A Depressão De Amy Cortese escrita por Letícia Matias


Capítulo 2
Capítulo 2: Me deixe em paz!


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Espero que gostem do capítulo :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/605458/chapter/2

Estacionei o carro em frente à escola. Ele chamaria atenção se eu não estivesse atrasada e se tivesse pessoas ali fora para presenciar minha chegada. Era um Audi Preto. Digamos que o namorado da minha mãe tinha bastante dinheiro. Mas ainda morávamos no subúrbio de Londres.
Peguei minha mochila e saí do carro. Encarei o prédio grande, estilo vitoriano á minha frente. Isso vai ser uma grande merda. Eu posso ver.
***
–Classe, deem as boas vindas a nossa nova aluna, srta. Cortese.
Todos na sala me olhavam e permaneceram em silêncio.
–Tem algo a dizer, querida? - a professora ao meu lado perguntou colocando a mão em meu ombro.
Olhei para a mão dela e depois para seu rosto.

–Não.
Ela assentiu e retirou sua mão de meu ombro quando viu minha cara para ela.
–Pode escolher um lugar srta. Cortese
Avistei uma cadeira vazia no fundo da sala, a última carteira da fileira, ao lado da janela. Ótimo, eu me distrairia facilmente.
Andei até ela e me sentei. A aula deu continuidade. Era aula de inglês.
Meu Deus! O que fiz para merecer isso?
–Oi, eu sou a Penelope.
Olhei para o lado e vi uma menina um pouco gordinha, loira de olhos esverdeados sorrir. Ela estava com o braço estendido para me cumprimentar
Sorri forçadamente.
–Oi.
Ela continuou com a mão estendida e então apenas para não ser muito rude, peguei sua mão e balancei-a uma vez.
–Como é o seu nome?
–Amy. -respondi e olhei pela janela.
– É um prazer Amy. Você quer um donuts?
Franzi o cenho. Será que Donuts na Inglaterra e na Califórnia significavam a mesma coisa?
–Ah...
Ela tirou uma caixa de donuts de dentro da mochila e abriu-a.
–Não, obrigada
Sim. Significavam a mesma coisa.
–Eu amo donuts! - ela disse pegando um e dando uma mordida generosa.
–Penelope querida, sabe que não pode comer dentro da sala de aula.
Penelope parou de mastigar e viu que todos estavam olhando para ela.
– Me desculpe sra. Irvine. - ela respondeu de boca cheia
Algumas pessoas abafaram o riso.
Ela se virou para mim e disse:

–Você veio da onde?
–Califórnia.
–Ah, achei que as pessoas de lá fossem todas bronzeadas. Você não é bronzeada.
–Eu não gosto de Sol. - respondi.
Ela assentiu e sorriu. Depois virou-se para frente.
Graças a Deus! -pensei.
–Ah meu Deus! - ela sussurrou para mim.
Olhei para ela.
–O que?
–O garoto mais popular da escola está olhando para você.
Franzi o cenho.
–Quem?
–Ali do outro lado da sala.
Passei o olho pela sala e avistei um menino branco, de cabelo loiro escuro, olhos esverdeados me olhando.

–Quem é ele? -sussurrei para Penelope ainda olhando para ele.
–Seu nome é Sean Pasqualino. Ele é popular, mas é gente boa.
–Porque ele é popular?
–Ele diz que já fodeu com todas as garotas de Londres. Mas eu não sei o que isso quer dizer. Deve ser um linguajar de periferia.
Olhei para ela e ri.
–Está brincando, né?
Ela franziu levemente o cenho.
– Não.
Ai eu pude notar que ela era realmente muito inocente. Mas era uma boa pessoa.
Olhei novamente para o tal de Sean e ele ainda estava me olhando. Quando percebeu que eu estava olhando para ele, desviou o olhar.

***

A aula da Sra. Irvine passou lentamente e eu me peguei me olhando o parquinho abandonado em frente a escola várias vezes. Era incrível como tudo aquilo me entediava e sinceramente me deprimia.
Eu estava sentada, olhando mais uma vez para o parquinho abandonado quando ouvi uma voz.
– Ei Miss Califórnia, apareça na festa. - o tal de Sean estava sentando em cima da minha mesa entregando-me um folheto.
Olhei para ele. Seus olhos eram lindos e esverdeados e ele tinha uma cara de idiota apesar de muito bonito.
Peguei o folheto preto de sua mão. E dei uma lida rápida.
–Todo mundo vai. Vai ser no porão da minha casa. Estou sentindo que vou pegar alguém hoje! - ele exclamou e agarrou a cabeça de um menino que passava do lado da minha mesa.
– Sean me solte!
Sean riu e levantou-se da minha mesa dando empurrões no menino branquinho de cabelos castanhos e enroladinhos.
– Você deveria ir, garota estranha. - ele disse para Penelope.
Ela o fitou de olhos arregalados e ele saiu da sala.
– Ah meu Deus! Sean Pasqualino acabou de me chamar para a festa dele! Ah! Eu preciso de um pirulito.
Olhei para ela enquanto ela tirava da bolsa um pirulito de cereja.
Ela olhou pra mim e sorriu.
–Quer?
Fiquei olhando para ela sem dizer nada por um tempo.
– Não. - respondi e ela deu de ombros.
Olhei para o panfleto preto com letras verde neon. Havia um balde de lixo perto da minha mesa. Amassei o papel fazendo uma bola e arremessei no lixo.
Tornei a olhar para o parquinho. A balança balançava suavemente como se um fantasma estivesse ali. O fantasma de uma criança.
***
Na hora do almoço, todos saíram alvoroçados para o refeitório. Esperei que a sala estivesse vazia e os corredores também, e então me levantei e dirigi-me para fora da sala.
Parei na porta da sala e dei uma olhada no corredor. Havia poucas pessoas.
Comecei a andar em direção ao refeitório. Lá, as pessoas estavam tomando seus lugares na fila e nas mesas. Rapidamente me arrependi, estava cheio demais e muitos olhos em mim. Não entendi bem o porquê já que minha roupa era uniforme, não era diferente de ninguém.
Peguei meu lugar na fila e peguei uma bandeja e esperei pacientemente enquanto as pessoas pegavam o que iam comer. Era um veneno: macarrão, cachorro quente, ovo frito e bacon...
Decidi pegar uma caixinha de suco de laranja e uma tigela de cereais com leite.
Quando eu estava me virando para ir me sentar em uma mesa uma menina barrou o meu caminho. Ela era alta, morena, tinha os olhos verdes e os cabelos castanhos.
– Todas as pessoas da Califórnia são esquisitas como você?
Não respondi e fiquei olhando para ela.
–O gato comeu sua língua?
–Fey, pare com isso. Deixe a menina.
Olhei para o lado e vi Sean. Ele tinha falado para Fey parar. Então aquela era a turma dos populares.
–O que foi? Nossa já deu tempo de passar a mão nela, Sean? Você é rápido.
Sean balançou a cabeça e sorriu. Algumas pessoas riram.
Olhei para ela.
–Com licença. - eu disse.
– Ah, isso fala! - ela disse, mas não se moveu.
–Sim eu falo e é a última vez que vou pedir licença. - eu disse.
Ela abriu a boca fingindo estar surpresa e depois riu.
– Tudo bem. Pode passar. - ela disse chegando para o lado dando espaço para que eu passasse.
Dei um passo à frente e Fey colocou um dos pés na minha frente.
Eu tropecei em seu pé e caí derrubando a bandeja no chão. A tigela de vidro se espatifou. Coloquei a mão no chão para não cair em cima de toda a sujeira e sujar a roupa.
Senti minhas mãos arderem. Olhei para minhas palmas e vi o líquido vermelho escorrendo por elas até o braço.
O refeitório estava em silêncio olhando para mim. Avistei Penelope olhando para mim com os olhos arregalados.
Respirei fundo e peguei um dos cacos de vidro. Levantei-me e me joguei em cima de Fey.
Levantei o braço e antes que eu pudesse fazer alguma coisa, uma mão segurou meu pulso e tirou o caco de vidro dela jogando-o longe.
– Você foi longe demais Fey.
Senti braços em volta da minha cintura me puxando.
–Me solta. Você vai se arrepender por isso! - gritei para aquela garota que me olhava com ódio profundo nos olhos e começava a fingir que estava chorando.
– Me solta! - exclamei.
Eu estava sendo arrastada contra minha vontade do refeitório.
Fui colocada de pé no chão e vi que tinha entrado num cômodo pequeno todo brando com uma maca. Eu nem sabia quem tinha me arrastado até ali. Olhei para trás e vi Sean me olhando.
– Você é mesmo uma bomba não é Miss Califórnia? Primeiro dia e já está causando e se metendo em brigas.
– Eu não fiz nada! - gritei. - Aquela... Aquela... Aquela louca...
– Tá bom Miss Califórnia, senta aí na maca que a enfermeira já vai vir cuidar das suas mãos.
–Dá pra parar de me chamar desse jeito? - exclamei irritada sentando-me na maca.
Olhei para cima e vi que ele estava sorrindo.
– O quê?
– Não disse nada.
– Por que está aqui afinal? - perguntei exasperada.
– Alguém tinha que te trazer para a enfermaria, ou se você não percebeu, sua mão está jorrando sangue. E outra coisa, você me deve uma camisa polo nova. Você manchou a minha de sangue.
Olhei para sua camisa e vi algumas manchas de sangue em sua camisa.
Antes que eu pudesse dizer algo, a enfermeira chegou com gazes, soro e algumas outras coisas para fazer curativos.
Fiquei em silêncio. A enfermeira tinha os cabelos castanhos preso num coque. Antes que eu pudesse impedi-la ela arregaçou as mangas da minha blusa, puxando-as para cima revelando minhas cicatrizes. Ela olhou para mim ao vê-las e mordeu o lábio.
Não disse nada e fitei meu tênis All star sujo de leite por um tempo.
Olhei para cima e vi que Sean ainda estava ali, de braços cruzados e ele me olhava intensamente. Franzi o cenho e desviei o olhar para minha mão. A enfermeira estava terminando de fazer os curativos.
Quando ela terminou, olhou para mim e disse:
–Se sentir dor, pode tomar algum analgésico.
–Obrigada. - eu disse abaixando novamente a manga da blusa e me levantando da maca.
Saí da enfermaria com Sean atrás de mim. A presença dele estava me incomodando.
Parei de andar e olhei para ele
–O que está fazendo?
– Indo para a sala de aula.
–Me deixe em paz! Não quero ser atacada por sua namorada de novo.
Ele começou a rir.
– Ela não é minha namorada.
–Não me interessa. - eu disse saindo deixando ele para trás.
– Ei, espera! -ele gritou, mas eu já estava virando o final do corredor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo. Por favor, comentem o que estão achando!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Depressão De Amy Cortese" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.