O Corvo escrita por Monique Costa


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/606127/chapter/1

Era uma floresta densa e úmida, em um dia nublado e frio. Seus pés descalços estavam feridos e sujos de terra. Estava atenta a qualquer movimento. Até sua respiração a assustava. Procurava um local para que pudesse se sentir segura e que pudesse descansar em proteção. Seu corpo já não aguentava mais. Havia horas que corria afoita. Suava, de exaustão e de medo, e se perguntava quando aquilo iria acabar. Sabia que estava fugindo, só não exatamente do que. Junto a ela, ia um corvo. Grande e igualmente desesperado. Se perguntava desde quando ele estava ali, e se era uma peça do enigma que estava tentando desvendar. Como tinha chegado ali? O que estava lhe causando tanto apavoramento? Do que estava fugindo, e que motivo teria para fugir?

Foi então que notou que as árvores estavam ficando mais escassas, e avistou de longe um casebre velho, de madeira. Pensou que seus problemas fossem se resolver, e teve uma explosão de ânimo que fez com que corresse ainda mais rápido em direção à sua suposta salvação. O corvo a seguiu com a mesma velocidade e determinação, como se também lutasse por sobrevivência.

Chegou. Rodeou o local e não encontrou ninguém. O corvo pousou no telhado, porém permaneceu seguindo-a com aqueles olhos negros e vazios. Ela também fixou os olhos no animal durante um tempo. Por um momento quase esqueceu de tudo que estava acontecendo. Mas então lembrou-se que fugia, e olhou novamente para a casa. Espiou por brechas de janelas. Estava tudo escuro lá dentro. Gritou por alguém. Bateu no portão. Nada. Resolveu entrar mesmo assim. Empurrou, socou, chutou a porta, porém não conseguiu abrir. Tentou então as janelas. A primeira, nada. Segunda, nada. Finalmente na terceira janela ela conseguiu, quase caindo para dentro, de tanta força que fez. Pulou. Estava tudo escuro. Sentiu ainda mais medo. Não havia pensado até então no que podia haver lá dentro. Ficou com medo de ir à fundo. Resolveu somente fechar a janela, e deitar onde uma rara iluminação ainda atingia.

Após longos minutos (ou horas, não sabia muito bem) começou a se acalmar. Sua pulsação voltou ao normal e já estava quase adormecendo, e o faria se não tivesse ouvido o som do corvo grasnando, seguido do de passadas nas folhas ao lado de fora. Seu coração começou a bater forte novamente. Ouviu barulhos de alguém, ou algo, tentando abrir incessavelmente a porta. Segundos de silêncio. Os barulhos retomaram, mas agora de passos rodeando a casa. Novas tentativas de arrombamento, mas agora vindo da primeira janela. Silêncio. Segunda janela. Seu coração estava compassado com as batidas fortes vindas daquela direção, e o momento em que ela mais temia, chegou. Ouviu os passos indo em direção à terceira janela. Na primeira batida, ela acordou.

Estava em seu quarto. Sozinha. No mais profundo silêncio. Olhou em direção ao relógio, e ainda eram 3:15. Respirou aliviada. Foi até a cozinha, e bebeu um copo d’água. Havia tempo que não tinha sonhos tão intensos quanto aquele. Refletiu por um tempo ainda na cozinha, e seguiu rumo ao quarto, porém batidas na porta a fizeram parar. Quem será que estava batendo na porta uma hora daquelas? Olhou pelo olho mágico e não havia ninguém. Esperou mais um pouco, e como não houveram mais batidas, achou melhor ir dormir.

Chegando em seu quarto, não conseguiu acreditar no que estava em seu criado mudo. O corvo. O exato corvo que a perseguiu no sonho que acabara de ter. Era ele, com aqueles mesmos olhos a fitando sem parar. Seguindo cada movimento. Mas quando ela pensou em espantá-lo, novas batidas vindo da janela. Seu corpo estremeceu. Não conseguia mais pensar em nada. Não havia nada racional para pensar. Principalmente quando ouviu que a janela havia sido aberta, e que alguém estava lá. Dentro da sua casa. Alguém que ela não sabia quem era, e nem o que queria. Correu e se escondeu dentro do armário. Ouviu os passos cada vez mais próximos, tão serenos, porém tão firmes.

Ele sabia onde ela estava. E estava indo para lá. Seguia em direção do armário, e parou em frente a este. O coração dela estava quase saindo pela boca, e ela se esforçava ao máximo para sua respiração não fazer barulho, como se isso fosse adiantar em algo. A porta começou a abrir lentamente… e então ela acordou. Sem sequer saber quem era. Mas desta vez acordou suada. Pelos raios que invadiam o quarto, percebeu que já era de manhã. Pelo relógio ela já estava 42 minutos atrasada. Levantou correndo, colocou a roupa às pressas, escovou os dentes, penteou os cabelos, pegou as pastas e as chaves, e seguiu rumo ao trabalho.

Enquanto dirigia pensou nos sonhos que teve. O que será que aquilo significava? Será que era algum sinal? Por fim achou melhor ignorar. Estava no mundo real, e com maiores preocupações. Tudo aquilo tinha passado. Ao menos foi o que pensou, uma vez que não percebera quem a esperava em seu quintal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!