Cartas de uma quase desconhecida. escrita por Jmissnothing


Capítulo 2
Capitulo 1


Notas iniciais do capítulo

Gente sei que demorei, mas eu realmente precisava repensar o que eu ia fazer com a história, foram meses e eu sei que fui horrível nisso, mas espero que de algum jeito ainda exista alguém pensando que isso aqui vale a pena, porque eu acho que vale, enfim, espero que gostem do capítulo.



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A tensão na mesa era visível por qualquer um, eu encarava meu pai e ele retribuía, ainda estava com medo de que eu contasse para minha mãe o seu segredo. Havíamos chegado ao limite durante as férias de verão, quando eu havia o encontrado com a sua amante, a garota tinha idade para ser filha dele, a menina que eu havia visto rebolar e gemer em cima do meu pai até que eles me notassem, tinha a idade da minha irmã. Dezoito anos, mais velha que eu exatamente um ano… Desde que eu havia saído do hospital meu pai estava sempre me encarando pelos cantos da casa e eu estava sempre retribuindo, o clima estava sempre ruim entre nós e eu sabia que a mamãe pensava ser por causa da minha tentativa de suicídio, quando na verdade eu tinha certeza que uma parte do meu pai havia torcido para que eu morresse.

Eu sabia que o meu pai estava planejando se candidatar para reeleição a prefeitura e a comovente história do político que perdeu o filho soava muito melhor do que a do sem vergonha que traía a esposa com ninfetas, sorte a dele que eu não pretendia o entregar para a mamãe, afinal sabia que ela o amava demais para conseguir superar algo doentio como o que ele fizera.

Assim que terminei de comer, me levantei e fui até a minha mãe, dando um beijo em sua testa.

– Vejo a senhora depois da aula. – Olhei para ela, os cabelos escuros presos em um rabo de cavalo impecável, as olheiras estão diminuindo desde que eu voltei pra casa, sei que ela está tentando parecer calma e confiante, mesmo não estando. – Até mais tarde. – Digo para o meu pai sem muita animação, eles se olham com certo receio quando eu pego as chaves do carro e não consigo me conter, reviro os olhos. – Eu não vou jogar o carro de um penhasco, já esclarecemos que essa coisa toda de suicídio foi só um momento, parem de me olhar como se eu fosse um cadáver ambulante. – Acabo soltando antes que os dois possam dizer algo, percebo que minha mãe está querendo chorar, então saio antes que acabe falando mais merda.

Quando finalmente estou no carro, ligo o som em uma rádio qualquer e deixo a música me acalmar, eu preciso controlar meus nervos, explodir com meus pais por se preocuparem não vai ajudar em nada, só vai piorar a situação frágil em que minha família se encontra. A música me acalma, um som pop, não me recordo o nome, mas cantarolo a letra enquanto dirijo até a casa da Evy, é a primeira vez que vou ver minha melhor amiga desde que tentei me matar… E suspeito fortemente que a primeira reação dela vai ser avançar no meu pescoço e tentar terminar o serviço que eu comecei durante o tempo que ela passou fora.

Quando dobro a esquina da sua casa, posso ver Evy parada em frente sua casa, os cabelos castanhos presos em um coque, calça jeans, moletom e tênis, roupas comuns para a garota mais bonita que eu já vi na vida. Evy Chase é minha crush desde que eu me lembro, sim, sou afim da minha melhor amiga e novamente sim, eu tinha uma namorada até alguns dias atrás. A questão é que Evy era… Diferente, eu não podia correr o risco de perdê-la e como não sou uma pessoa fácil de lidar, prefiro manter as coisas no nível amigável, acho que é o mais seguro se eu quiser manter ela e meus dentes por perto, a garota é uma fera.

Desço do carro e ela corre na minha direção, me abraça apertado e eu noto quanta falta senti daquilo, o perfume dela é forte, mas tem um toque doce, combina com ela. Os cabelos acabam se soltando, enquanto eu a giro e ela me xinga de algo que não entendo bem, a coloco no chão, os olhos azuis me encaram e ela faz o esperado, começa a me bater.

– Qual é a porra do seu problema? Que ideia de merda foi essa de querer morrer? – A voz dela está rouca e eu sei que ela quer chorar, eu e Evy nos conhecemos desde criança, eu a conheci assim que meus pais se mudaram da Itália e sempre fomos inseparáveis, sei que ela pensa o mesmo que eu sobre nós, que a vida seria difícil demais sem o outro.

– Evy eu tô bem tá? Não aconteceu nada. – Percebo pelo modo como ela se porta que se eu não calar a boca vou levar um soco, então prefiro ficar quieto e apenas a encaro, Evy passa alguns minutos socando meu peito, dói, mas não faço nada, sei que mereço aquilo. Eu podia ter ligado pra ela, e eu havia pensado em ligar quando tinha tido aquela ideia imbecil e não o fiz por medo de a incomodar e é por isso que minha melhor amiga está me batendo, seu rosto está tão vermelho que quase não vejo as poucas sardas que ela tem, Evy respira fundo e me dá mais um soco antes de entrar no carro.

Eu a sigo e entro também, ela abre a mochila e tira um pendrive de dentro.

– Caralho Matt, quantas vezes já te falei pra comprar um pendrive, ou mesmo uns CD's, essas músicas de rádio são repetitivas demais. – Evy faz uma careta engraçada e eu relaxo, sei que depois do seu pequeno ataque estamos bem, ela não me odeia.

– Como foram as coisas com a família?

– Hello darkness my old friend. – Evy cantarola e ri baixo. – Você sabe como eu odeio essas cidades do interior, tudo muito parado e pacato, foi o de sempre só que com um bebê pra ficar chorando o tempo todo, sério acho que nunca vi uma criança que chorasse tanto, mas ela é fofa. – Eu nego com a cabeça, Evy tem um fraco por crianças, por mais que viva reclamando sobre elas e dizendo que nunca vai ter filhos, não consegue se conter quando vê uma, sempre sorrindo e fazendo caretas.

– A Samantha falou algo com você? – Pergunto e Evy desvia o olhar, agora sei que vem uma mordida no lábio inferior e uma mentira deslavada.

– Nada demais, só que vocês terminaram e que ela não quer falar disso, ou falar com você, ela parecia meio brava.

Dou de ombros e estaciono meu carro na vaga de sempre, virando para minha melhor amiga em seguida.

– Sabe que é uma péssima mentirosa, o que a Sam realmente disse? – A escuto bufar e a olhou pelo retrovisor, pela minha expressão Evy sabe que não há como escapar da conversa.

– A Sam te xingou, falou que você era um bosta, que havia terminado com ela sem motivo, que estava ficando maluco e que ela faria sua vida um inferno. – Evy deu uma pausa e eu a encarei. – Nós brigamos e ela mandou eu escolher, você sabe que a Samantha é uma criança e isso não passam de ameaças bobas.

– Não ligo pro que a Sam pensa sobre mim, nem o que ela acha que pode fazer, mas você precisa ter cuidado. – Falo a olhando com um ar sério. – É melhor evitarmos conversar por aqui até a miss tpm se acalmar.

– Isso é patético, não vou te evitar por causa dela.

– Mas eu vou te evitar Evy, agora vai indo pra aula, eu preciso entregar uns papéis pro diretor. – Evy me olha furiosa e sai caminhando rápido sem dizer tchau, ela desistiu de teimar no momento porque odeia se atrasar, sei que vamos discutir sobre isso depois.

Pego o meu notebook e o ligo, conectando a Wi-Fi da escola, abro meu e-mail e penso um pouco antes de começar a digitar.

“Hey desconhecida, eu sei que demorei um pouco pra responder a sua carta com o meu e-mail, mas estou precisando desabafar, hoje é meu primeiro dia de volta a escola e eu tenho pensado muito sobre o que você disse… Tem muitas coisas me incomodando e eu não sei se vou conseguir ver as coisas com os mesmos olhos que antes. Na verdade, tenho praticamente certeza que não.

Minha ex parece determinada a fazer minha vida um inferno… E sabe o poder de uma garota bonita e má certo? Mas eu não ligo muito, não existe nada que ela realmente possa fazer comigo, eu sei me virar.

A questão é a Evy, acho que a Samantha pode fazer coisas que vão a atingir, e não sei como impedir, aceito conselhos minha cara.

As coisas tem estado confusas em casa também, mas esse é um problema que prefiro guardar pra mim entende? É tudo muito complicado e recente para externar, além de que, sem querer desconfiar nem nada, mas como meu pai é um político falar coisas que podem prejudicar minha família é no mínimo um perigo pra imagem dele, por isso já peço desculpas.

Tenho me sentido meio sufocado, eu espero que hoje as pessoas não me olhem com pena, ou perguntem se estou bem, acho que posso lidar com elas me ignorando por causa da Sam, mas não com elas me achando um pobre coitado.

Eu espero que seus dias estejam melhores que os meus, o maior conforto que eu tenho é saber que eu tenho minha melhor amiga aqui comigo e que posso desabafar com você, espero de verdade que não quebre minha confiança, e obrigada por estar afim de ler essas baboseiras, eu meio que estou precisando colocar as coisas pra fora.

Nos vemos depois então certo? Ou melhor, nos falamos, até outra hora.”

Enviei o e-mail, guardei o computador na mochila e saí do carro, aquela hora as pessoas já estavam em suas respectivas aulas, eu tinha história, então caminhei até a classe, os corredores normalmente lotados, nos quais era um desafio se locomover sem esbarrar em algo, ou alguém, estavam vazios e isso facilitou que eu chegasse a aula rápido.

O professor Fitz, era um senhor de meia idade, com cabelos grisalhos e olhos castanhos pequenos que enxergavam muito bem para seu tamanho, tinha um nariz grande e parecia sempre sorrir, seu temperamento combinava com sua expressão, calmo e alegre, dificilmente perdia a sua enorme paciência com alguém.

– Pode entrar senhor Mazulo. – Ele comentou assim que me viu na porta e eu pude sentir todos os olhares queimando sobre mim ao mesmo tempo, a sala toda havia virado para olhar o maluco suicida, impaciente com aquilo eu levantei meus olhos, que antes estavam fixos no chão e encarei as pessoas com uma expressão pouco amigável, eu nunca havia sido muito paciente e ultimamente a pouca paciência que eu tinha parecia ter acabado.

O lugar que antes era ocupado por mim, na frente de Samantha, estava ocupado por Tyler, o segundo no time de basquete e o cara que eu costumava considerar meu melhor amigo, e a última pessoa para quem eu gostaria de olhar.

Dizem que decepção é o pior sentimento que se pode sentir por alguém, eu concordo, ele havia me decepcionado e eu tinha certeza que se não conseguisse controlar melhor minha raiva ia tirar aquele sorrisinho presunçoso com que ele me olhava na porrada.

Respirei fundo e caminhei até a ultima fileira, me sentando ao lado de Lyla, uma garota que meus amigos idiotas, e preciso assumir, até eu mesmo, havíamos apelidado de freak no semestre anterior, por ser muito quieta e estar sempre desenhando. Ela me olhou e deu um sorrisinho.

– Olá, seja bem vindo a freakilandia. – Falou sobre estarmos sentados lado a lado e eu tentei perceber se ela estava me provocando, mas não parecia então eu apenas dei de ombro e ri, ela riu também e eu larguei a mochila no chão.

Tentei me concentrar na aula, mas estava difícil com as pessoas me encarando e sussurrando coisas que eu sabia serem sobre mim, eu havia vestido uma blusa de mangas longas, pra cobrir as cicatrizes, mas as pessoas ainda pareciam interessadas demais em falar sobre isso.

– Quanto tempo você acha que eles vão ficar falando sobre você ter tentado se matar? – Lyla me perguntou baixo e eu olhei de canto de olho pra sala e depois pra ela.

– Até a Samantha decidir que isso não é mais interessante. – Lyla olhou pra mim e depois pra o resto da classe.

– Acho que você está muito encrencado no que depender dela.

– Ela sabe jogar. – Dei de ombros e peguei Sam me olhando, acenei pra ela com um sorrisinho irônico e ela virou o rosto. – Acho que vai ser um longo resto de ano.

– Você acha? – Lyla perguntou e me olhou. – Eu tenho certeza.

E de algum modo, eu tinha certeza que seria, longo e estranho, as coisas obviamente não seriam as mesmas pra mim, e o mais impressionante é que eu não estava incomodado, nem um pouco desconfortável em perder minha vida teoricamente perfeita, e uma coisa passou pela minha cabeça naquele momento, eu não queria morrer, eu queria mudar.


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Notas finais do capítulo

Hey guys, o que acharam? Eu to tentando não errar muito a pontuação, meio que tenho uma dificuldade com vírgulas, e não tive tempo de revisar, então por favor perdoem qualquer erro e espero que gostem, deixem as suas opiniões ok? Um grande beijo.



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