O local escolhido para o piquenique ficava perto do lago, sob o ar fresco de um bosque contornado por salgueiros, onde um lindo coreto em estilo grego repousava no centro. As turmas foram organizadas de acordo com a familiaridade. Bella conhecia quase todos que estavam em seu grupo, exceto por uma mulher, que visitava a Viscondessa e que fora incluída .

A moça, que se chamava Tânia, era muito bonita. Pele alva, lábios rosados, olhos espertos num tom de mel. Vestia-se como Isabella, com um vestido claro, de mangas curtas e chapéu branco, porém deveria ser uns quatro ou cinco anos mais velha.

Jacob, mais descontraído e distraído que normalmente (especialmente em relação à Bella), dava singular atenção à visitante, provocando em Isabella a mesma sensação de quando o vira dançar com Rosalie. Que agora, apesar de estar ali, muito perto dele, não recebia qualquer tipo de atenção do futuro marquês.

Para Bella aquela visão do homem que amava mostrando tanta dedicação a outra mulher, era torturante, e tudo o que garota desejava era escapar dali. Fugir para não presenciar o modo como Jake olhava e falava com Tânia. Então, tão logo foi possível pediu a mãe para caminhar um pouco.

– Peça a Edward para acompanha-la – Renée logo sugeriu acreditando que essa era a intenção da filha, ficar a sós com o jovem Black.

Apavorada diante da possibilidade de ser colocada numa situação sem volta, Bella quase desistiu da decisão de se afastar do lugar. Mas Edward, o cavalheiresco Edward, alvo de sua mãe não estava por perto. Sumira. Rapidamente a garota suspirou aliviada achando que essa era sua melhor oportunidade de escapar sozinha. Usando a desculpa de procurá-lo, conseguiu a bendita autorização.

Caminhar entre as árvores era mais fácil e revigorante do que ficar sentada num tapete, comendo bolo, bebendo suco e, vendo o que não desejava ver. Principalmente porque Jake mal lhe concedera um bom dia singelo e rápido. Estava completamente absorto pela outra mulher.

Ah, como odiava isso! Essa incapacidade de fazer algo que pudesse reverter tudo.

De certa forma, pensava confusa, era culpa dela, afinal não evitara aquele sentimento que só lhe traria tristezas.

E quem conseguiria evitar? Ela se perguntou parando ao lado de uma árvore.

Talvez até conseguisse se tivesse ouvido os conselhos de Renée e evitado tantas conversas com o libertino. Mas, Bella contabilizava, ele nunca lhe dissera nada demais, nunca se insinuara como estava fazendo com Tania. Ele apenas a tratara bem.

Voltando a caminhar moveu a cabeça em negativa, isso não poderia ser considerado como desculpa, pois ela sabia, sabia muito bem que estar perto de Jacob era correr perigo.

De repente, uma brisa suave moveu seu xale, jogando uma ponta para trás, distraindo-a dos pensamentos doloridos e confusos. Mudando de posição a garota o puxou para os ombros novamente, e de relance viu Jacob passar ao longe, apressado, sozinho, em direção a um labirinto formado por paredes de ciprestes. Sem pensar duas vezes se devia ou não, com o coração acelerado o seguiu tomando todo o cuidado para não ser vista.

Alguns passos depois percebeu que sua artimanha fora mal sucedida, pois o perdera completamente de vista. Entretanto não havia outro lugar para onde ele poderia estar indo, naquela direção só havia o labirinto.

Entre cuidadosa e apressada ingressou na porta formada por enormes arbustos floridos. Nunca gostara daquele lugar, era assustador e por isso caminhava lentamente, aturdida entre os corredores ladeados pelas plantas que se erguiam além de sua cabeça.

Depois de alguns segundos Bella se recriminava por ter sido tão estupida e cuidadosa, Jacob escapara, sumira, não haveria meios de encontra-lo naquele lugar. O melhor era desistir da busca e sair dali.

Caminhando com certa rapidez, a garota buscava pela saída quando sentiu alguém lhe puxar com força pelo braço até que se chocasse contra um corpo grande e firme. Sem que qualquer palavra tivesse sido dita, lábios quentes e macios pressionaram os seus com volúpia. Mãos que sabiam o que faziam, apertaram seus ombros e lentamente desceram por suas costas até chegarem as nádegas, onde se acomodaram sem qualquer delicadeza.

Apavorada, Bella tentou se afastar espalmando as mãos no peito amplo, mas era impossível, estava totalmente presa e mal conseguia ver a pessoa que a apertava, pressionava seus lábios e segurava seu bumbum com tanta indiscrição.

Por vários segundos o beijo se estendeu. Era saboroso, quente e úmido. A boca que possuía a sua parecia ter a medida exata. Sem qualquer autorização seu coração disparou provocando um leve entorpecimento das sensações vindas de fora daquele lugar.

Mesmo assim, um pensamento desesperado a invadiu: Se alguém os visse naquela situação estaria perdida! Sua mãe a mataria antes mesmo de obriga-la a se casar.

– Oh meu Deus!... Bella!

Alguém gritou alto e, apavorada Bella logo reconheceu a voz, era sua prima Leah. Ninguém conhecia aquele labirinto melhor do que ela. Mas, o que estaria fazendo ali?

As mãos que ainda a seguravam a liberaram imediatamente, e para sua total e completa surpresa, o homem que a beijava e agarrava tão indiscretamente era ninguém menos do que Jacob.

– Oh!... – o som escapou de seus lábios enquanto ela dava um passo para trás, cobrindo a boca com as mãos.

Jacob a olhava completamente aturdido.

Como aquilo acontecera? Marcara de encontrar a amiga da viscondessa, e acabara agarrando a futura... esposa do irmão. Seus olhos correram do rosto assustado de Bella para o de Leah e seu acompanhante, que era nada menos que ele, o próprio, Edward.

– Foi um acidente! – Jake falou, mas a voz não saiu firme o suficiente.

Como explicar o que estava acontecendo ali? Não havia explicação. Por experiência ele sabia muito bem.

Edward olhava o irmão entre divertido e irônico, com um sorriso brincando nos lábios. A partir daquele momento estava livre da pressão feita pela mãe para que se casasse com a filha do Barão. Afinal, depois de ter sido pego em flagrante num beijo impudico, só sobrava uma opção a seu irmão mais velho, casar-se ele mesmo com Isabella.

– Isso não pode sair daqui! – Leah falou baixo remexendo as mãos nervosamente.

Ainda havia uma chance de salvar Isabella de se casar com aquele homem, se eles fizessem um pacto de silêncio. Mas, enquanto ela terminava de falar, apareceu mais uma pessoa no lugar, a amiga da viscondessa. O real encontro de Jake, Tânia.

Pelo seu jeito falsamente encabulado de quem chegava no momento errado, a mulher não escondia que vira e ouvira tudo. Sim, ela não só imaginava o que estava acontecendo ali pois, marcara um encontro com o homem que agora parecia estar totalmente encrencado e preso a uma garota que mal saíra das fraldas.

Jacob ficou ereto percebendo que nada mais havia que fazer além do correto. Sua posição, sua honra o obrigavam a tomar a atitude certa. Foi afoito, não prestou a devida atenção à pessoa que atraia para si. Agora, deveria pagar por essa distração.

Tomando posse de sua habitual segurança Jake pediu licença aos observadores, dizendo que precisava falar com a senhorita Swan a sós. Desconfiadas, mas crentes na palavra de Edward que garantira o fato do futuro marquês não ser nenhum canalha, apesar de ter fama de libertino, as damas saíram e deixaram o casal sozinho.

Assustada Bella ainda sentia o gosto dos lábios dele nos seus. A pressão das mãos grandes em seu corpo. As pernas bambas e o coração disparado.

– Em primeiro lugar lhe devo desculpas... – ele falou direto encarando-a muito sério.

Jacob estava contrariado. Aquele beijo realmente não passava de um acidente. Imediatamente Isabella deduziu que ele esperava pela amiga da viscondessa e provavelmente a confundiu com a outra. Elas eram fisicamente parecidas e estavam com vestidos quase iguais. Sem falar no chapéu branco de aba frontal que cobria boa parte do rosto.

– Foi um acidente. – ele repetiu sem necessidade – Mas, prometo repará-lo com um pedido formal de casamento.

Bella tomou um susto.

Casamento? Ela não acreditava no que ouvia. Era certo que desejava casar, e desejava casar com ele, mas não dessa forma, vendo o homem que amava sendo obrigado a fazer o pedido.

– Não acredito que seja necessário. – ela tentou dizer – Minha prima não fará qualquer comentário, seu irmão também não e aquela...

A expressão fechada no rosto dele não era agradável de ser vista. Bella desejou desviar o olhar. E quando Jacob a interrompeu foi ainda pior, a voz estourou em seus ouvidos como um trovão furioso.

– O assunto está definitivamente encerrado senhorita Swan – agora ela era senhorita outra vez? - O pedido será feito, não sou o tipo de homem que abusa da honra de moças sem fazer uma reparação adequada.

Ela não queria isso. Mas, diante da forma como a situação estava sendo colocada por ele, nada havia que pudesse fazer para reverter o desfecho daquela lamentável confusão.

Encarando o rosto sério de Jacob, Isabella percebeu que a relação deles mudara completamente. Aquele acidente colocou um ponto final na amizade mal começada ao transforma-la num casamento por obrigação. Se antes parecia difícil chegar ao coração de Jake, agora, Bella considerava a missão praticamente impossível.

Ninguém passa a amar alguém só porque foi obrigado a casar.

*

Renée quase caiu para trás quando, dois dias depois do piquenique, Bella informou à mãe que Jacob Black iria até a casa deles no final daquela tarde.

– O filho do Marquês? – Renée perguntou incrédula.

– E há outro Jacob Black na região mamãe?

Para Renée essa visita era inapropriada.

– O que ele vem fazer aqui? Pedir sua mão em nome do irmão?

Aquela ideia fixa estava começando a irritar, o bom em tudo isso era que depois da visita de Jake, o assunto sobre Edward estaria definitivamente encerrado.

– Não mamãe, ele vem “me” visitar... (e falar com vocês) – ela pensou mas não disse.

Os olhos da mulher desviaram da empregada para quem dava ordens e encararam a filha, achando que a garota estava delirando.

– Visitar você? Por quê?

– A senhora saberá quando ele chegar.

A jovem informou e já ia saindo de perto da mãe quando esta a chamou novamente.

– Ele ficará para o jantar? Preciso saber para organizar um cardápio adequado ao futuro marquês.

– Não sei... – era verdade, apesar de Bella suspeitar que após o pedido de casamento ser feito, e mesmo que estivesse contrariada, Renée o faria jantar para mostrar seu lado dona de casa extremamente eficiente. Entretanto, não era certo que isso acontecesse. Talvez Jacob não desejasse ter mais contato do que o necessário com ela e com sua família.

– Isabella!

Renée chamou fazendo a filha parar no meio do caminho.

– O que a senhora deseja mamãe?

– Escolha um belo vestido. Não vista qualquer coisa. A visita dele é importante... Com certeza virá com o intuito de saber como nossa filha é, e se o matrimônio entre o irmão dele e você não será desvantajoso para a família dele.

Soltando um suspiro Bella pensou em não dar qualquer resposta, mas no fim falou:

– Se assim fosse, a senhora não acha que quem viria seriam os pais dele?

Talvez Bella tivesse razão. Renée pensou enquanto via a filha se afastar. Mas, se não era esse o motivo da visita, ela não conseguia imaginar qual seria. Porém, uma coisa era certa. Mesmo que detestasse a ideia de ter um libertino declarado dentro de sua casa (ela, assim como toda a cidade, sabia do caso dele com a cortesã, além das noites em jogatinas), Jake era irmão do futuro marido de sua filha, e também, no futuro seria um marquês. Algumas vezes era preciso fazer vistas grossas para alguns defeitos ante o vislumbrar de benefícios que certas amizades trariam.

*

Na casa do Marquês de La’Push, Sarah mostrava toda a irritação que aquela súbita mudança de planos estava causando.

– Não consigo acreditar nisso Jacob! Como pode ser tão irresponsável?

A reunião da família Black na biblioteca já se estendia por mais de meia hora.

Silenciosamente sentado no canto da peça Jacob, com os braços cruzados sobre o peito, apenas ouvia as recriminações da mãe. Encarava o olhar surpreso e assustado da irmã a contrastar com o brincalhão e alegre de Edward. E se deparava com o sorriso vitorioso que Ephraim não fazia qualquer esforço para esconder.
O marquês finalmente conseguia o queria, casar o filho mais velho. E não importava como isso aconteceria, o fato era que aconteceria.

– Como pode fazer isso com o seu irmão? - a voz de Sarah ecoava nervosa.

Edward erguendo as mãos tratou de mostrar que não tinha nenhum problema com o fato de não se casar com Isabella.

– Está tudo bem mamãe... há muitas garotas solteiras na região, e esse número aumenta a cada ano com as apresentações. Não faltarão opções...

Assim que concluiu a frase o rapaz sentiu o olhar gélido da matriarca sobre si a refrear seu espírito brincalhão e achou melhor ficar calado.

– O que está em jogo aqui Edward é o comportamento de alguém que um dia comandará esta família! Como poderemos confiar no futuro marquês se ele toma atitudes como essa quando ainda nem assumiu o título?

– Mamãe! Não fale assim! Jacob sempre nos ajudou e protegeu... – Emily interrompeu e recebeu um olhar penosamente cúmplice de Edward. Ele sabia que a caçula seria repreendida de maneira exemplar para que não mais voltasse a fazer qualquer tipo de comentário.

Dito e feito, Sarah estendeu o dedo em direção a única filha, acusando-a de ser imparcial.

– Não se manifeste! Você é a protegida dele. Sua opinião não vale como parâmetro de comparação! – e voltando-se para o marido pediu: - Diga alguma coisa Ephraim... vai ficar aí sentado, calado, como se a felicidade e a ordem desta família não lhe importassem? O que será de nós quando você morrer e Jacob assumir seu posto como chefe da família? Seremos relegados, abandonados, deixados a mercê da sorte ... sim, pois quem faz algo tão reprovável quanto roubar a noiva do irmão, é capaz de atos ainda mais horrendos.

Ficando em pé o homem encarou o rosto da mulher que bufava. Passou por Edward, bateu no ombro do filho com carinho e recebeu um sorriso em retorno. Encarou Jacob por alguns segundos antes de dar sua decisão.

– Em primeiro lugar, preciso dizer que Jacob já tem cuidado desta casa e desta família há muito tempo. Muitas decisões que tomo são fruto do aconselhamento dele. E nenhuma delas nos colocou em problemas. Ouso dizer que ele será um líder cuidadoso e atento às necessidades de cada um de vocês.

Tomou fôlego sem olhar para a esposa, que irritada se sentara perto de Emily. A encarar a parede a marquesa ouvia o que Ephraim tinha a dizer, sabendo que suas reclamações não receberiam o devido crédito do marido.

– Quanto ao outro assunto. – Ephraim continuou - Ouvi tudo o que vocês falaram e percebi algo. Edward não estava, e não está interessado em se casar com a senhorita Swan. Prova disso era o adiamento constante das visitas à futura noiva. E devemos agradecer por isso, seria uma situação ainda pior caso um pedido tivesse sido feito.

Os lábios finos do rapaz se abriram num sorriso, acatando satisfatoriamente a opinião do pai, enquanto este continuava:

– Jacob também não pensava em casar com essa moça. – isso era claro – O que não quer dizer muita coisa já que Jake não pensava em casar com ninguém. – provocou o filho mais velho que respirou profundamente evitando se manifestar - Mas, deve haver uma reparação para esse beijo que se tornou público, e quem deve repará-lo, é aquele que o provocou.

A decisão estava tomada, insatisfeita com o marido por não apoiá-la, Sarah bufou, ficou em pé, deu meia volta e saiu da biblioteca.

O assunto estava definitivamente encerrado, Jacob se ergueu, avisou que iria visitar a família da futura esposa para fazer o pedido de casamento e segundos depois sumiu. As brigas e recriminações de Sarah continuariam ainda por algum tempo, porém o primogênito dos Black saiba, logo isso passaria. Principalmente quando sua mãe percebesse que Jake não tinha a intenção de voltar atrás na decisão. Mas, especialmente quando ela se desse conta de que o filho mais velho iria finalmente se casar.