Naya II: Valerian escrita por Antonio Filho


Capítulo 2
Capítulo II: A Nova Ordem


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ;)



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Os líderes começaram questionar a veracidade da informação. O rei foi obrigado a confessar, pesaroso:

‒ Sim. Nossa filha está desaparecida. Mas...

‒ Qual o motivo de esconderem algo tão importante de nós?! Para enganar a todos como se fossemos idiotas?! – Cortou Diana Aerie, esmurrando a mesa, indignada com a falta de confiança dos Elvellon em todos ali presentes. “Ultraje!”.

O impacto de seu punho destruiu a superfície de mogno. Sua armadura, verde metálico, desenhava-se delicadamente com runas cintilantes de magia aérea e discretas asas esculpidas nas ombreiras, cotoveleiras e na altura do calcanhar. Baixa e de corpo atlético, a força brutal daquela maga se revelava acompanhada de um semblante agressivo: sobrancelhas curvadas, olhos cerrados e nariz bufante. Seu cabelo róseo chanel e olhos vermelho-fogo não inspirariam medo numa moça comum, mas disso Diana nada tinha.

‒ Não existem razões em Atlas para esconder algo dessa magnitude do Conselho. – Retomou Paraldo, antes que Oberon pudesse abrir a boca para acalmar a mulher – A questão é que estamos à beira de uma guerra com o Oriente e não temos um herdeiro político. Desculpem-me o pessimismo, mas temos que levar em consideração que nosso reino, embora poderoso, é vulnerável devido à distância próxima ao inimigo. Seria um cenário caótico se Valerian não dispusesse de governantes imediatos durante uma batalha contra os templários.

O Tempore observava os murmúrios de seus companheiros. Ele não acreditava que havia possibilidade alguma do reino sucumbir aos belunianos ou caelestianos. Contudo, uma batalha causaria baixas em ambos os lados. Uma guerra em território valeriano, o que aconteceria se uma informação desse teor chegasse aos ouvidos de espiões, seria mais desastrosa para o povo feérico que para os humanos. “Somos muitos e poderosos, mas eles possuem vantagem numérica. Um bilhão de humanos. Uma praga que se multiplica como baratas no lixo, consumindo Atlas como se não houvesse amanhã. São todos insignificantes, porém, até peões unidos conseguem ameaçar o rei”.

Alguns líderes concordavam com a opinião de Paraldo, que além de palavras desesperadoras, oferecia também uma solução:

‒ Por mais trágico que venha a ser, acho que a liderança política deveria ser assumida por outra família. Valerian não pode esperar que os Elvellons gerem um novo herdeiro, muito menos que ele amadureça e domine todas as complexidades da magia profunda. Eu depositaria meu voto em Bran, patriarca dos Vecchis, para assumir o controle.

‒ Acredito que falo por mim e por minha esposa, Befâna: nós não temos interesse algum em assumir o trono. Nossos propósitos em Valerian não são políticos: existimos para manter o equilíbrio espiritual do reino, nada mais. Porém, eu concordo que os Elvellons traíram a confiança de todos nós. Eles devem ser punidos imediatamente. A melhor escolha seria claramente você e Morrigan.

Oberon se indignava: sua família não teve outra opção. Ele e Titânia estavam sendo destituídos de seus cargos e ninguém ia contra. Arrependia-se amargamente de ter escondido a verdade dos outros nobres, mas o desespero exigia medidas extremas. Ele não sabia se veria Naya novamente: as buscas haviam fracassado. “Se ao menos ele estivesse aqui...”.

‒ Basta! A sétima geração dos Elvellon vem governando o reino há mais de dez séculos! É lastimável ver esse subversão! ‒ Protestou o monarcar, elevando-se. ‒ Eu e minha esposa estamos providenciando o retorno de nossa filha o mais rápido possível! Só precisamos que vocês aguardem...

‒ Pelo que sabemos, ela pode ter falecido. Mesmo que não seja o caso, suas ações são consideradas traição. Facilite o processo, Oberon. Pense nisso como o melhor a se fazer pelo reino e por sua família. - Admitiu Paraldo, ainda lisonjeado pelas palavras de Bran.

‒ Você não tem nenhuma confirmação de que Naya está morta! Precisamos de tempo para procurá-la! – Gritava o rei, enfurecido, reprimindo a vontade insana que tinha de pulverizar o rosto de Paraldo.

Desgostoso, o rei valeriano sabia que o Tempore tinha a razão ao seu lado, mas não havia espaço para admitir esse fato. Bellum e Caelestia possuíam acesso livre ao Oceano Celestial, cujas águas também banham todo o litoral ocidental de Magicália, além de Nimphos. Com exceção dos territórios Vermilion, Baranon e Electros, além das cidades-estados voadoras dos Caladiel e Aerie, os outros cinco grandes distritos valerianos poderiam ser facilmente alcançados por mar. Seria irracional não tomar todas as precauções para defender as zonas litorâneas em tempos de guerra, fosse militar ou politicamente.

Oberon ainda poderia considerar sorte ele não ter mencionado a Escarlatia, caso tivesse ciência disso. As punições pelas fraudes sozinhas já seriam severas, mais ainda se o contato com a ordem fosse levada a discussão.

‒ Muito bem. Que seja feita a sua vontade. Acredito que um ano seja o suficiente para encontrá-la com seus recursos?

Impossível. Precisava-se de mais tempo, muito mais, assumindo a velocidade da máquina burocrática de Valerian. Os feéricos não tinham a urgência em sua cultura. Porém, a influência de Paraldo sobre o Conselho não permitiria uma apelação bem sucedida. O silfo dispunha dos Vecchis e diversos nobres furiosos. O cerco aos Elvellons fechara.

‒ Iremos encontrá-la. ‒ Afirmou, inclinando o rosto. Mirava o nada, olhando profundo em suas mágoas. “O que foi que eu fiz?”.

‒ Caso contrário a liderança política será modificada. Mudaremos a tríade governamental para uma diarquia. Discutiremos detalhes e julgamentos posteriormente. Alguma objeção contra a indicação de Bran?

Ninguém se posicionou. Estava decidido.

O dia parecia mais escuro no céu níveo depois da reunião. Todos os líderes régios regressavam para seus domínios, fosse por teletransporte, comboios ou naves. O fim da tempestade deixara apenas sussurros de um vendaval, logo quebrados pelo som melodioso da belonave arcana.

Oberon e Titânia partiram em seu dirigível, o grandioso Marthe Lorem. Acompanhados por uma armada da escolta imperial, dirigiam-se ao seu lar na Península de Lumot. A nave hexagonal sustentada por seis hélices planadoras voava rápido com o vento a seu favor, alimentada com arcanite enriquecido. O mineral mais importante para todo o mundo mágico, a lilás mana cristalizada.

Abalados com o tamanho da desgraça ocorrida, os Elvellons foram os primeiros a abandonar a fortaleza atemporal. Ísis Caladiel e sua comitiva os acompanhavam, partilhando a verdadeira aflição. O xadrez do reino estava se movendo, depois de séculos estático.

Os três discutiam sobre o decorrido, rodeados pelo luxo da suíte real, ignorado. Irritados com as proposições absurdas do Tempore, eles acrescentavam aquilo que não podia ser dito em reunião:

‒ Vocês já devem estar cientes de que se não a encontrarem logo, aquele desgraçado não vai parar até vocês ficarem sem poder e terras. O apoio dos Vecchis vai pesar nessa balança. ‒ Alertou a dama convidada. Seus olhos, tão dourados quando as madeixas lisas, oscilavam preocupados. Não havia como lembrar do rosto de Paraldo e automaticamente esboçar uma careta de nojo.

‒ Sim. Sempre soube que ele era ambicioso, mas nunca achei que aquele bastardo poderia ir tão longe! – Oberon berrava. Não conseguia ficar parado: o nervosismo fazia-o andar de um lado para o outro incessantemente. Corado de raiva, apenas desejava ter a oportunidade de destruir o Tempore. – Eu não esperava que fossemos perder Bran tão facilmente para aquele pirralho.

A Mãe da Luz hesitou por um segundo. O Vecchis certamente deveria ter uma amizade de longa data com Oberon. Fato inquestionável. Mas se havia algo que o ancião não tolerava, eram mentiras. Não importavam seus fins. Por isso e mais, Bran tinha a fama de Mão da Justiça: nada passava por seu julgamento sem que restasse apenas honestidade. Qualquer farsa em seu caminho significava punição severa.

‒ Eu tive que me controlar para não contrariá-lo, mas o fiz pelos Caladiel e meu povo. Ninguém toca no assunto, mas a decadência da família Electros aconteceu por causa de Paraldo...

‒ Shhh! É melhor não falar disso aqui. Mesmo entre os nossos pode haver algum espião. – Advertia Titânia, entre murmúrios desesperados. Confiança se transformara em artigo de luxo. – Temos que intensificar as buscas em Pandora e nos reinos próximos. Se ao menos Sinandrin nos ajudasse...

‒ Aquela bruxa não tem o direito de manter nossa filha refém naquele lugar imundo! Meus exércitos podem revirar o continente inteiro num instante!

‒ Acalme-se Oberon! Ela nos disse que não sabe o paradeiro de Naya. Ela não nos enganaria sabendo os riscos que corre. ‒ “Ela não pode mentir. Senti em sua voz que não estava. Mas não pensaria duas vezes em mandar eu mesma os Regimentos Mágicos invadirem Pandora e resgatarem minha filha”. ‒ Nós não temos muito tempo. Devemos procurá-la, mas Valerian ainda conta conosco. Nossa família tem responsabilidades.

O silfo parou, imóvel contra uma das janelas. Ele não deixaria que sua esposa ou Ísis vissem lágrimas escapar de seus olhos, mas não havia mais forças para contê-las. Não apenas a herdeira do trono estava desaparecida, mas sua filha. Sua pequena amada. Pensar que ela poderia estar sendo corrompida pela miséria de Nimphos e seus habitantes.

Sem Naya, seu ramo familiar e todos os de sobrenome Elvellon estariam destinados à ruína. Sem o apoio dos nobres, o trono da nação perderia a tutela dos arcanos.

Aceitar que depois de incontáveis milênios os Elvellons perderiam seu poder na tríade o fazia se sentir fraco. Oberon pensava. Se falhara em proteger sua família de um psicopata megalomaníaco, o que justificava a concepção de que tinha poder suficiente para guardar Valerian? “Eu vivo numa ilusão?”.

‒ Não consigo acreditar que isso está acontecendo! – Oberon era uma muralha, mas nem sua força física ou orgulho conseguiam conter o ódio que vertia de seus olhos esverdeados, imersos num sentimento de culpa que corroía seu interior.

Titânia chorava por seu marido, sentindo sua dor. A rainha não se importava em perder o posto de governante, caso isso significasse ter sua filha de volta aos seus braços. Também sabia que para Oberon, falhar como pai doía, mas ser o primeiro rei a sofrer deposição seria vergonhoso demais.

Nunca na milenar história dos rubros algo assim havia acontecido. Desde o período em que Magicália e Valerian atendiam pelo mesmo nome, até os tempos dos quinze séculos recentes: a tradição nunca se quebrara. Apenas mais um ano separava a atual monarquia de uma nova ordem.

‒ Você sabe o que nós precisamos fazer, querido. Não podemos deixar que caia em mãos erradas.

A monarca das fadas se culpava, achando que lhe faltara amor maternal. Havia sido insensível demais com sua amada filha. Caso fosse uma mãe melhor, mais presente, talvez nada disso estivesse acontecendo.

Titânia podia sentir remorso ou até desgosto nessa tempestade, mas de um sentimento ela tinha certeza: ódio. De Paraldo, por fazer não apenas seu marido sofrer, mas toda sua família. Dela mesma, por perder duas das três pessoas que realmente amara com paixão em sua vida, restando apenas Oberon como razão para continuar vivendo.

Contudo, além de mãe, Titânia reinava soberana. Um de seus papéis consistia em prever o futuro de acordo com o estado de Atlas. A rainha das fadas sabia que mesmo se tomasse uma vida miserável, haviam obrigações que deveriam guiá-la. Os Elvellons tinham um propósito em sua essência mais profunda, uma obrigação que achava-se comprometida com todos esses acontecimentos. “Não podemos trair a confiança dele. Temos que fazer de tudo para manter esse poder longe de Paraldo”.

‒ O que nos resta a fazer é esperar o melhor... – Lamentou Ísis, tentando consolar a rainha desesperada, que antes de tudo, era uma mãe que havia perdido sua filha.


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Notas finais do capítulo

E então?Onde está Naya? Logo descobriremos e.e



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