Abro os olhos e não vejo Sherlock ao meu lado. Quase me senti triste, mas se Sherlock tivesse ficado no meu quarto a noite toda, Mycroft desconfiaria.

Levantei-me e fui para a penteadeira. Ontem eu esqueci de colocar o pijama então eu ainda estava com as mesmas roupas que passei o dia todo ontem. Quando estou com Sherlock, me esqueço de até de colocar o pijama.

Lembre-me da noite anterior e de tudo o que ele me disse. Sorri sem perceber até que olho meu reflexo no espelho. Eu parecia feliz por fora, meu cabelo estava bagunçado e minhas roupas amassadas, mas mesmo assim eu me achava linda. Acho que quando estamos apaixonadas, nosso amor reflete em nossos olhos e ficamos mais belas. Peguei minhas roupas e andei pelo corredor até o banheiro, saltitante.

O frio estava dando trégua agora que a primavera começou, então coloquei roupas mais leves. Saio do banheiro e o vapor invade o corredor. O meu cheiro estava por todo o lugar. Voltei ao meu quarto e coloquei a pulseira que Sherlock me deu, agora ela teria outro significado. Desci para a cozinha para preparar o café da manhã para todos.

– Senti o cheiro de panquecas e vim direto para cá.

Sorri para Sherlock quando ele se juntou á mim na mesa. Ele pegou um prato e colocou algumas panquecas que estavam em um prato maior no centro da mesa.

– Bom dia. – eu disse depois de engolir.

– Bom dia. – disse Sherlock sorrindo torto. Meu coração quase salta pela boca toda vez que ele sorri desse jeito para mim.

Terminei de comer e me levantei levando meu prato até o lava louças. Pequei um copo no armário e fui até o balcão da pia onde estava o bule com chá. O tomei em pé, na mesma posição em que estava. Enquanto eu tomava meu chá, me lembrava do momento em que Sherlock e eu estávamos em seu quarto e ele caiu em cima de mim. Lembrei-me do quanto foi bom sentir o seu calor daquela forma.

Minha mente vagava tanto que nem ouvi o barulho que Sherlock fez ao arrastar a cadeira se levantando.

Surpreendi-me quando senti suas mãos de cada lado da minha cintura. Seu corpo se colou ao meu. Minhas costas estavam sensíveis agora, eu podia sentir seu coração acelerado.

Não me virei. Senti-o beijando meu ombro direito e minha cabeça girou. Ele estava me deixando louca, acho que eu poderia agarrá-lo ali mesmo sem me importar que Mycroft aparecesse. E, bem, falando no diabo...

Sinto Sherlock se desvencilhando de mim e me viro abrindo a boca para xingá-lo quando vejo Mycroft entrando na cozinha.

– Olá crianças. – ele diz parecendo alegre por ter nos atrapalhado.

– Bom dia Mycroft. – eu digo mesmo querendo que ele tenha o contrário.

Sherlock não diz nada, mas antes de subir pisca para mim me fazendo corar com um sorriso sem graça. Mycroft fingiu que não viu e tentou comer suas panquecas normalmente. Eu sei que ele viu, porque essa era a intenção de Sherlock. Sorrio de novo.

Depois das três primeiras aulas, o intervalo demorou a passar. Principalmente porque John entrou em um assunto que eu não queria. Assim que Sherlock foi ao banheiro, ele não calou mais a boca.

– Molly, o ano está acabando, você vai ao baile de fim de ano?

– Acho que não. Eu não sei dançar. – meu Deus, é verdade, o ano já estava acabando. Será que os pais de Sherlock irão voltar nas férias? Tomara que não.

– Ah, mas o que é isso? Eu sei que não é por causa disso que você não quer ir. Alguém já te chamou para o baile?

– Não... – que garoto esperto. Não é a toa que ele e Sherlock são amigos.

– Bom, agora eu estou te chamando.

– Oh... – eu nãos sabia o que responder, eu realmente nãos sei dançar, mas esse não era o motivo real de eu não querer ir, pelo menos isso ele acertou. Eu nunca fui a um baile antes, nunca quis ir, eles nunca me atraíram, mas porque John queria que eu fosse com ele? Há tantas garotas na escola...

– Se você não quiser ir comigo, é só dizer. – John disse antes de eu responder.

– Não é isso, é que... Eu acho que aquela garota gosta de você. Porque não chama ela? – eu disse apontando para uma garota que estava sentada próxima a nós no refeitório. E realmente, eu já havia percebido que ela olhava de mais para John, tanto quanto eu olho para Sherlock. Então estava na cara que ela gostava dele. John era bonito afinal, e muito simpático também. Impossível alguém não gostar dele.

John seguiu o meu conselho e se sentou ao lado da garota. Sherlock voltou e percebeu a ausência de John.

– Porque John a abandonou aqui e foi se sentar com uma estranha? – eu sorri quando ele perguntou.

– Ele foi apenas convidar a garota para o baile.

– Baile? Vai ter um baile?

– Tem cartazes sobre o baile pela escola toda á mais ou menos um mês, como você não notou?

– Porque não são coisas que considero importantes.

O sinal tocou e voltamos para as salas. O resto do dia passou rápido, quando percebi, o sinal da saída já havia tocado. Arrumei minhas coisas e sai da sala. Quando cheguei ao estacionamento vi alguns jovens do último ano conversando em volta de seus carros. Espero que no último ano Sherlock e eu estejamos como aquele casal ali. Olhei para um casal bonito, isolado da multidão. O garoto estava apoiado no carro abraçando a garota que o abraçava de volta, essa cena tocou meu coração.

– Molly! – a voz de John trouxe-me de volta a realidade, me virei para vê-lo. Sherlock estava ao seu lado, o vento fazia seus cachos voarem e ele sorriu para mim. Ele estava de tirar o fôlego, e eu sabia que não era só eu que me sentia assim. Algumas garotas em volta olharam para ele também. Senti uma pontada de ciúmes.

Ao se aproximarem estendo uma mão para cumprimentar John, mas ele não a apertou. John me deu um beijo no rosto. Eu vi quando Sherlock nos olhou. Ele já não estava mais sorrindo.

– Obrigada Molly. – disse John logo após o beijo.

– Você conseguiu?

– Sim. – ele sorriu feliz ao dizer isso. Oh, John é tão fofo!

Eu sorrio para ele e então me viro para Sherlock.

– Oi. – eu digo primeiro.

– Vamos logo, antes que comece a chover.

É impressão minha ou Sherlock estava com ciúmes? Bom, pelo menos ele estava demonstrando que gostava de mim.

Ele andava me guiando com as mãos ás minhas costas me fazendo andar mais rápido.

– Até amanhã. – John se despede de nós.

– Até mais John. – somente eu respondo, virando apenas a cabeça. Sherlock me empurrava com mais força para que eu andasse mais rápido ainda.

Não acredito que Sherlock está todo ciumento por causa de um beijo no rosto. Eu rio alto com isso.

– Qual é a graça?

– Estou apaixonada por você. – viro minha cabeça para olhá-lo e vejo que está sorrindo ainda olhando para frente.

– E isso é engraçado?

– Estou apaixonada somente por você. – eu digo enfatizando a palavra “somente”.

Ele entendeu o que eu quis dizer e deslizou sua mão das minhas costas e segurou a minha. Andamos de mãos dadas até chegar em casa.

Mycroft sempre chegava mais tarde, porque sua escola era mais longe, então tínhamos uma hora até ele chegar. Uma hora, só nós dois.

Coloquei minha mochila no chão e silenciosamente andei atrás de Sherlock até onde ele estava. Assim que ele colocou sua mochila no sofá eu o abracei por trás o surpreendendo. Beijei suas costas e senti seu corpo estremecer. Dei a volta até ficar de frente para ele, passando uma de minhas mãos por sua cintura.

Ele se inclinou para me beijar, um beijo calmo. Ele estava se controlando. Eu me atrevi a subir um pouco sua camisa e segurar sua cintura por debaixo dela. Notei que ele estava tenso agora, então fui andando para trás fazendo com que ele me seguisse em meio aos beijos.

Quando eu consegui com que ele ficasse na posição perfeita, eu o empurrei e ele caiu sentado no sofá. Ele me olhou confuso e eu adorei isso.

Ajoelhei no sofá e sentei em seu colo. Senti que ele se arrepiou com o toque dos meus lábios em seu pescoço. Parei de beijá-lo e o olhei nos olhos, eu o olhei profundamente, tentando fazer com que ele lesse neles o quanto ele era importante para mim e o quanto eu o queria. O beijei novamente, um beijo doce e lento, ele segurou minha cintura com as duas mãos.

Minhas mãos, que estavam em seu pescoço, foram descendo até a gola de sua camisa. Minhas mãos estavam tremendo, mas eu tinha que continuar, eu queria isso. Desabotoei os cinco primeiros botões da camisa dele, até ele me para segurando o meu pulso.

– Molly... Eu só acho que é muito cedo para fazermos isso.

– Sherlock, nunca é cedo para o amor. – eu admiti, não só para ele, mas para mim mesma, que eu o amava.

– Mas você é tão jovem, acabou de fazer dezesseis, eu não quero tirar sua virtude tão cedo. Não está bom você me ter assim por enquanto?

– Por enquanto. – eu respondi e voltamos a nos beijar, como se só o que existisse no mundo fosse nós e o agora.