– Você tem certeza que quer ir ?

– Porque eu não iria? Quer saber Melinda, você não se cansa de ser assim tão desconfiada?

– Não, assim eu evito muitas frustrações, e por consequência muitos desgastes emocionais.

Disse Melinda pondo a mão na cintura e me dando um sermão de irmã mais velha.

– Não se preocupe Mel, voltarei cedo, e tudo ficará bem, só preciso me divertir um pouco.

Eu resolvi aquela noite caprichar no lápis de olho. Usei-o até que meus olhos e meus olhares ficassem praticamente impossíveis de não perceber. A Mel bufou, passou a mão no rosto desaprovando a minha saída, mas mesmo assim me abraçou.

– Tudo bem, mas se a mãe ligar, digo o quê?

– Diz que fui, dormir na casa da Angélica, e que amanhã bem cedo estarei aqui.

Mal minha mãe sabia que eu estava longe da casa da Angélica, e que essa Angélica, nem mesmo existia, era apenas um personagem de fuga, pra dizer que ao invés de sair por ai festando, eu estava como uma boa menina na casa dela.

Quando estava fechando a porta do Táxi, Mel abre umas das janelas do nosso quarto, que dava para rua e grita : - Hoje vai nevar, leve seu casaco!

Eu abanei um casaco fino, que sempre levava comigo, para evitar mais atritos com ela. Mel se sentia na obrigação de que só porque estávamos longe da mãe, ela deveria ser a Mãe. Gostava de controlar minhas notas, minhas saídas, minhas bebedeiras, minhas colegas. Fazia a compra de casa, pedia ajuda para a limpeza, e até mesmo trabalhar ela trabalhava só para se sentir mais responsável do que eu.

E eu? Bom, eu sou um ano apenas mais nova que a Mel, eu faço curso de Biologia, na mesma faculdade que a Mel, inclusive, nos vemos todos os dias em algumas aulas, já que ela faz Medicina. Até nisso nos complementamos a outra. Embora quase nunca somos vistas juntas, há algo que nos une mais do que tudo nesse mundo, e isso é só visto em casa.

Nossa mãe mora na Áustria. Ela é Diretora Sênior, em um empresa de Biotecnologia. E nós morávamos lá com ela,até completarmos vinte anos.E então fomos morar no Brasil, e foi o país mais incrível que conhecemos, mas ficamos pouco por lá, nem mesmo um ano, e resolvemos que estudaríamos no Canadá. E estamos aqui desde então, eu com vinte e dois e a Mel com vinte três.

Enfim, a festa estava incrível,se tinha alguém que sabia como dar festas era Jorge. Além de super bem humorado, ele entendia de boa música, bom ambiente e ótimas festas.Aceitar um convite dele, era como ficar por algumas horas, no paraíso. Todas as pessoas mais bem relacionadas da faculdade estavam lá. Se revelando. As meninas que sempre faziam questão de parecer "Bad Girl" estavam mais comportadas, e as mais bem comportadas estavam completamente ao avesso.

– Mas não podia faltar ela !

Jorge gritou lá de cima das escadas quando me viu chegar,ela era lindo, um partido perfeito, mas não curtíamos as mesmas coisas. Eu prefiro homens de óculos, com um ar, meio Geek, e jorge prefere homens mais viris. Então ele me deu um abraço apertado como sempre e ja foi logo me puxando para dentro da festa. Enquanto ele me passava o relatório dos últimos acontecimentos bombásticos da festa, fui atraída por um homem que nunca tinha visto antes. Ele estava sozinho no pé da escada segurando um copo de cerveja, com um dos pés encostado na parede, senti aquele segundo passando em câmera lenta. Mas Jorge não desistiu de falar e de me puxar, e então o perdi de vista.