Dois dias depois:

A chegada de alguns nobres estava tumultuando nossa vida. Tínhamos que fazer o triplo de comida e lavar o triplo de coisas e como aqueles eram os primeiros dias deles a gente tinha que fazer com que sua chegada fosse muito acolhedora e que o castelo estivesse impecável. Eu ainda não tinha tido a chance de ver os nobres que chegaram, mas sabia o nome da maioria.

–Vamos lá, temos que levar tudo para o almoço nesse exato momento. –Nelly suspirou, mandando as meninas com as bandejas. Eu fui à última a pegar e já estava quase saindo quando a minha chefe me puxou com cuidado.

–Atena... Essas chegadas são perigosas. Tome cuidado, você e Felipe.

Deixei com que meu queixo caísse. Eu não sabia como ela sabia de mim e de Felipe e aquilo fez algo revirar na boca do meu estômago. Já eram dois que sabiam, ela e Gabriel. Eu sabia que eles não fariam nada, mas se os dois sabiam quem mais poderia saber disso?

–Nelly...

–Você tem que subir agora. –Ela suspirou. –Depois nós conversamos.

Assenti com a cabeça, sentindo minhas mãos tremendo mais que vara verde e simplesmente subi. Segui pelo caminho estupefata, mais estupefata impossível. Andava inconsciente porque já sabia o caminho automaticamente porque meus pensamentos estavam á mil e eu só fui recobrar a consciência quando entrei na sala de jantares de visitas.

A mesa grande estava repleta de gente. Na cabeceira estava Vinicius, obviamente. Felipe puxava a fila ao lado direito. Á frente dele eu reconheci uma mulher sendo como a Duquesa Laiara. Ela era linda e ao mesmo tempo bastante intimidadora. Sua pele era branca com algumas sardas bem discretas, os olhos azuis dela eram terrivelmente assustadores e seu olhar me dava sinceros arrepios. Os cabelos negros estavam presos num coque bem firme, mas eu sabia que eram bonitos.

Ao lado dela estava provavelmente aquela que seria sua filha mais velha, Skylar ou simplesmente Sky, como era conhecida. Bastante parecida com a mãe e muito bonita o que também me doeu porque eu sabia que ela era a principal cotada para casar com Felipe. Tinha os cabelos negros da mãe e eu percebi que estava soltos correndo em cascata pelas costas, como uma linda cortina. Era incomum o uso de cabelos soltos dessa forma, mas eu sabia a razão. A razão tinha nome, sobrenome e cabelos loiros. Os olhos de Sky eram bem parecidos com os meus, grandes e azuis. A pele alva começava a ter sardas e a boca tinha a mesma vermelhidão da mãe Depois de Sky, estava outra que eu pensei ser Beatrice, a irmã mais nova desta. Seguia o mesmo padrão, cabelos negros dessa vez também presos em um coque e um lindo par de olhos azuis. Mas percebi que a pele dessa não tinha começo de sardas e o batom era bem mais leve do que o das outras duas.

Vi Theodore do lado esquerdo da mesa. Provavelmente era ele pelas descrições do príncipe. Os cabelos eram aloirados como os do primo, os olhos azuis eram lindos e terrivelmente penetrantes (mas parece que todo mundo tem olho azul por aqui), tinha uma leve barba e um corpo de dar inveja.

Ele percebeu que eu estava observando e piscou pra mim, me fazendo ficar mais vermelha que um pimentão e parando de observar os outros nobres que tinham por ali. Só distribuí a comida pela mesa e saí junto com as outras garotas, de volta aos meus trabalhos.

~X~

Eu estava limpando as estantes da biblioteca com algum custo (sabe quantas estantes tem naquele lugar?) com um espanador quando ouvi um barulho. Observei discretamente Beatrice passando pela porta e ficar quase tão maravilhada quanto eu com o lugar. Dei um sorriso discreto e voltei ao meu trabalho, mas sempre atenta à garota que parecia perdida:

–Eu sugiro “Fleur Rose”. Segunda prateleira, terceira divisão, quarto livro. –Falei para a garota, sem conseguir me conter. Eu nunca conseguia me conter. Gabriel tinha razão, eu deveria começar á me cuidar. –Senhora.

–Senhora? –Ela deu um sorriso. –Beatrice já está bom demais. Ou Bia, se quiser. E você? Qual é o seu nome?

–Meu nome é Atena. –Retribuí o sorriso doce dela, ficando feliz por ela não ter ignorado minha fala como tantos outros fariam.

–Você lê em Francês, Atena? –Ela perguntou pegando o livro que eu recomendei e olhando da capa pra mim, de mim para a capa.

–Leio. –Corei desviando o olhar para as estantes que eu ainda tenho que tirar a poeira.

–Que incrível. Eu tenho muita dificuldade no Francês, isso não entra na minha cabeça de forma alguma.

–Mas é um idioma tão gostoso de ler e estudar. –Minha voz sai naquele tom sonhador que surge quando eu falo de algo que gosto. É um tom único. –Francês e italiano são minhas paixões.

–Entendo. Eu já detesto. –Ela sorriu pra mim e vi que ela era realmente bastante parecida com a irmã, mas as duas tinham belezas muito diferentes. Eu realmente preferia a de Beatrice. –Pra mim é muita complicação. Muitas regras, minha cabeça dá um nó gigante.

–A linguagem desse é simples, acho que você vai gostar. –Dou um sorriso e ela retribui, até que ouço a porta abrindo novamente e vejo sua irmã passando por ela. Não pude deixar de sentir aquela dor no estômago novamente. Deus, ela era realmente bonita.

–Então é aqui que você se escondeu. –Sky observa os livros ao seu redor, sem nem metade da admiração que a irmã mais nova demonstrara antes. –Vem Beatrice. Não queremos perder tempo com bobagens não é?

–Eu não tenho ambição de me casar com ninguém Skylar. Então me deixe quieta. Você é a estrela aqui, eu não preciso ficar andando pelo castelo ao seu lado.

–Tem razão, mas se Felipe pensar que nem minha irmã quer ficar comigo, o que pensará de mim?

–Não importa o que ele vai pensar de você Sky. Isso não tem a ver comigo. Minha presença não vai mudar absolutamente nada no seu possível matrimônio.

–Possível não, Bia. Vai ter casamento e ponto. Agora, já que quer ficar com livros e criados, boa sorte.

A morena se virou e saiu enquanto Beatrice revirava longamente os olhos e se sentava. Eu estava tentando controlar meus olhos para não marejarem, mas era impossível. Tinha medo do dia que aquilo virasse uma realidade, mas já era uma. Felipe faria vinte e um anos e se casaria com Skylar Century. Era para eu estar pronta pra isso, mas eu não estava.

–Tenho pena desse príncipe que vai ter que agüentar essa garota. –Bia comentou e eu apenas suspirei.

–Não é da minha conta. –Falei amigavelmente. –Agora eu tenho que ir antes que minha chefe me busque pelas orelhas. Com sua licença.

–A gente se vê. –A garota falou com um sorriso contente e eu decidi que apesar de sua família ter vindo com o objetivo de tirar Felipe de mim de uma vez por todas, eu gostava dela.

~X~

–Você está bem? –O loiro passou os braços pela minha cintura. Estávamos os dois sentados num canto do jardim e eu deitei a cabeça no ombro dele. O treinamento havia sido incrível.

–Ela é bonita. –Falei simplesmente, olhando para cima e encarando o céu estrelado. –Skylar. Ela é muito bonita.

–É, ela é sim. –Ele concordou e depois se tocou. –Atena, você está com ciúmes?

–Desconheço essa palavra. –Resmunguei um pouco irritada, sentindo novamente aquela dorzinha ruim no estômago. Deus, eu estava e aquilo doía. E eu pensando que nunca teria esse sentimento terrível dentro de mim.

–Ei, minha pequena... Eu estou com você, não estou? –Ele segurou meu queixo me obrigando a encarar os olhos verdes. Com cuidado tirou uma mecha de cabelo ruivo que escapara do coque frouxo e fora para os meus olhos. –E, além disso, nenhuma mulher é mais linda pra mim que você. Tudo em você me enlouquece.

Eu poderia rebater e dizer que não importava porque no fim das contas era com ela que ele iria para o altar. Mas não queria atrapalhar aquele momento que poderia ser um dos últimos no fim das contas. A presença de Sky e toda aquela coisa com o ciúme havia me deixado cansada demais para acabar numa discussão.

–Nelly sabe de nós dois. –Contei, mudando totalmente de assunto.

–Eu já imaginava. Nelly acaba sabendo de tudo no fim das contas. Mas ela gosta de você e tenho certeza que não tem nenhuma aversão contra a isso.

–Mas ela já sabe e Gabe também. Quem mais vai acabar sabendo? Se alguém de errado descobrir, eu estou morta.

–Não vou deixar ninguém fazer mal á você Atena. Prometo. –Dizendo isso ele me beijou furiosamente, de um jeito que parecia me desvendar completamente. Infiltrei minha língua em sua boca para responder de igual para igual e ele me puxou para o seu colo.

Ele infiltrou a mão no meu cabelo e gentilmente puxou para trás, para deixar acesso livro a meu pescoço onde começou á distribuir leves beijinhos e algumas mordidinhas que me arrepiaram da cabeça aos pés. Minhas mãos correram para sua nuca, arranhando ali e descendo para as costas.

Felipe aproveitou que os botões daquele vestido para tirar o primeiro da casa. Com todo o cuidado do mundo afastou o tecido e desceu os beijos para os ombros enquanto suas mãos já mapeavam minha cintura.

De repente ele voltou para os meus lábios e beijando desesperadamente voltou á colocar o botão na casa e gemeu baixinho de desespero, como se buscasse por controle. Eu também buscava enquanto descia do seu colo:

–É terrivelmente difícil manter as mãos longe de você. –O loiro falara de olhos fechados e cenho franzido.

–É melhor irmos dormir. –Falei e depois ri baixinho. –Antes que façamos alguma besteira.

–Concordo plenamente.

Nós dois rimos e nos levantamos. Eu sentei no balanço suspirando. Precisava cantar ainda para ele. Deitei minha cabeça na corda do balanço e fechei os olhos, dando o tempo dele chegar ao quarto. Então tirei uma canção do fundo da minha alma e coloquei para fora aquela angústia que estava doendo:

“Te vejo errando, isso não é pecado

Exceto quando faz outra pessoa sangrar

Te vejo sonhando e isso dá medo

Perdido num mundo que não dá pra entrar

Você está saindo da minha vida

E parece que vai demorar

Se não souber voltar ao menos mande notícias

Você acha que eu sou louca, mas tudo vai se encaixar

Estou aproveitando cada segundo

Antes que isso aqui, vire uma tragédia”