Fireproof escrita por evyyn


Capítulo 6
Capítulo 6 - Merda.




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Início do POV do Butters

Eu sei que eu deveria estar pensando em várias outras coisas, ou talvez em nada. Mas a única coisa em que eu conseguia pensar era que se meus pais entrassem naquela garagem naquele momento, eu estaria de castigo pro resto da vida. Mas nem mesmo isso fez com que eu conseguisse afastar Kenny.

O beijo foi rápido. Mal a língua de Kenny encostou na minha, já estávamos separados de novo. Ou talvez essa foi minha impressão, porque não pareceu o bastante. Os poucos segundos que o beijo durou foram o suficiente para que, assim que Kenny afastasse os lábios dos meus, nada mais parecesse certo. Havia algo no fundo que eu sabia que deveria estar me incomodando muito mais do que os centímetros que nos separavam enquanto olhávamos um para o outro como se estivéssemos nos vendo pela primeira vez.

O que pareceu uma eternidade de silêncio foi interrompida quando Kenny me disse, com ema expressão que parecia que ele sentia muita dor em algum lugar:

– Desculpe, Butters.

– Não precisa pedir desculpas. – Respondi, dando um sorriso torto.

Kenny respondeu o sorriso com outro, e abriu a boca para falar algo, mas eu nunca soube o quê. As batidas no portão nos assustaram e nos tiraram de nosso pequeno transe, nos mandando de volta para o mundo real. Kenny fugiu para longe de mim como um coelho assustado, indo abrir o portão, sem olhar para Token, Craig ou Tweek.

– Ei, Kyle. – Disse Kenny, passando por ele para fora da garagem enquanto o outro entrava – Você viu o Clyde por aí? Acho que vou procurar por ele.

Antes que Kyle pudesse responder, Kenny já tinha sumido de nossas vistas. Kyle entrou com um engradado de cervejas geladas, olhou para todos nós e franziu o cenho, desconfiado:

– O que aconteceu aqui?

Token finalmente desenterrou o rosto de suas mãos e olhou para mim com um olhar preocupado. Eu tirei a guitarra de Kenny lentamente de meu tronco e a coloquei de volta em seu lugar, me sentando no braço do sofá ao lado de Craig.

– Kenny aconteceu. – Respondeu Craig, olhando em minha direção – Foi bom pra você, loirinho?

– C-Craig! GAH! – Tweek apertou o braço de Craig e virou para mim – Apenas o ignore.

Kyle olhou por onde Kenny tinha acabado de sair e depois para mim e soltou um longo “aaah!” de compreensão. Eu continuei em silêncio, passando os dedos distraidamente por meu jeans desgastado.

– Acho que já chega por uma noite, não é, Butters? – Perguntou Kyle, se aproximando de mim – Quer que eu o leve para casa?

– Não! – Eu disse, mais alto do que eu pretendia – Eu estou bem, Kyle, obrigado. Eu não quero voltar para casa. Quero passar o fim de semana com vocês.

– Tem certeza? – Insistiu ele – Quer ir para minha casa, então?

– Não, ele vai ficar bem aqui. – Disse Token – Nós não vamos deixar que isso se repita, ok, Butters?

– A não ser que você queira. – Completou Craig, me olhando com um sorriso divertido enquanto levantava as sobrancelhas.

Tweek rolou os olhos e me olhou com uma cara em que estava estampado “me desculpe pela falta de sensibilidade de meu namorado gigante”. Eu apenas dei de ombros.

– Ok. – Kyle desistiu – Mas eu estou indo embora. Muitas emoções para processar em uma noite. E a maior parte das pessoas já estão indo embora. Acho que é hora de encerrar a festa.

Token foi o primeiro a levantar:

– Então vamos terminar essas últimas cervejas e expulsar os que ainda estão na casa antes que meus pais voltem.

= //=

Andamos até o quintal e nos despedimos de Kyle, e então entramos na casa de Token, que já estava bem mais vazia do que eu me lembrava. Eu me sentia melhor... Menos tonto, mas ainda podia sentir as alterações de todo aquele vinho. Segui os garotos que iam andando pela sala de estar se despedindo das pessoas que ainda estavam ali, um quase educado convite para se retirarem se não fosse a carranca de poucos amigos que Craig lançava a todos, assustando quem quer que fosse que ainda tinha planos de ficar por ali. Seguimos para a cozinha e a sala de estar, e ainda havia algumas pessoas ali, incluindo Clyde. Uau, fazia um bom tempo que eu não o via, e ele parecia mal humorado. E ao lado dele... Wow. Ao lado dele estava Bebe, beijando algum cara.

Fiquei sem graça e desviei o olhar. Mas então senti meu estômago afundar, e olhei mais uma vez para Bebe e o cara. Ele estava apoiado em um dos balcões da cozinha, com as pernas abertas, e Bebe no meio delas. O jeito que as mãos do cara agarravam o corpo de Bebe me faziam querer olhar para o outro lado, ou sair do cômodo. Mas eu não conseguia. Algo naqueles dois prendia toda a minha atenção.

Era Kenny.

Eu continuei parado, olhando para a cena, e ainda sem desviar os olhos, perguntei para Craig, que tinha parado ao meu lado:

– Então... Você gosta de garotos, certo?

Craig bufou e riu ao mesmo tempo ao responder:

– Eu gosto do Tweek.

– E qual é a do Kenny?

Craig olhou para mim de canto de olho, e eu continuei a encarar Kenny e Bebe. Algo dentro de mim doía, e eu não sabia o que era, mas sabia que dessa vez não era culpa do vinho.

– Kenny é... Flexível. – Craig disse, ainda parado ao meu lado.

Token e Tweek estavam atrás de nós, e também não pareciam muito animados em avançar mais um passo. Eu senti meus olhos arderem, e mais uma vez não entendi por que eu me sentia tão triste. Finalmente não senti mais vontade de ver aquela cena, e me virei para voltar para a sala, mas não consegui chegar até lá.

A última coisa que me lembro antes de vomitar no chão da cozinha de Token foi a expressão de empatia de Tweek quando me virei para ele. E então, o embrulho. E os braços de Tweek me segurando, agachando junto comigo enquanto meu vômito respingava em seus sapatos.

Fim do POV do Butters

Tweek olhou para cima, e seus olhos encontraram com os de Craig. A expressão de ambos era séria, e Tweek sabia que Craig também tinha visto as lágrimas se formando nos olhos de Butters.

– E esse – Disse Craig, agachando ao lado do namorado e de Butters – é o estágio bêbado que só faz merda e consegue estragar tudo. O pior de todos.

– Vou pegar alguns panos de chão – Disse Token, suspirando antes de virar as costas e sumir pelo corredor.

Início do POV do Kenny

Ouvi o barulho de algum líquido caindo no chão, e então Bebe se afastou, fazendo um sonoro “Ewww” antes que eu visse o que tinha acontecido. Eu a empurrei para o lado e vi que Butters estava agachado no chão, em frente a uma poça de vômito, com Tweek e Craig ao lado.

– Merda! – Eu disse, pulando para longe da bancada e de Bebe – Ei, Butters, você está bem?

– Cai fora, Kenny – Disse Craig, sem se levantar – Ei, Butters, você consegue se levantar? Vamos, precisamos te levar pro banheiro, cara.

Eu agachei ao lado deles.

– Deixe que eu ajudo. – Eu disse, tentando não cair enquanto isso. Quando voltei para casa virei uns bons goles de uma garrafa de tequila que alguém me ofereceu, e elas estavam cobrando um alto preço para meu equilíbrio e concentração. – Merda, eu deveria estar tomando conta dele.

– É, mas não estava – Disse Tweek, me empurrando para longe de Butters – Você não vai conseguir ajudar ninguém, não consegue nem ajudar a si mesmo agora.

– Ei, Kenny... – Era Bebe, que estava a uns bons passos de distância de nós, e do vômito – Acho que vou indo nessa. Nos vemos na escola?

– Tchau, Bebe. – Respondeu Craig por mim, e em menos de 5 segundos Bebe já tinha desaparecido de nossas vistas.

Tweek e Craig levantaram Butters, e eu levantei junto com eles, me apoiando na parede. Enquanto eles o levavam para fora da cozinha, Token chegou com alguns panos. Eu fiquei parado no mesmo lugar, tentando pensar no que fazer. E por que diabos todo mundo parecia tão puto comigo?

– Clyde, - comecei, virando para ele que me encarava de braços cruzados – por que eles estão bravos comigo?

Clyde soltou um som de deboche antes de responder, passando por nós e nos deixando sozinhos na cozinha:

– Talvez porque você seja um cretino. Não sei os outros caras, mas acho que você podia ter o mínimo de consideração por seus amigos e não pegar a mina que eu fiquei a noite inteira tentando algo. Tchau, Token, vou tentar pelo menos conseguir uma carona com Bebe e Red.

Eu olhei para Token, minha única opção no momento. Ele parecia cansado, irritado e de saco cheio.

– Token... Você está bravo comigo também?

– Vai dormir, Kenny. Todos já foram embora, quer que eu te dê uma carona para sua casa?

– Posso dormir aqui? – Eu não estava com a mínima vontade de voltar para casa. Essa era pra ser a noite de Butters, para nos divertirmos, e eu estava preocupado com ele.

Token ficou um longo minuto em silêncio antes de responder:

– É, acho que sim. Se prometer se comportar.

– Eu sempre me comporto.

– Você sempre se comporta... Mal.

Eu ri, mas Token não pareceu achar graça. Porra, por que estavam tão mal humorados?

Tentei ajudar Token a limpar as latinhas, garrafas e caixas da cozinha enquanto Tweek e Craig ainda estavam cuidando de Butters. Assim que terminamos de limpar a sujeita mais aparente, comecei a subir as escadas para o quarto de hóspedes.

– Não, não, não. Você vai dormir no sofá da garagem. – Disse Token, quase me derrubando ao me puxar de volta os degraus que eu havia subido.

– Cara, por quê? O quarto de hóspedes tem duas camas.

– Considere isso um castigo. – Ele disse, me empurrando para fora. – Vá pensar nas coisas que você faz. Uma vez na vida, Kenny, pense nas merdas que você faz.

Ele não parecia bravo como Craig ou Clyde, mas ainda assim eu sentia a irritação em sua voz. Tentei me lembrar do que poderia ter feito para irritá-los tanto, mas minha mente não ia muito além do vômito de Butters. Talvez eu precisasse mesmo descansar.

Fumei um cigarro antes de entrar na garagem, e antes de deitar peguei um cobertor em um dos armários. Tentei mais uma vez lembrar dos acontecimentos da noite, mas dormi antes que conseguisse pensar em mais alguma coisa.

Fim do POV do Kenny

Token ainda recolhia as latinhas pela casa quando ouviu os passos de Craig e Tweek descendo a escada. Ele largou o saco de lixo no chão e foi até o encontro deles.

– Como está o Butters? – Perguntou, olhando para os tênis sujos de Tweek.

– Capotado. – Disse Tweek – Já estava quase dormindo quando chegamos no banheiro. Tentamos lavar o rosto dele e o ajudamos a trocar de roupa antes que ele apagasse na cama.

– Que bom, os dois bebês já estão na cama. – Disse Token, apontando com a cabeça para fora da casa – Kenny está de castigo na garagem.

Craig abriu um sorriso.

– Vamos te ajudar a limpar e já vamos embora, Token. – Ele disse, pegando o saco que Token tinha largado no chão. – Amanhã cedo voltamos para começar as tais “aulas”.

– Mentira. – Disse Tweek – Ele só quer estar aqui para ver a primeira ressaca de Butters.

Início do POV do Kenny

Merda. Merda.

Merda.

Tudo o que eu me esforçava para lembrar antes de dormir, eu me esforçava para esquecer agora. Foi abrir os olhos, levantar e sentar no sofá e olhar em volta da garagem, para os instrumentos, para minha guitarra... Para a ficha cair.

Eu tinha mesmo beijado Butters. E só a lembrança vaga fazia todo o meu corpo arrepiar. Deitei novamente no sofá, cobrindo até minha cabeça com o cobertor. Eu não queria acordar e lidar com as consequências daquilo. Eu não queria levar bronca de todos eles por não conseguir me segurar. Eu não queria que Butters me odiasse por eu o ter “atacado”.

Mas... Peraí. Butters não parecia ter achado ruim. Ele tinha me beijado de volta, não tinha? E não saiu correndo...

...Quem saiu correndo fui eu. Eu fiquei sem saber o que fazer, e não queria olhar para nenhum dos caras. Eu não sabia o que fazer ou falar para Butters, ainda mais quando Kyle apareceu. Se levar uma bronca de Craig, Tweek e Token parecia assustador, levar uma bronca de Kyle era mil vezes pior. Ele foi treinado desde pequeno pela mulher mais chata de toda South Park.

O dia inteiro eles tinham reparado que eu estava ultrapassando uma linha que seria melhor para todos que eu não atravessasse. Para falar a verdade, nem eu mesmo achei que iria tão longe. Eu conhecia Butters desde que éramos pequenos, e eu não queria decepcioná-lo ou assustá-lo desse jeito.

Só porque ele não reagiu de uma forma negativa a Craig e Tweek não significava que eu podia força-lo a uma situação daquelas. Só de imaginar o quanto ele deveria estar desconfortável com tudo aquilo meu estômago se retorcia. E por que diabos eu tinha a sensação de que isso ainda não era o pior de tudo?

Eu gemi debaixo do cobertor quando ouvi o portão da garagem se abrindo. Continuei escondido, como se pudesse evitar o mundo se ficasse ali debaixo para sempre.

Mas a ilusão durou poucos segundos: o cobertor foi arrancado de mim por Craig, que só pela cara de poucos amigos soube que ainda estava puto comigo.

– Temos que conversar. – Ele disse, enquanto eu desistia de me fingir de morto e me levantava – Vem, vamos fumar um cigarro lá fora.

Segui Craig para fora arrastando os pés, e só o fiz porque estava muito curioso para saber como Butters estava. Eu me lembrava dele passando mal, e que droga, outra decepção... Eu prometi que tomaria conta dele. E estava ocupado...

Ah. Merda. Merda. Merda. Merda.

Bebe. Isso era o pior de tudo, não era? Por isso todos estavam putos comigo. Mas Butters estava vomitando, será que ele tinha visto alguma coisa? O que ele ia pensar de um cara que sai beijando todo mundo por aí?

– Como está o Butters? – Eu perguntei para Craig depois de dar o primeiro trago no cigarro.

– Está tomando café da manhã com Tweek e a família Black. – Ele respondeu, soltando a fumaça de seu cigarro – E você? Como está se sentindo depois de bancar o maior babaca do mundo?

Eu suspirei, esfregando meus olhos com uma das mãos.

– Eu sei. Tudo caiu em minha cabeça quando acordei como um balde de água fria – Respondi, encarando-o, para ele saber que eu estava falando a verdade – Eu estava fora de mim, eu... – Traguei novamente o cigarro e soltei a fumaça, ganhando tempo para ter coragem de perguntar – Butters viu... Bebe?

– Ah, viu.

– E o que ele... Ele falou algo sobre mim?

– Não. Ele diz que não se lembra de quase nada, mas eu duvido. Acho que não quer falar sobre isso, e está tentando agir normalmente. Quando perguntei por que ele parecia tão envergonhado, ele disse que foi por ter passado mal e apagado logo na primeira vez que bebeu. Por ter causado problemas.

– Poxa, usando a amnésia alcoólica como desculpa? – Eu respondi – Eu deveria ter pensado nisso primeiro... Mas talvez ele não se lembre de nada mesmo.

– Eu não teria tantas esperanças. – Disse Craig – Bom, vamos descobrir daqui a pouco, quando ele te ver, não é? E sobre o que eu quero conversar com você, vou direto ao ponto: Não estrague tudo, Kenny. Não afaste Butters de nós por causa de suas... Necessidades bizarras. Deixe o garoto fora disso, ele está realmente feliz em nos ajudar... E eu e Token estamos felizes de tê-lo por perto. Se você fizer mais alguma coisa para estragar isso, eu vou...

–Não precisa terminar a frase – Eu disse, interrompendo-o antes que ele concluísse a ameaça – Eu entendi. Eu não queria isso. Desculpem. Eu só... É que... Eu não sei o que deu em mim.

– Vamos ser sinceros, Kenny. Eu entendo. Tweek e Butters, eles... Eles são parecidos, se comportam como presas. E nós sentimos vontade de protegê-los... Ou de caçá-los.

Eu entendi exatamente o que Craig disse quando ele comparou Butters com Tweek. O predador dentro de mim rosnou, irritado com a pequena insinuação de que Craig tivesse algum interesse em Butters, como tinha por Tweek.

– Não deixe o Tweek ouvir você falando de outro garoto, aye? – Eu disse, mesmo sabendo que não tinha necessidade de provocar Craig dessa maneira. Eu só queria que ele negasse qualquer interesse em Butters.

– Não seja idiota, Kenny. Você não tem moral para ser mais idiota do que já foi nas últimas 24 horas.

Craig jogou a bituca de cigarro fora, e começou a andar de volta para a casa de Token.

– Venha, estão todos esperando por você para terminarem de comer e começar o dia. Tweek já deve estar na quinta xícara de café.

Eu o acompanhei, mas antes que Craig abrisse a porta, ele virou para mim e disse, baixo:

– Estamos entendidos? Vai deixar Butters em paz?

– Claro que vou – Eu disse, franzindo o cenho e olhando para baixo, arriscando um sorriso sem graça em seguida. – Se o garoto está fingindo não se lembrar, não parece que foi um dos meus melhores beijos, não é?

– É, então faça como ele e esqueça essa história. Vamos focar em fazer com que ele se sinta bem entre nós. Ele já tem problemas demais em casa.

Entramos, e logo ouvi como a cozinha estava barulhenta. Todos me deram bom dia quando entrei e me sentei à mesa, ao lado de Token. Procurei o olhar de Butters para lhe dar bom dia e testar qual seria sua reação, e o peguei também olhando para mim.

– Bom dia, Butters. – Eu disse, cautelosamente, com um sorriso amigável nos lábios.

Butters ficou vermelho dos pés a cabeça, e acho que se ele pudesse, teria encolhido e mergulhado no copo de achocolatado que segurava. Mas devo reconhecer o esforço que ele fez em parecer natural ao me responder, numa voz mais afetada do que normalmente:

– B-bom dia, Kenny.

Vi Craig olhar de canto de olho para Tweek, e os dois trocaram um discreto sorriso, como se suas apostas de que Butters se lembrava do que aconteceu e estava fingindo tivessem acabado de ser confirmadas. Mas eu achei que o jeito de Butters era o melhor jeito de lidar com a situação, então continuei a tomar meu café normalmente.

– Se divertiram ontem à noite, garotos? – Perguntou a Sra. Black, trazendo uma jarra de suco para a mesa.

Nós cinco murmuramos algumas palavras desconexas, querendo confirmar que sim, sem muitos detalhes. O resto do café da manhã seguiu quase silencioso, a não ser pelo som de talheres, copos e os pais de Token fazendo mil perguntas para Butters sobre a escola, seus pais e se estava gostando de passar o fim de semana na casa deles.

– Poderíamos combinar isso mais vezes. – Disse a Sra. Black, animada – Acho que aprendi como convencer seus pais.

Ela deu uma piscadela para Butters, que retribuiu com um sorriso agradecido. Pouco depois disso todos levantaram da mesa para “começar o dia”, como tinha dito Craig. E, tirando o evidente desconcerto quase toda vez que eu ou Butters interagíamos, o dia correu bem.

Foi muito bom vê-lo sorrindo e brincando com todos, e nem preciso falar o quanto ele é foda com os instrumentos. Quando foi a vez de ele me dar algumas dicas e começar a me ensinar como eu poderia tocar melhor, todos fingiram que não, mas mantinham os olhos em nós. No começo foi um pouco desconfortável, mas algum tempo depois já estávamos tão envolvidos na música que não nos importamos mais com o que tinha acontecido.

Passamos o resto do dia tocando algumas músicas, jogando videogames e gravando DVDs de filmes para que Butters assistisse quando estivesse na casa dele. Conforme o dia foi passando as conversas entre nós dois foram ficando mais naturais, e tive a esperança de que pudéssemos passar por cima de tudo e continuar como estávamos antes de eu quase estragar tudo.

Pouco depois do jantar, Craig e Tweek foram embora. Os pais de Butters ligaram para saber se estava tudo bem e para tentar convencer Butters a voltar para casa naquela noite, mas a mãe de Token foi irredutível quando disse que seria ótimo tê-lo por mais uma noite, que Butters era uma boa influência para Token. Nós três nos olhamos e não conseguimos segurar o riso, e a Sra. Black teve que fazer um sinal para que ficássemos quietos antes que os pais de Butters nos ouvissem rindo.

Eu sabia que eu também deveria estar indo para casa, mas eu queria continuar ali com eles. O único motivo que me fazia querer voltar para aquele buraco era Karen. Não gostava de deixa-la muito tempo sozinha, mesmo que agora ela fosse maior e soubesse se virar um pouco melhor. Vez ou outra algum amigo de Kevin ia até lá para comprar drogas com ele, e não gostava de Karen sozinha perto desse tipo de gente.

Me despedi dos garotos e fui para casa a pé, recusando a carona que Token me ofereceu. A caminhada seria uma boa oportunidade para esvaziar a cabeça. A partir dessa semana, tudo mudaria: Butters começaria no novo emprego e a fazer parte dos ensaios da banda, e nós teríamos que nos empenhar em dobro se queríamos chegar a algum lugar.

Eu estava animado, perdido em pensamentos sobre esse novo momento em nossas vidas, e cheguei em casa rapidamente, mas não entrei. Fiquei algum tempo na calçada, fumando e olhando para minha maldita casa caindo aos pedaços.

– Falta pouco... – Falei, para mim mesmo – Aguente firme. Falta pouco. Vocês farão sucesso, e você poderá tirar sua família desse buraco de cidade.

Falta pouco. E eu mal posso esperar para aparecer na TV de todos aqueles que duvidaram de mim. Começando pelo Sr. Stotch.

Fim do POV do Kenny


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Notas finais do capítulo

até o próximo capítulo ;)



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