Momentos escrita por NathyWho221B


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Hey gnt! Desculpem-me pela demora, mas eu vou recompensar vcs com esse capítulo, que é bem grande rsrs. Bom, divirtam-se!
Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=AqajUg85Ax4



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CHUVA

Estávamos em Setembro
Num ano que não me lembro
O dia nem sei qual era
Mas me recordo das flores
Do esplendor de suas cores
Devia ser Primavera

A chuva caía fina
Molhando toda a colina
Trazendo vida ao lugar
O Sol às vezes surgia
Mas a chuva insistia
Tão logo não ia parar

Contemplando a cena bela
Debrucei-me na janela
E num cochilo sonhei
Viajei pelas estrelas
Poderia até descrevê-las
Naquele momento fui rei

Conheci planetas mil
Galáxias que nunca se viu
Mas não vi o que eu queria
Acordei aborrecido
O coração dolorido
E vi que ainda chovia...

Pedro Martins

***

O barulho da chuva batendo contra o meu quarto me fez acordar. É a chuva de primavera, ainda havia alguns vestígios de neve pelo jardim. Eu não consegui ver a flor azul, pois quando á vi eu estava na janela da sala, então desci as escadas.

Pela janela, foi a primeira flor que vi, mesmo estando escondida entre a grama verde- escuro. Já podia se ver algumas outras flores, crescendo espalhadas pelo jardim, mas nenhuma delas era tão bonita quanto à primeira flor da primavera.

Olhei em volta e vi o carro dos Holmes. Já eram oito da manhã quando eu os vi entrando um por um no carro. Primeiro o Sr. Holmes, com os braços cheios de malas penduradas, as colocou no porta-malas e entrou. Em seguida a Sr. ª Holmes e Mycroft. Ela, diferente de Mycroft, parecia animada. E por último, Sherlock. Eu pude vê-lo olhando para a minha asa, procurando algo. Ele devia estar me procurando, meu coração doeu com isso. Não me encontrou.

Quando o carro sumiu na neblina, meu coração se apertou. Foi como se alguém estivesse o segurando muito forte, apertando-o tanto que fazia-o sangrar, pingando gotas de sangue, como a chuva. Nunca pensei que a chuva fosse tão triste. Na verdade eu nunca estive tão triste, pelo menos, não a ponto de não conseguir chorar. Talvez o céu esteja fazendo um favor para mim.

Agora eu só tinha os meus pais e Toby. Meu gatinho percebeu que eu estava triste e veio se sentar no meu colo, assim que eu me sentei no sofá. Eu ainda estava de pijamas e descabelada, mas eu não estava com mínima vontade de me arrumar. A partir desse momento, percebi que o tempo já não importava mais.

Os dias viraram semanas, as semanas meses e os meses, anos. Os anos se passaram de forma comum, eu não me importava mais com o que acontecia, exceto com o que acontecia com a minha família.

Formei-me na escola e na faculdade de medicina. Eu pensei que seria melhor eu me focar nos estudos, então me formei na faculdade sendo a melhor da turma. Meus pais ficaram orgulhosos e eu me senti feliz com isso. Era o mínimo que eu podia dar a eles por quase entrar em uma depressão, depois que Sherlock foi embora.

Assim que me formei na faculdade, estava decidida á morar com meus pais... Até que aconteceu o acidente de carro. Somente o meu pai sobreviveu. Durante os meses que se seguiram, ele ficava cada vez mais e mais triste e isso dilacerava o meu coração, então eu tocava algumas músicas alegres para ele, no piano. Minha música era a única coisa que ainda o fazia sorrir às vezes.

Mesmo assim, não demorou muito para ele se juntar á mamãe. Ás vezes eu imaginava que ele já sabia que iria morrer. Em alguns momentos, eu estava muito ocupada com o trabalho para dar atenção, mas de relance eu o olhava. Ele tinha o olhar triste, daqueles que temos quando percebemos que ninguém está nos olhando. E ele tinha esse olhar. Tinha.

Não conseguia continuar morando naquela casa. Eram muitas lembranças a todo o momento fazendo redemoinhos em minha cabeça. Então decidi me mudar para um apartamento com Toby. Minha única companhia restante. Levei daquela casa só o que era importante, todos os álbuns de fotos da minha família, as coisas de Toby, meu piano e um vaso onde coloquei a flor azul. O resto dos móveis decidi vender junto com a casa, então tive que comprar todos os móveis do meu apartamento.

Dinheiro não era problema para mim, felizmente não sou uma mulher muito consumista, então eu tinha uma grande quantia no banco, que me fez gastar uma boa parte com o apartamento, que achei um pouco espaçoso de mais para uma única pessoa, mas ainda sim sobrou bastante dinheiro para comprar os móveis. Com tanto gasto, o meu dinheiro quase chegou ao fim.

Depois daquele acidente de carro com a minha mãe, e da morte do meu pai, só me sobrou Toby. Eu... Eu tinha perdido de novo. Uma seguida da outra. Eu quase não tinha mais forças... Para continuar a minha vida, como se nada tivesse acontecido. Quantas vezes o coração pode quebrar e ainda continuar batendo?

Talvez o meu destino seja ficar sozinha. Até Toby parecia meio doentinho. Tudo bem que ele já tem quase 15 anos comigo, então morrer de velhice é normal, pode ser que esse seja o meu limite. Se ele me deixar... Não sei se vou aguentar.

Mas aguentei, eu sempre aquento. Acho que o meu coração é o mais forte do mundo. Eu não conseguia chorar desde que Sherlock se foi, então nesse caso foi a mesma coisa.

Depois de algumas semanas de luto, sozinha, decidi mudar de emprego. Um que seja mais próximo ao meu apartamento, e não achei lugar melhor que St. Bartholomew’s Hospital. Amanhã será o meu primeiro dia como legista. Não é todo mundo que prefere trabalhar com cadáveres, mas eu já estou acostumada a lidar com mortes, então acho que eles vão gostar de mim.

***

Basicamente, foi um dia de trabalho normal. Não foi tão cansativo quanto eu pensei que seria para um primeiro dia de trabalho. Conheci algumas pessoas legais, outras nem tanto... Até que ele chegou como um furacão.

– É recente? – ele perguntou descobrindo o rosto do corpo.

– Acabou de chegar. Sessenta anos, causas naturais, trabalhava aqui. Eu o conhecia antes. Ele era legal. – eu o respondi com algumas informações a mais. Eu não pude evitar de sorrir , mesmo com um corpo de alguém conhecido em nossa frente, ele estava de volta!

– Certo. Começaremos com o chicote.

Eu me retirei da sala quando ele pegou o chicote. Nem acredito que é Sherlock! E agora ele é detetive, e está... Mais bonito do que eu me lembrava, um pouco forte até. Eu fui ao banheiro e passei um pouco de batom. Talvez assim eu chame a sua atenção e ele se lembre se mim.

Eu o observei pela grande janela de vidro enquanto chicoteava o corpo, antes de entrar na sala.

– Então, dia ruim, não é?

– Quero saber quais ferimentos surgiram nesses vinte minutos. O álibi de alguém depende dele. Mande SMS. - ele disse sem parar ignorando a minha pergunta.

– Estava me perguntando. Depois, quando terminar...

– Está usando batom. Não estava usando antes.

– Eu... Passei um pouco.

– Desculpe o que dizia?

– Queria saber se gostaria de tomar café.

– Preto, duas colheres de açúcar, por favor, estarei lá em cima.- ele disse saindo da sala apressadamente sem nem mesmo me deixar escolha.

– Certo...

Será que ele não entendeu, ou estava me dando um fora? Como ele pode não se lembrar de mim? Será que eu não signifiquei nada para ele? Bom, se ele esqueceu eu vou fazê-lo lembrar. Afinal, não tenho mais nada a perder. Mas por enquanto é melhor eu servir o café.

Sherlock estava no laboratório conversado com dois homens. Um baixo e loiro, com um rosto familiar, e Mike Stamford. Ele era legista aqui do St. Barts, eu o conheci hoje, ele é legista também, o achei muito simpático.

Fiquei um pouco envergonhada quando entrei no laboratório, eles pareciam ocupados, então não me manifestei ao entrar.

– Molly, café, obrigado. Que houve com o batom?

– Não ficou bom em mim. – eu tinha tirado o batom antes de pegar o café. Achei que se eu o passasse ficaria mais bonita, mas no final ele nem percebeu o que eu estava tentando fazer, mas de qualquer forma, jeito como ele observa as coisas me assusta um pouco.

– Sério? Estava melhor. Sua boca está pequena agora.

– Certo...

Como ele pôde falar assim com uma mulher? Ele não tem sentimentos? Era óbvio que os outros dois homens que estavam no laboratório perceberam que eu estava tentando flertar com ele, pelo modo como ele falou do meu batom, o que me deixou mais envergonha ainda. Todos estavam olhando para mim.

Eu estava mais envergonhada do que quando eu entrei na sala. Dei um jeito de sair de lá rapidinho de cabeça baixa, evitando os olhares.

Como Sherlock ficou tão frio e indiferente? Bom, isso é normal para ele, mas eu tinha o mudado antes... Aposto que isso tem a ver com Mycroft. Era ele que não queria que Sherlock se envolvesse com as pessoas. Bom, parece que ele conseguiu. Parabéns Mycroft, mas eu não vou desistir. Sherlock é o único que ainda me resta e eu não vou deixá-lo ir dessa fez, vou agarrá-lo com unhas e dentes... Se ele ainda me quiser, é claro.

Demorei alguns dias para desempacotar todas as caixas que ainda estavam espalhadas pelo meu apartamento. Em nenhum desses dias Sherlock apareceu no St. Barts. Eu voltei a tocar piano, uma coisa que eu não fazia há tempos. Isso me ajudava a reorganizar os meus pensamentos e expor os meus sentimentos indiretamente. Comecei até a compor uma música, conforme os meus sentimentos.

Meus sentimentos estavam confusos. Eu estava confusa. Não estou tão diferente de quando éramos adolescentes. Talvez ele esteja me ignorando de propósito. Talvez ele tenha ficado chateado quando eu não apareci para me despedir dele naquele dia. Não sei. É difícil adivinhar o que se passa na cabeça dele.

Olhei para a flor azul no centro da mesa de jantar enquanto colocava uma colher de sopa em minha boca. Ele é tão parecido com essa flor...

***

No horário do almoço do St. Barts, eu estava passeando pelo refeitório escolhendo o que eu iria almoçar.

– O que acha: porco ou massa? – ouço alguém com a voz grave me perguntar e me viro para olhá-lo.

– Ah, é você.

– Suponho que nunca vai incomodar Egon Ronay, não é? Eu colheria massa. Não comeria carne enquanto corto cadáveres. – oh, lá vem ele com informações desnecessárias. Mas, pensando bem, é melhor eu escolher massa mesmo.

– O que vai comer? – eu pergunto.

– Não como enquanto trabalho. Digestão me deixa mole.

– Então está trabalhando aqui hoje à noite?

– Preciso examinar alguns corpos.

– Alguns?

– Eddie Van Coom e Brian Lukis.

– Eles estão na minha lista.

– Tem como facilitar para vê-los? Por mim.

– Bem, é que... A papelada já foi liberada.

– Você mudou o cabelo. – ele muda de assunto de repente.

– O que? – eu pergunto meio envergonhada e com um sorriso bobo no rosto. Ele percebeu!

– O jeito dele. Geralmente você o reparte ao meio.

– Sim, é que...

– Ficou bom. Ficou melhor em você.

Fiquei tão feliz com o elogio que nem pensei duas vezes para leva-lo até os corpos que ele precisava examinar. Um homem o acompanhou até o necrotério.

– Só estamos interessados nos pés.

– Nos pés? – eu perguntei. Que estranho.

– Sim.

Descobri os pés de Brian Lukis. Não sei se foi impressão, mas os olhos de Sherlock demoraram em mim, antes de ver os pés do corpo. Foi então que percebi que tinha uma marca na sola de um dos pés.

– Agora, Van Coon.

A mesma marca. Sherlock e o homem trocaram algumas palavras antes de saírem, com largos e rápidos passos, do necrotério. Ele nem sequer me agradeceu, e nem se despediu de mim... Tudo bem, uma hora ele vai perceber o quanto eu ainda o amo e até chegar esse dia, eu vou continuar tentando.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? Até o próximo capítulo , beijinhos!



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