Naya II: Valerian escrita por Antonio Filho


Capítulo 1
Capítulo I: O Conselho dos Nobres


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos! Faz algum tempo que eu não posto nada no site (faculdade chegou e o tempo acabou). Enfim, por pedidos de uma leitora, estou aqui de novo postando a continuação de Naya: Crônicas de Atlas. Espero que gostem xD

Os eventos desse capítulo se passam dois anos após o término da primeira história (está explícito no capítulo, mas a informação está ai para melhor localização temporal).



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As comitivas chegavam uma a uma à principal cidadela dos Tempore, localizada na mais alta montanha de Valerian: o Monte Eras. O pico, famoso por formar a gigantesca divisa natural entre os territórios valerianos e os pertencentes à Terrelva do Noroeste, tocava as nuvens gélidas e alterosas. Impedia que os tempestuosos ventos do norte atingissem as cidades temporianas próximas, mas não poupava as áreas elevadas de seu castigo, tornando-as permanentemente cobertas por uma grossa camada de neve. Uma formidável defesa natural.

Como centenas de formigas dotadas de uma organização orquestral, comboios enormes e fortificados marchavam rumo ao topo. Guardados por dezenas de soldados suntuosos, a nobreza viajava atravessando toda a nação. Contra a fúria da natureza, o Castelo Alabastrino finalmente se aproximava.

Magos climáticos recitavam seus encantos: tentavam acalmar a nevasca para que todos os representantes pudessem chegar em segurança, permitindo assim o início da reunião extraordinária marcada sem explicações por Paraldo. O caminho pedregoso e afunilado dificultava ainda mais a tarefa de transportar os representantes da monarquia. Questões de protocolos e tradições impediam o uso de teletransporte para uma viagem mais rápida e segura.

Faltavam apenas dois representantes para inaugurar a sessão, dentre eles, o próprio anfitrião. O salão tricolor, decorado em mármore, prata e ouro, apropriava-se de obras de artes, lustres e candelabros de todas as formas. A mobília pomposa agregava valor ao espaço saturado pela cultura valeriana.

Bebendo, conversando e principalmente discutindo, os líderes já presentes alimentavam ainda mais a tensão que traziam consigo durante a viagem, dispensando o trabalho de diplomatas:

‒ Espero que ele tenha um bom motivo para essa palhaçada! ‒Reclamava Leano, patriarca da família Vermilion. O timbre estrondoso de sua voz o fazia soar muito mais irritado que na realidade.

O homem de meia idade, alto e robusto para a estatura corporal sílfica, tinha cabelos vermelhos assim como o brasão de sua família. Já havia vividos alguns milênios, embora não parecesse tão velho. Seu corpo e sua mente já haviam esquecido o que significava paciência com questões políticas: sua tolerância esvaia-se com os assuntos de seu próprio distrito. A família que incorporava as chamas valerianas não tinha vergonha alguma de transpassar a verdade: ardência e supremacia identificavam os Vermillion legítimos.

‒ Acalme-se. Paraldo é um dos mais sensatos entre nós. Com certeza haverá uma justificativa plausível. – Garante Elilian, incisiva. Representava a família Dunkel, com toda a autoridade que seus olhos negros inspiravam. ‒ Não é apenas você que deseja saber qual o motivo dessa reunião. Então sente e espere civilizadamente, como todos nós.

A dama das trevas não costumava ironizar sua voz aveludada, mas já estava habituada com o temperamento quente de Leano. Achava até charmoso, informação que levaria para o túmulo certamente. Sentava-se com uma taça de vinho entre o polegar e o indicador, cruzando suas belas e visíveis pernas morenas. Exibia em seu semblante um misto indecifrável de tédio e eroticidade. Não por menos: naturalmente provocativa, sua sensualidade se impunha pela combinação fatal de seus lábios carnudos e pele da cor do pecado, rara em fadas do norte. Atraía facilmente a atenção de diversos olhos curiosos e libidinosos.

‒ Não seja tão cruel “Lili”. A idade está te deixando rabugenta. ‒ Ria Tomor Baranon, ciente de que a fada ficava particularmente irritada com o apelido que ele havia lhe dado séculos atrás.

Patriarca dos Guardiões da Terra, Tomor conseguia ser ainda maior e mais musculoso que Leano. Pálido e acinzentado, raramente abandonava o famoso e impenetrável Castelo Tomoriano, seu lar, construído no subterrâneo de Valerian há milhares de anos. O rei soava mais casual que a sarcástica matriarca, mas ainda assim, sério e profundo. ‒ O Leo tem razão. Não é apropriado convocar algo assim, ainda mais um pedido oficial sob essas circunstâncias climáticas horríveis. Meus magos não puderam cessar as barreiras nem por um minuto, estão todos exaustos!

‒ É realmente uma falta de consideração, mas Tomor, eu já te disse mil vezes! Pare de me chamar assim!

‒ Não seja assim, querida! Você sabe que eu sempre vou te amar! ‒ Declarava o senhor da terra, em alto e satírico tom, claramente para constranger a donzela.

Minutos depois, enquanto vários dos líderes discutiam já impacientes, Arian chegava ao salão dourado. Trajado com as elegantes roupas de gala da família Marine, desnecessárias para um evento extraordinário, tons variados de azul contrastavam com seus olhos e cabelos, ambos puramente safíricos. Não importava a urgência que o encontro ostentasse: o silfo sempre comparecia divinamente atraente. Algumas das representantes cochichavam sobre seu aparente excesso de vaidade, que na verdade era apenas a benção da beleza marinha encarnada. Faziam comentários maldosos mascarados com a mais culposa inveja.

Após cumprimentar todos cordialmente, sem a menor vontade de prolongar a conversa com qualquer um dos representantes, Arian tomou o assento reservado ao senhor das águas de Valerian. O líder da cidade aquática de Prima, intitulado de O rei de todos os mares, era também o mais jovem dentre os poderosos. Sua idade ultrapassava a barreira milenar, mas sequer se aproximava de personagens como Tomor ou Paraldo. Sua expressão antipática de quem não queria estar ali perdurou durante todo o encontro.

Com exceção dos próprios convocadores da sessão, todos já estavam presentes. O conjunto conservar-se-ia com nove das dez famílias: os Electros permaneceriam suspensos do Conselho dos Nobres até segunda ordem. Enquanto a questão régia não fosse resolvida, eles continuariam sem poder de decisão.

Não se podia dar controle sobre um país para três crianças, os últimos herdeiros do raio. Enquanto estivessem sob a tutela de mestres até sua maioridade, continuaria instituída a Regência do Ciclo Provisório: Kranes Tempore administraria os domínios Electros durante o período em que os reais sucessores atingiam cento e cinquenta anos. Até que Arifa, Lothran ou Tedral completassem a primeira juventude, o herdeiro direto dos conservadores do tempo permaneceria como regente.

‒ Primeiramente peço perdão pelo atraso. – Declamou Paraldo, ao surgir acompanhado de sua esposa, Morrigan, materializando-se frente aos seus assentos. – Convoquei essa sessão do Conselho dos Nobres para debatermos um assunto gravíssimo. Meditei por semanas, mas decidi que não havia necessidade levá-lo para o Faerum. Devemos resolvê-lo aqui entre os nossos. ‒ Antes de prosseguir, ele se sentou em seu local de destaque, entre as poltronas reservadas aos Elvellon e Vecchis, discursando sereno:

‒ Todos aqui estão cientes que há cerca de quinze séculos, os Vecchis foram responsáveis por unir as mais poderosas famílias de Valerian, a fim de manter a ordem no reino. Foi reservado o poder político central aos Elvellon, que até hoje efetuam um trabalho excepcional. Não poderíamos ser mais gratos por isso. A glória dos arcanos permanece por sete gerações milenares...

‒ Vá direto ao ponto Paraldo. – Propõe Ísis, matriarca Caladiel. Ela revirava os olhos, impaciente com a palestra.

O mago Tempore, embora aparentasse uma juventude típica dos membros de sua família, era um dos mais velhos ali presentes. Sua paciência já estava desgastada: não suportava desrespeito, muito menos vindo de alguém tão fraco que sequer valeria a pena matar. Contudo, a existência indefinida trazia muito mais que apenas avidez, mas provia sabedoria e controle. O tempo mostrava que pequenas coisas jamais deveriam interferir em eventos grandiosos. E, o que fazia hoje, definitivamente concernia a um bem maior.

Ele e Ísis trocaram olhares amargos por um instante, evidenciando o desprezo que se mostrava um sentimento mútuo. Acalmando-se rapidamente, ele tentava frustrado disfarçar o milenar desprezo pela senhora da luz, continuando o pronunciamento:

‒ Como eu dizia, recebi informações muito preocupantes sobre o atual estado da monarquia Elvellon.

Oberon empalideceu ao ouvir a frase.

‒ Meus agentes descobriram recentemente que o trono está sem herdeiro. A princesa Elvellon que está conosco é uma farsante.

‒ O quê?!

A confusão generalizou. Gritos e murmúrios tomaram a sala, silenciando o Tempore.

Titânia e Oberon entraram em desespero após descobrirem que sua filha havia fugido. A coroação dela aconteceria em poucos anos. Sem Naya, uma crise se desenrolaria catastroficamente.

Mantiveram a perda em segredo, numa tentativa de adiar esse momento. Diminuindo o contato com o exterior, evitando membros de outras famílias: os arcanos transformaram a Península de Lumot numa ilha. “Professores, visitante, pretendentes: ninguém deverá entrar ou sair de nossos domínios sem autorização direta dos reis”. Com esperança de resgatarem a princesa antes de levantarem suspeitas, os líderes Elvellons decidiram camuflar a situação.

Os meses sem a herdeira logo se transformaram em dois longos anos. Questionamentos surgiam: onde estava Naya? Logo, ela seria a próxima rainha das fadas, mas sem um rei? Inadmissível. Valerian jamais aceitaria todo o poder político do reino nas mãos de uma única pessoa.

Não se podiam organizar buscas oficiais em Nimphos sem despertar a atenção de outros líderes. Mover altas somas de dinheiro estava fora de cogitação: tudo convergia para transformar o episódio num espetáculo de horrores ainda maior. Prevendo a calamidade, Oberon viajou até Arcádia, contatando sua última esperança: A Ordem Escarlatia.

Uma sósia interpretaria o papel da princesa Elvellon. A estratégia compraria tempo com o Véu Régio, mas submeteria toda a família a possibilidade da condenação por alta traição. Não havia outra saída: o rei precisava de prazos para que os membros daquela organização pudessem varrer o continente sulista em busca de sua filha. Nada mais justo: os escarlates recebiam metade de seus fundos do próprio reino valeriano. Seus integrantes defendiam os interesses dos silfos e elfos no Mundo Mágico, utilizando-se de meios que excediam a burocracia governamental. Dessa forma, cooperar para a preservação da principal monarquia feérica se fazia algo sábio.

A Ordem Escarlatia tinha fama pelo extremismo relacionada a supremacia feérica e élfica. “É arriscado alguma das outras famílias descobrir envolvimento direto Elvellon com os escarlates. Nós os financiamos em segredo. Notícias públicas manchariam nossa imagem. Perderíamos bases de apoio monárquico e o apoio da mídia. Muitos países cortariam relações com Valerian. Mas nós temos que arriscar... Maldição!”.

A Ordem deveria ser a única entidade confiável com recursos suficientes para iniciar uma busca em Nimphos, sem chamar a atenção do Faerum, o conselho supranacional magicaliano.

Procuraram. Investigaram. Descobriram que Adna havia sido a última a ter algum contato com Naya antes de seu desaparecimento. Desde buscas até interrogatórios: a Escarlatia não poupou esforços. Infelizmente, de nada adiantou. A Elvellon alegava não ter ciência do paradeiro de sua prima.

Titânia não se deu por vencida: enviou dezenas de agentes da ordem para Pandora, Metrópolis, Atlântica e Sônia. “Deve haver alguma pista que possamos seguir. Algo que possa nos dizer onde minha filha está!”. As buscas guiaram os agentes até Lunara e seus arredores: garotas com o perfil da princesa haviam sido detectadas. Mas as orientação não prosseguiram adiante, estagnando no reino sinândrico.


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Notas finais do capítulo

Logo a Naya irá aparecer, ela ainda é a principal xD.



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