Três doses de tequila, por favor escrita por Sweet Serial Killer


Capítulo 14
O nome do jogo


Notas iniciais do capítulo

Em primeiro lugar, não me matem por estar há mais de um mês sem postar uma letrinha. Estive tão atolada com as provas, os trabalhos e os meus próprios dramas que mal tive tempo para falar dos da April. Mas estou de volta, 22kos!

Que saudade de ler os comentários de vocês! Volteeeem, e leitores fantasmas, apareçam!

Um beijo e um queijo.




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Eu demoro a me afastar de Jake. Agora, olhando para ele, cujas mãos ainda estão segurando o meu rosto, os olhos fechados e a respiração próxima de mim mais do que deveria, eu vejo o erro que cometemos.

Oh, meu Deus, isso não deveria ter acontecido. Isso não podia ter acontecido! Calma. Respira fundo, April, ainda dá pra resolver. Tudo bem, eu posso lidar com isso. Posso explicar para o Jake que acabamos de cometer um grande erro e sugerir que a gente esqueça o que houve há cinco segundos. Mas talvez se eu disser assim ele não vá entender… a não ser que eu substitua a palavra “erro” por “equívoco", é claro. Não soa mais sutil?

Quando estou prestes a dizer algo, porém, ele se aproxima de novo e toca os lábios nos meus. Nesse momento, meu primeiro impulso é dizer a verdade, contar para o Jake que eu nunca tive a intenção de beijá-lo, porque eu nunca poderia gostar dele desse outro jeito e então pedir que voltemos apenas à amizade. Entretanto, pouco depois surge um segundo impulso, resultado das sensações produzidas por esse beijo no meu corpo, que diz com cada palavra: fique exatamente onde está.

Mas não demora muito até a ideia de falar com ele voltar a tomar conta da minha mente.

— O que você está fazendo?! — eu pergunto, me afastando dele. De imediato, vejo os olhos de Jake se abrirem, confusos.

— Como assim o que eu…

— Meu Deus… — digo, já me levantando do banco. Fizemos algo muito grave, causamos um dano irreversível. — Meu Deus! Jake, o que foi que aconteceu?

— April, você está bem? O que aconteceu foi que…

— Você não sabe o que são perguntas retóricas, não? Droga, eu sei o que nós fizemos! E foi uma loucura, nós perdemos o juízo! — admito pela primeira vez. — Estamos bêbados, será? Olha pra minha mão, e agora responde: quantos dedos tem aqui?

— Quatro, April — diz ele, soando um pouco entediado com meu teste de sobriedade.

— E agora?

— Sete.

— Oito, o mindinho estava um pouquinho levantado.

Quando noto que perdemos o foco do assunto, contudo, a noção da gravidade da situação volta e eu me vejo enlouquecida. No jardim do casamento de Kate, eu ando de um lado para o outro, em pânico. Isso não podia ter acontecido! Nunca, nem em mil anos eu poderia ter beijado (aliás, quem beijou primeiro fui eu ou foi ele?) Jake porque, santo Deus, nós somos amigos! A-MI-GOS. E essa não é uma coisa que amigos fazem, definitivamente!

Ah, mas que droga. No que nós fomos nos meter?

Agora, aposto que depois dessa “brincadeira”, as coisas vão ficar estranhas. Das duas, uma: vamos passar a ficar sem graça na frente um do outro ou ele vai começar a achar que eu sou o tipo de garota que estabelece uma amizade com esse tipo de “benefício”. Na pior das hipóteses, ele vai decidir fazer comigo exatamente o que faz com as outras garotas: me beijar para nunca mais nem olhar na minha cara. Essa é a menos provável, é claro, já que antes de tudo somos amigos, mas quem é que entende o que se passa na cabeça nos homens? Quem é que é capaz de prever o que eles pretendem fazer?

— Jake, estou confusa — digo. Nesse momento, depois de olhar meu andar desesperado por dois minutos, ele se levanta, posicionando-se na minha frente com os braços cruzados na frente do peito e a sobrancelha erguida, como se tentasse me entender. Se bem que, pra ser honesta, nem eu estou entendo o que está havendo. — Mais confusa do que numa daquelas aulas de triângulos do ensino fundamental, naquela parte de somar a hipotenusa.

Somar a hipotenusa? — ele pergunta, estranhando. — Não, não é pra somar a hipotenusa. Você soma os valores dos catetos ao quadrado, que são igual ao valor da hipo…

— Pelo amor de Deus, concentre-se em uma coisa mais importante do que matemática!

Debochado, ele ri do meu estresse. Eu, por minha vez, não movo um músculo da bochecha para sorrir. Essa não é uma situação engraçada, e caso um de nós não tente resolver as coisas com maturidade, vamos acabar em tragédia!

— Tá bom, foi mal — ele responde, erguendo as palmas das mãos como se se rendesse. — Só não estou entendendo por que essa sua cara de pânico. Deus, April...— ele analisa minha expressão facial. — Você está pálida!

— Mas é claro que eu estou — respondo, sentindo bolhas em meu estômago. — Fizemos uma coisa muito errada!

Irritado, Jake pergunta o que tem de tão errado em um beijo. Eu olho para ele completamente perplexa, pois um beijo entre amigos não é algo natural. Obviamente, ele retruca perguntando um “por que não pode ser?”, então eu devolvo a pergunta a partir do seguinte raciocínio “na faculdade, ele beijaria Mia Adams?”. Quando Jake se recorda do rosto de sua antiga amiga Mia, imediatamente seu estômago embrulha — exatamente do mesmo jeito que o meu está agora.

— Com a Mia era diferente...

— Ah, é? E diferente por quê?

— Ela lambeu a espinha do Gordon Thomas num jogo de verdade ou consequência!

— Ela fez o quê?! — eu pergunto, chocada. Quando que eu ia imaginar que a Mia fez um negócio desses, gente? Porém, noto que mais uma vez perdi o foco do assunto, então retorno, ainda em pânico: — Olha, isso nunca deveria ter acontecido! Nunca, Jake! — digo, por fim, pegando a minha bolsa do banco e enrolando sua alça na mão direita. — Nada a ver. Tipo… muito nada a ver mesmo.

Então eu pego a minha bolsa e me afasto, indo em direção à saída da casa de festa. Embora eu tenha dito que ficaria aqui até o amanhecer, tenho certeza de que preciso ir embora. Não estou fugindo, mas evitando que as coisas tomem seu curso natural e caminhem diretamente para o fim do penhasco, como a maioria das coisas nessa vida.

— Ah, April, calma aí. Vai fugir agora, vai?

É engraçado que meu último pensamento foi exatamente a justificativa de sua pergunta. Entretanto, decido não compartilhá-lo, optando por me manter em silêncio e apenas ir embora.

— A gente se fala amanhã.

— Você só pode estar brincando.

— Nossa, e não é que você adivinhou? Eu estou mesmo brincando... — debocho. — A propósito, me ajuda a escolher o nome do jogo?

Nervoso, Jake diz depois de bufar e rolar os olhos:

— Mas você consegue ser bem imatura às vezes...

Imatura? Eu? Até onde eu sei, ele fez o trocadilho (ou seja lá qual for o nome desse recurso linguístico) dos roubos! Falando nisso, minha dúvida de alguns minutos atrás está sanada: ele me beijou. Jake fez a brincadeira e colou os lábios nos meus, e tudo o que eu fiz foi retribuir o gesto por causa do efeito da bebida e olhe lá. Se naquela hora eu estivesse sóbria como magicamente estou agora, nem teria deixado que ele se aproximasse.

— Ah, faça-me o favor! — digo, rindo. Sua última fala não foi uma graça de tão engraçada? Jake tem o dom de fazer os outros rirem, um talento que seria bem aproveitado num ambiente de trabalho onde os demais trabalhadores usam narizes vermelhos e dão tortas na cara uns dos outros. — Você é imaturo! Tão imaturo que parece um garotinho de doze anos louco pra beijar pela primeira vez a ponto de ficar com qualquer uma que aparece na sua frente, como eu, por infelicidade do destino! Olha, mas quer saber, Jake? Hoje é um dia tão feliz que nada vai estragar — falo, me referindo ao casamento. — O fato é que precisamos colocar um ponto-final nisso. Chega dessa história, vamos esquecer que…

Sou obrigada a parar de falar quando vejo o sorriso se formando no canto dos lábios dele. Agora, rindo na minha cara, Jake se permite jogar a cabeça para trás como uma criancinha, exatamente do jeito que fez quando estávamos na cafeteria, só que dessa vez é diferente: seu riso tem um tom irônico. No início, eu finjo que não estou ligando, mas minha expressão não nega que, na verdade, estou sentindo como se estivesse me derretendo como um boneco de neve no início do verão.

— Do que é que você está rindo? Hm? Diz? Diz!

— Não, é só que… — ele passa a mão na nuca, ainda com seu sorrisinho irônico. — Você complica uma coisa tão simples. Tá, foi um beijo, e daí? Vai morrer por isso?

Eu respiro fundo. Inspiro. Expiro. Conto batatas fritas e me imagino demitindo o Sr. Hills. Penso no lindo dia que vai ser quando Johanna pegar piolhos e Dylan passar cinco anos sem encostar em uma mulher. Volto a pensar em batatas fritas. E em um instante já estou me sentindo mais equilibrada.

— O fato, querido, é que…

— April — diz ele, se aproximando de mim. Seus olhos estão abertos nos meus, e agora sua mão acaba de tocar meu pulso, segurando-o sutilmente. Por alguma razão, estou presa ao seu olhar, e nem que eu quisesse poderia ir embora sem ouvir o que ele tem a dizer. Ou, pelo menos, teria de fazer um esforço enorme para conseguir ir. — Você é minha melhor amiga. Eu adoro você. E os seus dramas, as suas loucuras, as suas manias estranhas, a sua coragem pra matar barata, ao contrário de todas as outras garotas que eu conheço, o fato de você ainda ver desenho animado e tantas outras coisas…

Eu rio. Mas então lembro que não devo rir, então trato de ficar séria novamente.

— Mas para por aí. Nós somos amigos e é só. Certo? — ele pergunta, com os olhos abertos nos meus. Eu confirmo com um olhar. — Então. Não tem por que ficar confusa, já que nós nunca vamos fazer a loucura de envolver nossos sentimentos nisso, tá legal?

— Tudo bem — eu digo, mais calma. — Mas então por que é que…

— Eu te beijei porque nós temos química. Mas sentimento? Não. Quer dizer… — ele me olha, como se esperasse uma resposta minha. — Não, né?

Mas é claro que não. Eu não sinto nada por ele — e isso está muito, mas muito longe de acontecer algum dia. Entretanto, não é porque a gente não vai se envolver que pode se beijar. Eu sou o tipo de pessoa que fica com alguém segundo os meus sentimentos. Sendo assim, se eu não sinto nada pelo Jake, ficar com ele não faz sentido algum. Além do mais, isso nunca dá certo: já vi casos de revista e filmes sobre amizades coloridas, e sempre calha do lance dar errado! Então, não. Não mesmo. Sem chance!

Química? — pergunto, tentando ver se entendi bem. — E você acha que eu acredito em química sem antes existir amor verdadeiro?

— Ei, manera aí nos contos de fada…

— Escuta aqui — eu digo, apontando o dedo em seu peito. — Se você ousar chegar perto de mim de novo desse jeito por causa dessa história maluca de “química”, eu vou te mostrar o verdadeiro significado da palavra com algum ácido bem forte pra queimar essa sua língua! — agora usando um tom mais baixo, porém cheio de certeza, digo: — Nós somos amigos, Jake. E como você mesmo disse: é só.

Ele levanta os braços em sinal de rendição, concordando com os meus termos, e aí eu me sinto mais à vontade para não ir embora. Como um típico cafajeste experiente, depois de alguns minutos Jake volta a falar comigo e me fazer rir como se nunca tivéssemos tido um problema tão grave como este antes.

Sabe, apesar de toda essa máscara, no fundo ele é um cara legal. E sensível. E que se preocupa com as pessoas que ama. Eu sei disso porque vejo como ele se importou comigo quando eu estava pra baixo por causa do Dylan. Todos os dias, ele saiu comigo, me levou para o shopping (coisa que as mulheres amam fazer, mas como eu não sou desse planeta...), me fez rir, tudo pra tentar me animar. Ao contrário dos caras do meu prédio, que só tentaram fazer amizade comigo depois que eu comecei a cuidar mais da minha aparência, ele sempre esteve disposto a ser meu amigo mesmo que eu não me vestisse como uma modelo ou tivesse o cabelo mais hidratado do mundo. Mas o mais importante: mesmo quando mal ia com a minha cara, tentou me ajudar ao alertar que o Dylan iria me magoar, ainda que isso significasse prejudicar os joguinhos doentios de seu amigo sem coração.

Mesmo com todas as suas qualidades, Jake não é pra mim — não temos nada a ver como um casal, e nisso até ele concorda.

Porque (apesar de tudo) eu fico bem é com o Dylan. Mesmo que ele tenha sido um idiota, no fundo eu sei que ele pode mudar caso se dê conta de que eu sou a garota ideal pra ele. E quando perceber... ele vai se tornar outro cara, e disso eu tenho certeza. Enquanto isso, Jake fica bem com suas garotas chapadas dentro de uma minissaia tamanho 38.

Agora, nós dois? Juntos? Jake e eu? Olha... talvez essa não seja a melhor dupla para esse tipo de jogo.


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