na testa, sua forma de dizer que Feliks era seu naquele momento, que viviam num mundo particular e intocável que nem Ivan, nem o mundo, jamais poderiam tirar.

— Ótimo. Porque você vai pra América com isso e vai casar comigo, não quero nem saber.

Tóris riu do jeito autoritário com que ele dizia planos aparentemente impossíveis, mas em que estavam dispostos a apostar todas as fichas. Não tinham nada a perder. Duas vidas ruins que só tinham uma a outra, poderiam começar de novo como uma só.

Dai em diante, todas as noites na casinha cor-de-rosa começavam com uma atualização do andamento do plano. Feliks conversou com seu amigo da Itália e seus passaportes falsos já estavam a caminho em muita segurança, tinham passagem e lugar para ficar em Milão antes de partirem para um navio que os levaria à América. Lá, começariam do zero, aprenderiam a língua, a trabalhar, até Feliks estava disposto a arranjar um “emprego de verdade” até sua carreira artística vingar no capitalismo. Iriam reconstruir uma vida, que poderia muito bem ser simples, contanto que fosse tranquila. O sonho de uma vidinha doméstica em um canto que fosse só deles. Daria tudo certo, daria sim, Tóris sentia isso no fundo.

Além dos planejamentos, as semanas que se seguiram teve um tanto gosto de lua de mel. Não só pelo amor onipresente e sorridente nos lençóis novos, como em todos os momentos ali. Todo dia era como uma cena feliz de um filme romântico água com açúcar. Foi mais de uma vez que Feliks colocou uma música ocidental para tocar e levou seu Liet para dançar no meio da sala, mesmo quando estavam sujos de tinta por alguma brincadeira malsucedida enquanto ele tentava pintar. Foram olhar as estrelas quase todas as noites, para Tóris se questionar se elas eram as mesmas em outro continente. Quem sabe algum dia pudesse estudá-las, descobrir seus segredos e responder todas as perguntas que já se fez.

Olhava para aqueles astros a milhares de anos-luz de distância e via a escuridão atraente de seu futuro. Toda a vida que aguentou por tanto tempo naquele casarão, todo sofrimento, todas as noites frias no porão, toda vez que ouviu que era imprestável por qualquer motivo, todas as vezes que queria ouvir um sim e ouviu um não, todas as dores, tudo estaria para trás em poucas semanas. Chegaria ainda a ultima vez que veria Ivan, e Eduard e Raivis, iria embora sem se despedir e quem sabe nem sentisse saudade. Queria ficar para cuidar de Ivan, estar lá para guiá-lo e até ser seu saco de pancadas se fosse necessário, mas não poderia viver para um homem desses. Para o apoio que precisava, tinha sua irmã mais velha, a quem Tóris tinha grande apreço, então ficaria bem. Eduard era esperto também manteria Raivis longe de situações perigosas, não havia com o que se preocupar. É o que dizia a si mesmo todas as noites, e logo começou a acreditar.

Um dia nessa época Tóris descobriu que Ivan partiria de viagem no fim do mês, por uma semana, deixando Katyusha no comando da casa, o que não era exatamente um comando forte.

— É a melhor hora para irmos. — defendeu logo que terminou de explicar a situação para Feliks, naquela mesma hora. — Em uma semana já teríamos chegado na Itália tranquilamente com uma enorme vantagem. Nunca vão nos alcançar.

Ao contrário do que esperava, Feliks murchou os ombros e fez uma careta.

— No final do mês, Tóris? — gemeu, coçando a bochecha.

— Sim, dia 22. Algum problema? — franziu as sobrancelhas, com um mau pressentimento quanto ao rumo da conversa.

— Se lembra de quando a gente se reencontrou? Aqui, na frente de casa? — Tóris assentiu. — Então, naquela noite... eu tenho certeza que eu mencionei...

— O que? — estava perdendo a paciência. Via a timidez de Feliks voltar com seu olhar no chão, o que não poderia ser bom sinal.

— Vai ter uma exposição aqui na cidade. Para pequenos artistas. Todos os meus amigos vão participar e, aliás, eu fui convidado. É dia 24.

Tóris arregalou os olhos, perdido por um momento.

— Convidado? — piscava, tentando assimilar. — Você não me contou...

— Um dos senhores que está organizando gostou de um quadro meu... É minha chance de expor meu trabalho, eu não sei se vou ter isso de novo.

Fez-se um breve silencio. A confusão de Tóris tornou-se pequena indignação.

— Mas do que adianta se nem estará mais aqui para usufruir dessa possível fama?

— Não é pra usufruir, é só pra... — gemeu, procurando o final da frase. Sabia que suas razões eram apenas emocionais, mas não conseguia descartá-las. — Eu nunca tive chance nem parecida, eu quero mostrar minha arte e ver o que vão achar... Depois sabe-se lá quando eu vou voltar a pintar, quem dirá expor em algum lugar...

— Vai mesmo colocar todo nosso plano de lado por isso?

— Vai mesmo me fazer escolher entre você minha arte?

Trocaram um olhar muito emocional por um instante, dois lados que queriam apenas calmaria, mas um tinha sonhos e outro apenas medo. Toris não tinha talentos artísticos, não tinha aspiração, só queria uma vida tranquila o mais rápido possível. E como Feliks poderia tirar isso dele por uma exposição? Mas como ele poderia tirar um sonho de alguém que ainda tinha motivações e cor na alma? Não havia certo ou errado.

Feliks sabia disso, mas se sentia egoísta. Porém, jamais desistiria. Inconscientemente, tirou sua melhor carta de convencimento, e começou a soluçar. Cobriu o rosto com as duas mãos e se sentou na cama, fingindo tentar parar.

— Não é assim que eu quero que seja... — balbuciou. — Você sempre está longe e não se importa comigo, como é que eu sei que isso não vai mudar na Itália ou na América? Não vai...

Tóris sentia seu coração quebrar em mil pedaços toda vez que Feliks começava a chorar. Incapaz de resistir, ajoelhou-se no chão ao lado da cama e segurou suas mãos para afastá-las do rosto vermelho.

— Não vai... Acho que dá pra irmos dia 25, contanto que a gente se apresse... — cedeu, sentindo que se arrependeria.

Feliks enxugou as lágrimas e trouxe um esboço de sorriso. Por dentro está saltitando em vitória.

— Você vai na minha exposição? — pediu, muito esperançoso.

— Ir? Eu? — Tóris se confundiu.

— Esse Ivan vai estar viajando, você consegue dar uma escapadinha por uma ou duas horas... A gente te veste diferente e tudo mais, mas eu quero que você vá...

— Feliks, eu... — tentou negar, mas foi interrompido.

— Por favor, isso é tão importante pra mim... Eu preciso saber que você vai estar presente na minha vida se for para eu abandonar tudo por você...

Era golpe baixo. Tóris sabia. Mas como dizer não sem parecer um monstro? Suspirou e aceitou, tentando se consolar com o sorriso alegre que Feliks abriu antes de se levantar e beijá-lo. Tentou ver aquele momento como o último de sua vida antiga. Apenas teria que sobreviver a uma exposição de arte e quando visse, tudo seria diferente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deu um trabalho... vou tentar parar de sumir toda hora
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