Um Tom a Mais escrita por Benjamin Theodore Young


Capítulo 1
- Rochas e Adagas -




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Enquanto o carro passava pela orla da praia de areia branca, e estranhamente intocável, sem barulhos, sem crianças correndo pelas ondas, sem toalhas pela areia, sem guarda-sóis listrados de azul e branco, eu ia pensando sobre os últimos dias passados. Conturbados mas sem muitos dramas, ou com muitos! Sei lá?! Se tem algo que sempre me disseram desde muito novo era exatamente isso, o dom da incerteza que eu sempre nutria. Bom, isso com o tempo vocês terão certeza se sim ou não.

__Animados? Perguntou minha mãe com aquela cara de cachorrinho que cai da mudança esperando uma resposta, pelo menos da minha parte, agradável!

__Depende?! Respondi sucinto.

__De você sempre dependeu mesmo Crispin!

__Pim! Mãe Pim! Será tão difícil pra senhora acertar?

__Será Crispin?! Lá se vão dezesseis anos filho, e está na hora de você aceitar seu nome!

__Nunca disse que não aceitei! Disse alguma vez? Disse Sammy?! Meu irmão, apenas um ano e meio mais velho que eu então virou-se pra mim e com as mãos dava sinal de que não queria participar da discussão. Eu nunca disse mãe!

__Nunca foi preciso né... Pim!

__Mas olha a injustiça! Samuel mãe, o nome do Sammy é Samuel! E o meu nome por algum motivo no mundo, a qual a senhora até hoje não me conseguiu dizer é, Crispin! Crispin mãe CRIS-PIN!

Não levem a discussão à cima tão a sério, alias acho que ninguém mais a leva, até porque como minha mãe mesmo disse já se vai dezesseis anos, e o meu nome, sempre, por qualquer ou nenhum motivo, gerava discuções (lá vem a inconstância também).

Na verdade os nervos ali estavam em todos nós, eu, minha mãe e meu irmão Sammy, aflorados. Sempre moramos em uma cidadezinha do interior de Nova Iorque, Riverdalle, e dificilmente saímos de lá, a não ser de férias para as praias próximas. Estávamos naquele verão indo para os Hamptons, não por luxo ou capricho de algum dinheiro que tínhamos, alias nunca tivemos muito, o suficiente. O motivo da migração de classes, de um subúrbio qualquer no interior do estado de Nova Iorque para um dos lugares mais elitizados e nobres do mundo era um só, o novo namorado da minha mãe. Que pelas minhas contas desde os meus quatorze anos, era o oitavo. Sim o oitavo!

_São somente dois meses meninos, vocês vão ver, irá passar rápido!

_Nada aqui deve passar rápido mãe. Aqui é Hamptons, aqui tudo é exagerado, rico, opulento, e vagaroso, ricos não passam rápido, por terem dinheiro fazem tudo com o mínimo de pressa possível! Respondi resignado.

__(Gargalhadas) Crispin, de onde você tirou isso?! Parece fala de filme!

__Sim é de um filme! Retrucou meu irmão.

__Resolveu falar Sammy?!

__Estou com fome! Vai demorar ainda pra chegar?!

__Não meu filho! Acredito que já estamos quase no ponto de encontro com o Charles!

__Dá uma olhada nessas casas mamãe! Será que a do Charlly é assim também?

__Você esta adorando a ideia né Sammy! Mansão, iates, bebidas, festas...

__E mulheres Pim, muitas mulheres!

__Como assim bebidas e muitas mulheres?! Quantos anos você acha que tem senhor Samuel?!

__A mamãe relaxa. Alias a senhora percebeu que o CRIS-PIN, parou de chamar a senhora de mamãe?!

__Cala boca Sammy! Alguém te perguntou alguma coisa?!

__Vocês dois, não comecem. E filho, haverá uma troca, se me chamar de mamãe eu te chamo de Pim! Combinados?! Olhei cinicamente para minha mãe e concordei com a cabeça.

__Lá esta ele! Uhul, Charles querido! Sinalizou minha mãe com um sotaque ridiculamente britânico, pelo menos quando citava o nome do meu novo “tio”.

__Não precisa descer querida. Bom dia meninos! Segue o meu carro Ann!

__Dá tempo de voltar atrás?! Perguntei irônico.

__Por favor, Pim! Tente não estragar dessa vez.

Naquele momento eu então me silenciei. Porque sim! Dos tantos namorados que minha mãe teve, uns três ou mais eu fiz questão de fazê-los não darem certo. A princípio talvez isso soe como algo ou atitudes de moleque mimado, e fui mesmo, e de certa forma eu não conseguia ver minha mãe com outro homem. Nossa como isso é clichê, mas os traumas não o são sempre? Sammy sempre foi mais esperto, sempre aceitava tudo, porque no final das contas ele tinha tudo, nunca o julguei por isso, porque essa era a forma dele enfrentar a sua realidade, muito diferente da minha, mas a cada um, a sua sentença. Tive naquele momento um sentimento de culpa pelas perdas da minha mãe, e uma vontade de chorar então me tomou, meus olhos lacrimejaram, segurei meu queixo firme e coloquei os fones de ouvido para dar continuidade ao que eu estava ouvindo (Noah and the Whale – Rocks and Daggers). Virei-me então para o vidro do carro encostando a cabeça sobre a janela e fechei meus olhos, a única coisa que eu queria naquele momento era não estar ali.


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