A noite do recital estava mais quente do que habitualmente, obrigando-a a mudar a escolha do vestido. O que foi muito ruim já que Bella considerava a tonalidade dele perfeita, pois combinava perfeitamente com a cor de seus olhos e com o tom de sua pele.

Mas, se Edward estivesse realmente interessado nela, não seria um vestido que o impediria de se aproximar. Por isso, com um rasgo de esperança provocando uma abertura que poderia levar a muito sofrimento, ela saiu de casa acompanhada dos pais.

Antes do recital, Isabella acompanhou a mãe em duas voltas pelo salão e conversou com pessoas conhecidas, sempre com a figura do filho do marquês na mente. Só que, contrariando os desejos de seu coração, o primeiro a aparecer não foi exatamente o filho que ela queria ver. Jacob estava ao lado da lareira, num grupo formado apenas por homens, junto com o pai. Assim próximos, a garota pode perceber que a semelhança entre os dois era muito grande. A mesma estatura, a mesma cor dos cabelos, o mesmo tom de pele. O porte altivo e a expressão séria em cada traço. Tão diferente de Edward! Sempre alegre, brincalhão e simpático. Sem falar nas características físicas, a pele clara e os cabelos lembrando o bronze. Todos diziam que se parecia com o pai de Sarah. E em sua mente sonhadora, Bella imaginava que o temperamento também fora herdado do avô. Já que ele em nada lembrava o pai, a irmã e muito menos o irmão mais velho.

Então, algo distraiu a atenção de Isabella. Uma mulher, alta, elegante e muito bonita cruzou pelo grupo, com os olhos fixos em Jacob. Logo se fez notar, parecia que falaria com ele, porém, passou direto. O futuro Marquês a acompanhou lentamente com o olhar. Os dois se comunicaram de forma silenciosa e mesmo sem ter muita experiência no assunto, Bella compreendeu muito bem o que aqueles olhares significavam.

De repente outra pessoa foi introduzida no grupo exclusivamente masculino, era finalmente quem ela esperava ver. Edward tocou o ombro do irmão que afastando-se levemente lhe deu lugar ao seu lado, tudo o que a garota sabia era que eles se davam muito bem, eram quase inseparáveis apesar da diferença de seis anos entre os dois.

Bella então acreditou que poderia admirar seu amado sem ser notada, mas a mãe logo a tirou da enlevação obrigando-a a seguir em direção às cadeiras acomodadas em torno do palco improvisado.

– Vamos nos sentar Bella, o recital não tarda.

Suspirando levemente Bella seguiu a mãe de perto e quando estavam próximas do lugar almejado por Renée, elas viram duas pessoas se aproximando pelo outro lado. Uma delas era a mulher do Marquês, Sarah.

– Veja, lá está a Sarah, vamos sentar junto dela. – Renée ordenou.

Era um aviso. Só poderia ser. Um aviso de que aquela noite tudo seria como ela e Emily haviam previsto. Isabella desejou que a amiga estivesse ali, pois era a única pessoa com quem poderia falar sobre o que estava sentindo. A tensão pela espera da aproximação de Edward provocando um tremor quase insuportável. Porém, logo o espaço ao seu lado esteve ocupado pela prima Rosalie e seus comentários a respeito das roupas e do comportamento das pessoas.

Foi o primeiro contratempo da noite. Bella só esperava que não houvesse outros.

Então, o som de vozes masculinas se aproximando atraiu sua atenção de tal forma que não importava mais o que a prima estivesse falando. Era ele, Edward, o pai e o irmão mais velho.

– Oh meu Deus! – Rosalie guinchou em seu ouvido – Jacob Black está sentado atrás de nós.

Jacob?

Atrás?

Então onde Edward estava?

Ela quis perguntar mas não conseguiu. Virando o rosto de frente para a prima tentou vislumbrar ao menos uma parte da fileira de trás, mas só conseguiu ver uma moça e um fragmento de casaca preta que talvez pertencesse a Jacob.

– O irmão dele está atrás da marquesa. – Rosalie avisou ainda no mesmo tom e Bella entendeu que o assento de Edward ficava duas cadeiras a sua esquerda. Se voltasse o rosto em direção a Renée com certeza o veria claramente.

De posse dessa informação ela pensou que iria relaxar. Mas não foi assim. Apesar de não ser o irmão certo que estava sentado atrás dela, paz foi a única coisa que não a acompanhou enquanto a musicista fazia sua apresentação. O espaço atrás de si parecia pequeno para Jacob e para suas longas pernas. Ele se remexia insistentemente. Por diversas vezes Bella percebeu e sentiu seus movimentos. Certamente o recital não o atraia tanto quanto deveria, ela pensou quase sorrindo. Talvez estivesse pensando na mulher que o olhara com tanta familiaridade. Deduziu ser perceber que passou o tempo todo preocupada com o libertino e não com o irmão que realmente importava.

Quando o último acorde finalmente foi tocado, e os aplausos ecoaram pelo salão ela se sentiu livre para escapar dali, principalmente porque viu Edward erguer-se e atravessar o salão na direção oposta. A mãe estava tão entretida na conversa com Sarah que não percebeu sua fuga. Caminhou rapidamente até a mesa dos doces sentindo a brisa suave que vinha das janelas abertas, precisava com urgência de um suco e depois procurar por ele. Mas, assim que se aproximou, percebeu que muitos tiveram a mesma ideia, e que chegar até a mesa não seria tão fácil quanto imaginou a principio.

Alguém muito alto parou ao seu lado, porém Bella não o olhou.

– Senhorita Swan...

Era a voz rouca de Jacob. Agora ela a conhecia muito bem e jamais a confundiria com a de outra pessoa. Surpresa virou o próprio rosto e viu a lateral do rosto dele, que com um ar brincalhão observava o aglomerado de pessoas diante deles.

– Senhor Black... – retribuiu o cumprimento.

– Parece que todos pensaram como nós, não acha? - ele ainda encarava a mesa.

– Oh sim, creio que o senhor tem razão. - Bella concordou sem receio e imediatamente pensou em fazer uma pergunta- O que achou do recital?

O jovem finalmente a olhou diretamente, e logo abriu o mesmo sorriso gentil do outro dia.

– Pedante! – ele respondeu baixo, olhando em volta, em busca de algum fofoqueiro que pudesse sair a contar o que o filho mais velho do Marquês realmente pensava sobre recitais.

Admirada pela sinceridade dele Bella não evitou o sorriso e acabou respondendo no mesmo tom.

– Percebi...

– Percebeu? – o futuro marquês se mostrou surpreso.

– Sim, pelos seus movimentos durante toda a apresentação e pela falta de concentração... garanto que sequer sabe que músicas foram executadas.

Enquanto falava Bella se deu conta de que também não sabia, e a culpa era única e exclusivamente do homem com quem falava.

– Pois acertou...

O sorriso se abriu um pouco mais nos belos lábios masculinos. Ele não se importava de ter sido pego em flagrante descaso à música erudita. Mesmo assim os olhos escuros mostravam que ele não compreendera exatamente o que ela dissera.

–Mas como a senhorita...?

– O senhor estava sentado atrás de mim – ela explicou antes que ele concluísse a pergunta.

A expressão divertida retornou aos olhos escuros antes que as desculpas saíssem.

– Então lhe devo desculpas, esbarrei algumas vezes na sua cadeira.

Apenas com um gesto de cabeça ela mostrou sua aceitação pelo pedido de desculpas e nesse momento ele estendeu a mão diante do corpo antes de dizer:

– Há espaço agora...

Bella observou a mesa. Sim, havia lugares, mais de um na verdade, mas estranhamente não estava interessada em se afastar “daquele” lugar. Era como se se movesse, a sensação de bem estar que inesperadamente a invadira, fosse se desfazer.

Mesmo assim deu os passos que a separavam da mesa e tomou a caneca nas mãos para a encher com suco fresco.

– Bella...

A voz zangada de Renée muito perto lhe mostrou que estivera fazendo algo que não deveria fazer. Conversar com Jacob.

– Sim...

Respondeu antes de levar a caneca à boca, fingindo não compreender o motivo do comportamento da mãe.

– Você pode me acompanhar?

Jacob continuava parado no mesmo lugar, mãos para trás, observando friamente a cena que se desenrolava diante dele.

– Claro mamãe. – e sorrateira, quando passou por ele, pediu: - Com licença senhor Black.

O rosto de Jacob se moveu lentamente para baixo num cumprimento educado. Ele compreendia aquela súbita necessidade de Renée de tirar a filha de perto dele. A maioria das mães o temiam, mas, como amiga de sua irmã, Isabella não corria qualquer perigo em ficar ao seu lado. Na verdade ele jamais falaria com ela se a jovem não fosse íntima de Emily.

Havia algodão no chão? Bella se perguntou enquanto caminhava. Só poderia ser essa a explicação. Pois o piso de madeira maciça parecia tão macio! E aquele sorriso? De onde saíra aquele sorriso que insistia em querer brincar em seus lábios enquanto a mãe repetia o quanto aquela situação era inapropriada.

Falando, falando sem parar, Renée a recriminava por estar ao lado de Jacob. Por não dar atenção aos seus conselhos. Por não perceber que o simples fato de ser vista ao lado dele já seria comprometedor. Que dirá sorrindo e quase cochichando!

Quase cochichando? Eles não cochicharam. Apenas trocaram informações que seriam pouco agradáveis ao dono da casa. Por isso Jacob usara um tom mais baixo. Só isso.

Renée não queria explicações, e com a mão empurrava as costas da filha em direção a um grupo de pessoas do outro lado do palco.

– Venha, Sarah e Edward estavam conversando comigo e perguntaram por você, quando a procurei, percebi que minha filha sumira. E onde estava? Ao lado do libertino.

– Mamãe por favor... ele foi apenas gentil.

– Não se pode confiar em tipos como esse – a voz materna ainda recriminou.

Então, tudo o mais sumiu, lá estava ele, Edward parado ao lado da mãe. Esperando por ela. Jacob, sua gentileza, sua voz rouca e tudo o mais que ele representava se foram como que por encanto.