Três doses de tequila, por favor escrita por Sweet Serial Killer


Capítulo 5
Faça o curso com Messer...




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A primeira coisa que me vem à mente quando eu o vejo é que estou sem fôlego.

De óculos escuros e jaqueta de couro, ele vem na minha direção enquanto segura a alça de sua pasta, que está transpassada no ombro, e, enquanto caminha, sorri para mim. Tudo o que eu consigo fazer é ficar parada, ao mesmo tempo que sinto meu coração bombear sangue de forma mais rápida do que o normal e minhas mãos suarem de um jeito estranho. É possível que minhas pernas estejam formigando e o chão pareça mais macio.

Quando ele se aproxima o suficiente a ponto de poder me puxar para um abraço, eu sussurro no ouvido dele um “você veio”, e então ele coloca os braços ao redor de mim, me abraçando. Nesse momento, só consigo me concentrar na sensação gerada pela sua pele em contato com a minha, a eletricidade que nos percorre.

Aposto que ele também sente o que estou sentindo.

— Acho que ninguém nunca nem chegou perto de sentir o que eu sinto quando você está longe… — confesso no ouvido dele. Talvez eu devesse simplesmente parar de dizer como eu me sinto, mas não consigo. Embora eu tente, minha boca grande faz questão de explicitar todos os meus sentimentos mais profundos. — Que saudade, que saudade…

— É, eu também — ele confirma, tocando a minha cintura para me afastar de seu abraço, para, então, poder me beijar. Não é um beijo de cinema, mas o suficiente para me fazer flutuar. Sei o quanto o Dylan é discreto, ele não gosta muito de aparições em público. Mas está tudo bem, porque assim que chegarmos em casa ele vai me beijar como se fosse a primeira vez. E vai fazer isso de novo e de novo…

— E aí, você tá com fome? Preciso comer alguma coisa, a comida do avião estava horrível — ele reclama. — Se tiver algum restaurante bom por aqui seria ótimo.

Eu sugiro alguns restaurantes enquanto ele olha as horas. São sete e quarenta e oito, e acho que eu também estou com fome, embora tenha comido no caminho. Não sei o que está havendo com o meu estômago hoje, porque além de estar com fome de novo, também está com um frio tipicamente estranho.

No táxi, decidimos que vamos apenas tomar um café na Starbucks e pedir um cookie ou dois. Depois, vamos andar pela Times Square até às três da manhã e falar sobre os assuntos mais aleatórios possíveis. A conversa vai fluir e Dylan vai fazer dessa noite única. A começar pelo meu apartamento.

Quando chegamos, então — conforme eu disse — ele me beija de um jeito de tirar o fôlego. Ficamos assim por cerca de dez minutos, nos beijando no sofá, até ele decidir ir ao banheiro. Aproveito para me perfumar mais um pouco e fechar as cortinas da sala.

É quando ele volta do banheiro e sua expressão não é das melhores. Uma piscada de olhos e vejo meus planos indo por água abaixo.

— Ah, April… — diz ele, se sentando no sofá ao meu lado e passando o braço ao redor dos meus ombros. Seu tom não é animado, mas também não mostra resquício algum de decepção. — O Jake tinha ficado de me levar ao jogo dos Saints hoje… você sabe que ele trabalha na emissora e vai transmitir os jogos, não é? — pergunta ele. Eu apenas fico parada. — Então. Ele tem dois ingressos grátis e… está me convidando para ir.

— Oh… — eu digo, surpresa. — Jake Messer?

— O próprio.

— Não.

— Não o quê?

— Não sabia que ele trabalhava na emissora… — respondo, tentando não retratar toda a frustração que sinto por dentro. — Estou surpresa…

Filho da mãe. Babaca, estúpido, cachorro. Ele não presta e agora, mais do que nunca, tenho certeza disso. Como é que uma pessoa pode ser tão egoísta? Jake Messer é o pior ser humano da face da Terra! Ele sabia que o Dylan viria, sabia que eu gostaria de passar cada segundo com ele e o convidou para uma saída! Deus, o quão cruel uma pessoa pode ser? Faça o curso com Messer e ferre a vida dos outros por aí.

— Só um minutinho… — eu digo, pedindo licença. Trancada no banheiro, procuro no WhatsApp o contato de Jake em um grupo de que ambos fazemos parte, e disco seu número em uma fração de segundo. Ele atende quase no último toque.

— Aqui é a April Weinsher. A gente precisa conversar — anuncio. Sem rodeios, vou direto ao ponto: — O que estava passando pela sua cabeça, você ficou louco?

Não me lembro de ter dormido com você para ter te dado o meu número… — ele responde, se fazendo de engraçadinho. Não posso vê-lo, mas sei que do outro lado da linha ele está com seu típico sorrisinho debochado. — April Winter, confere, April Williams, confere, e April Cruz, confere. Mas April Weinsher? A propósito, é assim que se pronuncia teu sobrenome?

— Escuta aqui. Você não vai estragar a minha noite com o Dylan por causa de uma partida idiota de futebol, está entendendo? Nós já tínhamos ficado de sair antes de você vir falar com ele. E, vai por mim, querido, ele só vai sair desse apartamento se for comigo… Agora— eu digo. Posso ser muito controladora se alguma coisa em relação ao Dylan dá errado. — Ligue para ele e desfaça essa confusão, diga que perdeu os ingressos.

Acho que você não está entendo… — diz ele, dando um risinho debochado, como quem ri do tombo de uma criança. — Eu quero e pretendo ir ao jogo com ele. É a final. Fora que nós somos fãs dos Saints desde sempre — anuncia, como se me interessasse saber. — Nós vamos ao jogo, você pode sair com ele amanhã.

— Comprei ingressos para a Broadway — comento. Não é bem uma verdade, mas preciso fazer com que ele desista. — Valem uma fortuna, muito mais do que o seu jogo.

Azar o seu, Weinsher — ele retruca. — Falei certo agora?

Começo a ficar preocupada. Vejo que Messer está inflexível e não parece mudar de ideia nem que eu implore aos seus pés. Ele quer tirar o Dylan de mim essa noite pelo simples prazer em ser mau para as pessoas. Ah, mas eu também sei jogar sujo… e sou capaz de fazer alguma loucura se ele ousar se meter no meu caminho.

— Arrume ingressos pra mim ou nada feito.

April, querida — ele diz, sendo sarcástico. — Não estamos fazendo um acordo, droga. Ele vai ao jogo e ponto, não tem como você interferir nisso.

— Jake, por favor! — aumento o tom de voz. — Você não sabe o quanto essa noite vai ser importante pra mim, seja legal comigo! O que me diz? — estou usando a tática da garotinha pedindo uma Barbie ao pai, sendo que não há nenhuma ocasião especial, como Natal ou aniversário. — Diz que sim, vai… Mess… vamos lá…

Você me chamou de quê?

— De Mess, você gostou? Arrume um ingresso pra mim e seremos April, Dylan e Mess, quase uma dupla sertaneja!

Dupla é só para duas pessoas, April — diz como se fosse óbvio. — Foi mal, mas…

— Não foi o que eu disse? — corto-o. Percebo que estamos perdendo o foco do assunto. Usando uma voz doce, peço pela última vez. Também noto que Jake está menos resistente. — Consiga o ingresso e eu te arrumo uma amiga minha, ok? Peituda, de dentes brancos e bunda grande. Tá bom pra você? Ah, e se interessa alguma coisa, ela também é legal.

Como se eu precisasse da sua ajuda para chegar em uma das suas amigas! — ele ri, como se eu tivesse acabado de contar uma piada. — Conquisto todas elas de olhos fechados.

— Cuidado, Messer, nem sempre o que as mães dizem é verdade…

Você só está irritada porque sabe que eu consigo a garota que eu quiser — ele se gaba. Qualquer uma menos eu, seu convencido, penso. Rio de sua futilidade, mas tento me controlar, já que não posso irritá-lo. No momento, estou comendo na mão dele. — Foi bom falar com você, mas acho que preciso des…

— Mess, por favor! Por que você está dificultando a minha vida? — indago, me fazendo de vítima. — Isso tudo é por causa da Stacy? Ainda? Está tentando se vingar ou coisa do tipo, mesmo depois de tanto tempo? Qual é, Jake, passado é…

Mas quem diabos é Stacy?

Dessa vez não consigo conter o riso. Jake parece estar falando sério, não tem uma única memória de sua ex. E eu acho graça do fato de ela estar até na minha cabeça, e não ter nenhum resquício seu na cabeça dele, quando eles namoraram por quatro ou cinco meses. Digo que ele é uma figura, mas já no próximo instante volto a implorar:

— Por favor.

Ele suspira, e a linha fica muda por cinco segundos.

Você não vai calar a boca enquanto não ganhar essa, né? — não respondo, mas do outro lado da linha já sinto meu sorriso se formando. Essa parece ser uma pergunta retórica. — Tá legal, eu desisto. Mas, olha aqui, eu não prometo nada, vou ver aqui o que posso…

— Ai, muito obrigada mesmo! Você não vai se arrepender, e eu fico te devendo essa!

Messer desliga e eu corro até a sala para avisar Dylan que vou ao jogo com eles. Não sei dizer se ele fica animado ou não com a notícia.

— É sério isso? Ah, mas que ótimo…

— Não é? — sorrio. — O que você está fazendo aí parado? Vai se arrumar! Ah, mas antes… você prefere que eu use preto ou vermelho?

***

Dylan e Messer parecem duas crianças no jogo. Nos primeiros quarenta e cinco minutos, eles se irritam com os jogadores como se fossem capazes de fazer mil vezes melhor, mas no segundo tempo, parecem mais satisfeitos com os resultados.

Dylan, em especial, não tira os olhos da bola nem um minuto sequer, enquanto Jake se concentra no jogo, mas não deixa de notar a movimentação ao redor — ele troca olhares com uma garota sentada numa cadeira próxima, sorri para outra no lado oposto da arquibancada e compra um refrigerante. Fico com sede também e peço para Dylan ir comprar uma bebida, mas ele só vai durante o intervalo. Penso que ele vai me chamar para ir com ele, só que ele não chama, então sou obrigada a esperá-lo na arquibancada, ao lado de Jake.

— Então é verdade? Você continua na dele?

Fico sem graça com a pergunta. Não sei bem o que ele quer dizer com isso, e também não consigo identificar se faz a sua pergunta de um jeito positivo ou negativo.

— Eu gosto dele, né? — digo, embora seja muito mais do que um simples “gostar”. Messer mantém uma expressão facial esquisita. — Ahn… tem algum problema?

— Pra você, sim — ele responde. Olho para ele, preocupada. Ele olha de volta, mas seu olhar é cauteloso, de modo a dar um aviso. — Acho que Dylan não é o tipo de cara que… você sabe. — ele parece inseguro.

— Não, eu não sei. Diz o logo o que está tentando dizer.

— O que eu quero dizer… — ele responde, abaixando os olhos em direção ao chão. Mas sua insegurança dura apenas um momento, uma vez que logo em seguida uma onda de coragem se aproxima dele e, levantando os olhos a fim de cruzá-los com os meus, ele prossegue de maneira segura e confiante, como se tivesse certeza de algo: — Não espere muito do Dylan.


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