You Belong With Me escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 13
Capítulo 12: As Cinco Flores - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

Eu sei, eu sei... Mais uma demora! E peço que me desculpem por isso novamente... Escrevo muitas fanfics e uma, em especial, me consome emocionalmente, sempre preciso me recompor para voltar às outras.

Mas, enfim, cá estou eu com mais um capítulo dessa fanfic fofa Hahaha E esse foi escrito, mais uma vez, sob os efeitos da trilha sonora de Carol (eu juro que não sei qual foi a relação que eu estabeleci entre essa soundtrack e essa fanfic, mas, embarquem na minha loucura Hahaha) e bem... Estou triste em dizer que esse é o penúltimo capítulo, SIM! O PRÓXIMO É O ÚLTIMO, GALERA 3 Já estou sofrendo...

Bem, espero que gostem (e aproveite, tá acabando)! Boa leitura!



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Hermione, naquela noite, sonhou com begônias que exalavam o perfume das lavandas. Não era preciso ser um médium ou uma pessoa de boa intuição para saber que os seus sonhos, além das flores, tinham Fleur Delacour. A morena não seria capaz de admitir, mas, a sua mente já desistira e não mais evitava pensar na mais velha.

Afinal, depois de tudo que ocorrera no dia anterior, o seu mundo voltara a gravitar próximo ao de Fleur. Por mais que o que tivessem ainda fosse um segredo, por mais que unicamente ela soubesse o remetente das flores e ainda que somente ela entendesse o que cada uma significava... Tudo em si voltara-se para Fleur.

Não existia como evitar ou ignorar o que Fleur fizera. O coração de Hermione vacilou na primeira tentativa e a mente dela, mais teimosa e compenetrada, se viu incapaz de fazer tamanha desfeita. Fleur a atingira, perfeita e singularmente, da mesma forma que a atingira quando a beijara pela primeira vez.

Entretanto, um aspecto da personalidade de Hermione ainda permanecia irredutível diante daquelas investidas - tão românticas e delicadas - e não vacilava nem quando a morena recordava-se do perfeito tom azul celeste dos outros de Fleur, ou do formato perfeitamente desenhado de seu rosto, ou dos lábios que fizeram casa nos seus... O seu orgulho, arredio e amargo, ainda estava pisoteado no fundo de sua alma.

Hermione podia ter um vislumbre da certeza de que Fleur retribuía o seu sentimento, mas, o seu orgulho estava machucado demais para voltar a acreditar nas palavras que tentavam descrever algo feito de gestos. A partida de Fleur, sem palavras e sem olhares, ainda estava impressa em sua mente... Uma lembrança dolorosa de quando a realidade interrompeu o seu impossível.

A morena não gostava daquela parte de si, mas, não conseguia deixar de sentir o amargo em sua garganta quando se lembrava de ver Fleur desfilar com Roger Davies pelos corredores da Academia, tampouco conseguia esquecer-se do sentimento de inferioridade que se apoderou de si quando acreditou que Fleur jamais viu futuro nas duas...

Era um orgulho bobo, feito de masoquismo e teimosia, mas, naquele momento, ele parecia falar muito mais alto do que todas as declarações de amor que recebera. Hermione, tão acostumada a caminhar em terra firme, flutuou em nuvens somente para ser, novamente, jogada ao chão. E o baque no solo foi forte o bastante para despertá-la.

E era, dessa forma, desperta e atenta, que Hermione segurava-se na corda bamba para não ceder a Fleur. De alguma forma doentia e irreal, a sua mente assumira a verdade de que ao se entregar para Fleur, Hermione estaria fechando os olhos para a realidade.

Nessa realidade que, agora, ela acreditava, não existia espaço para o “impossível”. Afinal, ela era mais nova do que Fleur e no final do ano letivo, a mais velha estaria na universidade. Também não possuíam o mesmo nível social e, tampouco, a mesma popularidade. Tristemente, as duas eram exatamente como os amantes amaldiçoados dos romances que Hermione tão avidamente lia. Entretanto, com elas, a impossibilidade - feita de sobrenome, sociedade, popularidade, imagem - fora capaz de destruir o que elas nem sequer tiveram tempo para erguer.  

Por isso, no lugar do sentimento, a incerteza pairava como uma sombra fantasmagórica e doentia. E Hermione queria se manter afastada de tudo que lembrasse o que ela sentiu quando perdeu Fleur para os outros.

Essa decisão fizera determinou a natureza de seus comportamentos no dia seguinte às flores. Hermione acordou mais cedo do que gostaria, não tomou café e saiu de casa antes que seus pais pudessem questionar suas atitudes. Não foi novidade alguma quando ela chegou mais cedo a Academia.

Seus passos ecoavam secos pelos corredores, naquele dia, ela teria um ensaio com a banda para a colação de grau dos formandos. Mais uma vez, Fleur voltou a sua mente e fez casa em seus pensamentos, imersa na presença da mais velha em suas memórias, Hermione mal se deu conta de que já trocara o uniforme e estava com as roupas de atividades físicas da Academia.

O flautim estava firmemente agarrado em suas mãos, como se o instrumento fosse o único aspecto que a mantinha ligada àquela realidade. Porque a sua mente e mais precisamente o seu coração estavam sendo naturalmente seduzidos pelas lembranças calorosas de quando o impossível fazia parte de sua rotina.

Seria mais fácil esquecer-se de Fleur se não se lembrasse atentamente da forma como as laterais de seu nariz franziam-se quando ela sorria. Também seria mais trabalhoso esquecer-se da mais velha se não se recordasse do caminho que as sardas douradas traçavam em seu rosto. E naturalmente seria mais fácil esquecê-la se Hermione não se lembrasse de como os olhos dela brilhavam antes que se beijassem...

Seria fácil jogar Fleur Delacour no hall do esquecimento de sua mente - para onde ela enviava qualquer piada inútil que Rony contava ou qualquer comparação absurda que Harry fazia entre os alunos da Academia de Hogwarts - se ela não estivesse marcada a fogo em seu coração.

Querendo ou não, esquecer Fleur Delacour era como esquecer uma parte de si mesma.

Uma parte que se permitiu sonhar, viver e aproveitar sem pesar conseqüências e atitudes. Uma parte que, pela primeira vez, foi livre o bastante para acreditar. E, essencialmente, uma parte que sentiu o sabor do que era, de fato, amar.

Hermione não precisou chacoalhar a cabeça para tirar Fleur de seus pensamentos, ela foi bruscamente arrancada deles quando algumas companheiras da banda entraram no vestiário. Susana Bones lhe sorriu confiante e Hannah Abbott lhe cumprimentou com um aceno da cabeça antes de desaparecerem entre os armários de metal e bancos de madeira.

A morena ensaiou um sorriso que jamais chegou aos seus lábios. Por isso, conforme mais integrantes da banda chegavam, ela se apressou em prender os seus cabelos em um coque e logo já estava no campo. A Profa. McGonagall estava parada no centro, a postura ereta e a expressão austera. Ainda assim, ela sorriu para Hermione e cumprimentou:

— Bom dia, Miss Granger. Pontual como sempre, não é mesmo?

— Na verdade, eu diria que estou até um pouco adiantada. - Hermione respondeu tímida, olhando brevemente para a professora antes de voltar seus olhos para o instrumento em suas mãos. O brilho dourado do metal que compunha o flautim sequer chegou aos seus olhos castanhos esmaecidos. A professora franziu a testa para a desanimação velada da aluna e, ligeiramente desconfortável, perguntou:

— Alguma dificuldade com as provas finais, senhorita?

— O que...?! - Hermione perguntou alarmada, mais uma vez, estava imersa nas poucas lembranças que possuía de Fleur. A morena engoliu em seco e, voltou a erguer os olhos para a professora. Dessa vez, as feições da mais jovem procuraram permanecer neutras ao que explodia dentro de si. - Na verdade, estou cansada, professora.

— Você tem aparentado estar muito distraída nas últimas aulas... Mas, independente do que quer que esteja a incomodando, tenho certeza que você irá superar. Se fosse outro aluno, eu já estaria dizendo-lhe para estudar para os exames. - A professora parecia ter percebido que Hermione precisava  de um pouco de ânimo porque a sua voz, naturalmente severa, parecia aveludada e sua expressão austera ficou, por alguns segundos, delicada e preocupada.

Hermione estava surpresa por ter presenciado um momento de doçura na professora sempre tão severa. Ainda que estivesse sem vontade alguma de sorrir, Hermione esboçou um erguer de lábios e a professora fez o mesmo. Houve uma troca de olhares entre elas que, silenciosamente, deixava claro que ambas entenderam o que conversaram. A Profa. McGonagall sabia que ela não estava em seus melhores dias e, principalmente, respeitava a sua falta de ânimo.

As duas ficaram em silêncio enquanto esperavam pelos demais componentes da banda. Eles chegaram em grupos e duplas, naturalmente, Neville estava atrasado. A Profa. McGonagall vislumbrou o rapaz gorducho à beira do gramado, tendo dificuldades para carregar o seu instrumento - o trompete - e ajeitar o uniforme. A senhora revirou os olhos e vociferou:

— Nessa velocidade, estaremos na colação de grau sem ensaio algum, Sr. Longbottom!

O rapaz apressou o passo e, obviamente, tropeçou em alguns locais do caminho. Hermione não riu como os seus demais companheiros e, quando Neville parou atordoado ao seu lado, deixou-o com um olhar de apoio antes de se adiantar à formação. Neville lhe sorriu e logo estava ao seu lado.

A Profa. McGonagall respirou fundo e estava prestes a soar o apito para começar o ensaio quando, novamente, foi interrompida. Os componentes da banda escutaram passos apressados e um ofegar que se aproximava, era estranho porque todos estavam ali e ninguém vinha ao campo naquele horário. A maioria se virou, inclusive a professora, em direção aos sons.

Os olhos castanhos de Hermione não conseguiram determinar quem era à distância, seus óculos estavam seguramente guardados no armário e as suas lentes - recém-entregues pelos seus pais - ainda estavam longe de estarem adaptadas. Porém, conforme o dono dos passos e do ofegar se aproximava, mais ela engolia em seco.

Ninguém reconheceu o rapaz, ele parecia muito mais velho que qualquer componente da banda. Ele, tampouco, parecia estudar na academia porque usava jeans e camisa social. Hermione não pode deixar de notar que, na camisa escura, existia o bordado de uma flor... As flores pareciam não querer abandoná-la nos últimos dias.

O rapaz finalmente chegou ao centro do campo. Ele segurava um buquê de flores brancas que, à primeira impressão, Hermione não reconheceu. A Profa. McGonagall se aproximou do jovem e a morena escutou Lilá Brown comentar:

— Mais flores?

Era exatamente o que Hermione pensava. A professora estendeu a mão para o buquê e o jovem o trouxe para perto do corpo, como se o protegesse. Ele aprumou a postura e disse:

— Desculpe, senhora. Mas, eu recebi ordens de entregá-las nas mãos da destinatária.

— Então, faça-o logo! E o que eu poderia querer com flores, rapaz?! - A professora estava lívida de impaciência e raiva enquanto Hermione estava encolhida, de olhos fechados, não sabia o que pedia, mas, pedia por algo. Não sabia se era para não ser a destinatária ou se era para aquele rapaz desaparecer... Talvez, a segunda opção fosse a mais verdadeira. O entregador aprumou a postura, pigarreou para limpar a garganta e, elegantemente, perguntou:

— Alguma de vocês se chama Hermione Granger?

Hermione tentou se esconder, mas, a massa de componentes da banda se abriu, surpresa, para a menção de seu nome. O rapaz não precisou de qualquer indicativo para se aproximar, logo estava a sua frente, estendendo o buquê e sussurrando:

— Seja quem for, está apaixonado por você o bastante para enlouquecer a nossa floricultura com pedidos absurdos de flores que não são da época.

A morena não soube o que dizer, mas, o rapaz não esperou uma resposta. Ela apanhou o buquê e ele lhe sorriu, apontando para o cartão. Em seguida, o entregador acenou para todos e trotou para fora do campo. Hermione mantinha seus olhos no buquê em suas mãos, incapaz de fazer algo.

Seu olfato estava hipnotizado pelo aroma das flores e seus olhos estavam encantados pelo padrão perfeito de pétalas brancas delicadamente entremeadas de amarelo. Fleur parecia não conhecer limites.

O primeiro som que perturbou o silêncio amigo que envolvia Hermione veio da voz de Parvati Patil, ela sussurrou para Lilá Brown:

— Ontem, foram as lavandas e as begônias e hoje, crisântemos. Seja quem for que está mandando isso tudo para a Granger, parece estar desesperado o bastante para se redimir. Afinal, ontem foi a constância e a lealdade e hoje... Sinceridade?

Hermione não precisou se virar para saber que Lilá concordara, afinal, aquelas duas concordavam em tudo. A morena não ergueu os olhos de seu buquê, podia sentir suas bochechas queimarem e seu coração ensurdecer o pouco que ainda conseguia escutar. Estava imersa demais em seus sentimentos para notar o que rodava ao seu redor.

Como manter-se distante de tudo aquilo?

— Miss Granger, eu acho melhor começarmos o ensaio sem a sua senhorita... Creio que você precisa de um tempo para pensar sobre o que recebeu. - A voz insegura (e surpreendente) da professora foi capaz de tirar Hermione de seu torpor e ela, com as bochechas queimando, caminhou rapidamente para fora do campo e em direção ao vestiário.

Segura naquele ambiente fechado e solitária o bastante para tentar entender o que sentia, suas mãos largaram o buquê delicadamente sobre o banco de madeira e seus dedos, trêmulos, alcançaram o bilhete. Era de pergaminho amarelado e caligrafia, mais uma vez, era saudosa e familiar aos seus olhos:

“Duvida da luz dos astros

De que o sol tenha calor,

Duvida até da verdade,

Mas confia em meu amor.”*

Amor... Hermione buscou em sua memória alguma lembrança que referenciasse aquele sentimento, mas, não a encontrou, nem sugestivamente.

Portanto, aquela era a primeira vez que Fleur falava abertamente sobre amor. Era a primeira vez que Fleur admitia com todas as letras o que sentia e, também, era a primeira vez que Fleur pedia para que voltasse a confiar nela.

E, pela primeira vez em toda a sua vida, Hermione não sabia o que pensar e, tampouco, o que sentir.

# # # # #

O dia se transcorreu sobre olhares curiosos. Hermione até conseguiu desvencilhar-se de seus amigos, mas, os olhares dos demais alunos da Academia de Hogwarts deixavam claro que, naquele momento, ela era o novo assunto das fofocas que rodavam.

A morena, que tanto se esforçara para se manter invisível aos demais, estava incomodada com toda aquela atenção. Entretanto, os seus sentimentos estavam conflituosos o bastante para que ela, ao mesmo tempo, estivesse satisfeita. Existia um calor dentro dela que, devagar, aquecia o que ela tinha feito questão de congelar.

Hermione não queria, mas, Fleur estava derretendo todas as muralhas de gelo que erguera em volta de seu peito. Mas, isso não queria dizer que o seu orgulho estava novamente inteiro, pelo contrário, era ele que permanecia ferido e que a puxava de volta para realidade, impedindo que um sorriso escapasse de seus lábios.

Ela também não viu Fleur e deduziu que ela realmente tivesse se encrencado depois de toda a confusão no dia anterior. Roger também não fora visto e Daphne Greengrass parecia mais esnobe do que o costume quando a vira no refeitório. E Cho Chang estava tão sumida quanto à melhor amiga.

Hermione saiu da aula de História arrastando os pés, toda aula do Prof. Binns era praticamente um sonífero. Ela até desenvolvera uma espécie de imunidade ao tom de voz modorrento do professor, mas, as noites mal dormidas e o cansaço emocional começavam a se fazerem presentes em seu físico. Por isso, nesse dia, Hermione lutara contra o sono durante toda a aula.

Estava satisfeita por estar próximo de ir para casa. Ainda que tivesse que passar na biblioteca e pegar dois ônibus, logo estaria sozinha em seu quarto e poderia esquecer, por algumas horas, da vida que tinha dentro da Academia. Hermione suspirava satisfeita por não ter que fugir de Gina ou de Harry ou de Rony, os três estavam em seus respectivos treinos e Luna era tranqüila demais para lhe interrogar.

Havia um pouco de paz naqueles poucos minutos antes de agüentar os resmungos de Madame Pince na biblioteca.    

Hermione chegou em seu armário, seus olhos castanhos procuraram não se perder nas begônias e na lavanda que estavam escondidas entre seus livros. Mas, a morena sabia exatamente onde elas estavam e seus perfumes se misturavam entre os seus livros... Não sabia por que as guardara, mas, dividia-se em arrepender-se e mantê-las ali.

A morena estava tão confusa...

— Hermione? - Uma voz aguda e naturalmente animada a chamou. Hermione fechou a porta de seu armário apenas para encontrar Colin Creevey a observando com os olhos brilhantes e o sorriso enorme. Ele era da turma de Gina e, para o desespero de Hermione, tinha um buquê de tulipas em mãos.

Ela não soube discernir o que sentia além do pânico.

As atenções já estavam sobre ela, naquele dia, e, agora, não sairiam dela. Colin lhe estendia mais um buquê sob os olhares curiosos e maldosos do corpo discente da Academia. Hermione não sabia o motivo de, naquela vez, estar tão amedrontada. Suas mãos trêmulas apertaram o buquê e Colin ainda sorria quando lhe entregou, também, o cartão.

Tão logo aparecera, Colin sumiu na multidão de alunos. Hermione estava novamente paralisada, sem saber o que fazer. As suas atitudes fizeram sequência em sua mente e ela, primeiro, depositou mais um buquê em seu armário. Os seus dedos, trêmulos e desajeitados, se encarregaram de, mais uma vez, abrir o bilhete em pergaminho amarelo. Os seus olhos castanhos reconheceram a caligrafia com saudade e seu coração, contra a vontade de seu orgulho, acelerou com as palavras:  

 “Se a princípio, nos desencontramos, não desanimes.

Se não me achares aqui, procura-me ali;

em algum lugar, estarei esperando por ti.”**

Hermione, imersas nas palavras, procurou Fleur na multidão. Não sabia por que, mas, talvez, os olhos azuis respondessem às dúvidas provocadas pelo turbilhão de sentimentos que estava afogando-a. A morena, entretanto, não encontrou quem procurava e sim, os muitos que a julgavam.

Novamente, a voz de Pansy Parkinson se fez ouvir em meio aos cochichos. Como sempre, estava carregada de desprezo ao dizer:

— Mais flores, Granger? Tem que ser muito louco para gastar tanto dinheiro com você.

Pansy se aproximou perigosamente e, para o desespero de Hermione, Emilia Bulstrode também se destacou da multidão. Daphne Greengrass observava tudo de longe, encostada a um armário, com um sorriso satisfeito nos lábios. A irmã, Astoria, estava ao seu lado e parecia ansiosa. Hermione sentiu o calafrio em sua pele, foi rápida o bastante para fechar o armário, mas, o bilhete permaneceu em suas mãos.

O seu olhar estava preso em Pansy quando sentiu Emilia puxar o papel bruscamente de suas mãos. Ela imediatamente o entregou para Pansy que o leu e, depois, desatou a rir. Hermione se encolheu de encontro ao seu armário, fragilizada pela exposição e pelo amargo em sua garganta que ela não sabia o que era - mas, sabia que tornava tudo que vivera com Fleur tão amargo quanto - e esperou. Pansy sorriu maldosa e disse sarcástica:

— Poesia, Granger? E eu achava que você não podia ser ainda mais brega.

Hermione não conseguiu contra-atacar daquela vez e Pansy não deixou isso passar, os olhos astutos da outra pareceram ler a morena conforme ela se aproximava. Pansy segurou o bilhete entre os dedos e o estendeu para Hermione, a morena tentou apanhá-lo, mas, Pansy o puxou de volta e sussurrou venenosa:

— Tão calada e domesticada, Granger... Quem será que colocou uma coleira em volta do seu pescocinho desprezível? Foi o Weasley? Ou o Potter...?

A morena continuou calada, suas mãos firmemente fechadas em punho aos lados de seu corpo. Os olhos castanhos ardiam, Hermione nem sabia se eram pelas novas lentes de contato, mas, logo, as lágrimas cairiam, disso ela tinha certeza. Ela franziu os lábios, procurando o que dizer quando tudo que, idiotamente, pensava, era Fleur.

Pansy logo descobriria de quem era aquela caligrafia e ela não queria ser, mais uma vez, exposta daquela forma.

O bilhete voltou a ser colocado em frente ao seu rosto e, dessa vez, Hermione conseguiu apanhá-lo. O seu desespero a fez derrubar o papel no chão e a morena logo se agachou para apoderar-se dele, escutou Emilia e Pansy rindo acima dela, assim como escutou a voz arrastada de Draco Malfoy chegar ao cenário:

— Considerando as duas amiguinhas dela, é mais provável que a coleira envolta do pescoço da Granger seja de origem francesa.

O silêncio que se fez presente na cena foi avassalador. Hermione ergueu-se em pé, mas, estava sem palavras e, praticamente, entregando a sua culpa. Novamente, os olhos arderam de forma desconfortável e, dessa vez, ela sentiu uma lágrima escorrer em sua bochecha.

Queria fugir dali, mas, como tudo era conflituoso em relação a Fleur, ela permaneceu.

As risadas de Draco, Pansy e Emilia povoavam seus ouvidos e as visões dele estavam em seus olhos. Ela não percebeu que Cho Chang finalmente chegara à cena e digitava freneticamente uma mensagem, também não viu quando Gina chegou explosiva, empurrando Emilia em cima de Pansy e derrubando as duas no chão. Draco também foi empurrado por um Rony furioso e Harry esbravejou:

— Vocês têm alguns segundos para desaparecer ou vão acabar tendo que explicar a seus pais a série de intervenções que vamos fazer na cara de cada um!

Covardes como eram, os três desapareceram e Hermione foi levada por Luna para a biblioteca. Harry e Rony ficaram para trás, dispersando a multidão enquanto tentavam conter Gina que praticamente soltava a maior variedade de palavrões vista até então.

Eles tiveram sorte o bastante para que nenhum professor aparecesse, mas, todos se sentiam azarados por não terem chegado antes para defender Hermione.

 

Cho Chang acabara de digitar a mensagem e praticamente amaldiçoava o celular enquanto o envio era completado. Do outro lado da cidade, Fleur encarava a tela do celular, incrédula.

As coisas se complicaram. Agradeça a Greengrass biscate depois. É melhor que você venha, ela precisa de você.

Fleur não pensou duas vezes antes de sair de casa.

# # # # #

Hermione estava grata pelo silêncio e pela solidão. Não precisou fazer muito para que os outros a deixassem, eles podiam ser insistentes, mas, sabiam quando ela precisava ficar sozinha. Por isso, Hermione foi deixada com um abraço de cada um antes de se entregar aos livros e ao silêncio da biblioteca.

Madame Pince estava mais amena naquele dia, parecia saber que algo acontecera a Hermione, porque até mesmo diminui a quantidade de serviço e não chamou tanto a atenção da morena enquanto ela arrastava o carrinho pelas diversas seções do local. Hermione, pelo contrário, terminara seu serviço do dia e estava adiantando a organização da seção de Psicologia, apenas para se manter ocupada.

Quando estava catalogando os livros de Freud ou de Skinner, entre outros, não precisava pensar. E pensar, nos últimos instantes, significava que Fleur voltaria com tudo a sua mente.

A morena continuava sem saber o que deveria sentir, mas, tampouco conseguia esquecer o que passara. O silêncio que encontrara no corredor era, ironicamente, ensurdecedor, porque ele estava repleto de julgamentos, preconceitos e ódios velados. Hermione não gostara do que sentira e se sentia fragilizada a ponto de se perder dentro de si mesma.

Esperara encontrar Fleur, entretanto, os seus amigos quem a salvaram. Sentia-se desprotegida porque, pela segunda vez, Fleur a deixou com palavras quando tinha que lhe entregar atitudes. Hermione, naquele momento, experimentou a dúvida e sorveu a desconfiança, ambas relacionadas a Fleur, ambas corrompendo de forma dolorosa o que já estava debilitado entre elas.

Hermione abandonou o carrinho no meio da seção de Psicologia e caminhou até o fundo dela, na última estante, colocando um pesado livro na prateleira mais baixa. Quando ergueu o seu corpo devagar, já sentiu que estava sendo observada e quando virou a sua silhueta de volta para o carrinho, encontrou justamente quem procurara e quem, naquele momento, não queria encontrar.

Fleur estava parada ao lado do carrinho, a postura estava longe de ser relaxada, mas, ela tentara sorrir. Uma tentativa que logo se perdeu quando os seus olhos cerúleos encontraram a nebulosidade que fizera casa nos olhos castanhos. De forma igual, as expressões de Hermione e Fleur contorceram-se em dor e incômodo.

Ambas sentiam que o que pesava ali era para ser dividida em duas. Entretanto, Hermione permanecia orgulhosa e sozinha ao carregar aquele fardo.

Foi a morena quem se aproximou primeiro. A coragem sempre fora uma particularidade interessante em sua personalidade, os seus passos soaram duros no piso de madeira e ela não se preocupou em deixá-los delicados. Hermione parou a certa distância de Fleur, cruzou os braços e abaixou os olhos, quando falou, sua voz trazia resquícios de seu esgotamento:

— O que está fazendo aqui?

— Eu soube o que aconteceu. E eu jamais desejei que algo do tipo fosse o resultado das minhas ações. - Fleur falou rápido e soou até desesperada em sua resposta. Para uma pessoa que errara tanto, a explicação para suas atitudes parecia ser uma exigência de qualquer uma de suas respostas. Hermione ergueu os olhos e Fleur foi açoitada pela fragilidade dentro deles, a morena suspirou:

— Mas, aconteceu, Fleur... E eu não lhe culpo por isso. Eu só quero ficar sozinha.

— Você não precisa ficar sozinha, eu estou aqui, Hermione. - Fleur foi, mais uma vez, rápida. Seu corpo aproximou-se de Hermione e ela, corajosamente, envolveu o pulso da morena entre as suas mãos. Seus dedos acariciaram a pele apenas por breves segundos porque, depois, Hermione desvencilhou-se de seu toque.

Fleur, imediatamente, sentiu falta do calor da morena. Hermione deu um passo para trás, a distância voltara a se fazer presente entre as duas. A morena sorriu de forma agridoce para seu coração acelerado, era masoquista a forma como ele insistia em ignorar os erros de Fleur e focar-se naquele toque carinhoso... A dúvida martelou dolorosamente o peito eufórico de Hermione e ela, totalmente insegura, sussurrou:

— Não é o que parece.

— O que você...?! - Fleur estava chocada com a desconfiança presente no tom sôfrego de Hermione, até mesmo engasgou-se em suas palavras porque esperava que, depois de tudo o que fizera, pudesse ter, ao menos, voltado a tocar o coração da morena. Hermione tinha lágrimas nos olhos e, dessa vez, não eram por causa das lentes nem da fragilidade, eram salgadas pela raiva, pelo abandono.

O coração de Fleur parecia ter sido abruptamente posto em seu peito, Hermione o devolvera de forma violenta e a machucara. A desconfiança que encontra nos olhos castanhos disseminou a culpa em sua corrente sanguínea... E Fleur sentiu quando a dor fez casa em seu peito e nublou sua mente. Ela tateou às cegas pela flor que, tão delicadamente, depositara sobre o carrinho. Os espinhos fincaram em sua carne, mas, não pareceram ser fortes o bastante para perfurarem sua pele.

Fleur olhou para a rosa vermelha em suas mãos. O que poderia ser a prova final do que sentia reduzira-se à última tentativa. Os olhos cerúleos encontraram os olhos castanhos e foram, imediatamente, tomados pela tristeza. Hermione podia não querer que se sentisse daquela forma, mas, Fleur não encontrara esperança alguma dentro daqueles olhos que pareciam tão diferentes dos quais se apaixonara.

A mais velha não sabia o que se colocara entre elas, mas, sabia que tudo era a sua culpa. Não teria exposto Hermione daquela forma se não a tivesse magoado, não a teria magoado se não tivesse confiado - tanto em si mesma e em sua família como no sentimento que tinham uma pela outra - e não teria que estar se declarando verdadeiramente quando estava prestes a perdê-la.

Fleur podia sentir que cada segundo que passava agarrada àquela rosa era uma espécie de réquiem ao que ainda possuía com Hermione. Quando deixasse aquela biblioteca, naquela noite, poderia ou não estar com ela... Naquele momento, não havia escolha e nesse mesmo momento, Fleur entristecia-se diante das escolhas que tomara por medo.

Não deveria ter deixado Hermione com palavras quando deveria ter-lhe entregue atitudes.

Agora, era Hermione quem sentia medo e, principalmente, era Hermione quem não confiava. E Fleur não conseguia nem mesmo se sentir ofendida por aquilo porque nenhum poema ou declaração era capaz de ludibriar uma sensação de abandono. A mais velha sabia que abandonara Hermione quando tinha lhe prometido o contrário e não existia justificativa para o que fizera.

Não agora em que fora capaz de se assumir e minar todas as ameaças de Roger... Por que não fizera isso antes? Por que não descobrira o que sentia antes?

Porém, Fleur ainda tinha uma tentativa e dela faria a sua melhor. Ela respirou fundo e pigarreou, Hermione abriu a boca para tentar interrompê-la, mas, Fleur lhe sorriu triste e pediu:

— Por favor.

E Hermione, mesmo machucada, mesmo com o orgulho ferido e o temor pela vida do lado de fora daquela biblioteca a sufocando, foi generosa o bastante para acenar a cabeça. Fleur a olhou nos olhos e lambeu os lábios, corajosamente trêmula, se aproximou e entregou a rosa. A sua boca, mais uma vez, falavam as palavras de outro só que, dessa vez, ela não dava adeus e sim, pedia.

“Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.”
 

As palavras pairaram entre elas, mais reais do que elas gostariam.

Porque, ainda que tivessem sido duvidosamente expostas para toda a Academia, elas ainda eram um segredo obscuro para todos aqueles além delas. Algo que somente as duas entendiam e que estava, literalmente, preso na sombra do que eram para os outros além delas, e na alma que ambas entregavam a outra quando estavam sozinhas.

Era como se tivessem uma delas para os outros e uma delas para a outra e essa última era a que mais significava e, também, a real.
“Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta a luz daquelas flores, 
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.”
 

Isso era muito mais de Fleur do que Hermione.

Muito foi o tempo que passou somente cogitando a ideia de que, um dia, pudesse ter Hermione. Entretanto, foi exatamente essa vontade, esse amor que a fez enfrentar os dias naquela Academia. Os esforços para a manutenção da popularidade eram pequenos perto do que tinha que passar para manter aquele amor calado dentro do seu peito.

Mas, quando inconseqüente e apaixonada, se entregou a ele... Fleur viveu muito mais do que imaginava viver. Com Hermione, a parte mais real e mais humana de si vinha à tona. Ela se despia da figura de aluna modelo, de atleta fantástica e de herdeira... E se entregava ao que era: única e exclusivamente apaixonada por Hermione Granger.  

“Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, 
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,”

As palavras foram declamadas por Fleur, mas, elas ecoaram dentro de Hermione.

A morena não sabia quando foi o momento em que se apaixonou por Fleur Delacour, sequer sabia quando a atração começara... Por isso, não era de se surpreender que também não soubesse o motivo. Entretanto, aquele sentimento se fez presente em sua carcaça tão racional. Fez moradia em meio ao seu raciocínio e nublou o seu julgamento.

E agora, mesmo com o orgulho ferido e a confiança destruída, Hermione ainda a amava, perdidamente. Com lágrimas nos olhos e um aperto sufocador no peito, Hermione ainda era apaixonada por aqueles olhos cerúleos e ainda adorava aquela beleza tão surreal.

Triste, Hermione ainda amava Fleur.
“senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.”***

As palavras de outrem descreveram perfeitamente o que elas não entendiam.

Uma era a continuidade da outra ainda que existisse um abismo intransponível entre elas.

A desconfiança de Hermione parava na coragem de Fleur. A dúvida da morena perdia-se na intensidade da loira. O coração machucado de uma refletia o aperto no peito da outra.

O que era amor para ambas estava destinado somente à outra.

Era a primeira vez que falavam abertamente sobre o amor, mas, parecia que ele sempre esteve presente entre elas, pairando sobre as palavras que trocavam, os olhares que entregavam e nos beijos que degustavam.

Fleur não esperou uma resposta e sim, avançou de encontro a ela. As suas mãos saudosas apertaram a cintura de Hermione e a puxaram. A morena não tentou parar qualquer coisa porque sabia que não era capaz.

As bocas se encontraram no exato momento em que as costas de Hermione encontraram à madeira e os livros. E as línguas se tocaram no momento em que Fleur ofegou de encontro aos lábios de Hermione e a morena se perdeu no calor da mais velha.

Elas não proferiram um “eu te amo”, mas, as palavras vieram no que fizeram e na forma como se reencontraram.

E, tão logo se encontraram, elas se separaram. Dessa vez, Hermione as interrompeu, afastando a cabeça e empurrando Fleur, delicadamente, para longe. O sorriso da mais velha, novamente, se perdeu. Hermione lhe entregou um sorriso triste e Fleur, mais uma vez, se adiantou:

— Por favor... Eu te amo.

— Eu também te amo. - Hermione sussurrou e, em outra ocasião, Fleur ficaria feliz. Porém, o tom de voz da morena não indicava que ela ficaria ou que ela perdoaria. Pelo contrário, o tom era de quem se despedia.

E, de fato, Hermione foi embora. O primeiro passo foi o mais difícil, o segundo pesou muito menos, mas, o terceiro doeu ainda mais porque sentenciou que aquele era o fim.

Elas se beijaram, elas disseram... Mas, Hermione não conseguiu esquecer. A perda, para ela, fora séria e hoje, ela não mais confiava.

Os olhos cerúleos vasculhavam a biblioteca em buscas de respostas, mas, os livros se tornaram dolorosas lembranças e aquele que estava em sua cabeceira, naquele momento, era o que mais doía... O último livro de Hermione, o que sentenciara o fim que ela, teimosamente, não aceitara.

A perda.

Daquela vez, Fleur não se conformou. A perda também foi séria e ela, afinal, não era uma arte... Não poderia existir arte naquilo que derramava lágrimas e quebrava corações.

Toda perda era séria. Ainda mais quando se perdia um amor.

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* William Shakespeare

** Walt Whitman

*** Pablo Neruda


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Notas finais do capítulo

Eu meio que posso sentir o ódio de vocês por mim nesse momento >.<

Mas, peço encarecidamente que esperem... Eu tentei, da minha forma nesse universo alternativo, manter as duas o mais fiéis possíveis a suas personalidades nos livros. Hermione tem esse orgulho todo e essa desconfiança a tudo que é emocional enquanto a Fleur é insegura tentando se passar por forte. E foi exatamente isso que aconteceu aqui.

Não se desesperem, eu ainda tenho um último capítulo!

No mais, espero que tenham gostado... Comentem, recomendem ou me mandem postar mais rápido! Hahahaha

Bem, nos vemos na próxima (e última!)! Obrigada por todo o apoio e carinho, beijos! :)))