Even In Death escrita por Odette Swan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Itália, 1879

Loucura. Se esta história pudesse ser definida em uma palavra, seria esta. Por que logo esta palavra? Podem existir várias definições para loucura, e se amar incondicionalmente for uma delas, então certamente, Cloe Scopelli poderia ser considerada uma das maiores loucas da cidade em que vivia, até mesmo do país. Mas sua loucura não era algo que pessoas consideradas "normais", em comparação a moça, gostariam de aderir para suas vidas. O amor a enlouqueceu de uma forma que quase ninguém conseguiria entender.

Deitada em seu quarto, ainda vestindo as mesmas roupas do dia anterior, ainda sem comer nada e com o a expressão vazia, ela encarava o teto enquanto segurava com força em suas mãos um pequeno retrato em preto e branco daquele que ela dizia ser o amor de sua vida. Quando se ouve essas últimas palavras, as maioria das pessoas pensa que poderia se tratar de uma história de amor como outra qualquer, um conto de fadas com um final feliz, mas nem tudo na vida pode ser um mar de rosas.

Há vários dias ela estava naquele estado, todos na casa fizeram de quase tudo para tirá-la dali, mas em vão. Ela só tinha uma coisa na cabeça e apenas isso a faria sair dali: Seu amor. Mas como ele poderia vir buscá-la? Como poderia cumprir sua promessa e tirá-la daquele lugar? Não havia uma solução, não havia um meio de realizar seu desejo insano, porque ele não voltaria mais. Mas como era possível que ele não estivesse mais em seu mundo? Não, não era verdade. Não podia ser verdade.

Quando a notícia chegara aos ouvidos de Cloe, todos a sua volta ficaram espantados com sua reação. Ela negava e negava. Gritava, chorava e esperneava conforme sua família tentava acalmá-la. Durante três dias ela esperou por algum sinal de que ele voltaria para ela, não houve uma noite sequer em que ela não fosse até a sacada de seu quarto e esperasse que ele aparecesse de surpresa, como fazia sempre, quando todos estavam dormindo. Mas não havia nada. Estava frio naquela época e a neblina atrapalhava um pouco sua visão, mas ela saberia se ele viesse. Infelizmente, apesar de toda sua expectativa e esperança, ele não veio, tudo o que conseguia ver lá fora eram as sombras de sua imaginação. Ela chegou a até mesmo acreditar que fora abandonada, até que a terrível realidade finalmente foi aceita, ou quase.


Dê-me uma razão
Para acreditar que você se foi
Eu vejo sua sombra
Então, sei que eles estão todos errados

Ela estava presa em seu pequeno mundo, em sua mente ela repassava os momentos que passara com ele até aquele dia fatídico, cada "Eu te amo" ainda estava preso nela. Seu devaneio foi interrompido quando alguém bateu em sua porta.

– Entre. - Disse com seu tom de voz monótono e melancólico, que antes era alegre e gentil.

A mulher que batia era sua mãe, que entrou no quarto segurando uma bandeja com chá e um prato de biscoitos, feitos por suas próprias mãos. Normalmente ela não faria este tipo de coisa, tinha seus empregados para isso, mas a tristeza da filha a incomodava. Ela colocou a bandeja sobre uma mesa e se voltou para a garota.

– Cloe, eu lhe trouxe um lanche.

– Não estou com fome.

– Você precisa se alimentar. - Disse enquanto se sentava ao lado de Cloe.

– Não preciso.

A mulher respirou fundo, não poderia deixar a filha naquele estado deplorável.

– Faz dias que não come nada e nem sai do quarto, vai morrer se continuar assim. - Às vezes, a mãe de Cloe não media suas palavras, mas em parte ela tinha razão.

– Então que eu morra. - Respondeu sabendo exatamente o que estava dizendo, era evidente toda a tristeza e a raiva que ela estava sentindo.

– Nunca mais diga uma coisa dessas. - Repreendeu a mãe elevando um pouco sua voz.

Irritada, a jovem virou de costas para a mãe e escondeu o rosto em um travesseiro.

– Por que não sai um pouco, come alguma coisa? - Perguntou a mulher voltando a um tom mais suave enquanto acariciava os cabelos da filha.

– Não quero.

– Não pode ficar assim para sempre, ainda mais por causa de um homem. Sei que está sofrendo, mas você precisa seguir em frente...

E então, conforme sua mãe falava, era como as palavras não fossem nada além de zumbidos, até que Cloe parasse de ouví-la completamente e voltasse seus pensamentos para a única coisa que importava para ela naquele momento.

De repente, um sentimento bateu nela de forma brusca e repentina, a saudade. Ah sim, ela sentia falta de seu amor. E como não sentiria? Mesmo que ainda não fizesse uma semana desde que ele partira, era como se fosse uma eternidade, até mesmo porque ela nem sequer fora ao enterro e nem visitara seu túmulo. Então, uma ideia veio em sua mente, não apenas uma ideia mas sim um desejo, um enorme desejo. Ela queria vê-lo, matar as saudades que tanto sentia.

Em um movimento brusco e repentino ela se levantou, assustando a mãe, correu até seu guarda roupa em busca de alguma coisa para cobrir os ombros, já que usava um vestido de mangas curtas e lá fora batia um vento muito gelado, que ela podia sentir devido a janela aberta. Enquanto ajeitava o cabelo rapidamente e limpava o que restara de uma maquiagem mal feita apenas para que não vissem suas olheiras de noites mal dormidas e a palidez de sua pele, sua mãe se levantou lentamente de onde estava e a olhou surpresa.

– Aonde vai?

– Vou vê-lo.

– Você não pode sair a essa hora da noite e além do mais...

– Não importa o que você pensa. - Cortou a mulher antes que terminasse.

Cloe sabia que sua mãe faria inúmeros protestos para impedí-la de vê-lo. A jovem acreditava que sua mãe ficara aliviada com a notícia, o que talvez fosse verdade. Era certo dizer que os pais de Cloe nunca aprovaram completamente seu relacionamento, e depois de muita insistência, seu pai concordara em aceitar o pedido de casamento do rapaz, mesmo que não fosse totalmente de acordo jamais conseguiria ver o sofrimento da filha por amor.

– Pare de fingir que se importa com meu sofrimento ou até mesmo que está triste, pois eu sei que você o odiava e deve estar dando Graças a Deus por finalmente terem o tirado de mim, mas você não vai me impedir de vê-lo.

– Cloe, você não vai sair dessa casa. - Decretou. Ela não havia criado sua filha para falar com ela daquela maneira.
A moça nem ao menos respondeu, apenas saiu do quarto e correu em direção às escadas.

– Cloe! - Chamou a mulher a seguindo pela casa.

Cloe desceu as escadas apressadamente e saiu pela porta da cozinha o mais rápido possível em direção ao estábulo. Ela pediu ao menino que estava cuidando do lugar para que celasse seu cavalo e assim ele o fez. A moça montou e saiu apressadamente pelo campo. Mesmo com os protestos de sua mãe, seu pai a ensinara a montar, e muito bem. A essa altura a mãe de Cloe já deveria estar se queixando com o sr. Scopelli sobre o comportamento da menina e ele deveria apenas estar dizendo para deixá-la em paz.

Já estava muito escuro, mas a luz da lua guiava Cloe, mesmo com o vento gelado batendo em seu rosto e com o risco que corria sozinha em uma estrada a noite, ela não deixaria seu amor esperando por ela nem mais um minuto.


A luz da lua sob a macia terra marrom
Me guia ao lugar onde você repousa
Eles tiraram você de mim
Mas agora vou levar você pra casa

Depois de alguns minutos cavalgando, ela finalmente chegou a uma colina onde havia uma enorme árvore e embaixo dela o túmulo de seu amado. Ali era onde os entes queridos dele eram enterrados, próximos a sua campa estava sua mãe e seu irmão mais novo, ambos morreram durante o parto, anos antes.

Ela se ajoelhou diante do túmulo, tentara a qualquer custo evitar o dia em que fosse vê-lo, era difícil aceitar a dor em seu coração, e agora ela estava ali diante de uma cena que ela só esperava ver apenas daqui a muitos anos. Ele morrera baleado, mas isso já não importava mais para Cloe, ela tentava não pensar nisso. Uma lágrima involuntária escorreu e ela rapidamente a enxugou, sempre tentara ser forte o quanto podia.

– Oi meu amor. - Falou baixo, como se apenas o espírito dele ali pudesse ouvi-la e responde-la.

Cloe carregava consigo uma flor que pegara no meio do caminho, ela a colocou sobre o túmulo e demorou-se a tirar a mão de sobre a terra que o cobria, era como se ainda pudesse tocá-lo e senti-lo uma última vez. Ela fechou os olhos e então se permitiu derramar mais uma vez todas aquelas lágrimas, as mesmas lágrimas que ela derramava todas as noites. Depois de alguns minutos ela se levantou e foi embora, mas não sem antes murmurar um "Eu te amo". Não era uma despedida, pois ela voltaria.

Depois de voltar para casa e receber um sermão da mãe e uma pequena repreensão do pai, ela conseguiu dormir tranquila pela primeira vez desde que seu amor morrera.


Eu vou estar pra sempre aqui com você, meu amor
As coisas gentis que você me disse
Mesmo na morte nosso amor continua

Pelos dias que se seguiram Cloe continuou visitando o túmulo de seu amado, parecia loucura, mas ela conversava com ele, era como se ainda estivesse ali apenas para ela, apenas para vê-la. Aos poucos ela voltou a ter uma rotina, fazia as refeições com seus pais e seus irmãos, mas pouco falava, saia do quarto com um pouco mais de frequência e às vezes ficava na varanda sozinha enquanto lia algum de seus livros.

– Você precisa parar com isso Cloe. - Dizia sua mãe.

– Por quê?

– Você só sai de casa para ir naquele túmulo, até parece que se esqueceu que ainda está viva. - Aquilo deu uma pontada no coração de Cloe. - Precisa sair mais, falar com as pessoas. Você nunca foi assim, sempre ia às festas dos vizinhos do condado, conversava mais conosco e era mais alegre... Não gosto de ver você assim e sabe disso.

– Não posso fazer nada se a senhora não aceita que eu ainda o ame.

– Isso é loucura Cloe.

– Não importa.

Até mesmo o pai de Cloe já estava começando a se queixar da insistência da filha em ainda continuar indo ao túmulo do moço, ele mesmo já sugerira que ela parasse com aquilo e alertou-a de que um outro jovem da região estava interessado em se casar com ela, mas a moça recusou. Irritado com as atitudes de Cloe, seu pai decidiu trancá-la em seu quarto por alguns dias como forma de castigo, as atitudes dela estavam passando dos limites, quando o castigo terminou, o homem tentou convencê-la a parar mas ela não iria aceitar.


Alguns dizem que estou louca pelo meu amor, meu amor
Mas nenhum vínculo pode me tirar do seu lado, meu amor
Eles não sabem que você não consegue me deixar
Eles não ouvem você cantar para mim

Durante uma noite, fria e nebulosa, claro sinal de que iria chover, Cloe ignorou todos os protestos de sua família e saiu escondida ao encontro ao seu amado. Ela se sentou diante do túmulo como fazia todas as noites.

Tantas lembranças vinham em sua mente quando estava ali, como às vezes em que ele tocava violão para ela e de vez em quando até cantava, os poemas que ele recitava pra ela, os inúmeros passeios a cavalo e os piqueniques que faziam embaixo das grandes árvores do campo. Como também se lembrava das noites em que fizeram amor na cabana que pertencia ao rapaz, era um lugar pequeno porém aconchegante, era um pouco afastado da fazenda de seu pai, onde ele ia para ficar sozinho e fazer coisas que gostava, como ler seus livros em paz, e mais tarde se tornara o ninho de amor do casal. Os pais de Cloe jamais suspeitaram daquela parte secreta da vida da moça. Ela se lembrava com muita nitidez das juras de amor que trocaram naquela cabana.

– Ninguém entende, ninguém nunca entendeu nosso amor. Por que é tão difícil para as pessoas aceitarem? Parece que ninguém quer me ver feliz de nenhuma maneira. - Ela dizia ao espírito de seu amado. - Queria que você estivesse aqui.

Ela abaixou a cabeça por alguns minutos e deixou algumas lágrimas caírem. Ela levantou a cabeça quando sentiu algumas gotas de chuva começarem a cair, mas ela não sairia dali.

– Eu te amo tanto, meu amor.

Enquanto fazia mais uma vez sua declaração, a chuva apertou e o ventou soprou mais forte, e era como se seu amado estivesse sussurrando sua resposta com ele nos ouvidos de Cloe.

Cloe saiu de seu transe quando ouviu o som de galope se aproximando, ela sabia que era seu pai.

– Cloe! - Chamou ele se aproximando. - Cloe, não deveria ter saído com esse tempo. - Ela se levantou rapidamente.

– Eu precisava vir papai.

– Sua mãe ficou muito preocupada. Você pode ficar doente pegando essa chuva. - Disse enquanto descia de seu cavalo e se aproximava da filha.

– Não está zangado? - Perguntou tentando entender o porquê de ainda não ter levado um sermão.

– Na verdade, estou. - Respondeu sério, mas logo sua expressão se suavizou. - Mas acho que colocá-la de castigo, proibi-la de sair de casa ou qualquer outra coisa não adiantaria, você ainda o ama e sempre vai amar.

Cloe olhou para o pai com ternura, ele a entendia, mesmo que às vezes se irritasse, ele era muito próximo da filha.

– E sei que não posso impedi-la de vê-lo. Mas eu quero que você seja feliz Cloe, não posso deixar que você fique assim para sempre. Você entende? - Ela abaixou o olhar.

– Sim papai.

– Só quero lhe pedir uma coisa. Quero que tente ser feliz. Não suportaria ver minha filha a vida toda sozinha e sofrendo por um homem que se foi. Você promete para mim que vai tentar?

– Prometo. - Ele deu um leve sorriso.

– Agora venha, não quero que pegue uma gripe.

Cloe e seu pai montaram em seus cavalos, e antes que fossem embora, ela se virou para trás sem que o homem visse e murmurou apenas para que o vento ouvisse.

– Eu te amo.

E partiram.


Eu vou estar pra sempre aqui com você, meu amor
As coisas gentis que você me disse
Mesmo na morte nosso amor continua
E eu não posso te amar mais do que eu já te amo

Cloe tentaria cumprir a promessa que fizera a seu pai, mas mesmo que um dia encontrasse alguém com quem pudesse se casar, nem todos os presentes, nem todos os beijos, nem todas as declarações, nem todas as noites de amor poderiam fazê-la esquecer-se de seu primeiro e único verdadeiro amor. O primeiro e único homem a quem entregara seu coração e o único a quem amaria pela eternidade. E ela visitaria seu túmulo sempre e sussurraria um "Eu te amo" para o vento todas as noites, para que ele levasse a mensagem a seu amado e ele soubesse, em qualquer lugar que estivesse, que ela não o esquecera. E esperaria pelo dia em que poderia vê-lo de novo, que poderia estar em seus braços e sentir seus lábios novamente, sim, ela esperaria pelo dia em que o destino a levaria para perto de seu amado e eles ficariam juntos por toda a eternidade, pois suas almas estavam unidas mesmo após a morte.


As pessoas morrem, mas o verdadeiro amor é para sempre.


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