Três doses de tequila, por favor escrita por Sweet Serial Killer


Capítulo 6
Confissões


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada Enkantada e Pistrix pelos comentários, vocês fizeram meu dia! :)



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Não me incomodo com o comentário maldoso de Jake Messer, ainda que eu devesse. Deveria ficar irritada com sua praga jogada sobre Dylan e eu, mas está tudo bem. De verdade, porque no fim das contas, o que importa é que Jake está com inveja porque Dylan arrumou alguém como eu e ele não.

Não que meus cabelos castanho-claros, minha cintura tamanho-quase-M e meu nariz empinado sejam os melhores da cidade — na verdade, eles passam longe. E, sendo bem honesta, eu passo longe de ser o troféu de que um cara teria orgulho de apresentar aos seus amigos — eu sou apenas comum. Entretanto, ainda que minha beleza não seja a de uma Angel ou simplesmente a de uma garota de comercial, posso ser a pessoa mais legal do mundo. E quando eu digo “legal”, quero dizer que sou aquela que sempre vai ser leal. Aquela que tenta ao máximo não magoar as pessoas, que está lá quando elas precisam (e até mesmo quando não precisam) e sempre disposta a ajudá-las custe o que custar.

Talvez Jake tenha percebido isso e esteja irritado com Dylan por ele ter arrumado alguém melhor do que todas as garotas que, somadas, ele já teve na vida. Agora entende por que o Dylan deveria se considerar sortudo por me ter? Até os amigos dele estão com inveja...

Depois do jogo (não sei se faz alguma diferença, mas os Saints ganharam), eu e Dylan vamos para casa. Messer conhece uma garota de olhos claros e blusa decotada, e fica para conversar com ela (não estamos falando de nenhuma das duas meninas com quem ele trocou olhares mais cedo, trata-se de uma nova criatura). Quinze minutos depois e a língua dele já está atravessada na boca dela.

— April — diz Dylan, cutucando o meu ombro. — O que você está olhando?

— Ela é larga demais — comento sobre o corpo da garota. — Só o cabelo que é bonitinho.

Ele olha para mim como se eu fosse superficial, mas em seguida diz que eu sou uma figura. Ele ri e então diz para deixarmos Jake e a garota em paz, então vamos embora sem dar tchau, o que acaba sendo melhor, uma vez que anula completamente a possibilidade de seu amigo inconveniente nos convidar para um drink.

No meu apartamento, Dylan tira a jaqueta e a joga sobre o sofá. Penso em pedir para ele pendurá-la, mas pra quê perturbar? Não posso ficar me importando com esses detalhes bobos, não quando o amor da minha vida está em Nova York comigo. Sendo assim, ignoro a jaqueta fora de seu ambiente natural e me sento ao lado dele no sofá (e dela também), e é só uma questão de tempo até Dylan me agarrar.

Com as mãos nos meus cabelos, ele me beija de um jeito que me faz esquecer de tudo à minha volta. Eu, por minha vez, com as mãos na nuca dele, o beijo de modo a confessar meus sentimentos por ele. Sabe, beijos podem ser muito mais do que apenas beijos — eles podem dizer verdades, fazer confissões. E nesse momento, a partir da maneira carinhosa como eu o beijo, digo a ele que eu o amo. E que ele é tudo pra mim e a minha vida sem ele seria um saco e, quem sabe, até mesmo um caos.

Porque a verdade é que seria tudo tão complicado sem ele… se ele não estivesse na minha vida, por exemplo, eu já teria mandado o Sr. Hills ir para o inferno, para início de conversa. Porém, como o Dylan me faz tão bem, consigo respirar fundo e manter a calma. Ele me torna uma pessoa melhor, mais equilibrada.

— Eu te amo tanto… — digo para ele, me afastando de sua boca. Fascinado por mim, ele mantém os olhos fixos à minha boca e apenas me beija de volta. Kate diz que não dar uma resposta é um sinal suspeito, mas eu acho que o beijo já é a resposta em si. O jeito dele de dizer que me ama é me beijando. O meu jeito de dizer que o amo é dizendo a ele. O que prova que nós não precisamos, necessariamente, de benditas palavras bem ditas para saber se alguém realmente nos ama.

Finalmente, posso fechar as cortinas. E dessa vez não há Messer ou jogo de futebol que atrapalhe.

***

Pela manhã, eu o observo abrir os olhos. Com seus cabelos escuros mais claros do que o normal por causa de um raio de sol que atravessa a janela e se dirige diretamente a eles, noto também que seus olhos verdes parecem mais brilhantes de perto.

— Bom-dia — diz ele, sorrindo. Eu sorrio de volta e me cubro com o lençol. — Você não sabe o quanto eu senti falta disso…

O segundo “eu te amo” em menos de 24 horas, anoto numa nota mental.

— Mais um motivo, então... — retruco. — Para você vir morar aqui.

Ele hesita. Espreguiçando-se, boceja e responde depois de alguns segundo de silêncio:

— Já conversamos sobre isso. Não depende de mim, mas do meu trabalho.

— Você é o melhor economista que eu conheço, vai achar outro emprego aqui rapidinho.

— Você diz isso por que é seu papel… — ele brinca. Chegando para frente a fim de ficar mais próxima dele, beijo a ponta de seu nariz. Ele ri do gesto enquanto eu acaricio seu maxilar com o polegar, fazendo movimentos circulares. Ele me dá um beijinho nos lábios e muda de assunto: — Eles me querem em Boston, apesar de eu já ter pedido transferência umas cinco mil vezes... — diz, parecendo tão decepcionado quanto eu. Mudando o tom de voz, pergunta, com as sobrancelhas erguidas: — Ei, April, você não tinha que estar no trabalho?

Quando ele diz a última palavra, meu coração para de bater por um instante. Posso sentir a paralisia cardíaca, mas é só uma fração de segundo até ele voltar a bater — talvez seja no mesmo instante em que meus neurônios começam a funcionar e processar o fato de que preciso sair da cama e chegar ao trabalho em quinze minutos. Quinze minutos ou olho da rua, eu aposto. Sr. Hills foi bem claro quanto a essa parte, e acredito que qualquer pequeno deslize seja motivo para uma demissão.

— Droga, droga! — eu me levanto da cama, tentando achar meu sutiã na bagunça do quarto. — Ele vai me matar, é hoje que perco meu emprego!

— Eu já disse que o que eu mais gosto em você são as suas pernas? — pergunta ele, sorrindo maliciosamente. Encontro o sutiã e o visto, enquanto procuro alguma roupa dentro do guarda-roupa.

Nem tenho tempo de responder. Estou tão atrasada e atormentada pelo medo de ser despedida que nem consigo pensar. Pra ser honesta, mal consigo respirar, ainda mais sabendo que não encontro sapato nenhum que combine com o vestido.

— Fica muito ruim se eu for de tênis, sei lá?

— Com certeza.

— Rasteirinha?

— O que seria uma rasteirinha, gente? — pergunta ele. Eu mostro um par e ele olha como quem diz “ah, sim”. Então confirma com a cabeça e eu as calço. — Aí… enquanto você estiver no trabalho, o que é que eu vou ficar fazendo?

— Encontre o Messer, ué — sugiro, como se fosse óbvio. — Aposto que ele já saiu de fininho da casa da garota de quadris largos… — debocho. — Conversem sobre os Saints, falem mal da garota horrorosa que apareceu na câmera do beijo ontem, discutam a previsão do tempo… — estou sendo sarcástica, e ele se irrita com o comentário. Sem pensar duas vezes no fato de já ser hora de parar, prossigo com a provocação: — Ele pode te mostrar a cidade!

— April — diz ele, respirando fundo. — Eu conheço a cidade. E chega de gracinhas, ok? Meu dia vai ser um saco e você sabe disso.

— Eu sei, eu sei — reviro os olhos. — Vai ser um saco enquanto eu não estiver aqui, mas de noite vou estar de volta. Não, volto ainda antes — explico. — No fim da tarde.

Vejo o relógio e corro para dar um beijinho em Dylan. Em seguida, pego um rímel em cima da cômoda e passo nos cílios, enquanto pego o elevador com pressa. Estou pronta para chamar um táxi quando lembro que deixei meu celular em cima da pia.

— Tinha que ser você, tinha que ser… — brigo comigo mesma. Sem ter tempo de esperar o elevador, pego as escadas até o quarto andar, onde entro pelos fundos e ando até a pia.

Mas é isso aí, Brandon, temos que comemorar minha volta a Nova York! Cara, você não sabe o quanto essa cidade me fez falta… — escuto meu namorado falar ao telefone, dentro do quarto. Como a porta está semi-aberta, ele não me vê no corredor. — Mas mesmo que eu odiasse, não dava pra deixar de vir, a promoção daqui foi bem melhor do que a de Boston…— pausa.— Pois é, aqui os empresários são gentis, os de Boston são um saco — não é o que estou escutando, houve um mal entendido. — Sim, claro! Já aluguei o apartamento faz três meses, só que tenho que esperar até o mês que vem até os antigos donos saírem… sim, é um saco. Por enquanto, estou na casa de uma garota da faculdade — ele conta. — Mas vamos marcar alguma coisa! Estou livre o dia inteiro, e de noite também posso dar um jeito de sair. Ah, relaxa… — ele ri como se a pessoa do outro lado da linha tivesse dito uma besteira. — Ela nem vai desconfiar se eu sair no meio da noite. Mas mesmo se descobrir, amanhã já fica tudo bem de novo... deixa comigo. É só dizer o lugar.


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