Contador de Histórias escrita por Darth


Capítulo 1
Entre Homens e Deuses




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A taverna está cheia. As garçonetes vem e vão entregando as bebidas e pedaços do belo javali que está no fogo. Os homens riem, cantam e dançam. O tempo lá fora é de uma pequena garoa. É em tavernas assim que Galeth, o bardo, gosta de estar. Enquanto encanta os presentes com sua habilidade no alaúde, observa a gorjeta caindo a sua frente. Tocara a noite inteira, mas essa não é a atração principal. O principal é a história que está por vir.

Galeth termina sua última música, uma balada élfica conhecida em todas paragens do reino de Ornea. Após os aplausos, toma a palavra e diz:

– Obrigado, obrigado. A noite está ótima! A comida e a bebida estão ao agrado e a lareira nos aquece. Não poderia pedir uma noite melhor para contar a história que preparei para vocês – Alguns gritos e cerveja sendo jogada ao alto com aplausos. – Então vamos começar...

“Existem heróis e Heróis. - disse Galeth com uma entonação diferente -
heróis são os mais comuns, salvam um vilarejo de um grupo de goblins, resgatam a filha de um nobre pouco influente das garras de um dragão em seu covil. Já os Heróis são feitos de uma fibra diferente, são aqueles que não salvam cidades e sim mundos. Não enfrentam orcs e dragões em covis e masmorras, enfrentam demônios e deuses em seus planos de origem.
E é de um desses Heróis que vou contar hoje...

Seu nome é Finrod, um elfo nascido em Clarke. Filho do caçador local, não tinha grandes aspirações até se tornar um druída e partir com um grupo de aventureiros. Sua ascensão, embora fantástica e fascinante por si só, não é o foco de nossa história de hoje. Basta saberem que Finrod e seu grupo salvaram cidades e reinos de dragões e mortos-vivos. Sua última aventura como um grupo foi contra o próprio avatar de Morgnus, o deus das trevas e dos mortos-vivos. Nossa história se inicia na jornada de volta a Clarke, onde Finrod teve de passar pela temida Floresta dos Gigantes sozinho. E lá também foi onde ele foi testado como nunca antes.

Era o quarto dia de viagem de Finrod, quando ele se viu em uma clareira grande como nenhuma outra por onde ele passara antes. O elfo de cabelos brancos ficou estarrecido com o tamanho do local.”

–Galeth, todos sabemos que elfos não tem cabelos brancos. Por quê Finrod tinha? – perguntou um dos jovens já meio bêbados na plateia do bardo.

– Isso é assunto para outra história, mas é suficiente dizer que foram necessárias algumas mágicas antigas para que o grupo de Finrod tivesse chance de enfrentar o avatar de Morgnus e seu cabelo ficou branco no processo.

“Enquanto comungava com a natureza para saber onde encontrar um riacho e alimentos naturais próximos Finrod sentiu uma presença incomum na floresta. Não era um animal, como estava acostumado a sentir. Era maior, mais antigo e decididamente mais poderoso. E o chamava.

O druída não conseguiu resistir ao chamado e correu pela floresta em direção à presença. Carregava seu cajado de madeira abençoada por Orodreth, deusa dos elfos e da natureza. Vestia sua túnica marrom de sempre. Corria sem outra coisa em pensamento senão chegar à fonte da presença, tanto que alguns galhos o cortaram levemente. Parou finalmente a beira de um pequeno vale, onde a floresta se adensava, com suas árvores majestosas.

Naquele lugar a presença era tamanha que seu chamado era um grito na mente do pobre elfo, que caiu no chão com tamanha força que sentia. Enquanto agonizava com a força do chamado, procurou com os olhos ao redor para localizar a criatura que emanava tamanho poder. Ela parecia estar escondida num monte enraizado de árvores disformes.

Porém, assim que Finrod desceu ao vale, o elfo sentiu um tremor absurdo e compreendeu do que se tratava a presença que perseguira. Ouvira apenas lendas distantes sobre tal criatura, na época em que fora instruído nas artes druídicas. Mas lá estava, assomando-se sobre ele.

Os conjuntos de árvores eram na verdade suas pernas, o morro cheio de grama com pequenas tocas na verdade era seu corpo. O que Finrod encontrara era algo mais antigo que sua própria deusa. Um dos Antigos, os velhos deuses primais que governaram o mundo antes do nascimento do Panteão. Aquele era Nestifus, o lorde da natureza.

Mas algo estava errado, pois Nestifus estava derrubando as árvores ao seu redor e por onde pisava deixava apenas um solo apodrecido e estéril. Ele estava corrompido. Corrompido provavelmente pela antiga fortaleza de Kelvor Flagetonte, o paladino negro de Morgnus. Era o dever de Finrod como druída purifica-lo, fosse curando-o ou fosse matando-o.

Sem pensar, o elfo se lançou a correr na direção da criatura titânica. Entoou suas orações para Orodreth e foi atendido. Ramos gigantescos brotaram ao redor de Nestifus e o agarraram, apenas para apodrecerem ao tocá-lo. Finrod então fez um gesto com o cajado e uma luz esverdeada emanou de sua ponta. Um grande pedaço de rocha levantou-se do chão e foi arremessado contra o titã, que cambaleou e urrou. O urro de Nestifus era ensurdecedor, raiva e dor encarnados em um som.

A força desses sentimentos derrubou o pobre elfo, que desatou a chorar de raiva e dor pelo que sentia do urro do antigo. Enquanto chorava ouviu uma voz ressoar em sua cabeça: “Não se desespere, pequenino. Não foi você o meu valente druída que enfrentou o avatar de Morgnus, meu inimigo? Pois então o que é um resquício de poder de um de seus algozes?”. Era a voz de Orodreth.
“Minha senhora, Kelvor foi o maior dos algozes. Como posso desfazer algo que vem dele? Não sou tão poderoso assim.”

“Você enfrentou o avatar do deus dele e se sente inferior? Levante-se Finrod, filho de Eledwhen! Você é o meu druída mais poderoso, e também é meu arquidruída!”

O elfo não podia crer no que acabara de ouvir. Ele, um arquidruída? O segundo no comando dos sacerdotes de Orodreth, abaixo apenas dela própria? A força divina de sua deusa fluiu pelos seus membros e Finrod se levantou novamente. Mas dessa vez ele pulsava com poder. Então partiu uma vez mais para cima de Nestifus.

Assim que desejou que raízes prendessem o titã, elas surgiram. Não precisou de fazer oração nem pedir a Orodreth, tamanha era a comunhão que atingira com a deusa naquele momento. Quando o antigo tornou a se libertar, foi apenas para ser esmurrado por um punho de madeira e pedra gigante. Finrod se cobrira do que a natureza podia oferecer e tornara-se um golem de pedra e madeira grande como Nestifus.

O titã golpeou o golem após desviar de um murro, e utilizou seu poder para criar vinhas gigantescas que aprisionaram o golem de Finrod. Em seguida, puxou os membros do golem despedaçando-o. Quando se viu sem o golem, o elfo aproveitou o momento único que tinha para purificar o antigo. Com um grito disparou uma esfera de energia esverdeada no centro de Nestifus. Um estrondo tremendo se deu.

O antigo ficou parado um momento, até desfazer as vinhas e se virar para o druída:

– Obrigado, pequeno servo de Orodreth. Sem seu real amor pela natureza que nos criou, não seria possível me curar. Sou-lhe eternamente grato.
Assim, Finrod terminou sua jornada de volta a Clarke tendo visto e enfrentado um dos antigos e prevalecido com a ajuda de Orodreth.”

– E essa foi a nossa história de hoje...

Após os aplausos e gritos, pagaram bebidas para Galeth. E assim a noite continuou na taverna.


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