Mais que a Minha Própria Vida escrita por Melissa J


Capítulo 4
Capítulo 4




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Eu gostava de observar àquele mural do colégio. Era enorme e colorido. E era onde haviam informações sobre trabalhos escolares, aprovações em matérias extracurriculares, seleções para novas peças teatrais ou para novos times esportivos, informações e contatos sobre as universidades de toda a Inglaterra, convites para festas, e uma enorme quantidade de coisas que aconteciam por lá. Fora em razão da existência desse mural, inclusive, que eu descobrira as aulas de teatro e a minha paixão pelo mesmo. Eu gostava, principalmente, de observar as fotos e informações sobre a universidade dos meus sonhos. Era o momento que eu poderia fechar os olhos e imaginar, almejar, sonhar. Naquele dia em especial eu procurava por algum novo artigo sobre a minha universidade, quando Leah surpreendeu-me gritando e pulando em minhas costas. Eu quase morri de susto, dei um pulo e virei-me indignada.
_ Te assustei? - ele deu o seu melhor sorriso perverso enquanto enrolava uma mecha de seus cabelos ruivos e alisados nos dedos. Era engraçado observar como ela e sua irmã Rachel eram parecidas em aparência mas tão diferentes nos quesitos estilo e personalidade.
_ Claro,né? Você quer que eu tenha um infarto e morra antes mesmo de completar dezoito anos?
_ Larga der ser exagerada. - ela sorriu,passando o dedo indicador por cima dos anúncios do mural como que procurando algum em especial.
_ Procurando algo?
_ Isso! - ele gritou, arrancando um papel azul e cheio de glitter do mural.
_ Ei!você não poder fazer isso! Tá louca?
_ É só emprestado...Pra sempre! - ela riu.
_ Coloca de volta,Leah. Isso é errado.
_ Ah, Jenni. Doce Jenni - ela apertou minhas bochechas enquanto sorria de forma debochada - Você é tão, tão, tão certinha. Mas pode ficar tranquila, tá? Tem centenas de cartazes iguaizinhos colados por todo o colégio. Não vamos ser expulsas por isso. Foi então que eu entendi do que se tratava.
_ Olhe! - ela ergueu o cartaz na minha cara - Terá um baile de formatura do último ano. É a maior e melhor festa de todas as que acontecem aqui no colégio.
_ Tá, e daí?
_ E daí... - ela disse,enquanto dobrava a folha e guardava no bolso - Que homens lindos do terceiro ano estarão lá. Principalmente...
_ Já sei,já sei. Brandon. - eu disse com um tom ironico.
_ Não só ele, querida. O seu querido Connor também estará lá. Você não quer vê-lo por uma última vez? Antes que ele vá para a faculdade?
_ Nem ligo.
_ É claaaro que não!
_ Além do mais o baile é para os estudantes do último ano. Ainda estamos no primeiro, lembra? Não tem nada a ver nós aparecermos lá. Provavelmente nós não conseguiremos sequer entrar.
_ Conseguiremos sim. Pode-se dizer que eu tenho os meus contatos...
_ Você ou a Grace? - perguntei pensando na popularidade de Grace e na forma como ela sempre conseguia tudo o que queria.
_ A Grace. Mas e daí? Dá no mesmo. E você vai se divertir Jenni. É a melhor festa de todas. Os organizadores nunca, nunca deixam a desejar. Aposto que você nunca foi numa festa dessas.
_ Nunca fui e nem tenho o menor interesse.
_ E o ano letivo está acabando. As provas estão acabando. Nós precisamos sair para comemorar. Precisamos nos divertir um pouco,Jenni. Você quase nunca sai comigo e com as meninas para se divertir,
_ Não sei não. Acho que não tem nada a ver nós irmos. O baile nem é nosso. Daqui há dois anos nós teremos o nosso. Aí sim...
_ Diz que vai pensar pelo menos, Jennizinha... - ela pediu,juntando as palmas das mãos e colocando-as em frente á boca.
_ Eu não vou. Por que não vão só você e a Grace? Ela é muito mais divertida.
_ De jeito nenhum. Temos de ir nós quatro. Eu, você, Grace e a Rachel. Somos melhores amigas, lembra? Pra todas as horas.
_ Suas chantagens emocionais não me atingem, Leah.
_ Por favor, Jennifer! Diz ao menos que vai pensar. Não vai ter graça nenhuma se não formos as quatro juntas.
_ Tá, eu vou pensar. Só pensar. Não garanto nada. E que fique bem claro que isso é bem mais pra me livrar de você.
_ É por isso que eu amo você. - ela riu, me dando um longo beijo na bochecha e saltitando pelos corredores em direção ao vestiário.

Eu já estava muito mais do que conformada com o fato de que Connor iria para a faculdade e nunca mais nos veríamos. Era até reconfortante para mim. Essa coisa de se apaixonar é algo absolutamente ilusório, subjetivo e insano.E eu queria andar lado a lado com a razão, queria saber pensar friamente e tomar as decisões necessárias, e não aquelas que o meu coração mandava. Eu sempre fora assim e, sinceramente, eu deveria odiar Connor por tirar isso de mim. Eu era fria, mas a minha frieza é que me fazia forte, de certa forma. E só o fato de pensar nele me fazia tão confusa e fraca, como se eu não pudesse sequer lidar comigo mesma. É um sentimento difícil de explicar, faz sua cabeça girar e todas as certezas que você acha que tem se dissolvem. E o que pra você era real passa a se tornar uma grande incognita.

Por falar nisso, o que é real? Eu achava que o amor era algo feito apenas para a fantasia, para a música e poemas, para os pensamentos e suspiros no meio da noite que fazem com que as pessoas se sintam inspiradas para tal. Na realidade fria e crua ele simplesmente não existia. Era apenas uma palavra, algo inútil, doloroso, apenas uma palavra confusa utilizada para retratar mera paixão, atração, loucura ou até mesmo o ódio. O amor mesmo, aquele sentimento puro e lindo, era só arte. Mais nada. Entretanto, a cada dia que se passava, mais dúvidas e perguntas invadiam a minha mente antes cheia de certezas.

Rachel e Leah me convidaram para dormir em sua casa naquela sexta. Os pais delas nos buscaram no colégio e me deixaram em casa antes para que eu pudesse pedir permissão a meu avô e, caso a tivesse, arrumar algumas roupas para levar. Eu já sabia de sua resposta. Ele deixaria. Meu avô sempre fora, ou tentara ser o mais próximo o possível de mim. Era a única pessoa que eu tinha de verdade e, mesmo com o meu jeito fechado, me conhecia o suficiente para saber que, antes de começar na escola nova, eu nunca havia tido amigos de verdade. Não era culpa das pessoas que eu conhecia, era culpa minha e da minha mania de preferir manter relações frias e superficiais.O meu medo de amar alguém e depois perder esse alguém fazia com que eu fosse assim. Mesmo assim, meu avô sempre tentou de tudo para que eu tivesse milhares de amigos com quem eu pudesse sair, partilhar segredos e e me divertir. E o fato de eu finalmente ter amigos assim o deixava muito empolgado.

_ É claro que ela pode ir dormir na casa de vocês, meninas. E vocês também devem vir um dia para cá. Os amigos de Jennifer são meus amigos também. - ele sorriu de maneira simpática.
_ Ah, sim senhor! - Leah sorriu. - Precisamos marcar uma reunião de meninas por aqui.
_ Eu vou arrumar minhas coisas. - eu disse.
_ Eu vou ajudar. - Rachel me seguiu.

Enquanto eu olhava as roupas do armário e escolhia quais eu levaria, Rachel se deitou em minha cama e percorreu os olhos em cada detalhe do meu quarto.
_ Quarto legal. - ela sorriu.
_ Obrigada. Onde está a Leah?
_ Na sala com seu avô.
_ Não sei se gosto da ideia.
_ Que horror. Ela não vai contar nada que não deve pro seu avô,Jenni. Até porque você nunca faz nada de errado.
_ Não, não é por causa dela. É que não quero que meu avô fique forçando as coisas...Forçando as pessoas a gostarem de mim.
_ Como assim? - ele se sentou e me olhou intrigada.
_ Nada. Esquece.
_ Nós gostamos de você, Jenni. Nós te amamos muito. Do jeito que você é.
_ Eu sei. Eu também amo muito vocês.
_ Então o que é isso? Como se precisasse de uma mãozinha do seu avô pra gente gostar mais de vocês.
_ Não é nada. Deixa pra lá. Pode pegar aquela mochila ali pra mim?
_ Está aqui. - ela me entregou a mochila e voltou a sua atenção para as roupas de meu armário.
_ E então? Você já tem um vestido para o baile?
_ Que baile?
_O do último ano, ué. Nós todas vamos. Grace não avisou?
_ Sim. E a sua irmã também. E agora você. Fui convocada. - eu disse, fazendo-a rir.
_ Que bom que você já está tão 'avisada'.
_ Mas eu não vou.
_ Como assim não vai?
_ Eu já não ia desde o início. Mas então Leah pediu que eu pensasse no assunto. E eu já pensei. Não vou.
_ Por quê não?
_ Por quê eu iria? - retruquei. - É melhor assim. Vai ser pior pra mim ver o Connor e pensar que será a última vez. Sabe-se lá pra onde ele irá depois. Eu não gosto de despedidas. E, bem...Não é bem uma despedida quando a pessoa não conhece você.
_ Você realmente gosta dele, né?
_ Não. Quero dizer... Não quero gostar. Não sei bem o que eu sinto.
_ Não é só ele que estará lá, sabe? Ainda há outros garotos.
_ Meu Deus do céu, Rachel. Vocês só pensam nisso?
_ Claro que não. Pensamos em várias outras coisas. Mas pensamos nisso também, Jenni. - ela sorriu - E até parece que é diferente com você.
_ Eu tenho coisas mais importantes a pensar.
_ Como a faculdade que você fará daqui a dois anos? Ou o que você preparará de jantar para o seu avô? Ou se você se lembra das suas falas nas peças teatrais?
_ Sinto muito se a minha vida parece tão chata assim para você.
Mas é assim que eu sou.
_ Eu não disse que a sua vida é chata. Você é inteligente e talentosa. É a minha melhor amiga e é a pessoa a quem mais admiro. Mas eu queria que você fosse com a gente, sabe? Ao menos nos divertiríamos. Ao menos com você lá eu me divertiria também. - ela disse, sussurrando bastante baixo na última frase.
_Como assim?
_Quando eu costumo ir a bailes com as meninas eu acabo ficando sozinha.
_ Por que?
_ Elas sempre vão para os cantos com garotos e eu fico lá parada igual uma idiota. Se você fosse, ao menos eu teria alguém para conversar comigo.
_ Então por que você vai?
_ É a última vez na qual verei ao Brandon. Eu quero ir. Mesmo que, como sempre, ele fique bem longe, conversando com os seus amigos idiotas e jamais olhe pra mim. Ainda assim. Quem sabe quando o verei novamente?
_ Se dói tanto, você não deveria ficar se martirizando, não acha? Nós duas poderíamos muito bem sair juntos no dia do baile e nos divertir muito. Só nós duas.
_ Mas eu quero ver ele essa última vez. Por favor, vá comigo. Eu nunca te pedi nada. É a primeira coisa. E a última. Eu juro.
_ Não me obrigue, Rachel. Não vai me fazer bem. Isso é chantagem emocional. - pedi, quase implorando com o olhar.
_ Só por uns minutos. Eu prometo. Depois nós poderemos ir embora.
_ Rachel...
_ É sua última chance também. Você sabe.
_ Isso é muito inocente da sua parte. Eu nunca pedi por chance alguma.
_ Por favor Jenni. Por mim. Se for muito ruim nós vamos embora.
_ Tá bem. Mas nós ficaremos cinco minutos,ok? Cinco minutos! - eu disse, dando-me por vencida.
_ Obrigada, obrigada, obrigada! - ela deu aquele lindo sorriso. E eu soube que, por ela, valia a pena.


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