O vento gelado acertou meu rosto com força, o bastão de baseball era esmagado por minhas mãos geladas, os olhos alheios me encaravam fixamente.

– Preparar! - um dos garotos do time de baseball gritou, na primeira base, com a bola na mão. - Já!

Ele jogou a bola com força, apertei um pouco mais o bastão e acertei a bola, a fazendo voar para longe do campo.

– Rachel Berry faz um home run, e a torcida vai à loucura! - me virei rapidamente, vendo Brittany pular de alegria, enquanto Quinn uivava para mim. - A primeira jogadora muher da história, melhor do que muitos idiotas!

Me aproximei delas rapidamente, jogando o bastão no chão, Britt rapidamente me abraçou.

– O que vocês estão fazendo aqui? - perguntei, ouvindo algumas buzinas.

– Alguém tinha que vir lhe buscar. - Brittany disse.

– Vamos dar um passeio hoje. - Quinn cantarolou, segurando minhas mãos. - Espero que não tenha se programado o dia inteiro.

– Acho que não...

Percebemos alguém se aproximar, Milli corou um pouco e sorriu para as duas loiras.

– Não querendo incomodá-las, mas... hum... Rachel, você prometeu passar a tarde comigo, e...

– Oh! - arregalei um pouco meus olhos. - Realmente, prometi à Milli e...

– Ela pode vir conosco. - Britt opinou, Quinn elevou uma de suas sobrancelhas. - O que acha, Rachel?

– Eu acho legal. - respondi, dando de ombros. - Ela pode, Quinn?

– Tudo bem. - Quinn bufou, parecendo irritada. - Vamos logo, antes que Andy buzine novamente.

Quinn puxou Britt, Milli e eu seguimos as duas, Andrea buzinava cada vez mais rápido, me fazendo tampar os ouvidos.

– Andy! - Britt reclamou, pulando pela porta, para entrar no carro. - Pare com essa barulheira!

– Preparadas para o dia das garotas? - Andrea gritou, buzinando novamente.

– Dia das garotas? - me sentei entre Britt e Milli atrás, enquanto Quinn sentava ao lado de Andrea. - Onde estão Santana e Lexie?

– Trabalhando. - Britt respondeu. - Lexie vai distrair Santana o dia inteiro.

– Por quê? - Milli perguntou.

– Rachel, você sabe que dia é amanhã? - Quinn perguntou, se virando para mim.

– Início do inverno? - respondi, parecendo mais como uma pergunta.

– Sim. - Andrea disse, sorrindo. - Mas também é aniversário da Santana.

– Oh, meu... - murmurei, me encolhendo um pouco. - Eu havia esquecido.

– Sabemos disso. - Quinn riu. - Por isso mesmo, faremos desse dia, o NOSSO dia, e lhe ajudaremos a comprar um presente para sua latina.

Eu sorri, não demorou para que Andrea estacionasse o carro perto do shopping, nós saímos e eu parei de frente para a porta, fazendo todas pararem.

– Você está bem? - Milli perguntou.

– Sim, eu... - suspirei, cruzando meus braços. - Eu tenho uma ideia de presente perfeito.

– O que seria? - Britt perguntou, se animando.

Peguei o celular do bolso do meu casaco, Santana havia comprado o aparelho para mim, caso eu precisasse dela. Disquei seu número rapidamente e abaixei minha cabeça, deixando as meninas curiosas.

– Rachel? - ela perguntou, um pouco afobada. - Você está bem, querida?

– S-Santana... - sussurrei, me encostando em uma parede próxima. - E-eu...

– Eu estou aqui. - ela disse. - Me diga o que aconteceu, aonde você está?

– Millicent está comigo. - as meninas franziram suas testas ao mesmo tempo. - Nós precisamos conversar. - percebi sua respiração falhar. - Não agora. À noite, quando você voltar do trabalho.

– Rachel... por favor, me diga o que aconteceu? - ela parecia querer chorar, isso me fez querer chorar.

– Eu preciso desligar. - murmurei, suspirando. - Até mais.

– Eu te amo.

– Tudo bem.

Desliguei a chamada, Quinn foi a primeira a se aproximar, com os braços cruzados.

– O que você está fazendo?

– Sem perguntas, apenas respostas. - respondi, guardando o celular. - Andy e Britt, vocês precisam fazer algo muito importante para mim. - entreguei minha chave para Andrea. - O apartamento está em suas mãos, cuide dele para mim. Quinn e Millie, vocês vêm comigo.

– O que você vai fazer? - Britt perguntou, confusa.

– Farei a minha namorada feliz.

***

Tirei meu moletom verde, sentindo o vento gelado bater em minhas costas, tirei minha saia rodada branca e minha sapatilha azul, e coloquei uma blusa sem manga branca com babado na frente, um short quase mini preto e uma bota de pano preta até acima do joelho.

– Acham mesmo que preciso disso? - perguntei, suspirando.

– Amamos você, Rachel. - Quinn disse, me esperando fora da cabine do vestiário. - Mas sejamos francas de que para fazer uma surpresa, você precise mudar alguma coisa.

– Principalmente suas roupas. - Milli completou.

Saí da cabine lentamente, Quinn avaliava suas unhas, enquanto Milli brincava com um dos cabides. As duas olharam para mim ao mesmo tempo, os olhos azuis se arregalaram um pouco, enquanto os verdes brilharam. Eu era atenção ali, isso me fez corar.

– Então? - perguntei, dando de ombros. - O que acham?

– Linda... - Quinn sussurrou, chocada.

– Elegante. - Milli disse, sorrindo.

– Quente...

– Madura.

– Oh, meu Deus... - Quinn se levantou rápido, me assustando um pouco. - Olhe isso! - ela me colocou em frente ao espelho. - Você está incrivelmente linda, Rachel!

– Isso é bom, certo? - corei novamente, vendo Quinn colocar uma de suas mãos na minha cintura.

– Seria errado se eu quisesse beijar minha melhor amiga agora? - arregalei um pouco meus olhos, ela sorriu. - Eu amo a Britt, sei que você ama a Santana, por isso não farei nada. Mas te garanto, eu te agarraria agora mesmo.

Me afastei dela, Milli riu alto, enquanto Quinn voltava a se sentar. Ouvimos o celular de Quinn tocar, ela logo atendeu, sorrindo.

– Sim? - ela franziu sua testa, olhando para mim. - Eu não sei, Santana. - me aproximei delas, pude ouvir o desespero de Santana. - Eu ligo para ela e pergunto o que aconteceu, está bem? Não chore, tenho certeza que é algo simples. - mordi meu lábio inferior. - Não se preocupe, eu resolvo isso para você.

Quinn guardou seu celular e suspirou, abaixando sua cabeça.

– Ela está triste? - perguntei, preocupada.

– Um pouco. - Quinn murmurou. - Talvez você deva ligar para ela.

– Mas e se...

– Apenas acalme ela, Rachel. - Milli disse.

Peguei meu celular e disquei o número, logo ouvi ela atender, fungando em seguida.

– Rachel? - ela perguntou, com a voz rouca. - Rachel, me desculpe, seja lá o que for... - novamente ela fungou, fechei meus olhos com os mesmos cheios de lágrimas e suspirei. - Eu te amo, Rachel.

– Eu te amo, Santana.

***

– Querida, o que diabos fizeram com o seu cabelo? - o homem ruivo e alto quase gritou, me assustando. - Parece que foi mordido e cuspido por um leão!

– Tem como você dar um jeito, Thomas? - Milli perguntou para o homem, enquanto examinava o próprio cabelo.

– Vai dar um trabalhão, Millie, mas acho que posso conseguir. - ele sorriu, seu sorriso era doce, ele passou as mãos em meus cabelos e mordeu seu lábio inferior. - O que acha de ajeitar essa franja?

– Seria ótimo! - comemorei, batendo palmas.

Thomas virou a cadeira, me deixando de costas para o espelho, Milli sentou em outra cadeira, passando a folhear uma revista.

– Então... - ela começou. - Onde está Quinn?

– Eu não sei. - murmurei. - Ela disse algo sobre ir em uma das lojas por aqui.

– Acha que ela tenha fugido? Quero dizer, passar o dia com duas garotas autistas não é fácil.

– Quinn não faria isso.

Ficamos caladas, ela colocou a revista de lado e olhou para mim.

– E suas terapias? Senhora Cameron está lhe ajudando?

– São ótimas, na verdade. Me sinto como uma pessoa normal agora, sabe?

– Porque você é uma pessoa normal.

Suspirei para mim mesma, sorrindo. Alguns minutos se passaram, Milli ficava cada vez mais feliz com o resultado. Poucas horas depois, Thomas parou em minha frente e sorriu, logo virando a cadeira.

– Oh... - gemi, animada. - Eu sou linda.

– Não tenha dúvidas. - ele disse.

Meus cabelos estavam ondulados nas pontas, as mesmas estavam loiras, minha franja estava perfeita novamente, Thomas também havia me maquiado, me deixando completamente pronta.

– Quem diria que, Rachel Berry, a garotinha autista que tem medo do escuro, de uma hora para a outra, se torna uma mulher. - ouvi a voz da Quinn.

Olhei pelo reflexo do espelho, arregalei meus olhos ao máximo e me virei rapidamente, para ter certeza do que estava vendo.

– Quinn! - gritei, fazendo Thomas tampar seus ouvidos. - O que você fez com seus cabelos?

Ela sorriu de lado, dando de ombros, se aproximou de mim e olhou para o espelho, passando uma de suas mãos em seu cabelo totalmente rosa.

– Eu admiro sua coragem para querer mudar por Santana, então acho que tive coragem para mudar um pouco, mas por mim mesma.

– Eu gostei do seu cabelo. - eu ri, afagando seus cabelos. - É a minha cor preferida.

– Eu sei. - ela sorriu, me abraçando. - Vamos para casa, terminar esse seu plano maléfico.

Nós rimos, saímos do salão e fomos para o apartamento. Havia mais coisas para arrumar.